Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Inês Nassif, Dilma, a Privataria e a fraude do PiG



Saiu na Carta Maior artigo como sempre imperdível da Maria Inês Nassif, que termina assim :

O segundo ano do governo Dilma Rousseff começa com algumas mudanças de parâmetro. Ela não foi ruim na política quanto apostavam seus opositores e temiam seus adeptos – aliás, parece que a presidenta deu um passo além daquele dado por Lula, a partir de 2005, quando estourou o chamado Escândalo do Mensalão. Na época, até porque em véspera de eleição, o grande enfraquecido foi o PT. Embora os outros partidos da base tenham ficado tão expostos quanto o partido, foi o de Lula que sofreu mais. Lula surfou, com sua popularidade, no vácuo deixado pelo partido. Fortaleceu-se como figura política, mas preservou os demais da coalizão. E, embora tenha tirado de letra a oposição sistemática feita pelos meios de comunicação, esteve no meio de uma guerra constante.

Dilma demitiu ministros por pressão dos jornais. No momento em que anuncia uma reforma ministerial, a maioria dos partidos da coalizão foram alvejados por denúncias. Ela está mais forte que os partidos que a apoiam. E, ironia das ironias, a exposição do vínculo carnal da imprensa com o PSDB, em especial com o grupo de Serra, configurada no “Privataria Tucana”, enfraquece também a mídia nesse momento – aquela que, teoricamente, foi a vitoriosa na batalha de derrubar ministros. No mínimo, nesse processo, a mídia mostrou que tem apenas um lado. Um dos diários nacionais, aliás, cometeu um vanguardismo jornalístico: estabeleceu a norma de ouvir o lado acusado sem mencionar as acusações contidas num livro que, aliás, não foi objeto anterior de sua curiosidade jornalística.

ELEIÇÕES 2012: EM SP, A MÍDIA COSPE NO PRATO QUE VENDEU AO ELEITOR

A vitória de Gilberto Kassab nas eleições municipais de São Paulo, em 2008, foi bancada pela imprensa paulista como uma espécie de revide à reeleição de Lula dois anos antes, alcançada à contrapelo da campanha do impeachment embutida na denúncia do 'mensalão'. Foi a manipulação desse caldo de cultura que deu ao alcaide medíocre e 'bonachão' mais de 60% dos votos no 2º turno do pleito. A conta da fraude acaba de chegar e representa, em si, uma denúncia do jornalismo que agora cospe no prato que enfiou na goela do eleitor abastendo-se, naturalmente, de qualquer autocrítica.  Em fim de mandato, a administração patrocinada pelo anti-petismo midiático  carrega um atestado de fracasso em praticamente todas as áreas sensíveis à vida da metrópole: transportes, educação, saúde, prevenção de enchentes... Pesquisas dos mesmos veículos que o catapultaram aos píncaros da glória, com factóides como 'A Cidade Limpa', indicam que um candidato apoiado por Kassab teria hoje a rejeição de 49% dos eleitores. Outros 40% classificam a sua gestão como um desastre. O bombardeio algo orquestrado pode ser uma advertência à criatura  que ensaia vôo solo com seu PSD, num momento em que o conservadorismo se ressente de nomes e requer unidade para renovar a artilharia antipetista em outubro. Embora desfrutável, a ascensão e a decadência de Kassab devem servir de alerta. Assim como fez de uma nulidade um case eleitoral vitorioso, a mídia poderá regenerar  vampiros de bico longo, vendendo-os como 'administradores capazes' diante da grave situação da metrópole. A melhor denúncia do engodo é afrontá-lo desde já com respostas inovadoras, criativas, sintonizadas com as aspirações da cidade e atentas às lições oferecidas pela crise mundial em outras metrópoles. Inclui-se aí o papel estratégico do setor de serviços, como educação, cultura, amparo aos idosos etc na oferta de emprego à juventude; a ocupação de imóveis vazios com uma política municipal de aluguel social aos pobres e aos jovens casais em início de vida; forte incentivo ao professorado municipal; a criação de uma taxa social sobre o uso da cidade pelo aparato financeiro e sua destinação ao atendimento à saúde; a comunicação permanente com a cidadania como materialização, mais que nunca indispensável, da democracia participativa na gestão da cidade.

Controle externo do Judiciário: uma exigência da democracia republicana

Roberto Amaral

03.01.2012 09:13
Várias décadas de distanciamento histórico foram necessárias para que, com extremada relutância, nossas elites atrasadas (ressalto a  autocrítica de Afonso Arinos na Constituinte de 1988, já no ocaso de uma bela vida), pudessem conhecer a justa medida da importância da chamada ‘era Vargas’ na construção do Brasil moderno e das bases de um Estado que, hoje,  caminha para a conquista de sua soberania e do respeito internacional.
Este texto vale como ressalva às minhas limitações na avaliação do governo de centro-esquerda inaugurado em 2003, e com o qual tenho a honra de colaborar. Destaco uma só de suas inumeráveis virtudes, o projeto de uma nação desenvolvida, apoiado em  crescimento sustentável e inclusivo, sustentável porque inclusivo, pois a inclusão é  o cerne moral de nosso humanismo: a dignidade do indivíduo e a cidadania, a liberdade na igualdade de direitos e oportunidades. Ela é um fim em si mesmo, de cuja efetivação decorre tudo o mais. Deste ponto de vista o crescimento nacional é apenas desdobramento, relevante, mas apenas isso,  uma consequência, um instrumento da realização humanística.
'O que os princípios republicanos exigem de todos os poderes é a abertura de todas as caixas-pretas, a máxima transparência, e o dever de prestar contas à cidadania' . Foto: Douglas Fernandes/Flickr
Este avanço, nos planos político e objetivo,  é fundamental, mas não encerra a história toda, pois o ciclo de governos de centro-esquerda deve ao país a reforma do Estado. Se realizá-la é propósito sem viabilidade, pelo menos chamar a sociedade para discuti-la é possível, e para isso ainda há tempo, pois não se pode ignorar os obstáculos que o mundo real muitas vezes  apresenta para contestar a vontade. Não por outra razão administrar é a arte de eleger prioridades, ou adversários a serem enfrentados. Os adversários que podem ser enfrentados. A guerra, como a política, uma de suas variantes,  depende muito pouco do voluntarismo do comandante, e muito mais da correlação de forças entre as tropas que comanda e as que enfrentará.
Certamente por isso e tão-só por tal razão nosso governo não intentou, até aqui, a reforma do Estado. (Poderia haver escrito ‘reforma política’, mas a expressão foi desmoralizada ao ser confundida pelo Congresso e pela imprensa ligeira com ‘reforma eleitoral’.)
É que em nosso país há ainda possessões inexpugnáveis, como, para citar apenas duas montanhas, o latifúndio que atrasa por séculos a reforma agrária e o monopólio dos meios de comunicação (um Estado dentro do Estado). Pervardindo toda a sociedade, e pano de fundo de todo o atraso, há ainda os interesses do grande capital e da miopia regionalista, que impedem, por exemplo, a reforma do nosso iníquo sistema tributário. A classe dominante fala muito e tão-só no excesso nominal de tributos e em sua carga, a qual sonega com a competência de seus contadores-advogados-auditores, quando o cerne da questão é a infâmia de o rico e o paupérrimo pagarem o mesmo imposto sobre o arroz que consomem, e o Imposto sobre a Renda incidir quase que exclusivamente sobre os rendimentos dos  assalariados. Falar em imposto progressivo eriça os cabelos dos rentistas da Avenida Paulista.  Igual heresia, digna da pena do fogo eterno, é mencionar a ‘democratização dos meios de comunicação’, ou, simplesmente, reclamar do Congresso Nacional a instituição do Conselho de Comunicação Social, determinada pelo art. 224 da Constituição.
As óbvias e portentosas dificuldades políticas de levá-la a cabo não diminuem a necessidade de empreender a  mais profunda reforma do Estado brasileiro, visando à sua democratização e à democratização de seu fim, que deve estar  associado à retomada do papel indutor-desenvolvimentista  destruído pelos muitos anos da irresponsabilidade neoliberal. Quanto a esta, não  me refiro apenas à ‘privataria’, mas ao ataque promovido à essência do Estado, desconstituindo-o,  dele retirando os meios de ação e gerência, e legando-nos como herança, maldita, uma estrutura burocrática infuncional, até aqui intocada, embora todos, à direita e à esquerda, reclamem do Estado ‘que não faz’, sem considerar que há um Estado, ainda mais poderoso, montado para impedir que o Estado encarregado do fazer faça alguma coisa.
O pano de fundo da resistência a qualquer reforma ou inovação, limitando o fazer dos governantes, é o corporativismo, presente em todos os setores da vida pública, do mais distante sindicalismo ao mais presente e nocivo,  perverso e  poderoso de todos eles,  o corporativismo do Judiciário, um Judiciário olímpico, majestoso e autoritário, ensimesmado, arcaicamente monárquico, e por isso mesmo sem disposição para a transparência que a República requer de todos os Poderes, de todos os agentes públicos, de todos os seus funcionários.

Esse  desprezo pelos bons costumes republicanos está retratado no lamentável episódio da inexplicável resistência à ação fiscalizadora  do Conselho Nacional de Justiça. Rejeição que vem de longe, pois é de sempre a recusa do STF a qualquer controle externo. Esse estranho apego à irresponsabilidade ou ao extremado corporativismo – privilégio indefensável que os militares também reclamam para si, isto é, o viciado  julgamento inter pares — já era defendido pelo Ministro Carlos Velloso em artigo no Correio Braziliense de 13/02/2004,  do qual extraio significativo parágrafo:
“Sete ministros do Supremo Tribunal, Maurício Corrêa, Sepúlveda Pertence, eu próprio, Marco Aurélio, Gilmar Mendes e Cezar Peluso, concluímos que o Conselho deve ser integrado por magistrados. Pertence vai mais longe: admite a participação de advogados e membros do Ministério Público. Nós sustentamos que a participação dos advogados ocorrerá mediante representações e manifestações junto ao Conselho. E, quanto ao Ministério Público, sua presença será imprescindível, mas na condição de custos legis, fiscal da lei e da Constituição.”
Ou seja, controle externo, jamais.
Mas o que a sociedade deseja, o que os princípios republicanos exigem de todos os poderes, do Legislativo, do Executivo e do Judiciário é a abertura de todas as caixas-pretas, a máxima transparência, e o dever de prestar contas à cidadania.

Santayana: o pré-sal e a CPI da Privataria

O Conversa Afiada tem o prazer de publicar artigo de Mauro Santayana:

O pré-sal em um mundo sem petróleo e as Forças Armadas


por Mauro Santayana


Há décadas que a exaustão dos mananciais de petróleo vem sendo anunciada. O assunto foi dos mais discutidos pelo Clube de Roma, que pretendia deter o desenvolvimento econômico do mundo, com  o congelamento do progresso e o crescimento zero. Os argumentos eram poderosos: como os recursos do planeta são finitos, infinito não pode ser o seu consumo, e o modelo de vida deve ser mudado. Ocorre que os países ricos – que promoveram o encontro e soaram o alarme – pretendiam congelar o tempo: os que se encontravam à frente, à frente continuariam, enquanto os outros, não podendo desenvolver-se, pelo acordo pretendido, regrediriam. A reação dos países em desenvolvimento, com o apoio então da URSS, tornou o projeto inviável.


A partir da Conferência de Estocolmo, em 1972, a preocupação com o meio ambiente passou a ser, sobretudo, dos países em desenvolvimento, que apontaram as razões reais da crise: a civilização do desperdício imposta ao mundo pelos países ricos. A partir de então, os países centrais aceleraram o seu esforço a fim de controlar as fontes de matéria prima, sobretudo do petróleo, no mundo inteiro, com o emprego da diplomacia e da guerra. Essa ofensiva foi possível mediante  a aliança entre Reagan, Thatcher e o Vaticano, com a cumplicidade de Gobartchev, contra o sistema socialista – que apoiava os esforços do Terceiro Mundo.


Uma das artimanhas do poder imperial é a desinformação. Com relação à energia – além do petróleo, o urânio e terras raras – essa desinformação é patente: tenta esconder o entendimento entre os países ricos para o controle direto das atuais jazidas, que se exaurem rapidamente. Não se preocupam com a poluição do mundo, nem com o chamado efeito estufa: seu cuidado é o de manter a posição hegemônica. Nessa atitude, os Estados Unidos, os países europeus e os chineses continuam a proclamar a  intenção de encontrar saídas para proteger o ambiente da vida, enquanto continuam em seu processo poluidor, não só em seus territórios nacionais, mas no mundo inteiro – conforme a atuação de suas empresas na África, na Ásia e na América Latina.


As grandes empresas petrolíferas – que mantêm  influência poderosa nos governos dos países centrais, de forma direta, ou mediante o Clube de Bilderberg – escondem as previsões assustadoras de que as reservas petrolíferas do mundo chegarão ao seu pico nos próximos três anos, e se iniciará o processo de exaustão, calculado em 5% ao ano – nos termos atuais de consumo. Se essa previsão  se confirmar, em 20 anos as atuais reservas estarão esgotadas, se o consumo não aumentar, o que reduziria o prazo previsto.


Um dos sinais das dificuldades a vir é o  malogro do grande campo de Kachagan, nas águas sob a jurisdição do Casaquistão, no Mar Cáspio. A província petrolífera de Kachagan era uma das maiores promessas de grande produção. As reservas são calculadas entre 9 e 16 bilhões de barris. O início da produção estava previsto para daqui a dois anos – em 2014. Dificuldades técnicas e dificuldades econômicas se alternam. É preciso trabalhar em condições extremas, com a temperatura variando de 35 graus abaixo de zero, no inverno, a 40 graus acima de zero, no verão. As condições são de tal maneira duras que os trabalhadores da região protestaram, em dezembro, de forma vigorosa contra as condições de trabalho impostas pelas empresas Total, da França; Shell, da Holanda e do Reino Unido; Exxon, dos Estados Unidos, e Eni, da Itália. Foram reprimidos à bala pelo governo do Casaquistão, com pelo menos dez mortos. Houve deliberado silêncio sobre o incidente.


Com toda a pujança do campo de Kachagan, suas reservas totais dariam apenas para o consumo mundial, nos níveis atuais, de três meses (na previsão mais baixa, de 9 bilhões de barris) a menos de seis meses (na hipótese de 16 bilhões). O Cáspio era a grande miragem dos Estados Unidos e seus aliados europeus, e a verdadeira razão da guerra movida contra o Afeganistão, assim como a verdadeira razão da guerra contra o Iraque sempre foi o petróleo. Embora haja ainda a possibilidade de outras jazidas, de menor expressão, de petróleo e gás na região, a grande expectativa, a de Kachagan se frustra. Diante dos obstáculos, os investidores se afastam do projeto, e as empresas envolvidas começam a planejar a retirada, mas se encontram presas ao contrato com o governo do Casaquistão, e esse contrato termina em 2041 – com a transferência para o país das instalações da grande ilha artificial montada pelas contratantes.


O petróleo continua sendo a mais importante das matérias primas, enquanto a ciência não lhe encontrar sucedâneos. A advertência de que a contagem para a sua exaustão já se inicia deve ser meditada em nosso país. Estamos eufóricos com as perspectivas das jazidas encontradas sob a camada de sal no litoral atlântico. Há hoje uma disputa entre estados e municípios para o dispêndio de parcela dos resultados dessa exploração, por via dos royalties. Isso se houver realmente royalties, uma vez que, se não prevalecer a emenda Pedro Simon, os royalties a serem pagos pelas empresas exploradoras serão a elas devolvidos em óleo.


Temos também que usar desses recursos, se eles corresponderem ao que esperamos, para financiar pesquisas nacionais em busca de fontes alternativas de energia e, com a mesma preocupação, do fortalecimento de nossos exércitos. No que se refere às Forças Armadas, é urgente restabelecer a indústria nacional de armamentos, abandonada pelo derrotismo interessado dos neoliberais brasileiros. Essa atitude capitulacionista quase nos custou a entrega total da Petrobrás às sete irmãs bastardas, que são as principais petroleiras do mundo. O balanço objetivo do que foi o governo Fernando Henrique poderá ser realizado com a CPI das Privatizações, a ser constituída em breve.


O mundo que temos à frente não nos promete a paz – a menos que sejamos capazes de agir decisivamente contra o sistema atual, dominado por meia dúzia de meliantes, que controlam os governantes, a maioria deles  pessoas medíocres e subornadas pelos grandes bancos, que também controlam as grandes corporações multinacionais.  As  manifestações de massa do ano que passou podem ter sido apenas fogo de palha. Falta organizar politicamente o inconformismo, em cada um dos países do mundo, a fim de assegurar aos seres humanos os direitos que lhes são naturais, e que se resumem em viver, enquanto vida houver,  sem medo e sem ódio.

Bomba! Bomba! FHC descobriu a China!

Por Paulo Henrique Amorim, no blog Conversa Afiada:

Naquele estilo de gordura saturada, o Farol de Alexandria publica no Globo, na página 10, um texto que vai revolucionar o pensamento Ocidentocêntrico.

Henry Kissinger vai rasgar tudo o que escreveu para debruçar sobre a obra do Farol.

Diz ele (que pensa que só ele tem internet rápida):

(Prepare-se, amigo navegante, para ver o Sol nascer!)

“Que modificações advirão (essa é boa “advirão”! – PHA) do quadro de poder que vai se desenhando (Oh Camões, onde estás? – PHA) no mundo… ? Uma coisa parece (sic) certa: o predomínio do Ocidente se vê (sic) contestado pela emergência de fatores econômicos, demográficos, e mesmo (a vírgula é do original – PHA) culturais, sino-cêntricos, ou melhor “asiático-cêntricos. Está reaberta a rota para o Extremo Oriente".

Um jenio!

Ninguém mais tinha percebido a China!

Em tempo: as platitudes atendem a dois objetivos. Ignorar os BRICs e fazer de conta que o Brasil não saiu daquela cinzenta pasmaceira que foi o Governo dele e do Cerra. E, segundo, omitir a ocorrência desse pequeno tsunami na biografia dele e o Cerra: a Privataria do Amaury. É um jenio!

Ferreira Gullar: Triste fim de um poeta

Ano-Novo, vida velha. Ferreira Gullar foi um baita poeta. O seu "Poema Sujo" é arte das grandes. Foi artista engajado, mas a sua poesia conseguia ir muito além dos clichês bem-intencionados dos revolucionários. Hoje, certamente para ganhar a vida ou sentir-se vivo, escreve "crônicas" na Folha de S.Paulo. O seu primeiro texto de 2012 mostra o grande poeta transformado num cronista de meia pataca destilando lugares-comuns conservadores para felicidade de leitores conformistas que se acham cult ou muito críticos. Um mingau azedo polvilhado de certezas sem amparo dos fatos. Por exemplo: "A América Latina vive hoje, por determinadas razões, a experiência do neopopulismo, que tem como principal protagonista o venezuelano Hugo Chávez. É um regime que se vale da desigualdade social para, com medidas assistencialistas, impor-se diante do povo como seu salvador. Lula seguiu o mesmo caminho, mas, como o Brasil é diferente, não conseguiu o terceiro mandato. A solução foi eleger Dilma para um mandato tampão". Como prova? Apenas o seu ranço.
Nada mais conservador do que um ex-comunista. É a síndrome do ex-fumante ou do ex-drogado, o cara que cria uma fundação para pregar a moral que não viveu. Para ser colunista nos jornalões brasileiros, é preciso, em geral, ser muito conservador ou transferir capital de um bolso para outro, usando a fama de uma atividade como base para o exercício de outra. A direita domina amplamente os chamados espaços de formação de opinião na imprensa. Há jovens que sobem logo ao trono, adotando ideias reacionárias e velhas que, enfim, conquistam novos prêmios, espaços e adulações repetindo fórmulas gastas pela mídia soberana. Ao não buscar um terceiro mandato, Lula frustrou os seus críticos, tirou-lhes - para adotar o atual tom clichê de Ferreira Gullar - o pão da boca e deixou-os por aí a jogar conversa fora. Aquele que foi um poeta maior, de imagens desconcertantes, agora termina suas análises mal-iluminadas com uma frase formalmente constrangedora: "Temo pelo que possa acontecer à Argentina, nas mãos de uma presidente embriagada pelo poder". Pobre poeta, embriagado pela sua mediocridade. Embriagado pela mediocridade do poder da mídia. Enquanto isso, na mesma Folha de S.Paulo, um cronista de ofício, Carlos Heitor Cony, depois de algumas temporadas sentenciosas, faz o caminho inverso: termina de envelhecer bem, disseminando um ceticismo levemente irônico de dar inveja a um Machado de Assis. Assim: "Que venham as tempestades da natureza, contra a qual pouco podemos. Quanto às tempestades provocadas pelos escândalos e pela corrupção da qual estamos fartos, não custa apelar para o fervor de nossas preces". Como cronista, Ferreira Gullar é um Neymar improvisado de lateral. Há quem confunda ter criticado o stalinismo, na época da queda do muro de Berlim e das ditaduras do Leste europeu, com louvação ao capitalismo sem regulação, esse que quebrou a Europa e parte da economia dos Estados Unidos. Pois é, o poeta Ferreira Gullar perdeu-se em corsos, comícios, discursos a granel. Vai ver que é a coincidência do nome com outro maranhense: José Ribamar.
Juremir Machado da Silva | juremir@correiodopovo.com.br

Assim, a Miriam Leitão pede as contas


Diz o ditado que o pior inimigo do bom é o ótimo. Vocês sabem que, quando aparece uma notícia boa – e têm aparecido muitas – no plano econômico, ela vem acompamnhada de um “porém”. Hoje mesmo a Eliane Cantanhede, na Folha, desdenha do fato de termos nos tornado a sexta maior economia do mundo porque ” os “apaguinhos” são quase rotina, os portos estão cheios de gargalos, as estradas são péssimas, ferrovias praticamente inexistem” e o aeroportos – oh, que inferno, com estes pobres andando de avião – estão superlotados.
“Povoados sem asfalto, um atrás do outro, com crianças barrigudinhas e descalças correndo na poeira, entre mulheres de ar sofrido e pele encarquilhada e homens trôpegos pela cachaça e pelo cansaço de uma vida inteira de trabalho duro, debaixo de sol a pino e em regime de semiescravidão.
Não consta que haja gente e cenários assim no Reino Unido e na França, o próximo país a ser, bem antes do que se previa, ultrapassado pela economia emergente do Brasil.”
Trata-se de uma nova Gilberto Freyre, uma nova Emile Zola, que descobriu a miséria e as deficiências que não via quando a turma da roda-presa governava o Brasil. Agora, que tiveram o estalo de Vieira, perceberam “os homens trôpegos pela cachaça” e as “crianças barrigudinhas”, que a casa grande cheirosa não quer ter por perto.
Mas a realidade – que chicote implacável, a realidade – deixa essa gente ruminando no vazio o seu despeito. Até o “Bom Dia, Brasil”, onde todas as manhãs a Miriam Leitão agoura o que o fim do crescimento brasileiro está próximo, acaba publicando matérias como a que se reproduz acima…
E que horror, como diz o Paulo Henrique Amorim: está sobrando emprego! E no Nordeste! E em tecnologia! E um paulista migrando para o Ceará para trabalhar! Onde vamos parar?
Claro que a matéria lamenta a falta de gente qualificada para os empregos. Nemsequer uma palavra, é claro, sobre o fato de Dilma Rousseff ter sancionado, há dois meses, lei que destina R$ 24 bilhões, em três anos, para o ensino técnico. Muito menos  sobre empresários que são generosos com os Milleniuns e impostômetros da vida e não querem nem saber de montar cursos de especialização, conceder bolsas de aperfeiçoamento ou pensar em formar seus trabalhadores.
Ainda assim, vale a pena ver – e ler – o que até a Globo tem de noticiar.
APRESENTADOR CHICO PINHEIRO: Olha aí, emprego é o que não falta. Tem mais de 100 mil vagas abertas em todo o Brasil. Mas, cadê gente para preenchê-las?
REPÓRTER ALESSANDRO TORRES: Davidson recebeu propostas de emprego. Privilégio dos profissionais de tecnologia da informação. O trabalho deles está em tudo o que é desenvolvido na área da informática.
ANALISTA DE SISTEMAS/DAVIDSON RODRIGUES ALVES: A gente já consegue escolher algumas oportunidades que pagam melhor, ou tenham uma política melhor de benefícios.
REPÓRTER ALESSANDRO TORRES: Quanto mais a tecnologia faz parte da vida das pessoas e está presente em quase todas as atividades, mais o mercado precisa de profissionais para desenvolver o conteúdo deste aparato tecnológico. Mas, eles não estão surgindo na mesma velocidade das inovações e da demanda de mercado por elas. São mais de 100 mil vagas em todo o Brasil. A região que mais emprega é o Sudeste, seguido do Nordeste. Só aqui no ceará, são mil vagas a espera de candidatos. Esta empresa está constantemente à procura de profissionais.
DIRETOR DE TECNOLOGIA/ALEXANDRE MOTA: Nós criamos esse ano 138 vagas de trabalho e o mercado não tem a mão de obra qualificada nessa quantidade para preencher. A gente preenche e surge nova demanda, preenche, surge nova demanda.
REPÓRTER ALESSANDRO TORRES: Foi fácil para Alexandre ser contratado logo que chegou de São Paulo.
GERENTE DE PROJETO/ALEXANDRE PONCE: Não vim com nada certo, não vim com nenhuma proposta feita. Vim pra cá, lancei no mercado, em duas semanas já tava fazendo entrevista, e aí já tava praticamente contratado.

Globalização, ou “o mundo é dos EUA”

As primárias de Iowa podem dar força ao ultradireitista Rick Santorum
Começam hoje as eleições primárias que não escolher o candidato republicano à Presidência dos Estados Unidos – entre os democratas, a escolha de Obama é óbvia.
E, por mais decepcionante que possam ter sido as atitudes do atual presidente, a alternativa republicana é mil vezes pior.
Hoje, numa expressão crua do que é a economia globalizada, um dos candidatos favoritos, Mitt Roomey, disse que os EUA não ajudariam “nem com um dólar” a Europa a vencer a crise; crise, aliás, que tem suas origens exatamente no sistema bancário americano.
Outro republicano – que pode crescer nas pesquisas com o resultsdo da primeira prévia, hoje, em Iowa – o ultradireitista Rick Santorum começou o ano afirmando que, eleito, bombardearia o Irã.
Decadentes ou não, o fato é que os EUA ainda são o império. E impérios, na decadência, tornam-se pateticamente agressivos.

Os urubus queimam a língua


Indústria de petróleo tem, além da tecnologia e do conhecimento geológico, uma dose grande de perseverança e convicção. Quem desiste no primeiro problema, pode ser outra coisa, mas não petroleiro.
Dia 13 de dezembro, a revista Exame, do Grupo Abril, numa matéria intitulada “O que deu errado para a Petrobras em 2011″, onde “o mercado” reclamava da Petrobras – eles, como Roger Agnelli com o ferro da Vale, querem pressa, a qualquer preço -, um trecho chamava a atenção:
“Acostumada a lidar com termos como pós-sal e pré-sal, a Petrobras precisa também de um pouco de sal grosso. Segundo os especialistas, até o azar rondou a estatal neste ano. O caso é o do Campo de Golfinho, no litoral do Espírito Santo.
Uma das boas apostas da Petrobras para 2011, Golfinho não rendeu o que se esperava – atualmente, ele produz mais água do que petróleo. Por volta de outubro, o campo produzia cerca de 26.000 barris diários, menos de 10% dos 300.000 estimados.”
Bem, ontem a Petrobras anunciou que ali mesmo, em Golfinho, encontrou novos depósitos de petróleo de excelente qualidade,  e gás, em ótimas condições de aproveitamento, porque próximo à costa (74km) e a um navio-plataforma já operando na área. O campo é concessão integral da Petrobras e, por isso, mais rentável que os partilhados com outras empresas.
O “fracasso” de Golfinho já havia sido tema de uma  reportagem na Folha, com o mesmo tom derrotista.
A história do petróleo, aqui, é a dessa luta sem fim contra os “isso não vai dar certo”, desde os tempos em que teimavam que aqui não havia petróleo. Só uma empresa disposta a acreditar e insistir, como a Petrobras, pode localizar e realizar todo o nosso potencial. E isso quer dizer risco, o mesmo risco que as multis nunca querem encarar, como aconteceu na era dos “contratos de risco” de Ernesto Geisel, o primeiro a tentar abrir o petróleo brasileiro para as petroleiras do exterior.
A própósito: como tem dados promissores, a Petrobras continuará furando após essa acumulação, localizada a cerca de 4600 m de profundidade. Vai aprofundar a prospecção por mais 1,5 mil metros. A região é o extremo Norte da camada de pré-sal e o trecho em que ela mais se aproxima da costa.

O que ‘Privataria’ revela de novo

A partir do momento em que o PSDB e a (sua) imprensa descerraram a cortina de silêncio absoluto que num primeiro momento interpuseram entre o livro A Privataria Tucana e a parcela do distinto público que ainda não descobriu a blogosfera, surgiu uma tese curiosa: a obra conteria apenas denúncias “requentadas” por já terem sido publicadas por essa mesma imprensa,  tese que ironicamente reconhece que o que já foi publicado sobre o caso não teria consistência, já que não teria produzido consequências àqueles que o livro acusa.
A tese tucana, compartilhada por Globo, Folha de São Paulo, Estadão, Veja e seus tentáculos espraiados pelos quatro cantos da nação também foi aproveitada – ou reaproveitada, como se verá adiante – por uma das personagens mais freqüentes no livro da Privataria: Verônica Serra, filha do ex-tudo José Serra. No apagar das luzes de 2011, essa senhora divulgaria, através do site do ex-secretário-geral da Presidência do governo Fernando Henrique Cardoso Eduardo Graeff,  desmentido que já fora divulgado outras vezes, mas que seria a primeira manifestação de Verônica após a publicação do livro.
A dar crédito à nota da filha de Serra, o leitor da grande imprensa (tucana) fica perdido. Como é possível que alguém escreva um livro com acusações tão graves sendo elas tão flagrantemente falsas quanto faz crer a nota de Verônica? O jornalista Amaury Ribeiro Jr. teria que ser um lunático, um suicida, pois é abissal o descompasso entre o que ele diz e o que diz a filha do tucano e os veículos de comunicação aliados a ele.
Vamos rever, então, a explicação única que Verônica Serra vem usando tanto que, como se poderá constatar em seguida – na reprodução do “outro lado” que a imprensa ocultou –, o jornalista Amaury Ribeiro acabou prevendo em seu livro.
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Nota de Verônica Serra à imprensa
27 de dezembro de 2011
“Nos últimos dias, têm sido publicadas e republicadas, na imprensa escrita e eletrônica, insinuações e acusações totalmente falsas a meu respeito. São notícias plantadas desde 2002 — ano em que meu pai foi candidato a presidente pela primeira vez — e repetidas em todas as campanhas posteriores, não obstantes os esclarecimentos prestados a cada oportunidade. Basta lembrar que, em 2010, fui vítima de quebra ilegal de sigilo fiscal, tendo seus autores sido indiciados pela Polícia Federal. E, agora, uma organizada e fartamente financiada rede de difamação dedicou-se a propalar infâmias intensamente através de um livro e pela internet. Para atingir meu pai, buscam atacar a sua família com mentiras e torpezas.
1. Quais são os fatos?
- Nunca estive envolvida nem remotamente com qualquer tipo de movimentação ilegal de recursos.
- Nunca fui ré em processo nem indiciada pela Polícia Federal; fui, isto sim, vítima dos crimes de pessoas hoje indiciadas.
- Jamais intermediei nenhum negócio entre empresa privada e setor público no Brasil ou em qualquer parte do mundo.
- Não fui sócia de Verônica Dantas, apenas integramos o mesmo conselho de administração.
Faço uma breve reconstituição desses fatos, comprováveis por farta documentação.
2. No período entre Setembro de 1998 e Março de 2001, trabalhei em um fundo chamado International Real Returns (IRR) e atuava como sua representante no Brasil. Minha atuação no IRR restringia-se à de representante do Fundo em seus investimentos. Em nenhum momento fui sua sócia ou acionista. Há provas.
3. Esse fundo, de forma absolutamente regular e dentro de seu escopo de atuação, realizou um investimento na empresa de tecnologia Decidir. Como conseqüência desse investimento, o IRR passou a deter uma participação minoritária na empresa.
4. A Decidir era uma empresa “ponto.com”, provedora de três serviços: (I) checagem de crédito; (II) verificação de identidade e (III) processamento de assinaturas eletrônicas. A empresa foi fundada na Argentina, tinha sede em Buenos Aires, onde, aliás, se encontrava sua área de desenvolvimento e tecnologia. No fim da década de 90, passou a operar no Brasil, no Chile e no México, criando também uma subsidiária em Miami, com a intenção de operar no mercado norte-americano.
5. Era uma empresa real, com funcionários, faturamento, clientes e potencial de expansão. Ao contrário do que afirmam detratores levianos, sem provar nada, a Decidir não era uma empresa de fachada para operar negócios escusos. Todas e quaisquer transações relacionadas aos aportes de investimento eram registradas nos órgãos competentes.
6. Em conseqüência do investimento feito pelo IRR na Decidir, passei a integrar o seu Conselho de Administração (ou, na língua inglesa, “Board of Directors”), representando o fundo para o qual trabalhava.
7. À época do primeiro investimento feito pelo IRR na Decidir, o fundo de investimento Citibank Venture Capital (CVC) – administrado, no âmbito da América Latina, desde Nova Iorque – liderou a operação.
8. Como o CVC tinha uma parceria com o Opportunity para realizar investimentos no Brasil, convidou-o a co-investir na Decidir, cedendo uma parte menor de seu aporte. Na mesma operação de capitalização da Decidir, investiram grandes e experientes fundos internacionais, dentre os quais se destacaram o HSBC, GE Capital e Cima Investments.
9. Nessa época, da mesma forma como eu fui indicada para representar o IRR no Conselho de Administração da Decidir, a Sra. Veronica Dantas foi indicada para participar desse mesmo conselho pelo Fundo Opportunity. Éramos duas conselheiras (e não sócias), representando fundos distintos, sem relação entre si anterior ou posterior a esta posição no conselho da empresa.
10. O fato acima, no entanto, serviu de pretexto para a afirmação (feita pela primeira vez em 2002) de que eu fui sócia de Verônica Dantas e, numa ilação maldosa, de que estive ligada às atividades do empresário Daniel Dantas no processo de privatização do setor de telecomunicações no Brasil. Em 1998, quando houve a privatização, eu morava há quatro anos nos Estados Unidos, onde estudei em Harvard e trabalhei em Nova York numa empresa americana que não tinha nenhum negócio no Brasil, muito menos com a privatização.
11. Participar de um mesmo Conselho de Administração, representando terceiros, o que é comum no mundo dos negócios, não caracteriza sociedade. Não fundamos empresa juntas, nem chegamos a nos conhecer, pois o Opportunity destacava um de seus funcionários para acompanhar as reuniões do conselho da Decidir, realizadas sempre em Buenos Aires.
12. Outra mentira grotesca sustenta que fui indiciada pela Polícia Federal em processo que investiga eventuais quebras de sigilo. Não fui ré nem indiciada. Nunca fui ouvida, como pode comprovar a própria Polícia Federal. Certidão sobre tal processo,  da Terceira Vara Criminal de São Paulo, de 23/12/2011, atesta que “Verônica Serra não prestou declarações em sede policial, não foi indiciada nos referidos autos, tampouco houve oferecimento de denúncia em relação à mesma.”
13. Minhas ligações com a Decidir terminaram formalmente em Julho de 2001, pouco após deixar o IRR, fundo para o qual trabalhava. Isso ressalta a profunda má fé das alegações de um envolvimento meu com operações financeiras da Decidir realizadas em 2006. Essas operações de 2006 – cinco anos após minha saída da empresa – são mostradas num fac-símile publicado pelos detratores, como se eu ainda estivesse na empresa. Não foi mostrado (pois não existe) nenhum documento que comprove qualquer participação minha naquelas operações. Os que pretendem atacar minha honra confiam em que seus eventuais leitores não examinem fac-símiles que publicam, nem confiram datas e verifiquem que nomes são citados.
14. Mentem, também, ao insinuar que eu intermediei negócios da Decidir com governos no Brasil. Enquanto eu estive na Decidir, a empresa jamais participou de nenhuma licitação”.
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Dos dezesseis capítulos de A Privataria Tucana, dois deles servem ao propósito de mostrar que a estratégia de Serra e de seu entorno familiar é a de apostar no estrangulamento do contraditório ao menos na imprensa, porém visando a que a censura jornalística acabe produzindo o abandono do caso pelo Poder Judiciário.
A você que, ao ter descoberto a blogosfera, não está mais preso ao instituto da informação controlada por injunções políticas que a dita “grande” imprensa oferece ao seu domesticado público cativo, este blog oferece trechos dos capítulos 9 e 13 de “Privataria”, os quais demonstrarão que quem quer realmente se manter informado, hoje em dia, não pode mais se limitar aos meios de comunicação tradicionais.
O trecho do capítulo 9 do livro em que a tese de que suas denúncias seriam “requentadas” é literalmente moída começa no terceiro parágrafo de sua página 185, apesar de o capítulo ter início na página 181. A essa altura, o autor pergunta:
– E o que este livro tem de novo a acrescentar sobre a Decidir?
E o próprio autor responde:
– Documentos, é claro, obtidos de forma lícita, que esclarecem de vez a saga da sociedade entre as Verônicas – a Serra e a Dantas, sendo esta a irmã do banqueiro Daniel Dantas.
E Amaury prossegue:
– Os papeis comprovam que Verônica [Serra] mentiu várias vezes em sua nota [o jornalista parece adivinhar, enquanto escrevia o livro, a nota de Verônica que seria publicada semanas após sua publicação]. A empresa não fechou as portas, Verônica não deixou a empresa e o dinheiro do Opportunity e do Citibank aplicado na firma também nunca esteve  na Argentina. Após cancelar seu registro de funcionamento no departamento de Comércio da Flórida em 2001, a Decidir passa a ter outro endereço (…), as Ilhas Virgens Britânicas, é claro. (…) A decidir é transformada em offshore e rebatizada como Decidir International Limited.
E Amaury segue questionando:
Qual é a função da offshore Decidir? Internar dinheiro. Onde? Na empresa Decidir do Brasil, que funciona no escritório da filha do ex-governador, localizado na rua Renato Paes de Barros, no bairro Itaim Bibi, em São Paulo (SP).
Neste ponto, uma informação que a filha de Serra jamais explicou em suas reiteradas notas:
Documento da Junta Comercial de São Paulo revela como a empresa [a Decidir das Ilhas Virgens, da qual Verônica é sócia] injeta de uma vez R$ 10 milhões, em 2006, na Decidir do Brasil [com a qual a filha de Serra diz não ter vínculos, apesar de ter recebido a dinheirama da empresa que ela tem no Caribe, e de funcionar em seu escritório em São Paulo], que muda de nome para Decidir Brasil.com.br (…) E além de funcionar no escritório de Verônica Serra (…), a Decidir brasileira tem como vice-presidente a própria filha do ex-governador.
Como se não bastasse, Amaury faz uma afirmação que, se fosse falsa, provaria que ele não está em seu juízo perfeito. Contra a afirmação de Verônica Serra de que jamais foi indiciada criminalmente, o jornalista conta uma história diferente:
– Verônica Serra foi indiciada pela Polícia Federal já no remoto ano de 2003 e é ré em processo que corre na 3ª Vara Criminal de São Paulo. Qual a acusação? Justamente a de ter praticado um crime da mesma natureza [da qual o próprio Amaury é acusado: de quebra de sigilo]. Consta do processo 370-36-2003.401.6181 (numeração atual), no qual Verônica e outros dirigentes da empresa Decidir do Brasil são apontados como autores da violação de segredo bancário.
Quem não acreditar no que leu pode investir a bagatela de três dezenas de reais e adquirir o livro A Privataria Tucana. Os documentos que contém, devidamente autenticados, foram extraídos de juntas comerciais e cartórios no Brasil e no exterior. Comprovam cada afirmação acima. Só não vou reproduzi-los aqui porque o autor tem que ser remunerado pelo serviço prestado ao país ao menos vendendo o seu livro. Afinal de contas, pirataria é com uma outra turma…