Revista
Veja está preocupada com o Facebook da equipe do Lava Jato, sob
investigação da PF; os policiais externavam apoio a Aécio enquanto
vazavam 'informações' do doleiro Youssef. Veja deu uma capa com isso que
quase tirou a eleição de Dilma; sobraram rastros da parceria?
Desemprego
cai, renda sobe, inflação desacelera: Brasil tem o menor desemprego dos
últimos 12 anos para o mês de outubro: 4,7%; renda dos assalariados
cresce 2,3%; inflação medida pelo IPCA desacelera.
Anti-empreiteiras:
prefeito Haddad autoriza MTST a gerir diretamente 20% do Minha Casa
Minha Vida em SP; gestão direta permite reduzir custos e aumentar
tamanho dos imóveis de 39 m2 para 63 m2
Escárnio:o
advogado do doleiro Alberto Youssef, Antonio Figueiredo Basto, afirmou
que o procurador Rodrigo Janot está 'politizando' a Lava-Jato ao
acusá-lo de ter feito vazamentos eleitorais em beneficio do PSDB.
Última Hora: de como Vargas enfrentou o monopólio dos meios.
Sufocado
pela mídia de todas as matizes políticas, Vargas reagiu articulando um
jornal para o "povão" que o apoiava.
Marcos Dantas, professor titular da Escola de Comunicação da UFRJ
Os acontecimentos mediáticos na reta final das últimas eleições, muito especialmente a caluniosa edição da revista
Veja,
na quinta-feira, há dois dias do pleito, buscando envolver a candidata
Dilma e o ex-presidente Lula em acusações para lá de suspeitas feitas
por um renomado contraventor, tornou ainda mais urgente discutir o
perfil escandalosamente partidário e particularmente antipetista que os
meios de comunicação assumiram no Brasil.
Não existe mais
compromisso com a “neutralidade” ou “objetividade” da notícia. Não se
ouvem mais “os dois lados”. E, pior, basta-se ler com atenção os textos
das matérias para, não raro, constatar-se que, dois ou três parágrafos
abaixo, o que está escrito não confirma, às vezes desmente claramente, a
afirmação peremptória expressa no título grafado em letras garrafais.
Mais do que partidários,
Veja,
Folha de S. Paulo,
O Globo e
o “Jornal Nacional” da Rede Globo tornaram-se cínicos, nisto sendo
acompanhados por quase todos os demais veículos impressos ou
eletrônicos. Há exceções, mas não têm o mesmo poder de penetração ou
audiência daqueles.
Não deixa de ser digno de nota que ainda
assim a presidente Dilma Rousseff tenha obtido sua reeleição, embora a
campanha contra ela desfechada pelos meios muito explique a sua reduzida
margem eleitoral. Por outro lado, detendo há 15 anos mais da metade do
eleitorado e sendo apoiado por uma parcela muito expressiva da opinião
esclarecida brasileira, como explicar que, até hoje, não tenhamos entre
os meios brasileiros aquele que represente as idéias, a visão de mundo, o
projeto de Brasil que o PT e seus aliados políticos vêm vitoriosamente
implementando.
Por que não temos entre nós, uma revista que sustente este projeto com a mesma circulação de
Veja, um jornal com a mesma penetração da
Folha,
um canal de televisão que dispute audiência com a Globo, se, no
entanto, mais da metade da população brasileira (e não é de hoje)
discorda do que pregam e, tudo indica, pouco confiam no que divulgam?
Em
toda a história do Brasil, registra-se um único caso de órgão de
imprensa que logrou obter audiência, expressa em tiragem e circulação,
correspondente, em termos relativos, ao de um amplo conjunto da
população cujas opções políticas ou projeto de país não costumam ser
apresentados ou representados pelos meios dominantes: a
Última Hora.
O
(segundo) governo Vargas sofria um cerco da imprensa muito similar ao
que atualmente sofrem os governos petistas: os jornais e revistas de
maior tiragem e influência lhe faziam oposição implacável pelo centro e
direita. À esquerda, o PCB, com sua imprensa quantitativamente diminuta
mas qualitativamente influente junto a círculos progressistas, não
conciliava com o governo “burguês”. Vargas reagiu articulando a criação e
consolidação de um jornal que fosse efetivamente capaz de atrair a
leitura do “povão” que o apoiava: assim iria nascer a
Última Hora.
Antes
de mais nada, Vargas mobilizou capital. Com recursos de banqueiros e
industriais que o apoiavam, a exemplo de Walter Moreira Sales, Horácio
Lafer e Euvaldo Lodi, além de generosos financiamentos do Banco do
Brasil, Vargas fez nascer uma empresa na qual, porém, não tinha qualquer
tipo de participação direta, além da própria inspiração.
Para
dirigir a empresa e, sobretudo, o jornal que ela editaria, chamou o
jornalista Samuel Wainer. Ele não era, àquela altura, um novato
desconhecido, muito menos um jornalista marginalizado e pouco
considerado nos meios profissionais. Era experiente e respeitado, e já
fizera até oposição a Vargas, quando ditador. Com os recursos à sua
disposição, Wainer pôs-se a reunir à sua volta alguns dos melhores
profissionais de imprensa que o dinheiro poderia comprar.
Da Argentina, trouxe o desenhista gráfico Andrés Guevara, responsável pelo projeto gráfico da
Última Hora,
moderno e inovador àquela época. Para a redação, trouxe (subtraindo dos
jornalões de então) nomes como o esquerdista Moacir Werneck de Castro,
para diretor-responsável; Edmar Morel, reconhecido repórter político; ou
o reacionário Nelson Rodrigues – sim, o já consagrado dramaturgo que,
para a
Última Hora, atrairia um grande público com a sua coluna
policialesca "A vida como ela é". Também, na polícia, encontrava-se
Amado Ribeiro, bem enfronhado com aquela turma que um dia se juntaria no
"Esquadrão Le Coq"...
Wainer não esqueceu o colunismo social,
na época um tipo de jornalismo que não poderia faltar num jornal que se
quisesse importante: para concorrer com Ibrahim Sued, n’
O Globo, tirou "Jacinto de Thormes", pseudônimo de Maneco Muller, do
Correio da Manhã. Nas charges, estavam Nássara e Lan, este autor do antológico desenho que consagraria Carlos Lacerda como "O Corvo".
As
páginas esportivas, nas quais, claro, dominava o futebol, foram as
primeiras a publicar fotos a cores de equipes campeãs: inaugurou-as o
time do Fluminense, em 1951.
Última Hora também não deixaria de
oferecer aos seus leitores, notícias, informações, resenhas críticas
sobre cinema, teatro, espetáculos, artes em geral. Neste segmento fazia
sucesso a coluna de “Stanislaw Ponte Preta”, pseudônimo de Sergio Porto,
trazendo as fofocas do mundo artístico popular e brindando seu público
com fotos diárias das estonteantes “certinhas do Lalau”, as popozudas da
época que brilhavam no teatro de revista.
cartamaior