Por Mauro Santayana
Os documentos dos crimes cometidos no Afeganistão pelos norte-americanos e seus aliados, divulgados pela organização WikiLeaks e reproduzidos por três dos mais importantes jornais do mundo, não nos chocam tanto por sua crueza quanto pela repetição banal da insânia. Não há muito de novo nas guerras: elas sempre nascem da ânsia de poder, esse companheiro inseparável do medo. São sentimentos que se alimentam mutuamente: o medo exige mais poder; o poder gera mais medo.
Os norte-americanos, desde a guerra de expansão contra o México e da conquista das Filipinas, procuraram superar seus mestres ingleses na crueldade contra os débeis. Em Hiroshima e Nagasáki foram práticos, usando a mais mortífera das armas: os que morreram, morreram logo; os que sobreviveram guardaram, nas cicatrizes externas e internas, a advertência de que haviam sido vencidos por titãs vindos do inferno, senhores do terror e servidores da morte.
O assunto nos leva à pergunta: o soldado Bradley Manning, de 22 anos, que, aproveitando-se de seu trabalho, levantou os 91 mil documentos e, segundo Washington, os repassou, é traidor ou herói? A que qualquer homem deve sua lealdade maior: ao governo de seu país, à causa que o move, ou à Humanidade, em seu valor universal? Para Sócrates, a grande lealdade era para com a lei, mesmo que a lei fosse injusta; para a maioria dos homens, a lealdade maior se deve à pátria. Mas o sentimento generoso da pátria é conspurcado pelos promotores das guerras – como é o caso do complexo industrial-militar dos Estados Unidos. É em nome dessa “pátria” que os jovens americanos morrem ingenuamente.
Graham Greene tem instigante estudo sobre o conceito de lealdade, a partir da vida de seu amigo Kim Philby, que enganou a Inglaterra durante mais de 30 anos, convencido de que servia à Humanidade, serviu à ideologia socialista e ao sistema soviético.
O alicerce mais firme do poder é o segredo. Não há poder sem segredos, muitas vezes desnecessários, mas sempre convenientes. É velho como o mundo o conflito entre a comunicação e o sigilo. Manning será visto como traidor pelos interesses norte-americanos que movem as guerras e com elas se enriquecem. Seus companheiros que enfrentam a morte, todos os dias, no Afeganistão, no Iraque e em outros lugares, gostariam que a agressão e seus crimes cessassem, para que pudessem voltar às suas famílias com o sorriso da alegria e os olhos da paz. Regressar não como heróis, nem mártires de uma mentira, cobertos de tristes glórias, mas como simples e reais seres humanos. O jovem Bradley Manning, prisioneiro fora de seu país, provavelmente será julgado e condenado pela revelação de segredos de Estado. Mas não há mistério na ação militar e política dos Estados Unidos. Eles sempre repetem os mesmos atos de violência que encobrem as ações de saqueio.
Na Nicarágua, de Sandino; na Guatemala, de Arbenz; em El Salvador, do bispo Oscar Romero; e no Vietnã – sem falar em dezenas e dezenas de agressões em outros países indefesos – os ianques atuaram sem limites. Seus crimes no Vietnã sobreviveram aos próprios assassinos. O solo continua envenenado pela dioxina do “desfolhante laranja”, que é assimilado pelas plantas nele cultivadas. Kennedy, Lindon Johnson e Nixon já se foram, mas as crianças continuam a nascer com o pavor na face, orelhas no lugar dos lábios, esqueletos de batráquios com olhos de ciclope, braços e mãos pendentes da cintura, testemunhas de acusação diante da História. Mas, com toda sua deformação, são menos monstruosas do que os que agrediram seu povo.
Os documentos dos crimes cometidos no Afeganistão pelos norte-americanos e seus aliados, divulgados pela organização WikiLeaks e reproduzidos por três dos mais importantes jornais do mundo, não nos chocam tanto por sua crueza quanto pela repetição banal da insânia. Não há muito de novo nas guerras: elas sempre nascem da ânsia de poder, esse companheiro inseparável do medo. São sentimentos que se alimentam mutuamente: o medo exige mais poder; o poder gera mais medo.
Os norte-americanos, desde a guerra de expansão contra o México e da conquista das Filipinas, procuraram superar seus mestres ingleses na crueldade contra os débeis. Em Hiroshima e Nagasáki foram práticos, usando a mais mortífera das armas: os que morreram, morreram logo; os que sobreviveram guardaram, nas cicatrizes externas e internas, a advertência de que haviam sido vencidos por titãs vindos do inferno, senhores do terror e servidores da morte.
O assunto nos leva à pergunta: o soldado Bradley Manning, de 22 anos, que, aproveitando-se de seu trabalho, levantou os 91 mil documentos e, segundo Washington, os repassou, é traidor ou herói? A que qualquer homem deve sua lealdade maior: ao governo de seu país, à causa que o move, ou à Humanidade, em seu valor universal? Para Sócrates, a grande lealdade era para com a lei, mesmo que a lei fosse injusta; para a maioria dos homens, a lealdade maior se deve à pátria. Mas o sentimento generoso da pátria é conspurcado pelos promotores das guerras – como é o caso do complexo industrial-militar dos Estados Unidos. É em nome dessa “pátria” que os jovens americanos morrem ingenuamente.
Graham Greene tem instigante estudo sobre o conceito de lealdade, a partir da vida de seu amigo Kim Philby, que enganou a Inglaterra durante mais de 30 anos, convencido de que servia à Humanidade, serviu à ideologia socialista e ao sistema soviético.
O alicerce mais firme do poder é o segredo. Não há poder sem segredos, muitas vezes desnecessários, mas sempre convenientes. É velho como o mundo o conflito entre a comunicação e o sigilo. Manning será visto como traidor pelos interesses norte-americanos que movem as guerras e com elas se enriquecem. Seus companheiros que enfrentam a morte, todos os dias, no Afeganistão, no Iraque e em outros lugares, gostariam que a agressão e seus crimes cessassem, para que pudessem voltar às suas famílias com o sorriso da alegria e os olhos da paz. Regressar não como heróis, nem mártires de uma mentira, cobertos de tristes glórias, mas como simples e reais seres humanos. O jovem Bradley Manning, prisioneiro fora de seu país, provavelmente será julgado e condenado pela revelação de segredos de Estado. Mas não há mistério na ação militar e política dos Estados Unidos. Eles sempre repetem os mesmos atos de violência que encobrem as ações de saqueio.
Na Nicarágua, de Sandino; na Guatemala, de Arbenz; em El Salvador, do bispo Oscar Romero; e no Vietnã – sem falar em dezenas e dezenas de agressões em outros países indefesos – os ianques atuaram sem limites. Seus crimes no Vietnã sobreviveram aos próprios assassinos. O solo continua envenenado pela dioxina do “desfolhante laranja”, que é assimilado pelas plantas nele cultivadas. Kennedy, Lindon Johnson e Nixon já se foram, mas as crianças continuam a nascer com o pavor na face, orelhas no lugar dos lábios, esqueletos de batráquios com olhos de ciclope, braços e mãos pendentes da cintura, testemunhas de acusação diante da História. Mas, com toda sua deformação, são menos monstruosas do que os que agrediram seu povo.
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