Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Chama a especialista do Jornal da Globo


Muito curiosa a edição de hoje do Financial Times, o grande jornalão conservador de economia da Inglaterra.
Na mesma edição, duas matérias sobre o Brasil.

Uma, sobre os “riscos” de uma “bolha” de crédito, absolutamente sem qualquer base sólida de avaliação, estendendo uma pequena elevação da inadimplência registrada pelo Serasa. Claro que essa elevação é resultado do apertto de crédito, mas está a anos-luz de poder ser caracterizada como o “estouro de uma bolha” de crédito, como você pode verificar no gráfico da própria Serasa que reproduzo aí ao lado.
Típica noticia de quem vê o Brasil “ameaçado” pelo apetite consumista de uma massa de ex-miseráveis.
Diz o FT:
” O rápido crescimento econômico do Brasil tem levantado mais de 30 milhões de pessoas da pobreza nos últimos anos.
Estes novos consumidores começaram empréstimos para comprar casas, carros e eletrodomésticos, contribuindo para um aumento de quase 100 por cento no crédito privado desde 2007, segundo o Fundo Monetário Internacional.”
Embora não esteja dito, é óbvia a conclusão de que há crédito demais para os pobres e, portanto, nada melhor que um bom arrocho. Balela, porque os níveis de crédito na economia brasileira – apesar do crescimento – ainda representam parcela pequena da economia, menos da metada, aliás, se comparado ao que significam nos países desenvolvidos. E é crédito caro, como qualquer um de nós sabe.
Mas o FT tem outra matéria interessante.
É que o jornal britânico diz que a Ferretti, fabricante italiana de iates, está se voltando aos super-ricos brasileiros, já que as vendas aos clientes tradicionais do Mediterrâneo despencam.
A razão, segundo o jornal, é que presidentes e diretores de empresas ganharam mais em São Paulo do que em Londres ou Nova York.
Os barcos da Ferreti custam entre 300 mil euros e 80 milhões de euros. Isto é, entre R$ 685 mil e R$ 182 milhões.
Sinal que o tal “custo Brasil” provocado pela carga tributária “altíssima” não está chegando a atrapalhar o lazer dos executivos que reclamam tanto, não é?

Americano rouba US$ 1 de banco para receber tratamento na cadeia

Um americano que sofre de dores crônicas no peito e problemas no pé esquerdo entrou em um banco e roubou US$ 1 com a intenção de ser preso e receber tratamento médico na cadeia.

De acordo com o jornal "Gaston Gazette", Richard James Verone entrou em um banco na Carolina do Norte, entregou um bilhete a uma funcionária dizendo que estava armado, e pedindo que ela lhe entregasse US$ 1.
Em seguida, ele se sentou e aguardou a chegada da polícia ao local.
"Eu não fiquei com medo. Eu disse à funcionária que me sentaria e aguardaria pela polícia".
Verone diz que trabalhou para a Coca-Cola durante 17 anos, mas foi demitido há três. Desde então, ele manteve empregos temporários, mas não possui assistência médica.
"Se você não tem saúde, você não tem nada", disse ele.
O ladrão poderia ser liberado se pagasse fiança de US$ 2.000, mas preferiu ir preso para ser tratado na cadeia.
Ao jornal, ele contou que, ao cometer um crime não violento, poderia garantir alguns benefícios sociais do governo quando saísse da cadeia.

Detido, ele deve começar a receber tratamento médico em poucos dias. 
http://www1.folha.uol.com.br/mundo/933108-americano-rouba-us-1-de-banco-para-receber-tratamento-na-cadeia.shtml

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Veja também: 



Pó Pará??? Luana Santos: A queda de Aécio e a imprensa em Minas

por Luana Diana dos Santos, para o Viomundo

No último domingo acordei ao som das gargalhadas do meu irmão. Ao perguntá-lo o motivo de tanta alegria às 7 da manhã, fui informada que Aécio Neves havia caído do cavalo. A princípio, pensei que fosse piada. Após uma olhada rápida no twitter, descobri que não havia nenhuma figura de linguagem na queda do senador tucano. O acidente lhe custou cinco costelas  e a clavícula direita quebradas.
Na padaria não havia outro assunto. Enquanto tomava meu cafezinho acompanhado por um pão com manteiga, observava um grupo de senhores de meia idade organizarem  um ‘bolão’ dos motivos do tombo do ex-governador. Sei que é pecado rir da desgraça alheia, mas foi difícil me conter diante das apostas:  “O cavalo deve ter sido presente do Serra”…”A eguinha ‘pocoPó’ se rebelou contra a tucanada”…risos….
Saciada a minha fome, dei uma folheada no Estado de Minas, o maior jornal das Gerais. Buscava uma foto, alguma notícia em relação ao quadro de saúde de Aécio. Não encontrei absolutamente nada. É aí que a queda do tucano perde a graça.
A falta de notícias quanto ao que realmente aconteceu com o  neto de Tancredo na tarde de sábado é apenas mais um capítulo do clima de cerceamento que vive a imprensa mineira. No episódio que ficou conhecido como #Aéciodevassa ocorreu a mesma coisa. Nem uma mísera linha sobre o assunto no jornal. Por aqui, qualquer fato que desagrade Aecim ou o Governo, hoje liderado pelo também tucano, Antonio Anastasia, fica de fora dos veículos impressos e televisivos. Quando divulgados, são feitos de maneira deturpada e tendenciosa.
Desde o dia 8 de junho, quando nós professores da Rede Estadual de Ensino entramos em greve reivindicando a implementação do piso salarial nacional (recebemos um piso de R$ 550,00!), tenho comprado o Estado de Minas diariamente a fim de acompanhar as notícias sobre o movimento. Até o momento foram divulgadas não mais que meia dúzia de parágrafos sobre a paralisação dos profissionais da educação, e mesmo assim com o intuito de desmoralizar ainda mais a nossa classe. Infelizmente,  a pouca visibilidade dada pelo periódico à nossa luta é motivo de comemoração pelo  Sindicato dos Professores. No ano passado, foram necessários exatos 60 dias para que uma nota saísse no jornal.
A censura exercida pelos tucanos sobre a imprensa mineira causaria inveja até na turma do DOPS. Na quarta-feira passada, 15, cerca de 700 professores se reuniram em frente à Cidade Administrativa, fechando a Linha Verde, via de acesso ao Aeroporto de Confins. Na voz do Diretor de Segurança da sede do Governo, veio o recado de Anastasia: “Liberem a Linha Verde e o Governador deixará a imprensa noticiar a manifestação de vocês!”. No dia seguinte haviam 3 linhas (3!) sobre a ato  no Estado de Minas e uma matéria de 30 segundos no noticiário local.
As restrições à liberdade de expressão em Minas é tão pesada que virou documentário. Alunos do curso de jornalismo  da Universidade Federal de Minas Gerais realizaram um vídeo onde profissionais de rádio e televisão denunciam as dificuldades encontradas para a veiculação de matérias contrárias aos interesses de Aécio e cia. Alguns jornalistas que ousaram romper com a tirania psdbista foram demitidos. Á época da realização da pesquisa, Aécio Neves era o governador do Estado. Dias depois do documentário ganhar a internet, começou a circular uma nova produção  – “Olha só como se constrói uma mentira e a distorção do fatos. Jornalistas negam censura”. Essa era a chamada do vídeo. Aecim é realmente muito danado!
Conversando com uma grande amiga que trabalhou durante 25 anos no Estado de Minas, soube que 50% dos recursos do jornal são provenientes de contratos publicitários com o Governo Estadual, num momento em que a tiragem e o número de assinantes decresce vertiginosamente.  O Deputado Carlin Moura, do PCdoB, já havia feito a mesma denúncia no ano passado. Encaminhada ao Ministério Público Estadual, se juntou aos milhares de processos que encontram-se engavetados.
Dedilhando este texto lembrei-me de Lima Barreto, um dos meus escritores preferidos. Barreto costumava dizer que no Brasil muitos jornais não passavam de meros diários oficiais à serviço dos interesses do governo. Em Minas, o pensamento barretiano permanece atualíssimo.
Como boa mineira, não perco a fé. Não há motivos para perdermos as esperanças de que em breve teremos uma imprensa livre e democrática, que atenda de fato aos interesses dos cidadãos. A liberdade é o lema da nossa bandeira. O sucesso do II Encontro de Blogueiros Progressistas sinaliza que novos tempos estão por vir.
Luana Diana dos Santos é cronista, historiadora e professora da Rede Estadual de Ensino de Minas Gerais.
@luanadianas 

BattistiXCacciolla

A Itália está fazendo o maior escarcéu por conta  do Battisti, a mírdia amestrada Brasileira idem, servos subservientes da estirpe de Rícuperos e Laffers também.
O que os pessoá parece esquecer, é que o banqueiro pilantra e condenado no Brasil, Salvatore Cacciola, depois de receber um desses HCs do STF (pelo Sinistro Marco Aurélio Mello) em 2000 fugiu e viveu folgado na Itália até 2007, quando se distraiu e foi passear em Mônaco, onde foi finalmente preso e estraditado pro Brasil!
Dois pesos e duas medidas????

EXCLUSIVO - O CAVALO QUE DERRUBOU AÉCIO

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Segundo informações de cocheira, o quadrúpede será sacrificado.

Política sem políticos

Crônicas do Motta

Não faz muito tempo li qualquer coisa sobre a intenção de um grupo de empresários - ou seriam banqueiros? - de criar um partido político, usando como argumento maior de sua odisseia o fato de que a nova agremiação não teria políticos e seria dirigida por pessoas acostumadas a administrar seus bens.

Vi também que o prefeito paulistano Gilberto Kassab procurou afastar a legenda que está criando de qualquer tipo de ideologia política - como se isso fosse possível. O incrível Kassab chegou a dizer que o tal partido não será de esquerda, nem de direita, nem de centro. Seria, então uma espécie de Suíça, um elemento neutro na política nacional - neutralidade, nesse caso, indicando que está pronto para "negociar" apoio à sua conveniência.

Claro que iniciativas como essas duas não devem ser levadas a sério por ninguém que tenha interesse mínimo pela política. São ações que podem ser classificadas de extravagantes, uma bobagem que não resiste a qualquer tipo de discussão um pouco mais séria.

Administrar uma empresa, por melhor que seja o administrador e melhores os resultados da companhia, não tem nada, absolutamente nada, a ver com o ato político de governar uma cidade, um Estado, um país - sim, porque governar é, antes de mais nada, fazer política. São coisas completamente diferentes, que são levadas ao público como semelhantes apenas com o objetivo de confundir as pessoas.

No fundo, no fundo, tais iniciativas mostram o quanto a oposição brasileira está perdida, sem discurso, sem perspectiva, vivendo apenas de "escândalos" pautados pelos jornalões, em guerra permanente contra o governo petista.

Dilma e aliados podem estar tranquilos enquanto a tal "elite" do país se concentra nessas besteiras: partidos sem ideologia e sem políticos. Haja desespero!


Leia mais em: O Esquerdopata
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Crise: déficit maior é de democracia, não de ajuste fiscal


A dimensão sistêmica da crise não é um atributo apenas da esfera econômica, mas argui a capacidade da esquerda de intervir para mudar o rumo da engrenagem em pane, em vez de se comportar apenas como um dente constitutivo da sua mecânica. O capitalismo não se auto-destrói. Assim como não existe autorregulação dos mercados não há auto-imolação do capital. Se as respostas não vierem da esquerda, a direita fará o serviço, como tem feito na periferia européia com mão-de-obra social-democrata.

Por que uma camareira não teve medo de denunciar o dirigente máximo do FMI, mas os partidos e governos vergam diante do Fundo e das imposições dos mercados financeiros?

A pergunta soa irônica. Mas encerra uma cortante ilustração dos dilemas embutidos numa crise em que os mercados financeiros encontram liberdade para pautar as ‘soluções’ - e explicações - para o colapso que criaram, poupando-se de maiores ônus em detrimento da economia e da sociedade.

A pirueta não seria possível sem a rede de segurança que tem sido estendida pelos governantes e legendas de esquerda, colonizados pela capacidade argumentativa das finanças em repetir à exaustão nos últimas quatro décadas: ‘não há alternativa’.

A indiferenciação entre direita e a esquerda no manejo da crise tem sedimentação histórica. O que se vê hoje é a fotografia de corpo inteiro de uma longa captura da social-democracia pelo cânone neoliberal, o que permitiu às finanças desreguladas tornarem-se o eixo ordenador da economia e de todas as instâncias da sociedade.

A comparação entre a coragem da camareira e a submissão aos ditames dos mercados toma emprestado um raciocínio do economista Robert Kuttner, em seu artigo ‘O paradoxo do progresso social e da reação econômica’, publicado por Carta Maior.

O texto de Kuttner chama a atenção para um aspecto pouco explorado do escândalo envolvendo Dominique Strauss Kahn: a questão do poder real subjacente aos protagonistas.

Afinal, como foi que uma camareira do sofisticado Sofitel da Times Square de Nova Iorque, que cobra diárias de US$ 3 mil, teve a coragem de denunciar o então diretor máximo do FMI por abuso sexual?

A resposta, explica Kuttner , remete em boa parte à organização dos conselhos de base que tornaram os trabalhadores da rede de hotéis e motéis de Nova Iorque uma das categorias mais poderosas do país. ‘O sindicato dela é um dos mais fortes sindicatos da América – não é forte por conta dos dirigentes sindicais, mas porque está imerso no local de trabalho”, detalha o economista cujo texto contrasta os avanços acumulados nas últimas décadas na esfera dos costumes e da tolerância e a regressividade econômica.

"Como é que demos passos tão pesados para trás em questões econômicas?", pergunta Kuttner. "Isso se deve ao poder", responde. “Os proprietários da riqueza financeira se tornaram cada vez mais poderosos politicamente; os movimentos que lhes são contrários se tornaram drasticamente enfraquecidos".

A trinca aberta entre a base da sociedade e aqueles que deveriam vocalizar esse conflito , mas, sobretudo, a desorganização dessas bases e a negligência deliberada de muitos partidos em fortalecê-las redundou no divórcio explícito revelado pela atual crise.

Na Europa, a distância entre o sentimento das ruas e o que decidem e implementam governantes e parlamentos atingiu proporções caricatas.

O fosso é proporcional à virulência do que se busca despejar nos ombros da sociedade como condição para a rolagem de empréstimos de bancos e credores. Quando multidões cercam parlamentos e tem seus anseios rechaçados por eles é porque um ciclo da história se esgotou.

Em recente entrevista à Carta Maior, o filósofo Vladimir Safatle, afasta a interpretação algo ingênua de quem vê nessa clivagem uma saturação ‘da forma partido’, supostamente substituída por ferramentas digitais mais ágeis, como o Twiter e o Facebook na expressão do conflito social.

Safatle ressalta que as principais mobilizações de massa que ocorrem nesse momento acontecem, de fato, à margem dos partidos, não raro, a sua revelia. “O que limita seus resultados”, pontua. “Não creio que podemos ‘mudar o mundo sem conquistar o poder’. Quem gosta de ouvir isto são aqueles que continuam no poder. (...) Só se contrapõe ao domínio do mundo financeiro através de um aprofundamento da democracia plebiscitária”, defende na entrevista.

O déficit de democracia emerge, portanto, como o mais importante desequilíbrio revelado pela crise, em contraposição ao poder capilar, estrutural, midiático e institucional acumulado pelo capital financeiro.

Tal hegemonia, explica o economista Luiz Gonzaga Belluzzo, em textos inéditos de seu novo livro publicados por Carta Maior (“capítulo V, ‘Sistema de Crédito, Capital Fictício e Crise’), não é um acidente de percurso. Trata-se de um desdobramento estrutural da tendência ao mesmo tempo expansionista e concentradora do capitalismo, o que torna a tarefa de contrastá-la um desafio de reposicionamento estratégico da esquerda. A começar pelo seu conceito de democracia, hoje acomodado aos limites do formalismo parlamentar.

A dinâmica que leva à concentração de poder e de capitais em mãos do sistema financeiro --sancionada politicamente pelas medidas desregulatórias da dupla Tatcher /Reagan— gera uma inevitável ‘superprodução’ de capitais fictícios que deu origem à especulação avassaladora seguida da crise atual.

Mais que isso, porém, ela colonizou a agenda política, que cuidou de terceirizar os destinos da economia e da sociedade aos desígnios das finanças, ou à “eficiência ímpar dos mercados autorreguláveis para alocar recursos e gerar resultados, com maior eficiência e menor custo”.

Apenas um governo parece ter entendido a saturação desse processo ao devolver ao poder plebiscitário da sociedade as decisões relativas à superação da crise financeira. “Somos uma democracia, não um sistema financeiro” , disse o presidente da pequena Islândia, Ólafur Grímsson.

Ser uma democracia, não uma subseção do sistema financeiro, ou uma ‘democracia real’ como pedem as multidões em Portugal, Espanha e Grécia, em pleno apogeu do capital financeiro, não é tarefa que se improvise.

O crepúsculo ideológico do neoliberalismo acentuado pelos desdobramentos da crise, ainda não foi suficiente para reduzir a distância entre o poder dos blindados financeiros e os tímidos ensaios de democracia participativa. Imaginar que isso poderá ser feito à margem de estruturas organizativas, a exemplo de partidos políticos enraizados em instâncias democráticas, não parece ser uma escolha acertada à luz do jogo bruto em curso.

Jogá-lo para valer implica a construção de linhas de passagem que exigem direção, coordenação e profunda capilaridade social.

Em entrevista a um programa de televisão brasileira em 2002, o filósofo István Mészàros, de insuspeita radicalidade analítica, antecipava que o desafio enfrentado pela esquerda na atualidade não é ‘simplesmente vencer um bando de capitalistas” e substituí-lo por outro grupo capturado pela mesma lógica dos mercados.

“Sem estratégia não se pode ter tática”, discorreu Mészàros:

“Sem uma perspectiva estratégica desses problemas você não pode ter soluções do dia-a-dia... eles não podem ser simplesmente tratados no nível de um artigo que apenas relata o que está acontecendo(...) No lugar disso, deve ser apresentada uma perspectiva histórica. Marx argumenta que os capitalistas são simplesmente personificações do capital. Não são agentes livres; estão executando imperativos do sistema. Então, o problema da humanidade não é simplesmente vencer um bando de capitalistas. Pôr simplesmente um tipo de personificação do capital no lugar do outro levaria ao mesmo desastre; cedo ou tarde terminaríamos com a restauração do capitalismo. Os problemas que a sociedade está enfrentando não surgiram apenas nos últimos anos. A única solução possível é a reprodução social com base no controle dos produtores. Essa sempre foi a idéia do socialismo”.

“Precisamos”, emenda Vladimir Safatle, na mesma direção, na entrevista à Carta Maior, "(construir) um discurso de esquerda alternativo que esteja em circulação no momento em que as possibilidades de ascensão social (da chamada classe C) baterem no teto”.

Naturalmente, Safatle condensa na palavra ‘discurso’ o sentido amplo da práxis política. O que inclui a mobilização organizativa capaz de revitalizar as fronteiras da democracia e do socialismo para além dos limites embolorados dos nossos dias.

A dimensão sistêmica da crise, portanto, não é um atributo apenas da esfera econômica, mas argui a capacidade da esquerda de intervir para mudar o rumo da engrenagem em pane, em vez de se comportar apenas como um dente constitutivo da sua mecânica.

O que se assiste por enquanto é a degradante marcha em sentido contrário. Cada passo hesitante que governantes supostamente progressistas dão para impedir que a crise se espalhe é mais um passo que pavimenta o seu avanço. O fatalismo construído ao longo de décadas de recuos e concessões aos mercados e a seus dogmas, e o correspondente desarmamento organizativo que se seguiu, explicam a sobrevida de um hegemonia neoliberal em frangalhos.

O capitalismo não se auto-destrói. Assim como não existe autorregulação dos mercados não há auto-imolação do capital. Se as respostas não vierem da esquerda, a direita fará o serviço, como tem feito na periferia européia com mão-de-obra social-democrata.

Na crise de 29, quando a Bolsa de Nova Iorque derreteu e o desemprego atingiu um em cada quatro norte-americanos (em 1933 a taxa de desemprego foi de 24,9%), a relação de forças existente no mundo era bem distinta da atual.

Doze anos antes uma revolução operária havia instalado o primeiro governo revolucionário numa das maiores nações do planeta. A Alemanha atingida pela confluência entre a crise internacional e as reparações da Primeira Guerra, também viu eclodir um poderoso movimento socialista que quase tomou o poder. Seu fracasso levou à ascensão do nazismo.

Desempregados e veteranos da Primeira Guerra Mundial ergueram uma favela na principal avenida de Washington. Enfrentaram o Exército quando o governo tentou removê-los. Famílias famintas, desempregados rurais e urbanos entraram em conflito com as forças da ordem em vários outros pontos do país. Entre 1929 e 1933, o PIB dos EUA recuou 27%. Nove mil bancos quebraram. A taxa de desemprego só retornaria a um dígito com o esforço de mobilização provocado pela Segunda Guerra, em 1941. Foi um tempo de miséria e desmonte econômico. Mas simultaneamente havia um vigoroso movimento de organização social , com expansão do sindicalismo e das idéias socialistas no mundo.

Foi essa relação de forças que impôs uma solução heterodoxa para a crise de 29, que hoje assumiria ares de uma revolução. O New Deal estabeleceu uma dura regulação estatal dos mercados financeiros, abriu frentes de trabalho, multiplicou direitos operários, incentivou a sindicalização em massa, criou bônus de alimentos, financiamento de moradias e investimento público maciço em infra-estrutura. É a ausência dessa mesma correlação de forças e de estrutura organizativas correspondentes que fazem de Obama um simulacro risível do democrata Franklin Roosevelt que governou o país nos anos 30. Em contrapartida, é a existência desse contraponto organizativo que, segundo o perspicaz ponto de vista de Robert Kuttner, explica por que uma camareira do Sofitel de Nova Iorque não teve medo de denunciar o dirigente máximo do FMI, enquanto partidos e governantes servem obsequiosamente às imposições dos mercados financeiros. O jogo, portanto, é muito claro. Trata-se de saber se os partidos de esquerda pretendem jogá-lo ou perder por WO.

A crise da "sociedade de mercado"


A ficção da “sociedade de mercado” autorregulada que desmorona agora na Grécia, na Espanha e em outros países europeus, é resultado de um processo que vem de vários anos. Talvez suas primeiras manifestações tenham surgido nas periferias do sistema capitalista. Neste sentido, o ciclo de protestos sociais latino-americanos que deu lugar a um conjunto de governos progressistas já indicava esse desmoronamento. Não é causalidade, então, que seja no Chile – na contramão destes governos e dos processos que os forjaram – onde também se repete o descontentamento que se vê na Europa, a partir de um rígido esquema universitário exclusivamente orientado à figura de um consumidor privilegiado. O artigo é de Amílcar Salas Oroño.

I

A particularidade da “sociedade de mercado” que se difundiu com extrema rapidez do século XIX em diante, dos centros às periferias, recebe um novo embate, variado, inconcluso, popular, desde regiões muito distintas. Há algo da “promessa” do ideário liberal que, como ocorreu na Segunda Guerra Mundial, parece estar desvanecendo-se no ar: suas instituições fundamentais atravessam uma fase de muito desprestígio, o que antecipa um próximo período de rearranjos organizacionais, culturais e ideológicos de diversas magnitudes, sem que possa especular-se ainda sobre seus tempos de desenvolvimento nem sobre suas direções. Mas pela cadeia de respostas e “indignações” que se manifestam diariamente neste novo ciclo de crise capitalista pode afirmar-se, retomando K. Polanyi, que uma (nova) Grande Transformação está ocorrendo de maneira cada vez mais explícita: a pretensão da autorregulação pressuposta em uma “sociedade de mercado” perdeu novamente sua força retórica moralizante e estruturadora dos comportamentos. O que está se reclamando de diferentes formas é, no fundo, que a sociedade não fique como refém exclusivo do mercado, ou seja, que exista alguma forma de “intervenção social” sobre o mesmo, de regulação, com a variedade de opções e contradições que supõe um pedido desta natureza; em resumo, a sociedade antes que o mercado, e não o contrário.

II

O fim da primeira versão do padrão ouro internacional constituiu um momento chave na história do capitalismo, distinguindo duas épocas: representou um freio ao liberalismo (econômico) como modelo civilizatório, com sua variada edificação conceitual de ideologias conexas e instituições, dando lugar a uma transformação radical nas ideias sobre os destinos coletivos, inclusive deixando espaço de atuação para aquelas opções que terminaram por constituir um dos capítulos mais dolorosos da história do homem em sociedade.

No entanto, por processos históricos superpostos e derivados daquelas mudanças, após as modificações nos padrões de transação monetária dos anos 70 e a internacionalização das forças produtivas, acoplados à gravitação crescente dos circuitos de valorização financeira, um (novo) liberalismo conseguiu se reposicionar como modelo de sociedade, em paralelo com a hegemonia estadunidense. Agora, esse mesmo (neo)liberalismo que foi se desenvolvendo desde então como discurso e prática econômica se desenhou ideologicamente sobre uma similar pretensão de “sociedade de mercado” autorregulada, com o acréscimo de que, pelas complexidades das circunstâncias, essa mesma pretensão devia ser equalizada por meio de alguns organismos supranacionais chave – FMI, Banco Mundial, Banco Central Europeu, entre outros – que dariam curso e projeção ao próprio “equilíbrio natural”.

Como aquele, agora é este neoliberalismo que está sob suspeita, sobretudo a partir da crise do capital financeiro (2008) que colocou a maioria dos países centrais diante da impossibilidade de, por um lado, reestabelecer uma dinâmica de acumulação que reverta a situação de default generalizado e, por outro controlar as derivas da própria especulação financeira que, longe de ter se moderado, espalha-se para múltiplos segmentos – como as commodities alimentares, questão que pode tornar o panorama global ainda menos auspicioso.

III

O que hoje se ativa em distintas partes do mundo é, como nos anos 30 do século XX, uma crítica profunda ao liberalismo, agora neoliberalismo. Evidentemente não se expressa de uma forma orgânica nem homogênea, o que debilita em certa medida a ressonância de questionamentos comuns feitos em diferentes tempos, espaços e idiomas. Mas no centro das críticas populares, massivas, desordenadas, estão quase os mesmos elementos de antanho, com suas novas roupagens: em grandes traços e segundo as idiossincrasias de cada território, os protestos se dirigem contra as limitações das fórmulas representativas do Estado – ao fim das contas, a garantia de que as engrenagens sociais mantenham os privilégios – e as incapacidades derivadas para exercer a administração, e também contra a vacuidade na qual caiu a ficção liberal do consumo e do progresso individual, que espatifou contra a materialidade das realidades.

Uma crise econômica e substantivamente ideológica, de sentido, que não anula o sistema de um instante para outro, muito pelo contrário, mas que afeta a legitimidade e a autoridade de suas instituições no médio e longo prazo, questão não menor no que diz respeito à reprodução de uma determinada ordem social. Se agora, esta ficção da “sociedade de mercado” autorregulada se fratura na Grécia e na Espanha, esse movimento é resultado de um processo que vem de vários anos e de outros países. Talvez suas primeiras manifestações tenham surgido nas periferias; neste sentido, o ciclo de protestos sociais latino-americanos que deu lugar a certos governos progressistas deve somar-se a essa lista. Não é causalidade, então, que seja no Chile – na contramão destes governos e dos processos que os forjaram – onde também se replica o atual descontentamento, a partir de um rígido esquema universitário exclusivamente orientado à figura de um consumidor privilegiado.

IV

Como socialização política, o liberalismo/neoliberalismo volta a colapsar; como modelo organizador da sociedade volta a evidenciar sua incapacidade de modo contundente. Nisso consiste, a atual crise do capitalismo: a sucessão de “indignados” não faz mais do que exibir o fracasso de sua proposta civilizatória, a inconsistência de seus princípios, a contradição de suas instituições. A pretensão autorregulatória neoliberal se desmancha dia após dia, do mesmo modo que suas “promessas”. Resulta fundamental que as demandas de intervenção e regulação desta crise não se resolvam autoritariamente como no século passado, uma tendência latente se se leva em conta os triunfos das direitas políticas em boa parte dos países europeus.

Neste sentido, certas medidas políticas definidas por alguns governos latino-americanos parecem estar à altura das circunstâncias, o que é inclusive, admitido por acadêmicos estadunidenses e europeus. Não é pouco, levando em conta o tradicional lugar que foi outorgado à região.

(*) Professor do Instituto de Estudos da América Latina e Caribe, da Universidade de Buenos Aires.

Tradução: Katarina Peixoto

FMI: MISÉRIA INTELECTUAL DA ORTODOXIA


Um conjunto de documentos recém-publicados por uma auditoria independente ajuda a entender por que o FMI falhou na sua missão de alertar com antecedência para os desequilíbrios que levaram à recente crise mundial. O problema não é apenas que o FMI defendeu políticas inadequadas, como a desregulamentação financeira indiscriminada e a abertura das contas de capitais a qualquer custo, mas principalmente a falta de capacidade para refletir sobre realidades econômicas que fogem do manual. O Escritório de Avaliação Independente (IEO, na sigla e inglês) chegou a essa conclusão depois de analisar 6,5 mil trabalhos de pesquisa econômica publicados pelo FMI nos últimos dez anos, justamente a ante-sala da crise mundial. Pior: 62% dos economistas do Fundo afirmaram que se sentem pressionados a alinhar as conclusões de suas pesquisas econômicas ao pensamento dominante no FMI. Hoje, 60% dos cargos de chefia no FMI são ocupados por profissionais de países anglo-saxões. Nada menos de 63% dos economistas obtiveram doutorado em universidades americanas.  Entre as grandes economias emergentes, 57% consideram que as pesquisas são feitas para reiterar um conjunto pré-definido de prescrições, sem espaço para visões alternativas ( com informações Valor; 24-06) 

(Carta Maior; 6º feira,24/06/ 2011)