“São fantasiosas, sem qualquer base real, as opiniões que me foram atribuídas pela Folha de S.Paulo, em matéria publicada hoje na página 4 do jornal", diz o ex-presidente Lula; "em particular, a presidenta mostrou extraordinária sensibilidade ao propor a convocação de um plebiscito sobre a reforma política"; reportagem de hoje dizia que Lula atribuía a Dilma uma "barbeiragem"; quem derrapou na pista: Dilma, Lula ou a própria Folha?
247 -Quem derrapou? O governo Dilma, o ex-presidente Lula ou a Folha de S. Paulo? Nesta sexta-feira, em sua matéria principal, a Folha de S. Paulo atribuiu ao ex-presidente Lula uma declaração capaz de promover seu rompimento com a presidente Dilma Rousseff. Segundo o jornal, Lula teria classificado como "barbeiragem" a sugestão de uma constituinte para discutir a reforma política (leia maisaqui).
Agora, Lula negou a intriga, numa declaração postada em seu Facebook. Leia abaixo:
“São fantasiosas, sem qualquer base real, as opiniões que me foram atribuídas pela Folha de S.Paulo, em matéria publicada hoje na página 4 do jornal. Não fiz qualquer crítica nem em público, nem em privado à atuação da presidenta Dilma Rousseff nos recentes episódios. Ao contrário, minha convicção é de que a companheira Dilma vem liderando o governo e o país com grande competência e firmeza, ouvindo a voz das ruas, construindo soluções e abrindo caminhos para que o Brasil avance, nossa democracia se fortaleça e o processo de inclusão social se consolide.
Em particular, a presidenta mostrou extraordinária sensibilidade ao propor a convocação de um plebiscito sobre a reforma política. A iniciativa tem o mérito de romper o impasse nessa questão decisiva, que há décadas vem entrando e saindo da agenda nacional, sem lograr mudanças significativas. Ouvindo o povo, nosso sistema político poderá se renovar e aperfeiçoar. É o que se espera dele”.
Depois de obter apoio político, proposta da presidente Dilma Rousseff, de que a consulta popular sobre reforma política seja feita por meio de plebiscito, passa a receber apoio dos movimentos sociais que se reuniram com o governo; nesses últimos dias, Dilma se encontrou com representantes do Movimento LGBT, Movimentos de Juventude, centrais sindicais, movimentos urbanos e o Movimento Passe Livre, que deu início aos protestos no País; proposta de referendo, sugerida pela oposição, perde força
BRASÍLIA, 28 Jun (Reuters)- Movimentos sociais que reuniram-se com a presidente Dilma Rousseff nesta sexta-feira defenderam que a consulta popular sobre os parâmetros para uma reforma política seja feita por meio de plebiscito, e não por referendo, afirmaram representantes das organizações.
O secretário nacional da Juventude da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Alfredo Santos, presente no encontro, afirmou que o plebiscito é "consenso" entre os mais de 20 representantes de movimentos sociais reunidos nesta sexta com Dilma.
"Para nós é essencial a participação popular. É essencial que se dê anterior à elaboração do projeto, então por isso pelo plebiscito e nunca por referendo", disse Santos a jornalistas.
"Os movimentos sociais organizados, nenhum deles defende uma proposta de participação que seja posterior, como alguns estão colocando."
Na segunda-feira, a presidente anunciou, como resposta às manifestações que tomaram as ruas do país nas últimas semanas, sua intenção de "propor o debate sobre a convocação de um plebiscito popular que autorize o funcionamento de um processo constituinte específico para fazer a reforma política".
Na terça-feira, o governo abandonou a ideia de uma assembleia constituinte, mas manteve a sugestão de realização de um plebiscito sobre a reforma política.
Na opinião da presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), Virgínia Barros, as medidas anunciada por Dilma e pelo Congresso --que se apressa para votar propostas em resposta às reivindicações populares-- "dialogam" com as manifestações.
"São medidas que dialogam e que tentam responder a essas demandas que vêm sendo colocadas na rua", afirmou Virgínia.
Segundo os representantes dos movimentos, Dilma não deu detalhes sobre a mensagem que deve enviar na próxima semana ao Congresso sugerindo os tópicos a serem abordados numa reforma política.
Na quinta-feira, a maioria dos partidos políticos da base e de lideranças aliadas da Câmara e do Senado manifestaram à presidente apoio à realização do plebiscito.
Já a oposição, que deve reunir-se com Dilma na próxima semana, defendeu por meio de nota assinada por três partidos --PSDB, DEM e PPS-- a realização de um referendo. Nesse caso, o Congresso aprovaria uma reforma que seria depois submetida à consulta popular.
Também em resposta às manifestações, a presidente reuniu-se ainda com representantes de movimentos que atuam pelos direitos de gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais. Segundo representantes desses movimentos, Dilma teria se posicionado "contra toda forma de discriminação, contra toda forma de intolerância e a favor das diferenças".
Ao fim da noite de quinta-feira, recebo uma ligação surpreendente tanto pelo autor quanto pelo que disse. E quem disse – e o que disse – importa menos do que aquilo que a chamada me fez concluir: não dá mais para ficar só analisando e comentando o quadro político. Quem luta há uma década para ajudar a sustentar um projeto político-administrativo que melhorou tanto o Brasil não tem o direito de ficar só reclamando do golpe que busca interrompê-lo.
Este Blog se converteu em uma trincheira dos que discordam de uma Onda que engolfou o país e que tem produzido muito mais calor do que luz, se não apenas calor. E o signatário desta página, assim como outros poucos, aceitou, de bom grado, pagar o preço que as catarses impõem a quem se recusa a integrá-las. Tudo em prol do país.
Seria muito fácil todos os que divergimos cedermos, integrarmo-nos à Onda que pretende “mudar o Brasil” marchando pelas ruas “pacificamente” no começo e selvagemente ao fim sob o argumento de que os selvagens são “um pequeno grupo”, o qual, porém, pequeno ou não, é tolerado em praticamente todas essas manifestações, nas quais o desfecho violento já se tornou previsível, sendo poucas aquelas manifestações em que não irrompe.
Em um momento de catarse, com as massas hipnotizadas gritando slogans e exigindo qualquer coisa, e com hordas de soldados da Onda tratando de reprimir toda e qualquer discordância, valendo-se, para tanto, da difamação, do deboche e de insultos, a tentação de se omitir, de calar, de se acovardar, de renegar as próprias crenças é quase irresistível.
Eis porque, ao longo de dezenas de conversas que tive neste fatídico mês de junho, descobri que muitos dos que compartilham a opinião de que essas manifestações são orquestradas e têm fins políticos preferiram subir no muro ou, no limite, adotarem uma causa na qual não acreditam.
Dúzias e mais dúzias de analistas políticos e de cientistas sociais vêm tentando entender um processo que convulsiona o Brasil e que já cobra verdadeiras profissões de fé das pessoas, que têm que exaltar tal processo sob pena de serem excomungadas e banidas, tratadas como portadoras do que o fascismo sempre considera uma doença contagiosa: a discordância.
Na última noite, após aquela conversa telefônica dolorosa e indignante, fui dormir impressionado com uma teoria acadêmica que, posta em prática, incendiou um país continental, pôs as instituições de joelho, paralisou a economia e impôs a ela prejuízos imensos que logo serão conhecidos e, de quebra, matou e feriu pessoas, dividiu compatriotas, enfim, funcionou como uma Onda gigantesca, uma tsunami que varre tudo em seu caminho.
A Onda social é uma teoria acadêmica inspirada em fatos reais e que até virou filme. Die Welle (A Onda) é uma obra alemã. Foi filmada em 2008. O diretor Dennis Gansel inspirou-se no livro homônimo do escritor americano Todd Strasser sobre um experimento social conhecido como “Terceira Onda”. O filme foi um sucesso de bilheteria na Alemanha. Mais de 2 milhões de pessoas o assistiram.
O enredo é eloquente. Em uma escola secundária alemã, um professor tenta provar que o fenômeno nazista poderia se repetir – e o nazismo, como se sabe, começou com um movimento de massas que também pretendeu “mudar” a Alemanha e que, num primeiro momento, conseguiu erguê-la de uma situação social adversa, mas que degringolou para um dos maiores horrores que a humanidade conheceu.
Os alunos da escola do filme não acreditam que uma ditadura poderia ressurgir na Alemanha moderna, então o personagem Rainer Wenger, o professor daquela turma, propõe a ela realizarem um experimento que, em sua concepção, mostraria o quão fácil é manipular as massas.
O professor organiza o grupo de alunos em uma marcha que, executada com perfeita sincronia rítmica, faz com que todos se sintam parte de uma única entidade. Porém, uma aluna se mostra relutante. Reclama de que o experimento atenta contra a individualidade e questiona o objetivo, “a causa” e, por isso, é hostilizada pelos demais e tem que mudar de classe.
O grupo cria um símbolo, que é espalhado na forma de adesivos ou pichações por toda a cidade, uma analogia para o vandalismo em curso hoje no Brasil. No filme, um aluno chega a escalar o prédio da prefeitura para pichar um logo gigante na fachada. Além disso, o grupo faz reuniões em que só membros do movimento podem entrar.
Dali em diante, hostilizar os não-iniciados se torna uma prática incontrolável que, aos poucos, vai descambando para a violência física como a que se viu na manifestação do último dia 20 na avenida Paulista, quando grupos que não obedeceram aos ditames dos manifestantes de não usarem roupas vermelhas foram agredidos violentamente.
A Onda acaba interferindo até na relação do professor experimentalista com sua esposa, professora na mesma escola que ele. Ela percebe que o experimento foi longe demais. Inebriado com o sucesso daquele experimento, porém, o professor acusa a mulher de estar com inveja de seu sucesso e o casal acaba se separando.
Alunos que não se integraram à Onda vão deixando seus membros cada vez mais irritados ao pregarem que é preciso fazê-la parar. No caso desse filme, não havia camisas vermelhas proibidas, como aqui no Brasil, mas camisas brancas que se tornaram o uniforme obrigatório dos membros do movimento, e que os distinguiam dos não-iniciados.
No fim, o que importa é que os que se distinguem da massa catártica por ostentar ou não um símbolo acabam sendo hostilizados por ela. E, como na vida real (na manifestação supracitada), quem ostenta ou deixa de ostentar símbolos e, assim, destaca-se da massa, passa a ser agredido violentamente, seja com palavras ou com golpes.
Abaixo, para quem quiser assistir, a íntegra de Die Welle (A Onda), legendada. O filme tem uma hora e quarenta e dois minutos de duração. Sugiro que quem não assistiu, não perca. Mas, antes, peço que o leitor termine este texto, pois aqui se fará uma exortação a quem discorda e teme o processo convulsivo em que o país mergulhou
Proponho, a partir daqui, que façamos um exercício de “especulação”. Inventemos, pois, uma situação hipotética. Digamos que um “cacique” de um partido de extrema esquerda e outro de centro-direita como Plínio de Arruda Sampaio, do PSOL, e José Serra, do PSDB, unam-se contra um inimigo comum. Dois líderes políticos de visões absolutamente antagônicas, mas que simpatizam entre si, inclusive ideologicamente (?!).
O “exemplo” é bastante verossímil quando se sabe que um político que foi fundador do PT e candidato do PSOL à Presidência em 2010, como o ex-deputado Plínio de Arruda Sampaio, disse, no fim do ano passado, preferir José Serra (PSDB) a Fernando Haddad (PT) na corrida à Prefeitura de São Paulo.
Da união imaginária desses caciques, suponhamos que surgisse um plano. Apesar de Serra ser visto hoje como um ex-esquerdista que se tornou ultraconservador a ponto de se aliar a cristãos fundamentalistas em 2010 para tentar derrotar Dilma Rousseff, o tucano se une a um dito “socialista” como Plínio, que demonstrou que sua ideologia e a do tucano, inexplicavelmente, são compatíveis a ponto de um apoiar o outro.
O partido de Plínio, como se sabe, tem uma enorme ascendência sobre grupos da USP. Como em A Onda, essa influência sobre estudantes pode permitir a elaboração de um experimento social que acaba sendo posto em prática.
Por que estudantes? Porque é na escola que existe o terreno mais fértil para fomentar Ondas, pois, ao contrário de sindicatos e movimentos sociais, a escola reúne as pessoas diariamente, impondo a elas convivência cotidiana. Some-se a isso a influência de professores como o de A Onda, capazes de mobilizar os que tutelam intelectualmente – e, às vezes, muito mais a fundo.
Os próprios estudantes não se dão conta de uma armação política. Deixam-se emprenhar pelos ouvidos e passam a acreditar na “causa”. Estão, pois, de boa-fé. E é nesse espírito que o movimento deles cresce, ganha as ruas e leva consigo um grupo disposto a fazer a parte “suja” do trabalho, que é tornar as manifestações insuportáveis, com atos de vandalismo e violência, buscando a reação de uma polícia famosa pelo seu despreparo e por seu caráter violento.
A violência policial contra meninos e meninas desperta a solidariedade de toda uma nação, que, indignada, produz hordas de cidadãos sem qualquer consciência política, mas que decidem também ir às ruas embriagados pela beleza inerente a um movimento idealista da juventude.
Como em A Onda, muitos querem sentir-se parte de um movimento vitorioso. A covardia da classe política e o oportunismo de impérios de comunicação conservadores produzem a fórmula perfeita para criar no país um clima de Queda da Bastilha, com o “poder” sendo “tomado pelo povo”. Finalmente chegou a hora de “o povo” tomar o poder, pensam as massas.
Como no filme alemão, porém, “as massas” saem de controle. Já nem sabem o que querem. Querem estar nas ruas, intimidando os políticos, mostrando que quem manda são elas. Mas que “povo” é esse? A maioria? Como aferir isso com todos intimidados por ter se tornado politicamente incorreto divergir?
O pequeno experimento social fictício do filme A Onda se transformou numa catarse verdadeira. E gigantesca. Um país que vinha melhorando, de repente se tornou imprevisível. A economia que resistia à maior crise econômica internacional da história da humanidade já caminha para mergulhar em uma hecatombe.
Investidores se recolhem, a economia é paralisada e a incerteza se torna absoluta. Os efeitos das manifestações sobre a economia em breve serão sentidos. E dificilmente serão revertidos, pois os agentes econômicos mergulharam em um turbilhão de desconfiança.
O que fazer? Nós, cidadãos comuns, pouco podemos fazer além de nos organizar em grupos que, por certo, serão pequenos. Mas centros de inteligência e de discussão terão que ser montados. Haverá que atrair pessoas que discordam para se unirem, porque quanto mais sozinhas estiverem mais terão medo de assumir seus pontos de vista.
Este Blog foi o nascedouro de uma das primeiras tentativas de organizar uma reação ao avanço de impérios de comunicação que ora se beneficiam da catarse que se abateu sobre o país. Em 2007, a partir daqui foi fundado o Movimento dos Sem Mídia, que, para quem não conhece, pode ter sua história contada pelo Google.
O MSM promoveu a primeira manifestação contra um império de comunicação do pós redemocratização, em 15 de setembro de 2007, diante do jornal Folha de São Paulo. Dali em diante, além de outras manifestações – algumas reunindo centenas de pessoas – a ONG representou contra impérios de comunicação no Ministério Público sob responsabilidade exclusiva deste que escreve, que cedeu seu nome para desafiar esses grupos empresariais que tanto mal já fizeram ao país, sendo o maior de todos atirá-lo em duas décadas de ditadura militar.
Bem, é no MSM que proponho nos entrincheirarmos. Em um momento como este, porém, sei que não serão muitos os que acorrerão, mas, sejamos quantos sejamos, se formos mais de um já seremos muitos. Sejam 5, 10, 20 ou quantos mais que queiram se reunir para discutir estratégias de reação, já seremos muitos mais do que um só, isolado em sua divergência.
Se você não quer ficar assistindo passivamente o golpe ser dado – do que decorrerá a volta da direita ao poder, com tudo que se sabe que isso encerrará de prejuízo para uma nação que vinha promovendo justiça social como nunca antes na história, com a desigualdade caindo em ritmo inédito –, convido-o a deixar aqui seu comentário de adesão à ideia.
No comentário, peço que informe seu Estado e Cidade. O e-mail você tem que colocar para postar o comentário e, como sabe, não será divulgado. Através desse e-mail vou manter contato. Organizarei um novo diretório de e-mails e vou organizar uma reunião em auditório que já consegui de graça, no qual discutiremos estratégias para fazer a iniciativa crescer.
O signatário desta página tem ideias, os que aderirem poderão trazer outras. Contudo, a discussão não pode ser aberta na internet. A ligação telefônica à qual me referi me induziu a essa crença. A partir daqui o que se fará é mobilização para encontro presencial em ambiente fechado para que se possa planejar de forma reservada os cursos de ação, pois a situação no país fugiu à normalidade.
Neste momento, minha confiança está abalada. Não sei mais distinguir um comportamento do outro. Se você se sente assim e não sabe o que fazer, aguardo seu comentário de concordância. Neste primeiro momento, busco pessoas de São Paulo e adjacências para nos reunirmos. Mas quem for de outros Estados também pode ajudar.
A você que já é filiado ao Movimento dos Sem Mídia, chegou a hora de atuar. Aguardo seu comentário para incluí-lo no novo mailing que será formado, pois vivemos uma nova conjuntura na qual as ideias sofreram mutações incessantes. Assim, é preciso ver quem continua acreditando nas causas que sempre foram abraçadas neste espaço.
Por estar constituído como Organização Não Governamental e por já dispor de alguma estrutura física para reunião e discussão, o Movimento dos Sem Mídia pode ser o instrumento para que quem diverge do que está acontecendo pelo menos possa se agarrar a uma boia salva-vidas. O resgate, porém, já é outra história. Todavia, sem afundar pelo menos pode-se buscar uma fórmula de reagir.
O futuro do país conta com você, ou melhor, com nós. Que tal fazer alguma coisa, então? Agora é com você. Ou com nós.
Sensacional a revelação de Miguel do Rosário, no seu blog O Cafezinho.
A Globo está respondendo – ou deveria estar, se não apareceu alguma “mão amiga” para engavetar a questão – a uma ação por sonegação fiscal no valor de R$ 1,2 bilhão (R$ 615 milhões em outubro de 2006, corrigidos pela Selic, que indexa créditos fiscais).
Trata-se, “apenas”, de todo o valor gasto para subsidiar, durante um ano, as passagens de ônibus de todos os moradores da cidade de São Paulo.
A sonegação ocorreu porque a empresa “maquiou” a compra dos direitos de transmissão da Copa do Mundo de Futebol de 2002 – a da Coreia e do Japão – como compra de participação societária numa empresa de fachada nas Ilhas Virgens britânicas, um paraíso fiscal, dissolvida logo depois do arranjo.
O processo está transitado em julgado na esfera administrativa, repelidas as alegações da empresa.
Só de venda das cotas de patrocínio, em 2002, a Globo faturou R$ 210 milhões de então. O que dá, aplicado pela mesma taxa Selic do débito cobrado (?) pela Receita, R$ 935 milhões.
Isso, fora as demais receitas de venda de publicidade atraídas pela exclusividade da transmissão.
Viram, com a Globo a gente, finalmente, alcançou o “Padrão FIFA”.
A colunista da Folha de São Paulo Eliane Cantanhêde cometeu um texto revoltante na edição desta quinta-feira (27) daquele jornal, no qual cobrou exposição voluntária de Lula neste momento de crise política no Brasil. E, para variar, exaltou Fernando Henrique Cardoso por estar “se expondo” enquanto o petista teria “sumido”.
Segundo Cantanhêde, “O Brasil está de pernas para o ar e os Poderes estão atônitos diante da maior manifestação em décadas, mas o personagem mais popular do país, famoso no mundo inteiro, praticamente não disse nada até ontem”.
O “personagem” em questão deu algumas declarações, sim. Primeiro, endossou os protestos e, depois, convocou movimentos sociais e sindicatos para irem à rua disputar espaço com os fascistas e oportunistas que se assenhoraram das manifestações a fim de imporem suas pautas psicóticas, como extinção dos partidos, fechamento do Congresso e até volta da ditadura.
Mas, no geral, Lula vem se mantendo discreto, sim, sobretudo por respeito à líder política da Nação, a presidente Dilma Rousseff, quem tem o dever constitucional e a primazia política para indicar aos brasileiros que direção tomar, sempre convivendo com as críticas democráticas da oposição declarada e da não-declarada, à qual a colunista em questão pertence.
O que espanta na cobrança dessa senhora é o seu nível de amnésia – ou de má fé – ao sugerir oportunismo e covardia de um homem que foi à rua em um momento da história deste país em que não se podia denunciar e, assim, acuar as forças de repressão do Estado como fizeram os jovens que a polícia agrediu com violência desmedida.
Em 1979, sob a liderança de Lula, os metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema decidiram declarar greve geral da categoria. A reação das forças de repressão da ditadura, que desde o início da paralisação já era intensa, a partir dali se tornou ainda mais agressiva e violenta.
A Polícia Militar mobilizou toda a sua Tropa de Choque, cavalaria e soldados com cães para o ABC. A repressão não se limitou a bombas de efeito moral e balas de borracha. Quem enfrentava a ditadura não só corria risco de morte, mas de sofrer uma morte excruciante, sob tortura.
O ministro do Trabalho, naquele ano, decretou a segunda intervenção no sindicato presidido por Lula, cassando seus diretores da vida sindical, mas sem conseguir que se afastassem do comando do movimento.
Para calar Lula, a ditadura enviou agentes do DOPS à sua casa para prendê-lo, em uma operação coordenada pelo então governador Paulo Maluf que envolveu a prisão de inúmeros dirigentes sindicais em todo o ABC, inclusive sindicalistas e juristas de São Paulo.
Hoje é fácil sair à rua, convocar manifestações e denunciar a truculência policial. Hoje, FHC pode até dar pitacos sobre as massas que foram às ruas porque não corre risco de ir parar na cadeia ou de sumir da face da Terra. Aliás, quando esse risco era alto o “príncipe dos sociólogos” tratou de deixar o país, enquanto tantos outros ficaram e lutaram.
Àquela época, não se sabe onde andava a venenosa colunista da Folha. Provavelmente era uma menina. Talvez por isso não saiba que tanto ela quanto FHC precisarão comer muito arroz com feijão para cobrarem postura de um homem que se tornou famoso justamente por sua coragem diante de uma ditadura assassina.
Plebiscito proposto pela presidente Dilma Rousseff tem referendo como contrapartida lançada pelo senador Aécio Neves; polêmica se instala enquanto, diariamente, quebra-quebras se sucedem; promessa é de domingo de tensão em torno da final da Copa das Confederações, no Rio, entre o Brasil de Neymar e a Espanha de Iniesta; o País ainda estará inteiro ao tempo em que os políticos decidirem o que fazer?
247– Os políticos estão correndo, mas a velocidade da insatisfação nas ruas é maior. Mesmo depois de o Congresso atender uma das reivindicações difusas entre os protestos – a derrubada da PEC 37 – e o governo prometer bilhões em recursos para o setor de transportes urbanos, vandalismo e quebra-quebras se sucedem pelo País.
Na quarta-feira 26, duas concessionárias de veículos foram atacadas nas redondezas do estádio do Mineirão, onde o Brasil venceria o Uruguai por 2 a 1. A Polícia Militar do Estado precisou mobilizar quase todo o seu efetivo para, ainda assim, não evitar que uma parte da cidade fosse transformada em praça de guerra. Um jovem morreu ao cair de um viaduto, tornando-se a quarta vítima fatal de incidentes desde o início da série de protestos.
Na tarde desta quinta-feira 27, em Fortaleza, onde a Espanha bateu a Itália nos pênaltis, um carro de uma rede de televisão local foi incendiado, e se repetiram cenas de forte confronto entre a tropa de choque e encapuzados. Em Brasília, enquanto isso, uma marcha convocada pela UNE terminou na invasão do espelho d'água diante do Congresso, sob as vistas de policiais com escudos e capacetes. No final da tarde, no Rio de Janeiro, estudantes voltaram a tomar a Avenida Rio Branco, despertando o receio de novas badernas no centro da cidade e tumultos na ponte Rio-Niterói, alvo de barreiras contra o tráfego nos últimos dias.
Para recolocar o País nos eixos, o governo joga todas as suas fichas na realização de um plebiscito popular, no qual uma série de perguntas sobre mudanças na estrutura política seriam feitas. Parece já haver consenso no staff da presidente Dilma Rousseff de que interrogações sobre como deve ser o financiamento dos partidos políticos – por meio de recursos públicos, privados ou mistos – e se a população quer a implantação do voto distrital, pelo qual os deputados seriam eleitos por regiões, irão entrar na cédula. Além dessas perguntas, porém, uma série de outras poderão ser inseridas, à medida em que o governo, com Dilma à frente, vai recolhendo sugestões em sucessivas reuniões no Palácio do Planalto. Em outros países já foram realizados plebiscitos com dezenas de perguntas aos cidadãos.
Mas já não é um plebiscito o que as oposições representadas pelos partidos PSDB, DEM e PPS querem. Em nota oficial dessas agremiações, distribuída nesta quinta 27, a proposta de consulta do governo é considerada uma "manobra diversionista" e inútil, diante da complexidade do tema reforma política. O que o bloco liderado pelo presidenciável Aécio Neves quer é um referendo – consulta à população posteriormente à elaboração, pelo Congresso, de uma reforma constitucional. O povo, nas urnas, diria se aprova ou não o que os políticos sugeriram.
A polêmica entre o que é melhor, plebiscito ou referendo, para estancar os conflitos que se espalham pelo País, está instalada. Sobre o primeiro, um argumento positivo é o de que pode ser feito mais rapidamente que o segundo, uma vez que dependeria apenas da confecção das perguntas. Mas o segundo parece ter a vantagem de agregar mais conteúdo de reflexão, por contar com a contribuição de especialistas no tema. Entretanto, ninguém consegue imaginar uma reforma política montada a toque de caixa pelo Congresso, de resto uma das instituições em xeque neste momento. Há mesmo tempo para parar, pensar e fazer o melhor?
A dúvida entre plebiscito e referendo poderá ser dirimida, por acordo, no encontro que a presidente Dilma promete ter com os partidos de oposição. No Palácio do Planalto, argumentos dos dois lados serão confrontados. Mas quem acredita, a esta altura, em conciliação? O problema é que, sempre às turras, o governo do PT e a oposição do PSDB nunca estiveram tão distantes e interessados no prejuízo um do outro como agora, a pouco mais de um ano da eleição presidencial. O PMDB do vice-presidente Michel Temer tem tudo para surgir como tertius nessa disputa, desde já com uma inclinação pela solução congressual de reforma política com referendo posterior à sua confecção. Os manifestantes, então, voltarão para suas casas?
O diabo é que, seja qual for a resultante de mais essa pendenga política, ninguém pode dizer ao certo qual das duas alternativas irá resolver os impasses da sociedade brasileira – se é que alguma das propostas sobre a mesa, efetivamente, poderá fazer isso. Até que algo se resolva, instrumentos políticos de primeiro mundo, utilizados há décadas nos Estados Unidos e na Europa, mas desde sempre distantes da realidade brasileira, entrarão para o vocabulário do cotidiano popular. Plebiscito ou referendo, eis a questão.