A conduta do juiz Sergio Moro fez a ONU adiar para o final de janeiro o prazo que o organismo havia dado ao governo Temer para explicar o processo do Estado brasileiro contra o ex-presidente Lula.
Explico: o que ocorre é que, conforme a Lava Jato, nas pessoas do procurador Deltan Dallagnol e do juiz Sergio Moro, vai dando seus shows antipetistas, a defesa do ex-presidente vai informando à ONU esses passos de modo a corroborar a afirmação de que a Operação e seus condutores agem com motivações político-partidárias.
Há cerca de dois meses, o Comitê de Direitos Humanos da ONU recebeu novos documentos enviados pelos advogados de Lula. Em carta, os advogados citam apresentação em powerpoint dos procuradores da Lava Jato que, apesar de reconhecerem que não têm provas, acusam o ex-presidente de ser “chefe de uma organização criminosa”.
Segundo o jornal O Estado de São Paulo, “ao manter o processo vivo em Genebra, os peritos da ONU (…) apontaram que (…) a pressão sobre a Justiça brasileira continuará criando uma espécie de habeas corpus internacional” para Lula.
O que significa isso? Significa que, apesar de a ONU não ter poder de decisão em território brasileiro, ao acompanhar o caso de Lula o organismo impede que medidas abusivas sejam tomadas contra aquele que os brasileiros consideram o melhor presidente da história e que é o líder em todas as pesquisas para a sucessão presidencial de 2018.
Para quem não sabe, a ONU, ao aceitar investigar a condução dos processos contra Lula no Brasil, está meio que auditando esses processos e, também, os que o conduzem, com destaque para Sergio Moro, que, de longe, por seu gosto incontrolável por holofotes e elogios está produzindo uma fartura de provas de que o que menos busca é justiça.
Nesta semana, o juiz paranaense se superou. Dois momentos foram particularmente simbólicos em relação à sua parcialidade contra Lula e a favor de tucanos.
Momento um: apareceu ao lado do cantor Fagner, em um restaurante, aplaudindo uma música que diz que a função dele é “enjaular vagabundo” em vez de julgar com serenidade e isenção acusados pela Justiça.
Momento dois: durante evento da revista IstoÉ realizado na noite da última terça (6) em São Paulo, o superstar foi Sérgio Moro. Premiado como o “Brasileiro do Ano na Justiça”, Moro ofuscou artistas e políticos. Inebriado pela condição de celebridade, produziu cenas bizarras para alguém cujo trabalho deveria se pautar pela circunspeção e isenção.
Fotos de Moro confraternizando e trocando confidências com políticos do PSDB, muitos deles investigados pela Lava Jato, correram o Brasil e o mundo. Fotos em que ele se entrega à tietagem dos “fãs”, todos inimigos políticos do PT, idem.
O senador tucano Aécio Neves, citado em delações da Odebrecht e da OAS, trocava confidências com Moro. Sorridentes, ambos conversavam de forma descontraída ao longo da cerimônia. Aécio é investigado por sua atuação na CPI dos Correios e por supostamente ter recebido propina da estatal Furnas.
A conduta de Moro nesse evento fez a festa das redes sociais
Esse farto material revelando o envolvimento político de Moro corrobora ipsis-litteris as queixas de Lula à ONU, que afirmam, entre outras coisas, que o juiz federal não tem isenção para julgar o ex-presidente por manter ligações políticas cada vez mais inegáveis.
Várias pessoas me perguntaram por que Moro age com tanta desfaçatez, deixando todos verem sua ligação estreita com o PSDB e com os que conduziram o golpe de Estado que substituiu o governo eleito do Brasil por um governo sem legitimidade popular.
A resposta é muito simples: porque ele pode. Não há mais Justiça no Brasil. E os órgãos de controle da magistratura estão de quatro para Moro. Não têm coragem de puni-lo por condutas como essas.
Moro já deixou claro que não está preocupado com a imagem do Brasil. Está mais preocupado com os aplausos, elogios e homenagens que recebem em terras tupiniquins, sobretudo lá na sua doce República de Curitiba.
Entretanto, o primeiro passo para restabelecer a democracia no Brasil é provar ao mundo que houve um golpe no país e que as instituições foram subvertidas pelos golpistas. E isso está acontecendo, sem dúvida.
Há pouco mais de dez dias, recebi mensagem privada, via Facebook, de alguém que, apesar de ler o Blog da Cidadania há sete dos dez anos de existência da página, jamais havia me procurado ou mesmo comentado naquele espaço.
Confira, abaixo, a mensagem de Enzo Fachini Testi, de Maringá.
Fiquei comovido e honrado. São pessoas como essas que me impedem de mandar tudo para o espaço, porque não é fácil ser blogueiro de esquerda em um país como este – você não ganha dinheiro, expõe-se à hidrofobia da direita e trabalha MUITO.
Aceitei o convite de Enzo sem nem mesmo saber direito que dia e hora ele e a família me convocariam para o encontro. No fim, marcamos para o dia 27 (último sábado), à tarde, em um lugar que Enzo considerou que seria emblemático: o restaurante Sujinho, reduto dos “blogueiros sujos”.
Além da honraria de ser considerado tão importante por uma família linda como aquela, ver que Moisés Testi, o patriarca, tem filhos que o amam tanto a ponto de lhe preparar uma surpresa como essa, aqueceu-me o coração.
Chega o sábado. Até havia me esquecido do compromisso. Por volta das 15 horas, toca o celular. Era Enzo, avisando-me de que já estava com o pai no Sujinho, à minha espera. Porém, Moisés não sabia que eu iria encontrá-los e estava impaciente, porque ainda tinha compromissos em São Paulo antes de voltar para Maringá.
Lamentavelmente, só pude me desvencilhar do que estava fazendo lá pelas 16:30 horas; cheguei ao Sujinho às 17 horas.
O restaurante estava lotado e eu não sabia quem eram as pessoas que me esperavam, mas bastaram poucos passos diante do restaurante para ser reconhecido e chamado por Enzo. Foi tocante ver a surpresa do pai, Moisés. Achei que ele ficou emocionado.
Que pai não ficaria, vendo um gesto de carinho como esse partindo dos filhos?
Conversamos por umas duas horas, acompanhados por litros de cerveja e uma bela porção de picanha como aperitivo. Durante o papo, pude saber mais sobre essa família admirável. Sobretudo sobre a luta dos Testi na ultra conservadora Maringá.
Moisés Testi tem 60 anos. É empresário do ramo alimentício em Maringá. Tem dois filhos, Enzo (29 anos) e Lorena (15 anos) – na foto, também aparece Leonardo (23 anos), o sobrinho. Todos eles leitores deste Blog desde 2007, quando a página já tinha 2 anos e surgiu o Movimento dos Sem Mídia.
Quem apresentou o Blog à família foi Enzo, quem, hoje, tem 29 anos e então, lá em 2007, tinha 23 anos.
A família Testi é de esquerda e apoia o PT. Isso, em Maringá, é prova de coragem. Para que se possa mensurar quanto é difícil, relato alguns fatos da história dessa família.
Moisés era empresário de outro setor; tinha a maior locadora de vídeos da cidade, frequentada, em peso, pela elite maringaense. O negócio, segundo relata o patriarca da família Testi, “morreu” devido ao avanço da tecnóloga.
Segundo Moisés, quando ele soube que a rede de locadoras americana Black Buster pediu concordata, ele se deu conta que seria melhor mudar de atividade. Porém, para que se possa mensurar a seriedade desse homem, ele não vendeu a empresa; encerrou-a.
À época, lá pelo início do governo Lula, teria sido possível vender a maior locadora da cidade para algum desavisado. Mas Moisés não quis empurrar o “abacaxi” para que, segundo ele, outra família sofresse como a sua estava sofrendo, com falta de clientes.
O lado mais triste dessa história, porém, é que o negócio de Moisés afundou antes da hora por conta de suas crenças políticas.
Com tristeza no semblante, ele relata episódio envolvendo um dos seus clientes mais frequentes e queridos, à época: Dalton Moro, já falecido, pai do juiz Sergio Moro, que conduz as investigações da Operação Lava Jato.
Eis o que houve: em 2002, esse senhor foi à locadora de Moisés e lhe perguntou se era verdade que ele iria votar em Lula, ao que obteve imediata confirmação. Naquele momento, ele pagou o que devia ao estabelecimento e disse ao estupefato Moisés que por conta da opção política dele nunca mais entraria em sua loja.
A partir dali, a locadora foi parando, parando, até que parou de vez. A empresa, que vinha crescendo, parou de crescer e a crise que atingiu esse mercado de locação de vídeos chegou antes para o negócio de Moisés.
Muitas vezes sou assaltado por dúvidas quanto ao que faço neste blog. Será que vale a pena? Será que não estou perdendo meu tempo, bradando no deserto? A família Testi me mostra que não. Alguma coisa boa devo estar fazendo aqui, para merecer a amizade anônima de gente como aquela.
Obrigado, Enzo. Obrigado, Leonardo. Obrigado, Lorena. E, acima de tudo, Obrigado, Moisés. Vocês me deram o melhor presente de 2014. Dinheiro nenhum seria capaz de comprar tão bela dádiva, que só nobreza moral como a dos Testi pode oferecer.