Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Manual da Imprensa Golpista


Blog cidadania-Eduardo Guimarães
Jovem estudante de jornalismo, não se iluda: a profissão que abraçará, à diferença de todas as outras neste país em processo de euforia econômica, oferece muito poucos bons empregos – entenda-se empregos em empresas que ofereçam perspectivas de ascensão profissional e econômica.
E os poucos empregos promissores que existem, nem são tão bons porque obrigarão o jornalista neófito a violar os princípios éticos que lhe forem ensinados na universidade e a própria dignidade, tendo que curvar a espinha a cada edição do veículo em que for trabalhar. E em qualquer vertente do jornalismo da grande imprensa.
Essa situação se deve à concentração da propriedade de meios de comunicação, à propriedade cruzada desses meios e dos critérios políticos para entrega de concessões públicas de rádio e tevê a algumas poucas famílias que controlam toda a grande mídia brasileira.
Acima de todas essas famílias midiáticas, míseras quatro controlam o “centro nervoso” da comunicação no Brasil: as famílias Marinho, Frias, Civita e Mesquita. Depois delas, mais umas três ou quatro formam tentáculos dos quais se ramificarão mais algumas dezenas de empresas de médio e pequeno porte que reproduzirão o que veicular o tronco dessa árvore cartelizada da comunicação.
A oportunidade de conseguir algum dos poucos empregos nesses veículos só existirá na medida em que você, caro estudante de jornalismo, estiver disposto a seguir um manual que vai mudando de personagens através dos anos, mas que mantém sempre os mesmos “princípios”.
Esse manual se baseia, acima de tudo, em crenças e conveniências político-ideológicas e econômicas das famílias midiáticas. E como essas empresas se amparam em benesses que conseguiram institucionalizar no Brasil por terem permanecido “amigas” do Estado por décadas incontáveis, tudo passa pela postura político-ideológica do candidato a emprego.
Se você, estudante de jornalismo, desviar-se dos ditames dessa postura, estará condenado a se tornar assessor de imprensa de empresas, políticos ou celebridades, ou a tentar a imprensa dita “alternativa”, que mal consegue sobreviver justamente porque os recursos públicos são uma espécie de monopólio das famílias supracitadas.
A seguir, leia e entenda esse manual de corrupção e submissão da alma. E decida se é o que quer para você.
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MANUAL DA IMPRENSA GOLPISTA
1 – Ser antipetista, mas sempre se dizendo um petista “arrependido devido à corrupção do governo Lula”.
2 – Afirmar que o êxito econômico e social do Brasil durante o governo Lula é mérito do governo FHC, ignorando todas as catástrofes sociais e econômicas que ocorreram no governo tucano.
3 – Afirmar que a ditadura militar de 1964 foi implantada para “impedir uma ditadura comunista no Brasil”, mas sem jamais perguntar onde estão as provas disso.
4 – Afirmar que a Venezuela é uma ditadura mesmo a despeito de que vige o voto livre no país e de que nenhuma das suas muitas eleições sofreu qualquer questionamento sério, tendo sido todas referendadas por observadores internacionais.
5 – Condenar previamente todos os petistas envolvidos no escândalo do mensalão – José Dirceu à frente – com base apenas no fato de que estão sendo julgados. E afirmar, peremptoriamente, que Lula foi o mentor de tudo.
6 – Dizer que todas as absolvições de petistas e aliados em processos judiciais decorrentes de escândalos inflados ou inventados pela mídia são produto de farsa jurídica, enquanto usa as absolvições jurídicas de tucanos para denunciar que foram vítimas de armações políticas.
7 – Jamais investigar qualquer denúncia contra o governo paulista ou contra qualquer tucano, limitando-se a fazer uma matéria meio antipática a cada seis meses ou um ano só para disfarçar, enquanto produz ataques diários a petistas e aliados.
8 – Afirmar que Lula foi culpado pelos desastres dos aviões da TAM e da Gol apesar de que as investigações e perícias mostraram que foram culpa de pilotos e do equipamento.
9 – Afirmar que Antonio Palocci violou o sigilo do caseiro Francenildo apesar de o atual ministro-chefe da Casa Civil ter sido absolvido pela Justiça.
10 – Ficar do lado da Itália e contra o Brasil na questão da extradição do ativista italiano Cesare Battisti, assumindo cada argumento italiano in limine e criticando sempre os motivos do governo brasileiro, ignorando qualquer argumento em contrário.
11 – Ficar sempre a favor de golpes ou tentativas de golpes de Estado contra governos de esquerda, como no caso de Honduras, Venezuela ou Bolívia, e ficar no mínimo isento em casos assim quando o governo for de direita.
12 – Sempre lembrar com muito, mas muito maior ênfase o que persiste de ruim no Brasil do que o que melhorou, atribuindo todos os problemas históricos do país ao governo Lula, acusando-o por não resolvê-los de uma vez e desconsiderando o que fez para diminui-los como nenhum outro governo.
13 – Sempre puxar o saco de FHC apesar de ele ser rejeitado por quase 80% da opinião pública, segundo as pesquisas sobre sua popularidade.
14 – Sempre tratar Serra como vítima do PT, apesar de ser talvez o político mais beligerante do país ao lado de Ciro Gomes.
15 – Sempre afirmar que o PT fez, sim, dossiês contra o PSDB, apesar de jamais ter surgido uma única prova cabal dessa hipótese.
16 – Sempre dizer que o estilo discreto de Dilma agrada mais a todos do que a “verborragia” de Lula, mas sempre sem dizer de onde tirou a informação.
17 – Garantir que Serra não foi atingido por uma bolinha de papel na campanha eleitoral passada, mas por um rolo de fita crepe pesando 1 quilo, ignorando as perícias de universidades dizendo o contrário.
18 – Bloquear, em colunas de cartas de leitores, quase todas as manifestações favoráveis ao PT ou a governos do “eixo do mal” de outros países, ou seja, de Cuba, Venezuela, Irã e Bolívia. E, ao mesmo tempo, brandindo sempre intenções de petistas de promoverem “censura”.
19 – Ser visceralmente contra cotas para negros nas universidades, afirmando sempre que formados através dessas cotas serão profissionais inferiores, apesar dos estudos das universidades que mostram que cotistas se saem igual ou melhor do que os não-cotistas.
20 – Tratar o MST como uma organização criminosa violenta apesar de os sem-terra serem vítimas de atrocidades homicidas praticadas pelos latifundiários, que dificilmente sofrem violência física na disputa pela terra.
21 – Entender, aceitar e defender a premissa de que jornalista que quer ganhar dinheiro e ser famoso hoje no Brasil só pode ter uma opinião: a do patrão.
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Deve faltar muita coisa nesse “manual” de antijornalismo da Imprensa golpista. Quem se lembrar de algo que não tenha sido mencionado pode complementar a lista, que irá sendo aumentada conforme as sugestões não-repetidas forem chegando.
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SUGESTÕES DOS LEITORES
22 – Afirmar, categoricamente, que o Bolsa Família significa “Bolsa Esmola” e que irá transformar milhões de brasileiros em vagabundos que vivem às custas do Estado.
23 – Definir o Lula como um sapo bêbado sortudo que surfou na maravilhosa economia global durante todo o seu mandato.
24 – Insistir que o Lula é quem considerava a Dilma um poste sem a menor qualificação para o cargo de presidenta do Brasil.
25 – Afirmar que os blogueiros independentes são todos petistas, indistintamente, e que recebem benesses do PT de forma direta ou indireta.
26 – Dizer que o Brasil é uma república sindicalista e portanto os sindicatos são todos pelegos e vivem às expensas do Estado brasileiro.
27 – Repetir o mantra neoliberal do Estado Mínimo, mesmo sabendo que até mesmo no maior país capitalista do mundo, os EUA, o Estado tem intervido na economia.
28 – As fotos publicadas de esquerdistas devem causar repulsa, ao contrário das dos representantes da direita.
29 – Ler diariamente a coluna do Merval em O Globo, assistir religiosamente a Míriam Leitão no Bom Dia Brasil, da Globo, e ouvir, com fervor, o comentário do Jabor na CBN. E repetir, em seus textos e conversas, todos os argumentos desenvolvidos por esses luminares da grande mídia brasileira.
30 – Insistir dia sim e outro também que a Dilma foi eleita pelos votos dos miseráveis analfabetos.
31 – Afirmar que Lula aparelhou o estado, nomeando os companheiros para os cargos públicos.
32 – Sempre que surgir qualquer fato negativo em alguma esfera de governo, mencionar com destaque se o partido responsavel for de esquerda ou algum aliado, caso contrario não mencionar o Partido
33 – Sempre fazer manchetes com uma segunda parte, mais ou menos assim: Governo tira 100% da miséria, mas ricos estão perdendo terreno.
34 – Afirmar que o Banco Panamericano recebeu recursos via Caixa a mando do Lula pra eleger a Dilma via SBT.
35 – Afirmar, categoricamente, que Dilma é a favor do aborto, que defende a morte, mas que a classe alta (por exemplo, mulher do Serra) pode fazer aborto – no Chile, é claro.
36 – Insinuar, em toda oportunidade que for possível, que o ex-presidente Lula tem falha de caráter, é alcoólatra e foi conivente com a corrupção.
37 – Para fazer futrica política entre Dilma e Serra, afirmar sempre que o governo Dilma é eficiente e discreto, ao contrário do governo do presidente Lula, que falava demais e não respeitava a liturgia do cargo.
38 - Afirmar sempre que o sonho de todo petista é censurar a impoluta, imparcial e magnânima mídia conservadora brasileira, esta sim a verdadeira defensora da democracia e dos interesses dos pobres, fracos e oprimidos do Brasil.
39 – No período das eleições para qualquer cargo, seja para prefeito, governador ou presidente, não ter a menor vergonha na cara e culpa de consciência de agir como militante político da direita, inclusive podendo transformar a redação e o meio de comunicação em comitê de campanha contra os petistas.
40 – Na eleições, dar todo o destaque a qualquer denúncia contra qualquer petista, de qualquer nível e transformar imediatamente o caso em escândalo político nacional; já se a denúncia for contra tucano ou demo, ignorar o assunto, por mais grave que seja, ou, se não der para esconder, dar algumas notinhas e sumir com o assunto da pauta o mais rápido.
41 – Nos temas mais técnicos ou polêmicos, mencionar a “opinião insuspeita” de “especialistas reconhecidos”; sempre e quando os tais “especialistas” tenham, exatamente, a mesma opinião do baronato da mídia e, de preferência, tenham vínculo notório e inegável com a oposição e o conservadorismo.
42 – Sempre esconder os crimes contra a Humanidade praticados semanalmente pelo Estado de Israel contra o Povo Palestino ao mesmo tempo em que retrata os israelenses como vítimas inocentes do povo árabe.
43 – Publicar documentos falsificados de petistas e argumentar que não pode garantir que sejam verdadeiros, mas tampouco comprovar que são falsos.

O que há em comum entre as ditaduras árabes e os governos paulistas do PSDB?



As semelhanças não ficam apenas no autoritarismo e na brutalidade policial, há também a corrupção generalizada, as relações promíscuas com a imprensa, o elitismo, as políticas excludentes, e a sede de perpetuação no poder.

Egito
Argélia
Bahrein
São Paulo
São Paulo
São Paulo

Os EUA, arrimo de Israel no Oriente Médio


Há uma espécie de ‘ponto cego’ no panorama mental de muita gente sempre que se trata de Israel – fenômeno frequente também entre os pensadores progressistas. Ninguém fala contra Israel, porque quem fale sempre poderá ser dito antissemita, acusado de “selecionar” Israel como alvo preferencial de críticas. A imprensa não discute Israel nem noticia o que Israel faz no Oriente Médi, mais diretamente aos palestinos que vivem sob ocupação militar. O tema sempre dispara cartas de leitores indignados e cancelamento de assinaturas de jornais e revistas. Assim, silencia-se sobre o fato de que Israel é o fator determinante de praticamente todas as políticas e ações dos EUA no Oriente Médio. O artigo é de Kathleen Christison.

Há cerca de dez dias, participei de discussão especialmente interessante sobre Israel e seu relacionamento com a política dos EUA para o Oriente Médio, considerados os atuais acontecimentos no Egito e em outros países do mundo árabe. Meu interlocutor foi um dos mais brilhantes comentaristas de política norte-americana da mídia alternativa, mas disse que, para ele, Israel não teria qualquer importância considerável no que os EUA fazem na região.

Devo dizer que pode ser caso de uma espécie de ‘ponto cego’ no panorama mental sempre que se trata de Israel – fenômeno frequente também entre os pensadores progressistas. E espero que o torvelinho pelo qual passa a região acabará abrindo os olhos também dos que ainda tendem a minimizar o papel central que Israel desempenha na política dos EUA.

Os recentes eventos no Egito e os “Documentos da Palestina” publicados por WikiLeaks e divulgados pela rede al-Jazeera, com conversações entre palestinos e israelenses, aí estão, como prova escrita, mais contundentes que qualquer outra divulgação, de que os EUA fazem o que fazem no Oriente Médio em vasta medida por causa de Israel – para proteger e salvaguardar Israel contra os vizinhos árabes que se revoltam contra o tratamento que Israel dá aos palestinos; contra muçulmanos, também revoltados pelos mesmos motivos; contra todos os críticos que reclamam das agressões militares dos israelenses contra Estados próximos; contra a ira de outros Estados eternamente ameaçados por Israel; contra governos na região que não aceitam que Israel seja o único Estado nuclear e insistem em desenvolver programas nucleares próprios, que lhes deem meios para conter Israel e defender-se das agressões dos israelenses.

É instrutivo lembrar que o Egito é importante para os EUA quase exclusivamente porque assinou um tratado de paz com Israel em 1979 e ajuda a garantir a segurança de Israel, defendendo a fronteira ocidental; ajudando em ataques militares contra outros países árabes; fechando os túneis que chegam a Gaza, pelos quais o Hamás contrabandeia algumas armas, e a população de Gaza obtém comida e outros artigos essenciais; e, claro, também porque o Egito ajuda a minar o poder do Hamás em Gaza. Os EUA também consideram o Egito como roldana importante em sua máquina de “guerra ao terror” e na guerra contra o radicalismo islâmico – função também intimamente ligada aos interesses de segurança de Israel.

Obviamente, o Egito é importante, de pleno direito, na Região. O tamanho do país e sua localização estratégica garantem que sempre terá influência considerável na política do Oriente Médio, e há séculos é o coração da cultura árabe, para o que não precisa de ajuda dos EUA.

As três últimas semanas de luta do povo egípcio por democracia aumentou a importância do Egito, capturando a imaginação dos povos do mundo inteiro (exceto de muitos, talvez a maioria, em Israel e da direita linha-dura nos EUA, com destaque para a ala daquela direita que apóia Israel).

Mas a parte fundamental que interessa destacar é que os EUA não teriam o relacionamento militar, político e econômico tão íntimo que têm com o Egito há mais de 30 anos, não fosse o Egito aliado de Israel e o fato de que, nas palavras de Rashid Khalidi, especialista em Oriente Médio, o Egito sempre aceitou “a hegemonia regional de Israel”. O 1,5 bilhão anual de dólares em ajuda militar, e os 28 bilhões em assistência econômica e para o desenvolvimento ao longo dos últimos 35 anos não seriam entregues ao Egito, se o antecessor de Mubarak, Anwar Sadat, não tivesse suplicado por eles e, afinal, não tivesse concordado em assinar um tratado de paz com Israel, que removeu o Egito – o mais poderoso exército do mundo árabe – da lista das ameaças ‘existenciais’ contra Israel, abandonando os palestinos e outros partidos árabes aos seus próprios (poucos) recursos.

Com o Egito fora do jogo e já, de fato, jogando a favor, Israel ficou livre para lançar vários ataques militares contra países vizinhos, duas vezes contra o Líbano e incontáveis vezes contra Gaza e a Cisjordânia, e livre para expandir as colônias exclusivas para judeus em territórios ocupados, roubar terra dos palestinos e massacrar rotineiramente os palestinos, sem medo de retaliação nem, sequer, de qualquer manifestação mais significativa vinda de qualquer exército árabe.

O comentarista israelense Aluf Benn já destacou além disso que, com Mubarak no poder, Israel sempre poderia sentir-se seguro em relação ao flanco ocidental no caso de atacar o Irã.

Hoje, Israel já não pode atrever-se a atacar o Irã, e assim continuará até que volte (se voltar) a poder confiar que receberá do Egito “apoio tácito a todos os seus atos”. Mas quem quer que substitua Mubarak, seguindo esse raciocínio, também terá de preocupar-se com não despertar a fúria das massas, no caso de mostrar muita disposição para apoiar Israel. “Sem Mubarak, desaparece qualquer possibilidade de Israel atacar o Irã.”

Para Israel e, portanto, também para os EUA, o investimento de bilhões que os EUA fizeram no Egito sempre valeu cada vintém. O fim da “estabilidade” que o Egito assegurava – ou seja, com Israel já sem poder confiar que se manterá em segurança, como potência regional dominante ­– é o fator de mudou muito dramaticamente todos os cálculos estratégicos dos EUA e de Israel.

Antes do tratado de paz Egito-Israel, os EUA jamais consideraram que o Egito fosse o item de alta importância estratégica que passou a ser depois de render-se e por toda a sua capacidade militar a serviço dos interesses de Israel. Pode-se dizer o mesmo sobre as relações dos EUA com inúmeros outros estados árabes. O envolvimento dos EUA no Líbano – inclusive os esforços para tirar o exército sírio do Líbano – também se explica quase completamente pela defesa dos interesses de Israel também ali.

O fracasso da invasão de Israel ao Líbano em 1982 ainda reverbera: em resposta àquela invasão, os EUA mandaram um contingente de Marines, que se envolveu em luta direta com facções libanesas, o que levou a um ataque a bomba devastador contra o quartel-general dos Marines que matou 241 militares e agentes dos EUA em 1983. O crescimento do Hezbollah, representando a população xiita sitiada no sul do Líbano, é resultado direto da invasão israelense; o aumento no número de pessoal norte-americano seqüestrado pelo Hezbollah ao longo dos anos 1980s é resultado da hostilidade que cresceu contra os EUA, por causa do apoio a Israel. Israel retirou-se em 2000 do sul do Líbano, depois de vinte anos de ocupação, deixando atrás de si um Hezbollah mais poderoso do que jamais fora. O continuado conflito ao longo da fronteira levou ao brutal ataque de Israel contra o Líbano no verão de 2006. Mas Israel não derrotou a organização islâmica nem fez diminuir sua popularidade. Como resultado disso, os EUA já há anos estão obrigados a trabalhar para minar o poder do Hezbollah e, essencialmente, para manter o Líbano como sinecura israelense.

A Jordânia foi aliada menor dos EUA durante décadas, até que concluiu um tratado de paz com Israel em 1994 e ganhou status aos olhos dos EUA. Então, o pequeno Estado na fronteira leste de Israel passou a receber gorda ajuda militar e econômica dos EUA. O perfil oficial da Jordânia nos arquivos do Departamento de Estado dos EUA expõe os argumentos que explicam o bom relacionamento com a Jordânia, todos ligados, mais ou menos diretamente, a Israel, mas sem jamais mencionar Israel: “A política dos EUA busca reforçar o comprometimento da Jordânia com a paz, a estabilidade e a moderação. O processo de paz e a oposição da Jordânia ao terrorismo seguem e indiretamente reforçam interesses mais amplos dos EUA. Assim também, mediante assistência militar e econômica e por vias de cooperação política, os EUA têm ajudado a Jordânia a manter-se estável e próspera.”

As referências a “reforçar” o comprometimento da Jordânia “com a paz, a estabilidade e a moderação” e à manutenção da estabilidade e da prosperidade da Jordânia dizem, de fato, sobre a Jordânia ajudar a manter a área – e sobretudo a fronteira com Israel – calma. Assim também, a expressão “indiretamente reforçam interessem mais amplos dos EUA” refere-se ao compromisso de cuidar da segurança de Israel. “Moderação”, no jargão do Departamento de Estado, é palavra-código para defesa dos interesses de Israel; “estabilidade” significa sempre ambiente seguro que atenda, primeiro, aos interesses de Israel.

Pode-se afirmar com segurança que nem o Líbano nem a Jordânia jamais teriam a importância que têm para os EUA, se os EUA não considerassem importante manter calmas as áreas de fronteira desses dois países com Israel, sempre considerada, só, a segurança de Israel. O mesmo não se pode dizer da Arábia Saudita, onde os EUA têm interesses vitais no petróleo, além da preocupação com a segurança de Israel. Mas, ao mesmo tempo, os EUA controlaram todos os impulsos dos sauditas na direção de defender os palestinos ou quaisquer outros árabes sob sítio dos israelenses, e puseram os sauditas bem alinhados, pelo menos implicitamente, ao lado de Israel, em várias questões – seja quando Israel atacou o Líbano em 2006 seja em 2008-2009, quando Israel massacrou Gaza seja, ainda, no que tenha a ver com a suposta “ameaça iraniana”. Vai muito longe o tempo em que os sauditas enfureceram-se por conta do apoio dos EUA a Israel, a ponto de imporem um embargo ao petróleo, como aconteceu em 1973.

Os documentos recentemente divulgados por WikiLeaks de telegramas do Departamento de Estado e, sobretudo, a divulgação pela rede al-Jazeera de minutas de reuniões das negociações entre Israel e palestinos ao longo da última década também mostram com ofuscante clareza o quanto os EUA jogam duro, e que o jogo duro sempre funcionou, para ajudar Israel no processo de negociação com palestinos.

O apoio dos EUA a Israel jamais foi segredo, e cada vez é menos secreto ao longo dos últimos anos, mas os telegramas vazados fazem ver um quadro muito mais dramático do total desdém dos EUA pelos interesses dos palestinos nas negociações e o quanto os palestinos foram deixados sem qualquer poder de barganha ante a recusa de Israel a qualquer concessão.

Chama a atenção, naqueles documentos, que os EUA fazem o papel de “advogado de Israel” – descrição cunhada por Aaron David Miller, depois de trabalhar nas negociações durante a era Clinton. E é o mesmo papel sempre, seja nos governos Bill Clinton ou George W. Bush ou Barack Obama: sempre prevalecem os interesses e demandas de Israel.

Fora do mundo árabe, também a política dos EUA para o Irã é ditada praticamente toda, por Israel. A pressão para atacar o Irã – seja ataque direto dos EUA, ou apoio dos EUA a ataque de Israel – que está em pauta há quase oito anos, desde o início da guerra no Iraque, sempre veio toda de Israel e de seus apoiadores nos EUA. É pressão declarada, e é impossível negar o quanto Israel pressionou para que os EUA atacassem o Iraque.

Se algum dia os EUA se envolverem em ataque militar contra o Irã, diretamente, ou como força de apoio dos israelenses, acontecerá porque Israel decidiu que acontecesse. Se não houver ataque algum contra o Irã, como Aluf Benn prevê que não haverá, foi porque Israel tremeu, agora, depois de iniciada a Revolução Egípcia.

Israel e o desejo de defender a própria hegemonia regional foram fatores substancialmente importantes também para arrastar os EUA à guerra no Iraque – embora haja quem discorde, entre progressistas e conservadores, que entendem que aí haveria em jogo outras forças além das relações EUA-Israel-árabes.

Meu interlocutor progressista, por exemplo – que fez valente oposição ao envolvimento dos EUA na aventura do Iraque e também se opõe fortemente a qualquer ataque ao Irã, e está sem dúvida profundamente perturbado por os EUA não terem pressionado para a imediata partida de Mubarak – não concorda completamente com minha ideia de que Israel e seus apoiadores nos EUA são fator a considerar no envolvimento dos EUA na guerra do Iraque. No início da discussão, ele falou longamente sobre os neoconservadores, seu antigo think tank “Project for a New American Century (PNAC)” e o manifesto interesse do PNAC dos neoconservadores em fazer avançar a hegemonia global dos EUA; e defendeu a ideia de que, quando George W. Bush chegou ao poder, todo um completo think tank instalou-se na administração. Mas, embora reconheça os objetivos dos neoconservadores e o sucesso que alcançaram na implantação daqueles objetivos, nem assim concorda com que o PNAC e os neoconservadores também estivessem tão interessados em promover a hegemonia regional de Israel quanto em promover o imperialismo norte-americano.

Quando, contudo, observei que Bush não instalou só um think tank dentro do governo, mas também, simultaneamente, instalou efetivamente o lobby israelense, ou a ala mais ativa daquele lobby, nos mais altos escalões do governo, nos conselhos políticos, meu amigo logo concordou: oh, claro, ele concordou com vigor, eles (os neoconservadores) “são todos Likudniks.” Há aqui alguma espécie de desconexão, que meu interlocutor parece não perceber: além de reconhecer a íntima ligação entre os neoconservadores e Israel, ele também reconhece que os neoconservadores trabalharam, de algum modo, por Israel. Como se tudo se justificasse, porque escreveram suas simpatias pró-Israel nas portas da Casa Branca e do Pentágono, ao assumir os cargos. Como se tudo se justificasse por declararem que abdicavam de todas as suas longas histórias de serviços prestados a Israel e de orientação dada há anos a políticos israelenses – orientação que incluiu conselho muito real, por escrito, em 1996, para que Israel atacasse o Iraque.

Sempre foi muito claro para muitos analistas, durante anos, até décadas, que os EUA favorecem Israel, mas a realidade jamais foi revelada tão explicitamente, até que eventos recentes puseram a nu o relacionamento, e trouxeram à luz o fato de que no centro de praticamente todos os movimentos dos EUA na região sempre está Israel.

Sempre foi tabu falar dessas realidades, tabu que amordaçou gente como o meu interlocutor. Ninguém fala contra Israel, porque quem fale sempre poderá ser dito antissemita, acusado de “selecionar” Israel como alvo preferencial de críticas. A imprensa não discute Israel nem noticia o que Israel faz no Oriente Médio e, nunca, o que Israel faz mais diretamente aos palestinos que vivem sob ocupação militar, porque o tema sempre dispara cartas de leitores indignados e cancelamento de assinaturas de jornais e revistas, dos apoiadores de Israel que militam nos EUA. Candidatos a deputado e senador poriam em risco as gordas doações de campanha, se dissessem a verdade sobre Israel. E assim aconteceu que Israel sumiu do radar da opinião pública. Muitos progressistas até mencionam Israel “de passagem”, como meu amigo, mas nada além disso. E a crítica não avança.

Ultimamente, porque já não se fala sobre Israel, já ninguém nem pensa sobre Israel. Assim, já ninguém nem vê que Israel é o fator determinante de praticamente todas as políticas e ações dos EUA no Oriente Médio.

É tempo de começar a falar de Israel. Todos, no Oriente Médio, já começam a ver o que há para ver, como a Revolução Egípcia deixou tão claro. É provável que muitos outros, em todo o mundo, também estejam vendo. Temos de começar a ouvir a voz do povo – não dos políticos e líderes, que vivem de dizer o que supõem que nos interesse ouvir.

(*) Kathleen Christison é ex-analista política da CIA. É co-autora de Palestine in Pieces, com Bill Christison, seu marido.Recebe e-mails em kb.christison@earthlink.net 

(*) Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu

OVNI EM ISRAEL NO TEMPLO DA ROCHA.

Dias na Carta: PiG (*), principalmente a Globo, não dá tregua ao Nunca Dantes


"Eles vão ter que me engolir !"


Conversa Afiada reproduz texto de Maurícido Dias, na Carta Capital:

Um império contra um operário


A mídia, Globo na frente, não dá trégua ao ex-presidente. Por Mauricio Dias


Nunca foram boas as relações entre a mídia brasileira e o torneiro mecânico Lula, desde que, nos anos 1970, ele emergiu no comando das jornadas sindicais no ABC paulista, onde estão algumas das empresas do moderno, mas ainda incipiente capitalismo brasileiro. Em consequência, quase natural, o operário não foi recebido com entusiasmo quando, após três fracassos, venceu a disputa para a Presidência da República, em 2002.

Os desentendimentos se sucederam entre o novo governo e o chamado “quarto poder” e culminaram com a crise de 2005 quando televisões, jornais, rádios e revistas viraram porta-vozes da oposição que se esforçava para apear Lula do poder. Inicialmente, com a tentativa de impeachment. Posteriormente, após esse processo que não chegou a se consumar, armou-se um “golpe branco” em forma de pressão para o presidente desistir da reeleição, em 2006.


Lula ganhou e, em 2010, fez o sucessor. No caso, sucessora. Dilma Rousseff sofreu quase todos os tipos de constrangimentos políticos. Ela tomou posse e, no dia seguinte, foi saudada por deselegante manchete do jornal O Globo, do Rio de Janeiro: “Lula elege Dilma e aliados preparam sua volta em 2014”.


A reportagem era um blefe político. Uma “cascata” no jargão jornalístico. O jornal O Globo, núcleo do império da família Marinho, tornou-se a ponta de lança da reação conservadora da mídia e adotou, desde a posse de Lula, um jornalismo de combate onde a maior vítima, como sempre ocorre nesses casos, é o fato. Sem o fato abre-se uma avenida para suspeitas versões.

O comportamento inicial da presidenta, mar­ca­do por discrição e austeridade, foi uma surpresa para todos. O Globo inclusive. Não há sinais de que seja uma capitulação ao poder dos donos da mídia com os quais Dilma tem travado discretos diálogos. Armou-se circunstancialmente um clima de armistício. Na prática, significou um fogo mais brando, a provocar um visível recuo de comentaristas que eram mais agressivos com Lula. Soltam, porém, elogios hesitantes por não saberem até onde poderão seguir.


Esse armistício se sustenta numa visão de que as situações não são iguais. Dilma não é Lula. É claro que há diferenças entre o governo de ontem e o de hoje. No entanto, o carimbo pessoal da presidenta na administração do País faz a imprensa engolir a propaganda de que ela era um “poste”. Essa contradição se aguça na sequência dessa história. Dilma passou a ser elogiada e Lula criticado.


Alguns casos, colhidos da primeira página de O Globo ao longo de uma semana, expressam o que ocorre, em geral, em toda a mídia:

Atos de Dilma afastam governo do estilo Lula (6/2) – críticas ao ex no elogio ao governo Dilma.

Por qué no te callas? (8/2) – crítica atribuída a um sindicalista, mantido no anonimato, sobre apoio de Lula ao salário mínimo proposto por Dilma.


A fatura da gastança eleitoral (10/2) – a respeito de despesas do governo Lula com suposta intenção eleitoral.

Dilma aposenta slogan de Lula (11/2) – sobre a frase “Brasil, um país de todos”.


Herança fiscal de Lula limita o começo do governo Dilma – (13/2) – crítica a Lula ao corte no Orçamento proposto por Dilma.


Ela recebe afagos e ele, pedradas. Procura-se, sem muito disfarce, cavar um fosso entre o ex e a presidenta. Situação que levou Lula, na festa de aniversário do PT, a reagir: “Minha relação com Dilma é indissociável”.

(*) Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista