Entre Collor e Boni, sou mais o Boni
Saiu na Folha (*):
Ex-executivo da Globo mentiu sobre debate, diz Collor
Ex-presidente nega ter recebido ajuda de Boni ao se preparar para confronto com Lula na eleição de 1989. Envolvimento com a campanha de Collor teve caráter ‘pessoal e informal’, afirma diretor da Rede Globo
NELSON DE SÁ
ARTICULISTA DA FOLHA
O ex-presidente Fernando Collor reagiu ontem a uma entrevista em que José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, principal executivo da Rede Globo durante a campanha eleitoral de 1989, descreveu os “palpites” que teria dado ao então candidato, antes do debate que antecedeu o segundo turno da eleição.
“Nós fomos procurados pela assessoria do Collor”, declarou Boni à Globo News, no sábado. Miguel Pires Gonçalves, então superintendente da Globo, teria pedido a Boni que “desse alguns palpites” para a apresentação de Collor no debate.
“Nunca pedi a ninguém para falar com o Boni, meu contato era direto com o doutor Roberto”, rebate Collor, referindo-se a Roberto Marinho, na época presidente das Organizações Globo.
Collor também nega as outras declarações de Boni, que detalhou o que teria feito: “Conseguimos tirar a gravata do Collor, botar um pouco de suor com uma glicerinazinha, e colocamos as pastas todas que estavam ali, com supostas denúncias contra o Lula, mas que estavam vazias ou com papéis em branco”.
“Nunca tirei a gravata nos debates. Mentira”, rebate Collor. “Suor: nem natural nem aspergido pelo Boni. Glicerina: mais uma viajada na maionese. Pastas vazias: ao contrário, cheias de papéis, números da economia, que sequer utilizei.”
Segundo Boni, “todo aquele debate foi produzido”, na “parte formal”, sendo de Collor “o conteúdo”. E novamente, segundo Collor, não houve “debate produzido: um foi na Manchete e o segundo foi na Band”. Em “resumo, o Boni despirocou”.
(Segue-se uma declaração de Ali Kamel, em apoio a Boni, que termina assim:
Segundo Kamel, “foi uma iniciativa do Boni, como cidadão, mesmo que com o consentimento de Roberto Marinho”. Ele acrescenta, “com segurança, que, se o episódio era factível no contexto histórico da época, hoje ele seria de todo impossível”, na Globo.
Segundo Kamel, “foi uma iniciativa do Boni, como cidadão, mesmo que com o consentimento de Roberto Marinho”. Ele acrescenta, “com segurança, que, se o episódio era factível no contexto histórico da época, hoje ele seria de todo impossível”, na Globo.
Boni jamais ajudaria o Collor sem o consentimento do Dr. Roberto.
Não tem essa de “iniciativa do Boni”.Nem ele nem o Miguel Pires Gonçalves seriam capazes, por exemplo, de dar uma mãozinha ao Lula.
Não é verdade que o Collor só tratasse com o Dr Roberto.
A linha direta do Collor na Globo era o diretor de jornalismo (um pouco menos poderoso que o Kamel), Alberico de Souza Cruz.
(Alberico é o autor da obra prima que foi a edição do jornal nacional na véspera da eleição do segundo turno, com a edição do debate.
Trata-se de rasteira manipulação, que está nas antologias das melhores escolas de jornalismo do mundo, no capítulo “como usar a televisão para manipular um resultado eleitoral”.
Outro exemplo neste mesmo capítulo foi o que a Televisa mexicana fez para tirar a eleição de Cuahautémoc Cárdenas e dar a Carlos Salinas de Gortari, o FHC deles.
Foi quando o Dr Roberto mandou editar o debate de forma que só aparecesse o que fosse bom para o Collor e o que fosse mau para o Lula.
(Sobre este assunto, escrevi para a Carta Capital uma analise de um livro que tem duas dezenas de elogios ao dr Roberto e pretende ser uma “análise” da relação Collor x imprensa. Vale a pena! )
Foi exatamente essa linha direta com o futuro presidente da República que levou o Dr Roberto a derrubar o Armando Nogueira e colocar o Alberico no lugar dele.
Dr Roberto entrou na eleição com o pé errado.
Apoiou Covas, Quércia e só foi apoiar o Collor quando o Collor aparecia claramente como o único que podia derrotar Lula e Brizola.
Quem sempre esteve ao lado do Collor (e do Quércia) foi o Alberico.
Este ansioso blogueiro não tem como atestar a veracidade de todas as informações do Boni.
Mas, não tem dúvida de que a Globo “produziu” o Collor.
Para o Collor, o Alberico era muito mais importante do que a Belisa Ribeiro, sua marqueteira.
Hoje, talvez fosse impossível o Boni fazer o que fez pelo Collor.
De fato, o Ali Kamel talvez tenha razão.
Porém, só os métodos mudaram.
Agora, a produção se faz com outros instrumentos.
Levar a eleição de 2006 para ao segundo turno, ao ignorar o desastre da Gol, como fez o Ali Kamel.
Com a parcialidade do Casal 45, ao interrogar os candidatos Cerra e Dilma, na eleição de 2010: “mil perdões, candidato”.
O mil perdões está no jornal nacional desses dias.
Levar onze dias para denunciar a Chevron do Cerra.
Abafar a Controlar e o João Faustino do Cerra.
O método é outro.
A parcialidade, a mesma.
A manipulação para ganhar a eleição – a mesma.
Agora, entre uma reconstituição histórica e outra, prefiro a do Boni.
Em tempo: essas mal traçadas linhas sofrem de parcialidade, elas mesmas. Este ansioso blogueiro, profissional de televisão, deve ao Boni a fundação da televisão no Brasil. Televisão que este ansioso blogueiro critica. Mas, que se tornou uma indústria e, em certos momentos, de alta qualidade, devido, sobretudo ao Boni. E isso só foi possível, porque quando o Boni e o Walter Clark chegaram à Globo, os filhos do Roberto Marinho ainda não tinham idade para tocar o negócio. Quando atingiram a maioridade e foram tocar o negócio, a coisa desandou. Fazem até hoje a televisão que o Boni deixou lá, do ponto de vista artístico e de programação. E mal sabem eles que o Boni, se pudesse, já tinha trocado isso tudo. A Boni o que é do Boni !
Paulo Henrique Amorim
(*) Folha é um jornal que não se deve deixar a avó ler, porque publica palavrões. Além disso, Folha é aquele jornal que entrevista Daniel Dantas DEPOIS de condenado e pergunta o que ele achou da investigação; da “ditabranda”; da ficha falsa da Dilma; que veste FHC com o manto de “bom caráter”, porque, depois de 18 anos, reconheceu um filho; que matou o Tuma e depois o ressuscitou; e que é o que é, porque o dono é o que é; nos anos militares, a Folha emprestava carros de reportagem aos torturadores.