Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Confissão de um terrorista!

Ocuparam minha pátria
Expulsaram meu povo
Anularam minha identidade
E me chamaram de terrorista
Confiscaram minha propriedade
Arrancaram meu pomar
Demoliram minha casa
E me chamaram de terrorista
Legislaram leis fascistas
Praticaram odiada apartheid
Destruíram, dividiram, humilharam
E me chamaram de terrorista
Assassinaram minhas alegrias,
Seqüestraram minhas esperanças,
Algemaram meus sonhos,
Quando recusei todas as barbáries
Eles... mataram um terrorista!
Mahmoud Darwich

As previsões de um tucano, praga de urubu ... O presidente dos tucanos disse que a Ministra Gleisi é despreparada

Como um bom tucano ele também previu que a PresidentA Dilma era despreparada e não a reconhecia como candidata por ser fraca demais.
Disse ele repetindo uma frase de outro tucano: "A Dilma é ruim demais. Estava preocupado com Serra, agora não estou mais".
A Dilma é Presidenta do Brasil. Continue Sr. Guerra, fale mais!
By: Maria da Penha Neles!
Comentário deste ContextoLivre:
Esse tucano é um pulha! Não tem moral nenhuma, um calhorda! É ruim demais!

.Degola de Palocci enterrou “ley de medios”


O processo que culminou com a defenestração de Antonio Palocci gerou uma situação desconhecida na política nacional. Pela primeira vez, parcela relevante do partido que esteve unido em torno de Lula desde a sua criação ignorou seus pedidos de sustentação no primeiro grande ataque que mídia e oposição fariam ao governo Dilma.
Aprofundei-me no debate com os setores do PT que passaram a usar, ipsis litteris, o discurso de colunistas da grande imprensa como Augusto Nunes, Reinaldo Azevedo, Eliane Cantanhêde, Merval Pereira, Lucia Hippolito, Ricardo Noblat e por aí vai. Há centenas e centenas de comentários neste blog que chegam a reproduzir até frases literais desses colunistas.
A posição de setores do PT, do movimento sindical, da blogosfera, da grande imprensa e da oposição coincidiu ao ponto em que se tornaram voz uníssona a repetir as mesmas frases sobre “ética” em uma campanha moralista idêntica à que gerou o mensalão, mas com a diferença de que surgiu sem mero indício de qualquer ilegalidade por parte do alvo da campanha de desmoralização, Palocci.
Em pouco tempo, mídia, oposição, setores do PT e da blogosfera já reconheciam que estava sendo usada uma acusação sem provas para destruir a imagem do principal ministro do governo Dilma Rousseff. A questão ética seria pretexto para uma inviabilidade política dele, mas o que facilitaria sua queda seria a acusação falsa.
Obviamente que isso não significa que essas parcelas do PT e da blogosfera tenham se aliado à mídia golpista. Apenas se valeram dela para promover o que julgavam ser uma “faxina” no governo, empreendida contra a vontade da presidente Dilma Rousseff e de Lula, que resistiram a ceder à denúncia da Folha de São Paulo contra Palocci até onde deu.
É importante que fique claro: não se tem dúvidas, aqui, da honorabilidade dessas pessoas que, de boa fé, pediram a queda de Palocci. Acreditaram estar fazendo o melhor.
Por outro lado, os relatos de que Dilma acabou desconsiderando a posição de Lula de que ela não deveria ceder, sucedem-se ininterruptamente. Quem ainda não leu nenhum, ainda vai topar com alguns deles. Todavia, há quem diga que foi Palocci que não agüentou a pressão. Essa é, ainda, uma das grandes dúvidas. Dilma teria pensado em resistir?
Cheguei a achar que sim, que Palocci é que teria decidido se render. Mas o meu amigo Paulo Henrique Amorim, que sabe das coisas, diz que foi Dilma quem cedeu e que Palocci estava disposto a enfrentar mídia, oposição, parcelas do PT e até o próprio Paulo, blogueiro conceituado cuja opinião é muito respeitada.
Após o desastre, os que agiram de boa fé por acreditarem que faziam o certo passaram a um processo de negação de uma vitória da direita midiática que a mesma direita midiática já comemora nos jornais, com manchetes tripudiando sobre o governo, na tevê, na internet etc.
Essa parte é a mais incrível, do ponto de vista sociológico, pois dizem que quem fez a denúncia (a Folha) foi derrotado quando essa denúncia surtiu o efeito pretendido. Freud explica.
Mas um analista sempre sensato, Marcos Coimbra, diretor do instituto Vox Populi, explica direito como e por que o governo Dilma foi derrotado inclusive com a ajuda de parcela importante de seu partido, ainda que não veja nessa derrota o fim do governo.
—–
(…)
Pelo que se lê na imprensa, o caso Palocci terá sido, para ela, o fim dessa etapa. A crer em seu coro quase uníssono, de agora em diante, enfrentará problemas crescentes. Perdeu a iniciativa do jogo político e só lhe resta esperar até que sua popularidade comece a cair.
Será? O golpe na imagem do governo terá sido tão fundo? O caso atingiu uma proporção tão grande da população, de maneira tão severa, que não cicatrizará nunca mais?
Parece improvável. Pelo que conhecemos de nossa sociedade, ministros com problemas são coisas que não afetam o governo inteiro. Mas é razoável supor que alguns admiradores tenham se afastado da presidente.
(…)
—–
“Alguns admiradores” significam pontos nas pesquisas. Para quem não sabe, o Vox Populi está entre os institutos que monitoram a popularidade de Dilma para clientes diversos. Não há uma semana em que não esteja sendo monitorada. E Coimbra alude ao senso comum, que toma o país, de que o governo perdeu.
A perda foi pelo fato de que ficou claro, inclusive diante do mundo, que o principal ministro do governo Dilma foi mal escolhido. Particularmente, também acho. Mas, de uma vez escolhido, não poderia sair assim para não ficar tão gritante o erro político. Porque – e agora vem a bomba – deixar a mídia vencer inviabilizará várias políticas nas quais se acreditava.
Com o novo poder da imprensa e da oposição de provocarem sublevações no próprio partido do governo, de agora em diante será só descobrir quais ministros e outros integrantes desse governo podem ser acusados analogamente a Palocci – e dizem as lendas que há muitos – e contar com a mesma militância governista para ajudar a desestabilizá-los.
Na defensiva, o governo Dilma não terá como partir para a ofensiva. A derrubada de Palocci foi só um aviso: “Não tente o fim da propriedade cruzada de meios de comunicação, Dilma, senão vamos inviabilizar o seu governo pondo a nu os políticos só do seu lado. E, agora, com ajuda interna de suas forças”.
Se Dilma não teve nem força para manter sua decisão inicial de não demitir Palocci, como terá força para aprovar uma lei que proíba um quase monopólio de meios de comunicação no Brasil que não existe em lugar algum do mundo desenvolvido?
Não parece polêmico dizer que a lei da propriedade cruzada não vem de jeito nenhum. Alguns dizem que não viria mesmo antes do caso Palocci. Contudo, participo de fóruns pela democratização da comunicação há anos, fui delegado por São Paulo na Conferência Nacional de Comunicação, em 2009, e posso afirmar que muitos acreditavam na “ley de médios”.
Não virá. Aliás, o ministro Paulo Bernardo, que as más línguas dizem que queria derrubar Palocci para pôr a mulher no lugar dele e que esteve por trás das articulações dentro do PT, já dissera que não, que a lei da propriedade cruzada ainda não tinha “condições políticas”, blábláblá e mais blábláblá. Chamou até o Paulo Henrique de “ansioso”.
Claro que ninguém pode dizer se é verdade. Não conheço o ministro, mas tudo isso é dito abertamente. Aliás, muitos dos que ajudaram a derrubar Palocci, até há pouco chamavam o ministro das Comunicações de Paulo Hibernardo… Só o futuro dirá se é injustiça. Por enquanto, é hipótese política absolutamente legítima.
O quadro político é realmente nebuloso. Ao fraquejar como fraquejou, o governo Dilma criou uma enorme dúvida sobre a sua capacidade de sobrepujar obstáculos quase intransponíveis que tem pela frente, com a continuidade da guerra da direita midiática contra seu governo e seu partido, que só terá fim se a presidente capitular de vez.
Neste momento, portanto, a bandeira da “ley de medios” parece esfrangalhada. Ninguém mais sabe o que significa essa lei. A da Argentina, que lhe deu origem, conheço muito bem. Como vendedor que viaja pela América Latina há mais de vinte anos, acompanhei os processos de Venezuela, Bolívia, Equador e Argentina.
Nenhum desses países teria conseguido impor o fim da propriedade cruzada sem governos fortes. E não foi cedendo à mídia e à oposição que conseguiram, isso posso garantir. Simplesmente porque a tal “ley de medios” prejudica financeiramente os impérios de comunicação que acabam de obter vitória tão estrondosa.

A crise européia e o “moinho satânico” do capitalismo global


A crise européia é não apenas uma crise da economia e da política nos países europeus, mas também – e principalmente - uma crise ideológica que decorre não apenas da falência política dos partidos socialistas em resistir à lógica dos mercados financeiros, mas também da incapacidade das pessoas comuns e dos movimentos sociais de jovens e adultos, homens e mulheres explorados e numa situação de deriva pessoal por conta dos desmonte do Estado social e espoliação de direitos pelo capital financeiro, em perceberem a natureza essencial da ofensiva do capital nas condições do capitalismo global. O artigo é de Giovanni Alves.

A crise financeira de 2008 expõe com candência inédita, por um lado, a profunda crise do capitalismo global e, por outro, a débâcle político-ideológico da esquerda socialista européia intimada a aplicar, em revezamento com a direita ideológica, os programas de ajustes ortodoxos do FMI na Grécia, Espanha e Portugal, países europeus que constituem os “elos mais fracos” da União Européia avassalada pelos mercados financeiros.

Aos poucos, o capital financeiro corrói o Estado social europeu, uma das mais proeminentes construções civilizatórias do capitalismo em sua fase de ascensão histórica. Com a crise estrutural do capital, a partir de meados da década de 1970, e a débâcle da URSS e o término da ameaça comunista no Continente Europeu, no começo da década de 1990, o “capitalismo social” e seu Welfare State, tão festejado pela social-democracia européia, torna-se um anacronismo histórico para o capital. Na verdade, a União Européia nasce, sob o signo paradoxal da ameaça global aos direitos da cidadania laboral. É o que percebemos nos últimos 10 anos, quando se ampliou a mancha cinzenta do desemprego de longa duração e a precariedade laboral, principalmente nos “elos mais fracos” do projeto social europeu. Com certeza, a situação do trabalho e dos direitos da cidadania laboral na Grécia, Espanha e Portugal deve piorar com a crise da dívida soberana nestes países e o programa de austeridade do FMI.

Vivemos o paradoxo glorioso do capital como contradição viva: nunca o capitalismo mundial esteve tão a vontade para aumentar a extração de mais-valia dos trabalhadores assalariados nos países capitalistas centrais, articulando, por um lado, aceleração de inovações tecnológicas e organizacionais sob o espírito do toyotismo; e por outro lado, a proliferação na produção, consumo e política, de sofisticados dispositivos de “captura” da subjetividade do homem que trabalha, capazes de exacerbar à exaustão, o poder da ideologia, com reflexos na capacidade de percepção e consciência de classe de milhões e milhões de homens e mulheres imersos na condição de proletariedade.

Deste modo, a crise européia é não apenas uma crise da economia e da política nos países europeus, mas também – e principalmente - uma crise ideológica que decorre não apenas da falência política dos partidos socialistas em resistir à lógica dos mercados financeiros, mas também da incapacidade das pessoas comuns e dos movimentos sociais de jovens e adultos, homens e mulheres explorados e numa situação de deriva pessoal por conta dos desmonte do Estado social e espoliação de direitos pelo capital financeiro, em perceberem a natureza essencial da ofensiva do capital nas condições do capitalismo global.

Ora, uma parcela considerável de intelectuais e publicistas europeus têm uma parcela de responsabilidade pela “cegueira ideológica” que crassa hoje na União Européia. Eles renunciaram há tempos, a uma visão critica do mundo, adotando como único horizonte possível, o capitalismo e a Democracia – inclusive aqueles que se dizem socialistas. Durante décadas, educaram a sociedade e a si mesmos, na crença de que a democracia e os direitos sociais seriam compatíveis com a ordem burguesa. O pavor do comunismo soviético e a rendição à máquina ideológica do pós-modernismo os levaram a renunciar a uma visão radical do mundo. Por exemplo, na academia européia – que tanto influencia o Brasil – mesmo em plena crise financeira, com aumento da desigualdade social e desmonte do Welfare State, abandonaram-se os conceitos de Trabalho, Capitalismo, Classes Sociais e Exploração. Na melhor das hipóteses, discutem desigualdades sociais e cidadania...

Há tempos o léxico de critica radical do capitalismo deixou de ser utilizado pela nata da renomada intelectualidade européia, a maior parte dela, socialista, satisfeita com os conceitos perenes de Cidadania, Direitos, Sociedade Contemporânea, Democracia, Gênero, Etnia, etc – isto é, conceitos e categoriais tão inócuas quanto estéreis para apreender a natureza essencial da ordem burguesa em processo e elaborar com rigor a crítica do capitalismo atual. Na verdade, para os pesquisadores da “classe média” intelectualizada européia, muitos deles socialistas “cor-de-rosa”, a esterilização da linguagem crítica permite-lhes pleno acesso aos fundos públicos (e privados) de pesquisa institucional.

É claro que esta “cegueira ideológica” que assola o Velho Continente decorre de um complexo processo histórico de derrota do movimento operário nas últimas décadas, nos seus vários flancos – político, ideológico e social: o esclerosamento dos partidos comunistas, ainda sob a “herança maldita” do stalinismo; a “direitização” orgânica dos partidos socialistas e sociais-democratas, que renunciaram efetivamente ao socialismo como projeto social e adotaram a idéia obtusa de “capitalismo social”; o débâcle da União Soviética e a crise do socialismo real, com a intensa campanha ideológica que celebrou a vitória do capitalismo liberal e do ideal de Democracia. A própria União Européia nasce sob o signo da celebração da globalização e suas promessas de desenvolvimento e cidadania. Last, but not least, a vigência da indústria cultural e das redes sociais de informação e comunicação que contribuíram – apesar de suas positividades no plano da mobilização social – para a intensificação da manipulação no consumo e na política visando reduzir o horizonte cognitivo de jovens e adultos, homens e mulheres à lógica do establishment, e, portanto, à lógica neoliberal do mercado, empregabilidade e competitividade.

Na medida em que se ampliou o mundo das mercadorias, exacerbou-se o fetichismo social, contribuindo, deste modo, para o “derretimento” de referenciais cognitivos que permitissem apreender o nome da “coisa” que se constituía efetivamente nas últimas décadas: o capitalismo financeiro com seu “moinho satânico” capaz de negar as promessas civilizatórias construídas na fase de ascensão histórica do capital.

Não deixa de ser sintomático que jovens de classe média indignados com a “falsa democracia” e o aumento da precariedade laboral em países como Portugal e Espanha, tenham levantado bandeiras inócuas, vazias de sentido, no plano conceitual, para expressar sua aguda insatisfação com a ordem burguesa. Por exemplo, no dia 5 de junho de 2011, dia de importante eleição parlamentar em Portugal, a faixa na manifestação de jovens acampados diante da célebre catedral de Santa Cruz em Coimbra (Portugal), onde está enterrado o Rei Afonso Henriques, fundador de Portugal, dizia: “Não somos contra o Sistema. O Sistema é que é Contra Nós”. Neste dia, a Direita (PSD-CDS) derrotou o Partido Socialista e elegeu a maioria absoluta do Parlamento, numa eleição com quase 50% de abstenção e votos brancos. Enfim, órfãos da palavra radical, os jovens indignados não conseguem construir, no plano do imaginário político, uma resposta científica e radical, à avassaladora condição de proletariedade que os condena a uma vida vazia de sentido.

Na verdade, o que se coloca como tarefa essencial para a esquerda radical européia - e talvez no mundo em geral - é ir além do mero jogo eleitoral e resgatar a capacidade de formar sujeitos históricos coletivos e individuais capazes da “negação da negação” por meio da democratização radical da sociedade. Esta não é a primeira - e muito menos será a última - crise financeira do capitalismo europeu. Portanto, torna-se urgente construir uma “hegemonia cultural” capaz de impor obstáculos à “captura” da subjetividade de homens e mulheres pelo capital. Para que isso ocorra torna-se necessário que partidos, sindicatos e movimentos sociais comprometidos com o ideal socialista, inovem, isto é, invistam, mais do que nunca, em estratégias criativas e originais de formação da classe e redes de subjetivação de classe, capazes de elaborar – no plano do imaginário social – novos elementos de utopia social ou utopia socialista. Não é fácil. É um processo contra-hegemônico longo que envolve redes sociais, partidos, sindicatos e movimentos sociais. Antes de mais nada, é preciso resgatar (e re-significar) os velhos conceitos e categorias adequadas à critica do capital no século XXI. Enfim, lutar contra a cegueira ideológica e afirmar a lucidez crítica, entendendo a nova dinâmica do capitalismo global com suas crises financeiras.

Ora, cada crise financeira que se manifesta na temporalidade histórica do capitalismo global desde meados da década de 1970 cumpre uma função heurística: expor com intensidade candente a nova dinâmica instável e incerta do capitalismo histórico imerso em candentes contradições orgânicas.

Na verdade, nos últimos trinta anos (1980-2010), apesar da expansão e intensificação da exploração da força de trabalho e o crescimento inédito do capital acumulado, graças à crescente extração de mais-valia relativa, a produção de valor continua irremediavelmente aquém das necessidades de acumulação do sistema produtor de mercadorias. É o que explica a financeirização da riqueza capitalista e a busca voraz dos “lucros fictícios” que conduzem a formação persistente de “bolhas especulativas” e recorrentes crises financeiras.

Apesar do crescimento exacerbado do capital acumulado, surgem cada vez mais, menos possibilidades de investimento produtivo de valor que conduza a uma rentabilidade adequada às necessidades do capital em sua etapa planetária. Talvez a voracidade das políticas de privatização e a expansão da lógica mercantil na vida social sejam estratégias cruciais de abertura de novos campos de produção e realização do valor num cenário de crise estrutural de valorização do capital.

Ora, esta é a dimensão paradoxal da crise estrutural de valorização. Mesmo com a intensificação da precarização do trabalho em escala global nas últimas décadas, com o crescimento absoluto da taxa de exploração da força de trabalho, a massa exacerbada de capital-dinheiro acumulada pelo sistema de capital concentrado, não encontra um nível de valorização – produção e realização - adequado ao patamar histórico de desenvolvimento do capitalismo tardio.

Deste modo, podemos caracterizar a crise estrutural do capitalismo como sendo (1) crise de formação (produção/realização) de valor, onde a crise capitalista aparece, cada vez mais, como sendo crise de abundância exacerbada de riqueza abstrata. Entretanto, além de ser crise de formação (produção/realização) de valor, ela é (2) crise de (de)formação do sujeito histórico de classe. A crise de (de)formação do sujeito de classe é uma determinação tendencial do processo de precarização estrutural do trabalho que, nesse caso, aparece como precarização do homem que trabalha.

Ora, a precarização do trabalho não se resume a mera precarização social do trabalho ou precarização dos direitos sociais e direitos do trabalho de homens e mulheres proletários, mas implica também a precarização-do-homem-que-trabalha como ser humano-genérico. A manipulação – ou “captura” da subjetividade do trabalho pelo capital – assume proporções inéditas, inclusive na corrosão político-organizativa dos intelectuais orgânicos da classe do proletariado. Com a disseminação intensa e ampliada de formas derivadas de valor na sociedade burguesa hipertardia, agudiza-se o fetichismo da mercadoria e as múltiplas formas de fetichismo social, que tendem a impregnar as relações humano-sociais, colocando obstáculos efetivos à formação da consciência de classe necessária e, portanto, à formação da classe social do proletariado.

Deste modo, o capitalismo global como capitalismo manipulatório nas condições da vigência plena do fetichismo da mercadoria, expõe uma contradição crucial entre, por um lado, a universalização da condição de proletariedade e, por outro lado, a obstaculização efetiva – social, política e ideológica - da consciência de classe de homens e mulheres que vivem da venda de sua força de trabalho.

Imerso em candentes contradições sociais, diante de uma dinâmica de acumulação de riqueza abstrata tão volátil, quanto incerta e insustentável, o capitalismo global explicita cada vez mais a sua incapacidade em realizar as promessas de bem-estar social e emprego decente para bilhões de homens e mulheres assalariados. Pelo contrário, diante da crise, o capital, em sua forma financeira e com sua personificação tecnoburocrática global (o FMI), como o deus Moloch, exige hoje sacrifícios perpétuos e irresgatáveis das gerações futuras.

Entretanto, ao invés de prenunciar a catástrofe final do capitalismo mundial, a crise estrutural do capital prenuncia, pelo contrário, uma nova dinâmica sócio-reprodutiva do sistema produtor de mercadorias baseado na produção critica de valor.

Apesar da crise estrutural, o sistema se expande, imerso em contradições candentes, conduzido hoje pelos pólos mais ativos e dinâmicos de acumulação de valor: os ditos “países emergentes”, como a China, Índia e Brasil, meras “fronteiras de expansão” da produção de valor à deriva. Enquanto o centro dinâmico capitalista – União Européia, EUA e Japão - “apodrece” com sua tara financeirizada (como atesta a crise financeira de 2008 que atingiu de modo voraz os EUA, Japão e União Européia), a periferia industrializada “emergente” alimenta a última esperança (ou ilusão) da acumulação de riqueza abstrata sob as condições de uma valorização problemática do capital em escala mundial (eis o segredo do milagre chinês).

Portanto, crise estrutural do capital não significa estagnação e colapso da economia capitalista mundial, mas sim, incapacidade do sistema produtor de mercadorias realizar suas promessas civilizatórias. Tornou-se lugar comum identificar crise com estagnação, mas, sob a ótica do capital, “crise” significa tão-somente riscos e oportunidades históricas para reestruturações sistêmicas visando a expansão alucinada da forma-valor. Ao mesmo tempo, “crise” significa riscos e oportunidades históricas para a formação da consciência de classe e, portanto, para a emergência da classe social de homens e mulheres que vivem da venda de sua força de trabalho e estão imersos na condição de proletariedade. Como diria Marx, Hic Rhodus, hic salta!

(*) Giovanni Alves é professor da UNESP, pesquisador do CNPq, atualmente fazendo pós-doutorado na Universidade de Coimbra/Portugal e autor do livro “Trabalho e Subjetividade – O “espírito do toyotismo na era do capitalismo manipulatório” (Editora Boitempo, 2011). Site: http://www.giovannialves.org/ /e-mail: giovanni.alves@uol.com.br

A OPORTUNIDADE DE UM RECOMEÇO

 Ao afastar Antonio Palocci, a Presidenta Dilma Rousseff  ganha espaço para uma reordenação política que corrija as lacunas de um ciclo inicial em que a principal agenda do seu governo era negativa: conter o crescimento para conter a inflação e a apreciação cambial. A inflação já reverteu a curva ascendente. A instabilidade cambial não cede sem baixar os juros que atraem capitais especulativos, mesmo com algum controle sobre os fluxos externos. Um bom recomeço seria interromper a nova alta da Selic que está sendo discutida na reunião do BC iniciada na terça-feira. O país vive um momento privilegiado de retomada dos investimentos nas áreas da infraestrutura, energia e construção civil. Nenhuma economia do mundo rivaliza com o leque de obras públicas em marcha no Brasil nesse momento, que
 inclui a construção --simultânea-- de 3  hidrelétricas, 3  ferrovias e 5 refinarias, ademais de investimentos superiores a US$ 220 bilhões da Petrobrás na exploração do pré-sal, apenas no período 2011- 2015. A expansão da capacidade produtiva, conforme mostrou o  IBGE no 1º trimestre, cresce  50% acima da expansão do consumo. O horizonte econômico, portanto, esboça uma espiral virtuosa em que o fôlego da oferta corre à frente do ímpeto da demanda. Esfarela-se a chantagem ortodoxa do descontrole inflacionário. O economista Amir Khair advertiu em recente artigo em Carta Maior que não se deve esperar da recuperação dos países ricos,sobretudo da economia norte-americana que patina em desordem financeira, dívidas insolúveis e  retração do consumo, qualquer incentivo ao nosso desenvolvimento. O mercado interno, sinaliza Khair,deve ser o grande fiador da travessia brasileira nessa longa convalescência da crise mundial. Sufocá-lo com novas altas dos juros é transpor para a lógica economica a sangria imobilizante que se decidiu evitar na esfera política, com a mudança na Casa Civil.
(Carta Maior; 4º feira, 08/06/ 2011)