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sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Temendo quebra de banco, Europa dá tapa na mão invisível

11 de agosto de 2011 às 23:45
Four European Nations to Curtail Short-Selling
By LOUISE STORY and STEPHEN CASTLE
New York Times, em 11.08.2011
O regulador do mercado de ações europeu anunciou na noite de quinta-feita que a venda a descoberto [short-selling] de ações financeiras seria banida em vários paises temporariamente, numa tentativa de estancar a instabilidade dos mercados.
A decisão pode colocar pressão nos reguladores do mercado dos Estados Unidos para que também proibam a prática. As ações de bancos americanos tem estado voláteis durante a semana, no momento em que investidores globais demonstram preocupação, considerando que os problemas na Europa podem atravessar o oceano [Atlântico].
A Autoridade Europeia de Mercados e Valores Mobiliários, órgão que coordena as políticas dos mercados da União Europeia, disse numa declaração que as “short sales” — apostas negativas em ações — seriam banidas na França, Bélgica, Itália e Espanha a partir de sexta-feira. Já existe um banimento temporário na Grécia e na Turquia.
“Hoje algumas autoridades decidiram impor ou estender o banimento das vendas a descoberto em seus respectivos paises”, a autoridade europeia declarou. “Fizeram isso ou para restringir os benefícios que podem ser obtidos com rumores falsos ou para manter um campo de jogo equilibrado do ponto-de-vista regulatório, dada a interligação próxima entre os mercados da União Europeia”.
Na França, o órgão regulador daquele mercado baniu short-selling ou o aumento das posições vendidas em short-selling com efeito imediato, durante 15 dias, para as ações de 11 instituições financeiras. Elas são:  April Group, Axa, BNP Paribas, CIC, CNP Assurances, Crédit Agricole, Euler Hermès, Natixis, Paris Ré, Scor e Société Générale.
A declaração da autoridade europeia diz que os detalhes relativos a cada país seriam colocados em sites dos reguladores financeiros nacionais.
As medidas de emergência levaram a comparações com a crise financeira de 2008, quando os Estados Unidos e muitos outros governos baniram as operações a descoberto em várias ações de empresas do ramo financeiro.
Os reguladores da Europa discutiram um banimento continental durante os últimos dias, em meio ao medo de governos, como o da França, de que as vendas a descoberto estavam causando pânico. Os reguladores fizeram duas conferências telefônicas na quinta-feira para completar os termos da declaração, de acordo com uma autoridade governamental que tem conhecimento das negociações. O Reino Unido e a Alemanha estão entre os países que não aderiram ao banimento.
Nas vendas a descoberto, um corretor vende ações emprestadas com a esperança de que elas vão perder o valor antes que ele tenha de comprá-las de volta. A diferença de preço é o seu lucro — ou perda.
Críticos dizem que operações do tipo encorajam especulação e derrubam o preço das ações, algumas vezes alimentando o pânico em mercados que já estão em pânico. Defensores das vendas a descoberto dizem que as operações fornecem informações sobre a opinião de investidores a respeito de empresas e mantém a liquidez do mercado.
Historiadores financeiros alertam que os banimentos de 2008 não funcionaram e que tais medidas são tomadas por causa de preocupações políticas — necessidade de demonstrar alguma forma de ação decisiva — sem comprovação de que são benéficas pelas teorias de mercado.
“O banimento das vendas a descoberto realmente demonstra desespero”, disse Kenneth S. Rogoff, um professor de economia de Harvard. “Este é o plano deles para resolver a crise do euro? Quero dizer, com isso eles não vão ganhar muito tempo”.
A crise na Europa, disse o sr. Rogoff, vai muito além da queda dos preços de ações e tem mais a ver com o estado dos bancos de lá, inclusive os bancos da Itália e da França. Ele disse que os problemas da dívida soberana [de países europeus] são uma extensão do stress no sistema criado pela crise bancária.
O aumento no número de governos europeus que está banindo as operações a descoberto coloca os reguladores dos Estados Unidos em uma posição complicada. Investidores com uma opinião negativa sobre as ações de bancos podem fechar suas apostas na Europa e transferí-las para os bancos norte-americanos.
Na quinta-feira, ações nos Estados Unidos continuaram na montanha russa, subindo 4%, empurradas por informações sobre o mercado de trabalho. O custo do seguro de vários bancos dos Estados Unidos, como o Bank of America e o Citigroup, aumentou esta semana, de acordo com a Markit, uma empresa de informações financeiras, um indício de que os investidores estão crescentemente pessimistas sobre estas companhias.
O anúncio na Europa causou críticas imediatas.
“É uma crise de confiança e quando você faz algo assim, demonstra falta de confiança, que é exatamente o oposto do que você quer dizer aos mercados”, disse Robert Sloan, sócio-gerente da S3 Partners, uma firma que ajuda fundos de investimento a gerenciar seu relacionamento com corretores.
Em 2008, autoridades da Europa e dos Estados Unidos coordenaram o banimento temporário de operações a descoberto.
Os fundos de hedge, em particular, foram prejudicados pelo banimento então, já que interferiu com as estratégias de negócios que envolviam apostas positivas e negativas.
É impossível saber se o pânico de 2008 teria sido pior sem o banimento, que protegeu companhias como a Goldman Sachs e a Morgan Stanley, mas estudos sobre short-selling descobriram que o banimento pode aumentar a volatilidade no mercado e causar menor volume de negócios, de acordo com o professor Andrew W. Lo, do Massachusetts Institute of Technology.
O sr. Lo disse que o banimento também remove informação importante sobre o que os investidores pensam da saúde financeira de empresas e sugere que o banimento serve a objetivos políticos.
“É mais ou menos como tirar o paciente com problemas cardíacos do monitoramento na sala de emergência, para evitar que médicos e enfermeiras fiquem ansiosos”, ele disse.
Alguns investidores esperavam há meses pelo banimento e estavam antecipadamente se afastando de suas posições vendidas, disse o sr. Sloan da S3 Partners. Ele também disse que se houvesse mais gente investida no mercado agora, os mercados poderiam estar caindo menos do que estão. Quando os mercados caem, os vendedores em geral realizam seus lucros e para fazer isso precisam comprar ações. Os mercados poderiam se beneficar destes compradores agora, o sr. Sloan afirmou.
Mesmo com o banimento europeu das vendas a descoberto de algumas ações, os investidores com opiniões negativas sobre empresas podem encontrar outras formas de apostar contra elas no mercado de derivativos, se esses tipos de operação continuarem autorizadas.
Liz Alderman contributed reporting.
PS do Viomundo: A linguagem do cassino penetrou de vez no jornalismo econômico. Só eu notei que o Times não ouviu nenhuma opinião contra esse tipo de aposta? Foram perguntar ao pedreiro o que ele acha do banimento do martelo. E o professor do MIT que disse que o banimento pode diminuir o volume dos negócios? A próxima dele é dizer que a chuva molha. A metáfora da sala de emergência é típica dos norte-americanos: uma imagem boa que encobre um raciocínio estúpido. E quem disse que permitir esse tipo de aposta não significa dar uma injeção de adrenalina num enfartado? Ah, o que essa gente não faz por uma gorda comissão.
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