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quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Fronteira sangrenta



25/08/2010 - 23:20 | Enviado por: Mauro Santayana

Por Mauro Santayana

O massacre de San Fernando, junto à fronteira dos Estados Unidos, é mais um movimento da guerra que os traficantes de drogas e de pessoas movem contra o Estado, no México. Os historiadores conseguem ver melhor os fatos atuais, porque encontram, na perversidade das circunstâncias, a origem do duradouro sofrimento do grande povo.

Apesar de sua proximidade com o país que simboliza o cimo da civilização moderna, ou por isso mesmo, o México constitui, com sua cultura, o contraponto à conquista europeia. Mais do que em outros países da América Latina, os mestiços conseguiram alçar-se ao poder político e econômico, desde a independência. Já no século 19, os descendentes dos astecas e de outras etnias nativas da América assumiam papel relevante na política mexicana. Grandes homens públicos – não obstante sua formação de fundo universal – mantiveram, geração após geração, a consciência de seus próprios valores, de sua própria forma de ver o mundo. No México, a presença de sangue indígena constitui razão de orgulho. A dupla alma mexicana – a autóctone, com suas profundas raízes na pré-história do continente, e a ibérica – mantém, com os Estados Unidos, relação difícil. A geografia os condenou à vizinhança, mas não se pode afirmar que sejam povos amigos. Os Estados Unidos roubaram-lhe a maior parte do território, em uma guerra injusta e desigual e, no fundo de cada mexicano que conhece a história, permanece a mágoa e o sonho de retomar o vasto espaço usurpado.

O novo e complicado fator de conflito é o consumo de drogas, essa peste moderna, que ameaça a coesão das sociedades políticas. Como a dialética não é mero jogo da razão, mas a sua essência, a popularização do uso dos narcóticos se deve aos Estados Unidos, nação criada em raro instante de grande inteligência política, e com suas sementes na seita dos convenants do puritanismo britânico.

A civilização está, mais do que em qualquer outro tempo, sob o acosso de circunstâncias terríveis. Não bastam os sinais de advertência da natureza, agredida e disposta a se defender do despautério dos homens. A ideia do Ocidente, que se universalizou e chegou a ser condutora da elite pensante em todos os continentes, se encontra hoje sob a erosão de seus esteios éticos. O massacre dos migrantes clandestinos em San Fernando, por mais tenebroso e circunscrito, não é crime menos importante do que a invasão do Iraque e do Afeganistão. Como já advertiu Santo Agostinho, a diferença entre bandos de malfeitores e os Estados está no exercício da justiça. Quando um Estado abandona sua razão de ser, que é a de buscar a justiça, se transforma em quadrilha de assaltantes.

A crise norte-americana, com o crescente mal-estar do povo, não é de governo mas do Estado, dominado, a partir da Segunda Guerra Mundial, pela aliança entre a indústria da energia, com base no petróleo, e a dos armamentos, com a corporação militar. Essa aliança, fortalecida por grandes investidores estrangeiros, controla os dois grandes partidos, o sistema financeiro e parte substantiva dos meios de comunicação.

Os Estados Unidos não parecem capazes de sobreviver em paz com o mundo. Com sua ambição de domínio imperial, são responsáveis pelos crimes em território estrangeiro, como no recente massacre de latino-americanos no México – mesmo que não haja a participação direta de seus agentes no episódio.

Ao mesmo tempo, recrudesce a resistência no Iraque e no Afeganistão, sem que o Pentágono se dê conta de que as duas guerras criminosas estão perdidas.

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