Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

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quarta-feira, 11 de março de 2015

Leonardo Boff: golpe é induzido pela mídia





"Essa dramatização que se faz aqui, é feita pela mídia conservadora, golpista, que nunca respeitou um governo popular. Devemos dizer os nomes: é o jornal O Globo, a TV Globo, a Folha de S. Paulo, o Estadão, a perversa e mentirosa revista Veja", diz o teólogo Leonardo Boff; ele afirma ainda que o golpismo reflete apenas a frustração dos derrotados na disputa presidencial de 2014; "É o golpe virtual, que eles fazem pelas redes sociais e pela mídia, inventando e fantasiando, projetando cenários dramáticos, que são projeções daqueles que estão frustrados e não aceitam a derrota do projeto que era antipovo"; Boff afirma ainda que o golpe não passará, em razão da força dos movimentos sociais e de uma nova "consciência política"


Da Rede Brasil Atual - A crise econômica e política pela qual o país atravessa neste momento é "em grande parte forjada, mentirosa, induzida, ela não corresponde aos fatos", afirma o teólogo Leonardo Boff. Segundo o teólogo, a crise amplificada por uma dramatização da mídia. "Essa dramatização que se faz aqui, é feita pela mídia conservadora, golpista, que nunca respeitou um governo popular. Devemos dizer os nomes: é o jornal O Globo, a TV Globo, a Folha de S. Paulo, o Estadão, a perversa e mentirosa revista Veja."

Em entrevista à Rádio Brasil Atual na segunda-feira (9), o teólogo disse que, no entanto, o atual nível de acirramento no cenário político não preocupa porque, para ele, comparado a outros contextos históricos, a "democracia amadureceu". Ele diz acreditar, ainda, na emergência de uma "nova consciência política".

Boff também considera que o cenário brasileiro é bastante diferente da Grécia, Espanha e Portugal, onde são registrados centenas de suicídios, por conta do fechamento de pequenas empresas e do desemprego, e até mesmo de países centrais, como os Estados Unidos, que veem a desigualdade social avançar.

"A situação não é igual a 64, nem igual a 54", compara. "Agora, nós temos uma rede imensa de movimentos sociais organizados. A democracia ainda não é totalmente plena porque há muita injustiça e falta de representatividade, mas o outro lado não tem condições de dar um golpe."

Para Boff, não interessa ao militares uma nova empreitada golpista. Restaria ao campo conservador a "judicialização da política", e acrescenta: "Tem que passar pelo parlamento e os movimentos sociais, seguramente, vão encher as ruas e vão querer manter esse governo que foi legitimamente eleito. Eles têm força de dobrar o Parlamento, dissuadir os golpistas e botá-los para correr."

Sobre o 'panelaço' ocorrido no domingo, durante o discurso da presidenta Dilma Rousseff para o Dia Internacional da Mulher, Boff afirma que o protesto é "totalmente desmoralizado", pois "é feito por aqueles que têm as panelas cheias e são contra um governo que faz políticas para encher as panelas vazias do povo pobre".

O teólogo afirma que a manifestação expressa "indignação e ódio contra os pobres" e são símbolo da "falta de solidariedade"; e que o "panelaço veio exatamente dos mais ricos, daqueles que são mais beneficiados pelo sistema e que não toleram que haja uma diminuição da desigualdade e que gostariam que o povo ficasse lá embaixo".

Sobre o ato programado pela CUT e movimentos sociais para sexta-feira (13), Leonardo Boff diz que a importância é reafirmar os valores democráticos e a defesa da soberania do país: "Aqueles que perderam, as minorias que foram vencidas, cujo projeto neo liberal foi rejeitado pelo povo, até hoje, não aceitam a derrota. Eles que tenham a elegância e o respeito de aceitar o jogo democrático".

O teólogo frisa, mais uma vez, não temer o golpe. "É o golpe virtual, que eles fazem pelas redes sociais e pela mídia, inventando e fantasiando, projetando cenários dramáticos, que são projeções daqueles que estão frustrados e não aceitam a derrota do projeto que era antipovo."

 

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Última Hora: de como Vargas enfrentou o monopólio dos meios

Revista Veja está preocupada com o Facebook da equipe do Lava Jato, sob investigação da PF; os policiais externavam apoio a Aécio enquanto vazavam 'informações' do doleiro Youssef. Veja deu uma capa com isso que quase tirou a eleição de Dilma; sobraram rastros da parceria?

Desemprego cai, renda sobe, inflação desacelera: Brasil tem o menor desemprego dos últimos 12 anos para o mês de outubro: 4,7%; renda dos assalariados cresce 2,3%; inflação medida pelo IPCA desacelera.


Anti-empreiteiras: prefeito Haddad autoriza MTST a gerir diretamente 20% do Minha Casa Minha Vida em SP; gestão direta permite reduzir custos e aumentar tamanho dos imóveis de 39 m2 para 63 m2 

 Escárnio:o advogado do doleiro Alberto Youssef, Antonio Figueiredo Basto, afirmou que o procurador Rodrigo Janot está 'politizando' a Lava-Jato ao acusá-lo de ter feito vazamentos eleitorais em beneficio do PSDB.


Última Hora: de como Vargas enfrentou o monopólio dos meios.

Sufocado pela mídia de todas as matizes políticas, Vargas reagiu articulando um jornal para o "povão" que o apoiava.

Marcos Dantas, professor titular da Escola de Comunicação da UFRJ
Reprodução/Arquivo do Estado
Os acontecimentos mediáticos na reta final das últimas eleições, muito especialmente a caluniosa edição da revista Veja, na quinta-feira, há dois dias do pleito, buscando envolver a candidata Dilma e o ex-presidente Lula em acusações para lá de suspeitas feitas por um renomado contraventor, tornou ainda mais urgente discutir o perfil escandalosamente partidário e particularmente antipetista que os meios de comunicação assumiram no Brasil.

Não existe mais compromisso com a “neutralidade” ou “objetividade” da notícia. Não se ouvem mais “os dois lados”. E, pior, basta-se ler com atenção os textos das matérias para, não raro, constatar-se que, dois ou três parágrafos abaixo, o que está escrito não confirma, às vezes desmente claramente, a afirmação peremptória expressa no título grafado em letras garrafais.

Mais do que partidários, Veja, Folha de S. Paulo, O Globo e o “Jornal Nacional” da Rede Globo tornaram-se cínicos, nisto sendo acompanhados por quase todos os demais veículos impressos ou eletrônicos. Há exceções, mas não têm o mesmo poder de penetração ou audiência daqueles.

Não deixa de ser digno de nota que ainda assim a presidente Dilma Rousseff tenha obtido sua reeleição, embora a campanha contra ela desfechada pelos meios muito explique a sua reduzida margem eleitoral. Por outro lado, detendo há 15 anos mais da metade do eleitorado e sendo apoiado por uma parcela muito expressiva da opinião esclarecida brasileira, como explicar que, até hoje, não tenhamos entre os meios brasileiros aquele que represente as idéias, a visão de mundo, o projeto de Brasil que o PT e seus aliados políticos vêm vitoriosamente implementando.

Por que não temos entre nós, uma revista que sustente este projeto com a mesma circulação de Veja, um jornal com a mesma penetração da Folha, um canal de televisão que dispute audiência com a Globo, se, no entanto, mais da metade da população brasileira (e não é de hoje) discorda do que pregam e, tudo indica, pouco confiam no que divulgam?

Em toda a história do Brasil, registra-se um único caso de órgão de imprensa que logrou obter audiência, expressa em tiragem e circulação, correspondente, em termos relativos, ao de um amplo conjunto da população cujas opções políticas ou projeto de país não costumam ser apresentados ou representados pelos meios dominantes: a Última Hora.

O (segundo) governo Vargas sofria um cerco da imprensa muito similar ao que atualmente sofrem os governos petistas: os jornais e revistas de maior tiragem e influência lhe faziam oposição implacável pelo centro e direita. À esquerda, o PCB, com sua imprensa quantitativamente diminuta mas qualitativamente influente junto a círculos progressistas, não conciliava com o governo “burguês”. Vargas reagiu articulando a criação e consolidação de um jornal que fosse efetivamente capaz de atrair a leitura do “povão” que o apoiava: assim iria nascer a Última Hora.

Antes de mais nada, Vargas mobilizou capital. Com recursos de banqueiros e industriais que o apoiavam, a exemplo de Walter Moreira Sales, Horácio Lafer e Euvaldo Lodi, além de generosos financiamentos do Banco do Brasil, Vargas fez nascer uma empresa na qual, porém, não tinha qualquer tipo de participação direta, além da própria inspiração.

Para dirigir a empresa e, sobretudo, o jornal que ela editaria, chamou o jornalista Samuel Wainer. Ele não era, àquela altura, um novato desconhecido, muito menos um jornalista marginalizado e pouco considerado nos meios profissionais. Era experiente e respeitado, e já fizera até oposição a Vargas, quando ditador. Com os recursos à sua disposição, Wainer pôs-se a reunir à sua volta alguns dos melhores profissionais de imprensa que o dinheiro poderia comprar.

Da Argentina, trouxe o desenhista gráfico Andrés Guevara, responsável pelo projeto gráfico da Última Hora, moderno e inovador àquela época. Para a redação, trouxe (subtraindo dos jornalões de então) nomes como o esquerdista Moacir Werneck de Castro, para diretor-responsável; Edmar Morel, reconhecido repórter político; ou o reacionário Nelson Rodrigues – sim, o já consagrado dramaturgo que, para a Última Hora, atrairia um grande público com a sua coluna policialesca "A vida como ela é". Também, na polícia, encontrava-se Amado Ribeiro, bem enfronhado com aquela turma que um dia se juntaria no "Esquadrão Le Coq"...

Wainer não esqueceu o colunismo social, na época um tipo de jornalismo que não poderia faltar num jornal que se quisesse importante: para concorrer com Ibrahim Sued, n’O Globo, tirou "Jacinto de Thormes", pseudônimo de Maneco Muller, do Correio da Manhã. Nas charges, estavam Nássara e Lan, este autor do antológico desenho que consagraria Carlos Lacerda como "O Corvo".

As páginas esportivas, nas quais, claro, dominava o futebol, foram as primeiras a publicar fotos a cores de equipes campeãs: inaugurou-as o time do Fluminense, em 1951. Última Hora também não deixaria de oferecer aos seus leitores, notícias, informações, resenhas críticas sobre cinema, teatro, espetáculos, artes em geral. Neste segmento fazia sucesso a coluna de “Stanislaw Ponte Preta”, pseudônimo de Sergio Porto, trazendo as fofocas do mundo artístico popular e brindando seu público com fotos diárias das estonteantes “certinhas do Lalau”, as popozudas da época que brilhavam no teatro de revista.

cartamaior

Dr Moro, 9 vazamentos por dia, Dr Moro !​ Isso é uma investigação sob sigilo, ou uma entrevista coletiva ?


Como se sabe, os respeitáveis Ministros Barroso e Teori do Supremo tentaram manter o sigilo da investigação sobre a Lava-Jato e impediram que o Congresso a ela tivesse acesso.

A Presidenta Dilma também tentou, mas não conseguiu.

Um país sério, não é isso, amigo navegante !

Sigilo é sigilo !

Menos na Vara do Dr Moro !

Juiz Moro, agora transformado pelo detrito de maré baixa e pelo Ataulfo Merval (no ABC do C Af) no vaso de guerra do Golpe, ou num Varão de Plutarco, tal como a seu tempo e hora foi o inesquecível Presidente Barbosa …

Na Vara do Dr Moro vaza tudo.

Até vento.

Uma leitura superficial – para evitar vômitos – das primeiras páginas do PiG nessa manhã de quarta-feira 19/11, quando o IBGE anunciou um desemprego récord (para outubro, porque, em novembro, isso vai explodir, com as demissões em massa na Fel-lha !), pois, nessa manhã de quarta-feira é possível constatar que há nove (nove !) vazamentos nas primeiras páginas do PiG.

Nove por dia.

E essa deve ser a média dos vazamentos dos últimos doze meses e assim será, enquanto estiver em atividade a Vara do Dr Moro – e a Dilma no exercício do cargo, atividade que o Ataulfo pretende abreviar, mas, não agora!

É pra daqui a pouco.

Como não tem Governo a Vara vaza.

Ou serão os impunes delegados aecistas do Bessinha, da Julia Duailibi e da Conceição Lemes?

Não importa a origem.

Vaza tudo !

Nove por dia.

O sigilosíssimo depoimento de um vice-presidente da Mendes Jr, esse então foi uma entrevista coletiva.

A ele todo o PiG assistiu, da primeira fila, com gravador e tudo.

Saiu tudo, por igual, na primeira página, como estrondosos furos de reportagem !

Dr Moro, se continuar assim, vai virar uma esculhambação, como disse o Ricardo Melo de um outro julgamento de que o Ataulfo participou – sempre ! – como juiz


Em tempo:
Esse Bessinha …


Paulo Henrique Amorim


Leia mais:

Dr Janot, quem vazou para a Veja ?

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Um dia na vida do BIM, o Brasileiro Indignado com a Mídia

São milhares. Dezenas de milhares. Milhões. E não param de se multiplicar.

São os BIMs, os brasileiros indignados com a mídia.

Agora mesmo: meia tonelada de cocaína é encontrada num helicóptero de um amigo de Aécio.

O BIM passou o fim de semana mal. Olhou nas bancas para ver a capa da Veja. Fitness. Nem uma só menção, na capa, ao caso, como se meia tonelada de cocaína, e no helicóptero de um senador que presidiu o Cruzeiro, fosse meia tonelada de chocolate belga no trenó do Papai Noel.

Mas meu propósito aqui é descrever um dia na vida do BIM.

Ele acorda e dá uma olhada no Reinaldo Azevedo. Sente raiva com o que lê. Mais uma vez, se gabando de ter criado “petralha”, como se tivesse feito a Comédia Humana do Balzac.

Depois passa para o Constantino. Mais um momento de raiva. Ele conseguiu falar do Lobão no Roda Vida e colocar uma foto no texto em que o Lobão segura o livro dele, Constantino. “Trapaceiro”, pensa.

Passa os olhos por um novo blogueiro, um cara que compilou frases de Olavo Carvalho num livro. “É o reaça-engraçado”, pensa. “Se é para publicar coisas de extrema direita, poderiam dar frases do Mein Kampf direto.”
Tempo de trabalhar.
No carro, BIM põe na CBN. Ouve Merval, Sardenberg e Jabor. Xinga alto no carro, num desabafo instintivo e gutural. Merval fala sobre o lulopetismo. Sardenberg anuncia o colapso econômico. Jabor diz que se avizinha a ditadura bolivariana.

BIM lamenta não ter um Frontal à mão.

No escritório, num momento mais tranquilo, vai no site da Folha. Quer saber o que Magnoli escreveu. Defendeu a prisão de Genoino.

BIM pensa em Miruna, e se pudesse daria uma bofetada em Magnoli. “Lacaio”, pensa. Depois vai para Eliane Cantanhede. Mais uma paulada nos “mensaleiros” e mais um elogio a Joaquim Barbosa. Passa os olhos por Pondé. A Revolução Francesa não existiu, lê nele.

BIM vai para o Estadão, já que ainda tem alguns minutos antes da labuta. E então lê Dora Kramer. Joaquim Barbosa é beatificado por ela. Passa pelos editoriais, e lê um que crucifica Dirceu pelo emprego num hotel.

Só não repete o grito de raiva do carro porque está no escritório. O Estadão não falou nada sobre a sonegação de 1 bilhão da Globo, e faz uma cobertura ridícula da meia tonelada de cocaína, e mesmo assim transforma o emprego de Dirceu num caso nacional.

De volta para casa, BIM mais uma vez ouve a CBN. “Só tem reaça”, se irrita. Ouve a repetição do comentário de Jabor, e quase bate por perder momentaneamente a concentração.

Chega em casa e dá uma passada pelo Jornal Nacional, para ver a que abismo Ali Kamel pôde chegar. Kamel pode muito, lembra BIM: inventou o atentado da bolinha de papel na campanha de Serra. O caso do helicóptero, como para a Veja, é tratado como se fosse uma trivialidade.

“Como seria se em vez do filho do Perrella fosse o filho do Dirceu?”, reflete. Em sua cabeça ele vê as habituais parcerias entre a Veja e o Jornal Nacional em casos do PT. A Veja dá um dossiê no sábado e, naquela noite mesmo, o Jornal Nacional repercute com estridência.

“Depois os livros de Kamel recebem louvores da Veja”, pensa BIM. “Tutti amicci.”

Do Jornal Nacional BIM vai para a Globonews. Encontra lá Marco Antônio Villa falando de seu novo livro, que trata da década perdida sob o PT.

“Uma besta”, pensa BIM. “Não acerta uma, mas mesmo assim está em todas.” BIM lembra de um vídeo em que Villa dizia que Lula seria o grande perdedor na eleição vencida afinal por Haddad.

No começo das manifestações de junho, escreveu que os protestos não significavam “nada”.

Da Globonews, BIM passou para o Jô e suas garotas. Enio Mainardi era o entrevistado. Se perguntou quem era pior, pai ou filho, Enio ou Diogo.”Imbecil Pai, Imbecil Jr: eles deveriam ter estes dois nomes”, pensou.

Tinha lido que a Globofilmes enfia entrevistados no programa do Jô, astros de algum novo filme. E no final a Globo cobra deles a tabela comercial cheia.

“Não é à toa que os Marinhos são os homens mais ricos do Brasil”, ocorre a BIM.

Terminado o programa, BIM está cansado e indignado. Caramba: perdeu William Waack no Jornal da Noite. Que terá falado Waack? Só não vai conferir no site da Globo por exaustão. Mas amanhã checa.

Gasta, na sessão de análise do dia seguinte, boa parte do tempo para colocar para fora sua indignação.


O terapeuta ouve pacientemente e, no final, diz apenas: “Mas por que você simplesmente não para de dar audiência para aquela gente toda?”

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Procura-se um analista político “imparcial”


Uma de minhas maiores frustrações é não poder encarar o que considero um dos maiores desafios do homem em qualquer época, o de ser capaz de analisar qualquer coisa com base exclusivamente nos fatos, sem deixar que suas idiossincrasias – desejos, ambições, preconceitos, rancores ou amores – interfiram.
Para explicar por que não posso encarar tal desafio, tomemos a política contemporânea no Brasil como exemplo. Antes de analista político, sou um cidadão. Escrevo um blog intitulado pelo conceito imperioso de exercício da Cidadania.
Ora, exercer a cidadania é, sobretudo, tomar partido de um conjunto de ideias e ideais a partir dos quais aquele cidadão acredita que conseguirá melhorar o seu país. E para fazer prevalecer esses valores em uma democracia, só através de partidos políticos. Sem eles, a democracia simplesmente não existe.
No caso da conjuntura política brasileira, na qual vige um clima maniqueísta entre “tucanos” e “petistas”, fica difícil ser “imparcial”. Basta ir a qualquer blog ou site político da internet e analisar os comentários. Há uma vontade de um lado destruir o outro.
Quantas vezes você leu que os “tucanalhas” ou os “petralhas” são o mal encarnado e precisam ser extirpados da vida da nação? Chegam a pregar a prisão daqueles de quem divergem. Em alguns casos, já vi pregarem até a exterminação física.
Entre a direita midiática e a centro-esquerda “petista” só falta haver enfrentamentos físicos nas ruas, coisa que já acontece em países como a Venezuela, por exemplo, onde as pessoas se atracam e até trocam tiros por política, sejam chavistas ou antichavistas.
Apesar da quase inviabilidade da “imparcialidade” em um quadro como esse, parcela imensa do jornalismo nacional vive de namoro com ela, amante que corteja o tempo todo mas que trai em cada viés parcial que tenta contrabandear em textos ou na oratória julgando que ninguém irá notar.
Não é nem culpa dos jornalistas. Muitos deles nem agem assim conscientemente. A culpa é do caráter escandalosamente parcial que os donos dos grandes órgãos de imprensa imprimem a eles. Essa parcialidade mal disfarçada exacerba os ânimos e cria um clima propício ao sectarismo.
Se a grande mídia abandonasse o engajamento político-partidário-ideológico ou se ao menos o reduzisse a níveis aceitáveis, este blogueiro enveredaria pela seara da imparcialidade, pois gostaria muito de provar a si mesmo que é capaz de ser imparcial.
Enquanto o milagre da tomada de consciência pela mídia não vem, se não posso ser imparcial ao menos quero, em benefício do leitor, esclarecer que tenho lado, sim. E recomendar que você que me lê desconfie de quem disser que não tem. Simplesmente porque essa pessoa estará tentando lhe passar a perna.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Imprensa tucana inventa apagão para tentar sabotar a economia


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Apesar de ser revoltante a tentativa da Folha de São Paulo e do Estado de São Paulo de convencer o país de que existe a mais tênue possibilidade de ocorrer racionamento de energia como o que ocorreu entre meados de 2001 e começo de 2002, essa nova falsificação de tragédia terá o mesmo destino das outras junto a sociedade. Esta, porém, não é o objetivo.
Após o fracasso do “pibinho”, que não influiu em nada na popularidade e na confiança de que o governo federal e a sua titular desfrutam junto à sociedade, a nova aposta é ainda mais frágil, pois, aí, fundamenta-se, exclusivamente, em invenção, enquanto que o crescimento modesto do país em 2012, ainda que não tenha atingido o cidadão, ao menos existiu.
Esses jornais, de alguns dias para cá, saíram com uma história sem pé nem cabeça, sem qualquer base em nada, de que o governo Dilma pode decretar racionamento de energia elétrica no país igual ao que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso decretou entre o penúltimo e o último ano de seu governo de oito longos e torturantes anos.
Contudo, o que deveria ser dito pelo governo sobre isso, já foi dito. A presidente da República já disse, em alto e bom som, o que nem precisaria dizer: que é “ridículo”. Isso porque, durante o governo Lula, foi investido em geração de energia mais de um terço de tudo o que o país investiu em mais de um século.
A principal razão pela qual o Brasil teve um crescimento econômico durante o governo Lula que foi o dobro do que houve no período em que o país foi governado por FHC se deve justamente ao forte investimento no setor de geração de energia elétrica, com a intensa construção e modernização de hidrelétricas e ampliação de linhas de transmissão.
O Sistema Nacional de geração de energia hidrelétrica, pois, é interligado. Por conta disso, a redução dos níveis dos reservatórios de algumas regiões do país é compensada por níveis normais em outras regiões, de maneira que umas podem suprir a outras.
Inclusive, o país está entrando no período de chuvas, as quais deverão prover reservatórios de várias regiões, diminuindo ainda mais um risco de falta de capacidade de geração que, se já era diminuto, tornar-se-á desprezível.
A impossibilidade de ser necessário fazer racionamento é tamanha que o governo até vai reduzir o preço das contas de luz, o que por certo estimulará o consumo. Assim, só quem acredita que o Brasil é governado por uma psicopata pode acreditar que ela estimularia o consumo de energia elétrica sabendo que há risco de essa energia vir a faltar.
É óbvio que as imprensas partidarizadas de São Paulo e do Rio de Janeiro sabem que para um racionamento de energia elétrica produzir prejuízos políticos não basta dizer que tal racionamento ocorrerá. Com efeito, é preciso que ocorra.
Não é à toa que os brasileiros rejeitam com tanto ardor o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e seu partido. Só quem viveu no Brasil entre 2001 e 2002 sabe como a sociedade sofreu com forte aumento nas contas de luz e com multas e até corte de energia de quem ultrapassava a cota do racionamento.
Foi difícil viver neste país durante o racionamento de energia tucano. As pessoas tinham que tomar menos banhos, lavar menos roupa e, no verão de 2001/2002, tinham que se eximir de usarem ar-condicionado e ventiladores, entre tudo de que tiveram que abrir mão por conta da incompetência do governo do PSDB. Isso sem falar na atividade econômica, que despencou.
Ora, mas se o mero alarmismo sobre racionamento não convencerá a sociedade de que o governo de Dilma e do PT é tão incompetente quanto o de FHC e do PSDB, por que a mídia tucana insiste nessa história de “apagão” e “racionamento”?
Explico: o que a Folha de São Paulo e o Estadão vêm fazendo nem é apenas politicagem, mas verdadeira tentativa de sabotar a economia, de afastar investimentos assustando investidores, que, como se sabe, não se pautam estritamente pelo bom senso, sendo dados a crer em fantasmas ao colocarem um centavo em qualquer coisa.
Você que não tem relações com grupos políticos, que trabalha para viver, que não é pago pelo PSDB ou por essa “imprensa” para fazer politicagem na internet, saiba que o objetivo dessa gente é fazer a economia do país ir mal para que os tucanos retomem o poder. Assim, você pode não gostar do PT, mas é capaz de sabotar a própria vida para ajudar o PSDB?

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

BUFFET FARTO, ORQUESTRA AFINADA E PISTA VAZIA.

IBOPE: Haddad salta de 9% para 16% e disputa o 2º lugar com Serra que  caiu para 20% **Russomano venceria Serra num 2º turno por 51% a  27%** Rejeição a Serra atinge 50% na faixa de idade entre 16 e 34 anos.

 
Há certo gosto de decepção no ar. O conservadorismo que durante meses, anos, cultivou o julgamento do chamado 'mensalão' como uma espécie de terceiro turno sanitário, capaz de redimir revezes acumulados desde 2002 no ambiente hostil do voto, percebe-se agora algo solitário na festa marcada para arrebanhar multidões. Como assim se os melhores buffets da praça foram contratados; a orquestra ensaiou cinco anos a fio e o repertório foi escolhido a dedo? Por que então a pista está vazia? Falta apenas o essencial: a alegria do povo. A pouca ou nenhuma influência eleitoral desse engenhoso ardil que elegeu a ausência de provas como a principal prova condenatória diz o bastante sobre a frágil hipocrisia vendida como marco zero da moralidade pública pelos seus vulgarizadores midiáticos. Não é esse porém o acerto de contas com o qual terá que se enfrentar o PT. (LEIA MAIS AQUI)


Chauí: PiG (*) produz culpas
e condena sumariamente


Num evento em defesa da liberdade de expressão e por uma Ley de Medios, realizado no Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, nessa segunda feira, a professora Marilena Chauí fez uma palestra antológica.

I. Democracia e autoritarismo social
Estamos acostumados a aceitar a definição liberal da democracia como regime da lei e da ordem para a garantia das liberdades individuais. Visto que o pensamento e a prática liberais identificam a liberdade com a ausência de obstáculos à competição, essa definição da democracia significa, em primeiro lugar, que a liberdade se reduz à competição econômica da chamada “livre iniciativa” e à competição política entre partidos que disputam eleições; em segundo, que embora a democracia apareça justificada como “valor” ou como “bem”, é encarada, de fato, pelo critério da eficácia, medida no plano do poder executivo pela atividade de uma elite de técnicos competentes aos quais cabe a direção do Estado. A democracia é, assim, reduzida a um regime político eficaz, baseado na idéia de cidadania organizada em partidos políticos, e se manifesta no processo eleitoral de escolha dos representantes, na rotatividade dos governantes e nas soluções técnicas para os problemas econômicos e sociais.
Ora, há, na prática democrática e nas idéias democráticas, uma profundidade e uma verdade muito maiores e superiores ao que liberalismo percebe e deixa perceber.
Podemos, em traços breves e gerais, caracterizar a democracia ultrapassando a simples idéia de um regime político identificado à forma do governo, tomando-a como forma geral de uma sociedade e, assim, considerá-la:
1. forma sócio-política definida pelo princípio da isonomia ( igualdade dos cidadãos perante a lei) e da isegoria (direito de todos para expor  em público suas opiniões, vê-las discutidas, aceitas ou recusadas em público), tendo como base a afirmação de que todos são iguais porque livres, isto é, ninguém está sob o poder de um outro porque todos obedecem às mesmas leis das quais todos são autores (autores diretamente, numa democracia participativa; indiretamente, numa democracia representativa). Donde o maior problema da democracia numa sociedade de classes ser o da manutenção de seus princípios – igualdade e liberdade – sob os efeitos da desigualdade real;
2. forma política na qual, ao contrário de todas as outras, o conflito é considerado legítimo e necessário, buscando mediações institucionais para que possa exprimir-se. A democracia não é o regime do consenso, mas do trabalho dos e sobre os conflitos. Donde uma outra dificuldade democrática nas sociedades de classes: como operar com os conflitos quando estes possuem a forma da contradição e não a da mera oposição?
3. forma sócio-política que busca enfrentar as dificuldades acima apontadas conciliando o princípio da igualdade e da liberdade e a existência real das desigualdades, bem como o princípio da legitimidade do conflito e a existência de contradições materiais introduzindo, para isso, a idéia dos direitos ( econômicos, sociais, políticos e culturais). Graças aos direitos, os desiguais conquistam a igualdade, entrando no espaço político para reivindicar a participação nos direitos existentes e sobretudo para criar novos direitos. Estes são novos não simplesmente porque não existiam anteriormente, mas porque são diferentes daqueles que existem, uma vez que fazem surgir, como cidadãos, novos sujeitos políticos que os afirmaram e os fizeram ser reconhecidos por toda a sociedade.
4. graças à idéia e à prática da criação de direitos, a democracia não define a liberdade apenas pela ausência de obstáculos externos à ação, mas a define pela autonomia, isto é, pela capacidade dos sujeitos sociais e políticos darem a si mesmos suas próprias normas e regras de ação. Passa-se, portanto, de uma definição negativa da liberdade – o não obstáculo ou o não-constrangimento externo – a uma definição positiva – dar a si mesmo suas regras e normas de ação. A liberdade possibilita aos cidadãos instituir contra-poderes sociais por meio dos quais interferem diretamente no poder por meio de reivindicações e controle das ações estatais.
5. pela criação dos direitos, a democracia surge como o único regime político realmente aberto às mudanças temporais, uma vez que faz surgir o novo como parte de sua existência e, conseqüentemente, a temporalidade é constitutiva de seu modo de ser, de maneira que a democracia é a sociedade verdadeiramente histórica, isto é, aberta ao tempo, ao possível, às transformações e ao novo. Com efeito, pela criação de novos direitos e pela existência dos contra-poderes sociais, a sociedade democrática não está fixada numa forma para sempre determinada, pois não cessa de trabalhar suas divisões e diferenças internas, de orientar-se pela possibilidade objetiva de alterar-se pela própria práxis;
6. única forma sócio-política na qual o caráter popular do poder e das lutas tende a evidenciar-se nas sociedades de classes, na medida em que os direitos só ampliam seu alcance ou só surgem como novos pela ação das classes populares contra a cristalização jurídico-política que favorece a classe dominante. Em outras palavras, a marca da democracia moderna, permitindo sua passagem de democracia liberal á democracia social, encontra-se no fato de que somente as classes populares e os excluídos (as “minorias”) reivindicam direitos e criam novos direitos;
7. forma política na qual a distinção entre o poder e o governante é garantida não só pela presença de leis e pela divisão de várias esferas de autoridade, mas também pela existência das eleições, pois estas ( contrariamente do que afirma a ciência política) não significam  mera “alternância no poder”, mas assinalam que o poder está sempre vazio, que seu detentor é a sociedade e que o governante apenas o ocupa por haver recebido um mandato temporário para isto. Em outras palavras, os sujeitos políticos não são simples votantes, mas eleitores. Eleger significa não só exercer o poder, mas manifestar a origem do poder, repondo o princípio afirmado pelos romanos quando inventaram a política: eleger é “dar a alguém aquilo que se possui, porque ninguém pode dar o que não tem”, isto é, eleger é afirmar-se soberano para escolher ocupantes temporários do governo.
Dizemos, então, que uma sociedade — e não um simples regime de governo — é democrática quando, além de eleições, partidos políticos, divisão dos três poderes da república, respeito à vontade da maioria e da minoria, institui algo mais profundo, que é condição do próprio regime político, ou seja, quando institui direitos e que essa instituição é uma criação social, de tal maneira que a atividade democrática social realiza-se como uma contra-poder social que determina, dirige, controla e modifica a ação estatal e o poder dos governantes.
Se esses são os principais traços da sociedade democrática, podemos avaliar as enormes dificuldades para instituir a democracia no Brasil. De fato, a sociedade brasileira é estruturalmente violenta, hierárquica, vertical, autoritária e oligárquica e o Estado é patrimonialista e cartorial, organizado segundo a lógica clientelista e burocrática. O clientelismo bloqueia a prática democrática da representação  — o representante não é visto como portador de um mandato dos representados, mas como provedor de favores aos eleitores. A burocracia bloqueia a democratização do Estado porque não é uma organização do trabalho e sim uma forma de poder fundada em três princípios opostos aos democráticos: a hierarquia, oposta à igualdade; o segredo, oposto ao direito à informação; e a rotina de procedimentos, oposta à abertura temporal da ação política.
Além disso, social e economicamente nossa sociedade está polarizada entre a carência absoluta das camadas populares e o privilégio absoluto das camadas dominantes e dirigentes, bloqueando a instituição e a consolidação da democracia. Um privilégio é, por definição, algo particular que não pode generalizar-se nem universalizar-se sem deixar de ser privilégio. Uma carência é uma falta também particular ou específica que se exprime numa demanda também particular ou específica, não conseguindo generalizar-se nem universalizar-se. Um direito, ao contrário de carências e privilégios, não é particular e específico, mas geral e universal,  seja porque é o mesmo e válido para todos os indivíduos, grupos e classes sociais, seja porque embora diferenciado é reconhecido por todos (como é caso dos chamados direitos das minorias). Assim, a polarização econômico-social entre a carência e o privilégio ergue-se como obstáculo à instituição de direitos, definidora da democracia.
A esses obstáculos, podemos acrescentar ainda aquele decorrente do neoliberalismo, qual seja o encolhimento do espaço público e o alargamento do espaço privado. Economicamente, trata-se da  eliminação de direitos econômicos, sociais e políticos garantidos pelo poder público, em proveito dos interesses privados da classe dominante, isto é, em proveito do  capital; a economia e a política neoliberais são a decisão de destinar os fundos públicos aos investimentos do capital e de cortar os investimentos públicos destinados aos direitos sociais, transformando-os em serviços definidos pela lógica do mercado, isto é, a privatização dos direitos transformados em serviços, privatização que aumenta a cisão social entre a carência e o privilégio, aumentando todas formas de exclusão. Politicamente o encolhimento do público e o alargamento do privado colocam em evidência o bloqueio a um direito democrático fundamental sem o qual a cidadania, entendida como participação social, política e cultural é impossível, qual seja, o direito à informação.

II. Os meios de comunicação como exercício de poder
Podemos focalizar o exercício do poder pelos meios de comunicação de massa sob dois aspectos principais: o econômico e o ideológico.
Do ponto de vista econômico, os meios de comunicação fazem parte da indústria cultural. Indústria porque são empresas privadas operando no mercado e que, hoje, sob a ação da chamada globalização, passa por profundas mudanças estruturais, “num processo nunca visto de fusões e aquisições, companhias globais ganharam posições de domínio na mídia.”, como diz o jornalista Caio Túlio Costa. Além da forte concentração (os oligopólios beiram o monopólio), também é significativa a presença, no setor das comunicações, de empresas que não tinham vínculos com ele nem tradição nessa área. O porte dos investimentos e a perspectiva de lucros jamais vistos levaram grupos proprietários de bancos, indústria metalúrgica, indústria elétrica e eletrônica, fabricantes de armamentos e aviões de combate, indústria de telecomunicações a adquirir, mundo afora, jornais, revistas, serviços de telefonia, rádios e televisões, portais de internet, satélites, etc..
No caso do Brasil, o poderio econômico dos meios é inseparável da forma oligárquica do poder do Estado, produzindo um dos fenômenos mais contrários à democracia, qual seja, o que Alberto Dines chamou de “coronelismo eletrônico”, isto é, a forma privatizada das concessões públicas de canais de rádio e televisão, concedidos a parlamentares e lobbies privados, de tal maneira que aqueles que deveriam fiscalizar as concessões públicas se tornam concessionários privados, apropriando-se de um bem público para manter privilégios, monopolizando a comunicação e a informação. Esse privilégio é um poder político que se ergue contra dois direitos democráticos essenciais: a isonomia (a igualdade perante a lei) e a isegoria (o direito à palavra ou o igual direito de todos de expressar-se em público e ter suas opiniões publicamente discutidas e avaliadas). Numa palavra, a cidadania democrática exige que os cidadãos estejam informados para que possam opinar e intervir politicamente e isso lhes é roubado pelo poder econômico dos meios de comunicação.
A isonomia e a isegoria são também ameaçadas e destruídas pelo poder ideológico dos meios de comunicação. De fato, do ponto de vista ideológico, a mídia exerce o poder sob a forma do denominamos a ideologia da competência, cuja peculiaridade está em seu modo de aparecer sob a forma anônima e impessoal do discurso do conhecimento, e cuja eficácia social, política e cultural está fundada na crença na racionalidade técnico-científica.
A ideologia da competência pode ser resumida da seguinte maneira: não é qualquer um que pode em qualquer lugar e em qualquer ocasião dizer qualquer coisa a qualquer outro. O discurso competente determina de antemão quem tem o direito de falar e quem deve ouvir, assim como pré-determina os lugares e as circunstâncias em que é permitido falar e ouvir, e define previamente a forma e o conteúdo do que deve ser dito e precisa ser ouvido. Essas distinções têm como fundamento uma distinção principal, aquela que divide socialmente os detentores de um saber ou de um conhecimento (científico, técnico, religioso, político, artístico), que podem falar e têm o direito de mandar e comandar, e os desprovidos de saber, que devem ouvir e obedecer. Numa palavra, a ideologia da competência institui a divisão social entre os competentes, que sabem e por isso mandam, e os incompetentes, que não sabem e por isso obedecem.
Enquanto discurso do conhecimento, essa ideologia opera com a figura do especialista. Os meios de comunicação não só se alimentam dessa figura, mas não cessam de institui-la como sujeito da comunicação. O especialista competente é aquele que, no rádio, na TV, na revista, no jornal ou no multimídia, divulga saberes, falando das últimas descobertas da ciência ou nos ensinando a agir, pensar, sentir e viver. O especialista competente nos ensina a bem fazer sexo, jardinagem, culinária, educação das crianças, decoração da casa, boas maneiras, uso de roupas apropriadas em horas e locais apropriados, como amar Jesus e ganhar o céu, meditação espiritual, como ter um corpo juvenil e saudável, como ganhar dinheiro e subir na vida.  O principal especialista, porém, não se confunde com nenhum dos anteriores, mas é uma espécie de síntese, construída a partir das figuras precedentes: é aquele que explica e interpreta as notícias e os acontecimentos econômicos, sociais, políticos, culturais, religiosos e esportivos, aquele que devassa, eleva e rebaixa entrevistados, zomba, premia e pune calouros  — em suma, o chamado “formador de opinião” e o “comunicador”.
Ideologicamente, o poder da comunicação de massa não é um simples inculcação de valores e idéias, pois, dizendo-nos o que devemos pensar, sentir, falar e fazer, o especialista, o formador de opinião e o comunicados nos dizem que nada sabemos e por isso seu poder se realiza como manipulação e intimidação social e cultural.
Um dos aspectos mais terríveis desse duplo poder dos meios de comunicação se manifesta nos procedimentos midiáticos de produção da culpa e condenação sumária dos indivíduos, por meio de um instrumento psicológico profundo: a suspeição, que pressupõe a presunção de culpa. Ao se referir ao período do Terror, durante a Revolução Francesa,  Hegel considerou que uma de suas marcas essenciais é afirmar que, por princípio, todos são suspeitos e que os suspeitos são culpados antes de qualquer prova. Ao praticar o terror, a mídia fere dois direitos constitucionais democráticos, instituídos pela Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789 (Revolução Francesa) e pela Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948, quais sejam: a presunção de inocência (ninguém pode ser considerado culpado antes da prova da culpa) e a retratação pública dos atingidos por danos físicos, psíquicos e morais, isto é, atingidos pela infâmia, pela injúria e pela calúnia. É para assegurar esses dois direitos que as sociedades democráticas exigem leis para regulação dos meios de comunicação, pois essa regulação é condição da liberdade e da igualdade que definem a sociedade democrática.

III.
Faz parte da vida da grande maioria da população brasileira ser espectadora de um tipo de programa de televisão no qual a intimidade das pessoas é o objeto central do espetáculo: programas de auditório, de entrevistas e de debates com adultos, jovens e crianças contando suas preferências pessoais desde o sexo até o brinquedo, da culinária ao vestuário, da leitura à religiosidade, do ato de escrever ou encenar uma peça teatral, de compor uma música ou um balé até os hábitos de lazer e cuidados corporais.
As ondas sonoras do rádio e as transmissões televisivas tornam-se cada vez mais consultórios sentimental, sexual, gastronômico, geriátrico, ginecológico, culinário, de cuidados com o corpo (ginástica, cosméticos, vestuário, medicamentos), de jardinagem, carpintaria, bastidores da criação artística, literária e da vida doméstica. Há programas de entrevista no rádio e na televisão que ou simulam uma cena doméstica – um almoço, um jantar – ou se realizam nas casas dos entrevistados durante o café da manhã, o almoço ou o jantar, nos quais a casa é exibida, os hábitos cotidianos são descritos e comentados, álbuns de família ou a própria são mostrados ao vivo e em cores. Os entrevistados e debatedores, os competidores dos torneios de auditório, os que aparecem nos noticiários, todos são convidados e mesmo instados com vigor a que falem de suas preferências, indo desde sabores de sorvete até partidos políticos, desde livros e filmes até hábitos sociais. Não é casual que os noticiários, no rádio e na televisão, ao promoverem entrevistas em que a notícia é intercalada com a fala dos direta ou indiretamente envolvidos no fato, tenham sempre repórteres indagando a alguém: “o que você sentiu/sente com isso?” ou “o que você achou/acha disso?” ou “você gosta? não gosta disso?”. Não se pergunta aos entrevistados o que pensam ou o que julgam dos acontecimentos, mas o que sentem, o que acham, se lhes agrada ou desagrada.
Também tornou-se um hábito nacional jornais e revistas especializarem-se cada vez mais em telefonemas a “personalidades” indagando-lhes sobre o que estão lendo no momento, que filme foram ver na última semana, que roupa usam para dormir, qual a lembrança infantil mais querida que guardam na memória, que música preferiam aos 15 anos de idade, o que sentiram diante de uma catástrofe nuclear ou ecológica, ou diante de um genocídio ou de um resultado eleitoral, qual o sabor do sorvete preferido, qual o restaurante predileto, qual o perfume desejado. Os assuntos se equivalem, todos são questão de gosto ou preferência, todos se reduzem à igual banalidade do “gosto” ou “não gosto”, do “achei ótimo” ou “achei horrível”.
Todos esses fatos nos conduzem a uma conclusão: a mídia está imersa na cultura do narcisismo.
Como observa Christopher Lash, em A Cultura do Narcisismo, os mass media tornaram irrelevantes as categorias da verdade e da falsidade substituindo-as pelas noções de credibilidade ou plausibilidade e confiabilidade – para que algo seja aceito como real basta que apareça como crível ou plausível, ou como oferecido por alguém confiável Os fatos cedem lugar a declarações de “personalidades autorizadas”, que não transmitem informações, mas preferências e estas se convertem imediatamente em propaganda. Como escreve Lash, “sabendo que um público cultivado é ávido por fatos e cultiva a ilusão de estar bem informado, o propagandista moderno evita slogans grandiloqüentes e se atém a ‘fatos’, dando a ilusão de que a propaganda é informação”.
Qual a base de apoio da credibilidade e da confiabilidade? A resposta encontra-se num outro ponto comum aos programas de auditório, às entrevistas, aos debates, às indagações telefônicas de rádios, revistas e jornais, aos comerciais de propaganda. Trata-se do apelo à intimidade, à personalidade, à vida privada como suporte e garantia da ordem pública. Em outras palavras, os códigos da vida pública passam a ser determinados e definidos pelos códigos da vida privada, abolindo-se a diferença entre espaço público e espaço privado. Assim, as relações interpessoais, as relações intersubjetivas e as relações grupais aparecem com a função de ocultar ou de dissimular as relações sociais enquanto sociais e as relações políticas enquanto políticas, uma vez que a marca das relações sociais e políticas é serem determinadas pelas instituições sociais e políticas, ou seja, são relações mediatas, diferentemente das relações pessoais, que são imediatas, isto é, definidas pelo relacionamento direto entre pessoas e por isso mesmo nelas os sentimentos, as emoções, as preferências e os gostos têm um papel decisivo. As relações sociais e políticas, que são mediações referentes a interesses e a direitos regulados pelas instituições, pela divisão social das classes e pela separação entre o social e o poder político, perdem sua especificidade e passam a operar sob a aparência da vida privada, portanto, referidas a preferências, sentimentos, emoções, gostos, agrado e aversão.
Não é casual, mas uma conseqüência necessária dessa privatização do social e do político, a destruição de uma categoria essencial das democracias, qual seja a da opinião pública. Esta, em seus inícios (desde a Revolução Francesa de 1789), era definida como a expressão, no espaço público, de uma reflexão individual ou coletiva sobre uma questão controvertida e concernente ao interesse ou ao direito de uma classe social, de um grupo ou mesmo da maioria. A opinião pública era um juízo emitido em público sobre uma questão relativa à vida política, era uma reflexão feita em público e por isso definia-se como uso público da razão e como direito à liberdade de pensamento e de expressão.
É sintomático que, hoje, se fale em “sondagem de opinião”. Com efeito, a palavra sondagem indica que não se procura a expressão pública racional de interesses ou direitos e sim que se vai buscar um fundo silencioso, um fundo não formulado e não refletido, isto é, que se procura fazer vir à tona o não-pensado, que existe sob a forma de sentimentos e emoções, de preferências, gostos, aversões e predileções, como se os fatos e os acontecimentos da vida social e política pudessem vir a se exprimir pelos sentimentos pessoais. Em lugar de opinião pública, tem-se a manifestação pública de sentimentos.
Nada mais constrangedor e, ao mesmo tempo, nada mais esclarecedor do que os instantes em que o noticiário coloca nas ondas sonoras ou na tela os participantes de um acontecimento falando de seus sentimentos, enquanto locutores explicam e interpretam o que se passa, como se os participantes fossem incapazes de pensar e de emitir juízo sobre aquilo de que foram testemunhas diretas e partes envolvidas. Constrangedor, porque o rádio e a televisão declaram tacitamente a incompetência dos participantes e envolvidos para compreender e explicar fatos e acontecimentos de que são protagonistas. Esclarecedor, porque esse procedimento permite, no instante mesmo em que se dão, criar a versão do fato e do acontecimento como se fossem o próprio fato e o próprio acontecimento. Assim, uma partilha é claramente estabelecida: os participantes “sentem”, portanto, não sabem nem compreendem (não pensam); em contrapartida, o locutor pensa, portanto, sabe e, graças ao seu saber, explica o acontecimento.
É possível perceber três deslocamentos sofridos pela idéia e prática da opinião pública: o primeiro, como salientamos, é a substituição da idéia de uso público da razão para exprimir interesses e direitos de um indivíduo, um grupo ou uma classe social pela idéia de expressão em público de sentimentos, emoções, gostos e preferências individuais; o segundo, como também observamos, é a substituição do direito de cada um e de todos de opinar em público pelo poder de alguns para exercer esse direito, surgindo, assim, a curiosa expressão “formador de opinião”, aplicada a intelectuais, artistas e jornalistas; o terceiro, que ainda não havíamos mencionado, decorre de uma mudança na relação entre s vários meios de comunicação sob os efeitos das tecnologias eletrônica e digital e da formação de oligopólios midiáticos globalizados (alguns autores afirmam que o século XXI começou com a existência de 10 ou 12 conglomerados de mass media de alcance global). Esse terceiro deslocamento se refere à forma de ocupação do espaço da opinião pública pelos profissionais dos meios de comunicação. Esses deslocamentos explicam algo curioso, ocorrido durante as sondagens de intenção de voto nas eleições presidenciais de 2006: diante dos resultados, uma jornalista do jornal O Globo  escreveu que o povo estava contra a opinião pública!
O caso mais interessante é, sem dúvida, o do jornalismo impresso. Em tempos passados, cabia aos jornais a tarefa noticiosa e um jornal era fundamentalmente um órgão de notícias. Sem dúvida, um jornal possuía opiniões e as exprimia: isso era feito, de um lado, pelos editorais e por artigos de não-jornalistas, e, de outro, pelo modo de apresentação da notícia (escolha das manchetes e do “olho”, determinação da página em que deveria aparecer e na vizinhança de quais outras, do tamanho do texto, da presença ou ausência de fotos, etc.). Ora, com os meios eletrônicos e digitais e a televisão, os fatos tendem a ser noticiados enquanto estão ocorrendo, de maneira que a função noticiosa do jornal é prejudicada, pois a notícia impressa é posterior à sua transmissão pelos meios eletrônicos e pela televisão. Ou na linguagem mais costumeira dos meios de comunicação: no mercado de notícias, o jornalismo impresso vem perdendo competitividade (alguns chamam a isso de progresso; outros, de racionalidade inexorável do mercado!).
O resultado dessa situação foi duplo: de um lado, a notícia é apresentada de forma mínima, rápida e, freqüentemente, inexata – o modelo conhecido como News Letter – e, de outro, deu-se a passagem gradual do jornal como órgão de notícias a órgão de opinião, ou seja, os jornalistas comentam e interpretam as notícias, opinando sobre elas. Gradualmente desaparece uma figura essencial do jornalismo: o jornalismo investigativo, que cede lugar ao jornalismo assertivo ou opinativo. Os jornalista passam, assim, o ocupar o lugar que, tradicionalmente, cabia a grupos e classes sociais e a partidos políticos e, além disso, sua opinião não fica restrita ao meio impresso, mas passa a servir como material para os noticiários de rádio e televisão, ou seja, nesses noticiários, a notícia é interpretada e avaliada graças à referência às colunas dos jornais.
Os deslocamentos mencionados e, particularmente, este último, têm conseqüências graves sob dois aspectos principais:
1) uma vez que o jornalista concentra poderes e forma a opinião pública, pode sentir-se tentado a ir além disso e criar a própria realidade, isto é, sua opinião passa a ter o valor de um fato e a ser tomada como um acontecimento real ;
2) os efeitos da concentração do poder econômico midiático. Os meios de comunicação tradicionais (jornal, rádio, cinema, televisão) sempre foram propriedade privada de indivíduos e grupos, não podendo deixar de exprimir seus interesses particulares ou privados, ainda que isso sempre tenha imposto problemas e limitações à liberdade de expressão, que fundamenta a idéia de opinião pública. Hoje, porém, os  conglomerados de alcance global controlam não só os meios tradicionais, mas também os novos meios eletrônicos e digitais, e avaliam em termos de custo-benefício as vantagens e desvantagens do jornalismo escrito ou da imprensa, podendo liquidá-la, se não acompanhar os ares do tempo.
Esses dois aspectos incidem diretamente sobre a transformação da verdade e da falsidade em questão de credibilidade e  plausibilidade.  Rápido, barato, inexato, partidarista, mescla de informações aleatoriamente obtidas e pouco confiáveis, não investigativo, opinativo ou assertivo, detentor da credibilidade e da plausibilidade, o jornalismo se tornou protagonista da destruição da opinião pública.
De fato, a desinformação é o principal resultado da maioria dos noticiários nos jornais, no rádio e na televisão, pois, de modo geral, as notícias são apresentadas de maneira a impedir que se possa localizá-la no espaço e no tempo.
Ausência de referência espacial ou atopia: as diferenças próprias do espaço percebido (perto, longe, alto, baixo, grande, pequeno) são apagadas; o aparelho de rádio e a tela da televisão tornam-se o único espaço real. As distâncias e proximidades, as diferenças geográficas e territoriais são ignoradas, de tal modo que algo acontecido na China, na Índia, nos Estados Unidos ou em Campina Grande apareça igualmente próximo e igualmente distante.
Ausência de referência temporal ou acronia: os acontecimentos são relatados como se não tivessem causas passadas nem efeitos futuros; surgem como pontos puramente atuais ou presentes, sem continuidade no tempo, sem origem e sem conseqüências; existem enquanto forem objetos de transmissão e deixam de existir se não forem transmitidos. Têm a existência de um espetáculo e só permanecem na consciência dos ouvintes e espectadores enquanto permanecer o espetáculo de sua transmissão.
Como operam efetivamente os noticiários?
Em primeiro lugar, estabelecem diferenças no conteúdo e na forma das notícias de acordo com o horário da transmissão e o público, rumando para o sensacionalismo e o popularesco nos noticiários diurnos e do início da noite e buscando sofisticação e aumento de fatos nos noticiários de fim de noite. Em segundo, por seleção das notícias, omitindo aquelas que possam desagradar o patrocinador ou os poderes estabelecidos. Em terceiro, pela construção deliberada e sistemática de uma ordem apaziguadora: em seqüência, apresentam, no início, notícias locais, com ênfase nas ocorrências policiais, sinalizando o sentimento de perigo; a seguir, entram as notícias regionais, com ênfase em crises e conflitos políticos e sociais, sinalizando novamente o perigo; passam às notícias internacionais, com ênfase em guerras e cataclismos (maremoto, terremoto, enchentes, furacões), ainda uma vez sinalizando perigo; mas concluem com as notícias nacionais, enfatizando as idéias de ordem e segurança, encarregadas de desfazer o medo produzido pelas demais notícias. E, nos finais de semana, terminam com notícias de eventos artísticos ou sobre animais (nascimento de um ursinho, fuga e retorno de um animal em cativeiro, proteção a espécies ameaçadas de extinção), de maneira a produzir o sentimento de bem-estar no espectador pacificado, sabedor de que, apesar dos pesares, o mundo vai bem, obrigado.
Paradoxalmente, rádio e televisão podem oferecer-nos o mundo inteiro num instante, mas o fazem de tal maneira que o mundo real desaparece, restando apenas retalhos fragmentados de uma realidade desprovida de raiz no espaço e no  tempo. Como desconhecemos as determinações econômico-territoriais (geográficas, geopolíticas, etc.) e como ignoramos os antecedentes temporais e as conseqüências dos fatos noticiados,  não podemos compreender seu verdadeiro significado. Essa situação se agrava com a TV a cabo, com emissoras dedicadas exclusivamente a notícias, durante 24 horas, colocando num mesmo espaço e num mesmo tempo  (ou seja, na tela) informações de procedência, conteúdo e significado completamente diferentes, mas que se tornam homogêneas pelo modo de sua transmissão. O paradoxo está em que há uma verdadeira saturação de informação, mas, ao fim, nada sabemos, depois de termos tido a ilusão de que fomos informados sobre tudo.
Se não dispomos de recursos que nos permitam avaliar a realidade e a veracidade das imagens transmitidas, somos persuadidos de que efetivamente vemos o mundo quando vemos a TV ou quando navegamos pela internet. Entretanto, como o que vemos são as imagens escolhidas, selecionadas, editadas, comentadas e interpretadas pelo transmissor das notícias, então é preciso reconhecer que a TV é o mundo ou que a internet é o mundo.
A multimídia potencializa o fenômeno da indistinção entre as mensagens e  entre os conteúdos. Como todas as mensagens estão integradas num mesmo padrão cognitivo e sensorial, uma vez que educação, notícias e espetáculos são fornecidos pelo mesmo meio, os conteúdos se misturam e se tornam indiscerníveis. No sistema de comunicação multimídia  a própria realidade fica totalmente imersa em uma composição de imagens virtuais num mundo irreal, no qual as aparências não apenas se encontram na tela comunicadora da experiência, mas se transformam em experiência. Todas as mensagens de todos os tipos são incluídas no meio por que fica tão abrangente, tão diversificado, tão maleável, que absorve no mesmo texto ou no mesmo espaço/tempo toda a experiência humana, passada, presente e futura, como num ponto único do universo.
Se, portanto, levarmos em consideração o monopólio da informação pelas empresas de comunicação de massa, podemos considerar, do ponto de vista da ação política, as redes sociais como ação democratizadora tanto por quebrar esse monopólio, assegurando a produção e a circulação livres da informação, como também por promover acontecimentos políticos de afirmação do direito democrático à participação. No entanto, os usuários das redes sociais não possuem autonomia em sua ação e isto sob dois aspectos: em primeiro lugar, não possuem o domínio tecnológico da ferramenta que empregam e, em segundo, não detêm qualquer poder sobre a ferramenta empregada, pois este poder é uma estrutura altamente concentrada, a Internet Protocol, com dez servidores nos Estados Unidos e dois no Japão, nos quais estão alojados todos os endereços eletrônicos mundiais, de maneira que, se tais servidores decidirem se desligar, desaparece toda a internet; além disso, a gerência da internet é feita por uma empresa norte-americana em articulação com o Departamento de Comércio dos Estados Unidos, isto é, gere o cadastro da internet mundial. Assim, sob o aspecto maravilhosamente criativo e anárquico das redes sociais em ação política ocultam-se o controle e a vigilância sobre seus usuários em escala planetária, isto é, sobre toda a massa de informação do planeta.
Na perspectiva da democracia, a questão que se coloca, portanto, é saber quem detêm o controle dessa massa cósmica de informações.  Ou seja, o problema é saber quem tem a gestão de toda a massa de informações que controla a sociedade, quem utiliza essas informações, como e para que as utiliza, sobretudo quando se leva em consideração um fato técnico, que define a operação da informática, qual seja, a concentração e centralização da informação, pois  tecnicamente, os sistemas informáticos operam em rede, isto é, com a centralização dos dados e a produção de novos dados pela combinação dos já coletados.

(*) Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista.


sexta-feira, 9 de março de 2012

Imprensa obrigará STF a votar o mensalão neste semestre

O escândalo do mensalão do PT vem sendo qualificado por setores da imprensa ligados à oposição ao governo federal como “o maior escândalo de corrupção da história brasileira”, o que, em termos de volume de dinheiro supostamente malversado, é uma falácia.
Resumidamente, a acusação aos envolvidos no mensalão do PT é a de que entre 2002 e 2005 o partido teria distribuído clandestinamente a membros e a aliados o montante de 56 milhões de reais com a finalidade de comprar apoio político no Congresso.
Entretanto, segundo reportagem da Folha de São Paulo, recentemente a Justiça do Distrito Federal condenou envolvidos no mensalão do DEM – escândalo que fez com que um governador fosse preso e cassado – a devolverem aos cofres públicos R$ 240,8 milhões.
Em termos de documentação processual, no entanto, o mensalão petista é mesmo o maior da história do STF. São 49 mil páginas divididas em 233 volumes principais e 495 livros de documentos anexos que ocupam quatro estantes no anexo II da sede do STF, em Brasília.
Este blog analisou alguns documentos-chave do processo como a denúncia do ex-procurador-geral da República Antonio Fernando de Souza, feita em 2006, as alegações do ex-ministro José Dirceu e o relatório final do relator do processo, o ministro do STF Joaquim Barbosa.
Os documentos deixam clara a convicção do PGR e do ministro do STF de que existiu um esquema destinado a compra de apoio no Congresso, e de que tal esquema foi organizado pelo dito “núcleo central”, supostamente formado por Dirceu, José Genoino e Delúbio Soares.
A conclusão dessas pessoas, porém, ampara-se em uma suposta verossimilhança que elas enxergam na culpabilidade dos réus e não em alguma prova material.
De qualquer forma, há muitas provas de circulação ilegal de grandes quantidades de dinheiro pelas mãos dos acusados pela Procuradoria-Geral da República, o que torna irrefutável ao menos que houve uso de caixa 2 para financiamento de campanhas eleitorais.
Todavia, há um fator que torna inverossímil a acusação de organização de um esquema criminoso pelo PT e pelo governo federal a fim de comprar apoio parlamentar: tanto Antonio Fernando de Souza quanto Joaquim Barbosa foram indicados pelo ex-presidente Lula.
A imprensa, apesar de Lula ter sido isentado de qualquer responsabilidade no caso, sempre o acusou de ser o verdadeiro mentor do esquema, mas jamais explicou por que alguém capaz de organizar tal esquema de corrupção nomearia um procurador-geral e um juiz tão isentos.
Apesar disso, seria uma irresponsabilidade afiançar ou negar a existência de um esquema de compra de apoio no Congresso sem ter profundo conhecimento jurídico e sem ler todo esse processo imenso.
Surge, então, uma preocupação que deveria ser de cada cidadão brasileiro, de que possa vir a existir algum tipo de pressão externa que induza a Suprema Corte de Justiça do país a julgar o caso sob viés político, seja contra ou a favor dos acusados.
Uma Justiça que pode ser obrigada por interesses particulares e políticos a absolver ou a condenar é uma Justiça que ameaça a todos, sejam do governo ou da oposição, sejam tucanos ou petistas.
Nesse aspecto, é inevitável recordar um episódio que sugere que o STF poderá ser coagido por fatores externos a tomar uma decisão que independa dos fatos e das provas disponíveis nesse processo.
Na noite de 28 de agosto de 2007, o ministro do Supremo Tribunal Federal Ricardo  Lewandowski foi jantar em um restaurante em Brasília. Enquanto esperava pelo pedido, fez uma ligação telefônica sem perceber que estava sendo espionado por uma repórter do jornal Folha de São Paulo.
Segundo a reportagem que a repórter fez, Lewandovsky ligou para um certo Marcelo e relatou que “A imprensa acuou o Supremo” para que aceitasse a denúncia do procurador-geral da República. E arrematou: “Todo mundo votou com a faca no pescoço, porque não ficou suficientemente comprovada a acusação”.
Em qualquer país sério, tal acusação ao STF deveria ter ocasionado a abertura de um processo de investigação. Se a principal instância da Justiça brasileira pode ser pressionada pela imprensa a decidir desta ou daquela forma, o país vive uma crise institucional.
Como estamos no Brasil, porém, o episódio ficou por isso mesmo.
Agora, chega ao blog a informação de que é praticamente certo que o julgamento do mensalão petista deverá ocorrer ainda neste semestre, em pleno ano eleitoral, o que, para os adversários do PT, é um presente do céu.
Circula em Brasília a tese de que o ministro Joaquim Barbosa – indicado por Lula – seria francamente favorável à condenação de todos os acusados, inclusive os do “núcleo-duro” supracitado. O fato é que Barbosa é o responsável pelo atraso no julgamento.
O STF deveria ter julgado o mensalão no fim do ano passado, mas isso não ocorreu porque Barbosa afastou-se de sua função por inúmeras vezes por conta de problemas de saúde.
Por outro lado, nos últimos meses a imprensa vem divulgando que as penas dos acusados iriam prescrever se o caso não fosse julgado neste ano eleitoral. Todavia, o mesmo juiz que lançou a tese da “faca no pescoço” descarta tal possibilidade, dizendo que só haverá prescrições em 2015.
A prevalência da tese da faca no pescoço e o julgamento de processo tão cheio de vieses políticos em pleno ano eleitoral devem preocupar não só os acusados, mas a todos. A tese de que a imprensa tem poder para obrigar o STF a votar como quer, jamais foi desmontada.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Silêncio da privataria: quando a imprensa se cala

 

Silêncio da privataria: quando a imprensa se cala 
Foto: Edição Ana Pupulin/247

                             

Maior parte da mídia ignora livro-bomba contra tucanos; pelo Twitter, seguidores exigem sem sucesso análises dos jornalistas Dora Kramer, do Estadão, Kennedy Alencar, da Folha, e Noblat, de O Globo; veículos tradicionais ainda estão desconectados do jornalismo 2.0


Diego Iraheta _247 - A resposta da imprensa brasileira ao maior fenômeno editorial de 2011 lança luzes sobre o descompasso do jornalismo “mainstream” com a era digital. O livro A Privataria Tucana, do repórter Amaury Ribeiro Junior, vendeu 30,5 mil exemplares em quatro dias. As livrarias de todo o País já aguardam a segunda remessa da obra, que denuncia os subterrâneos das privatizações no Brasil na era FHC e revela o enriquecimento de familiares de José Serra. A despeito da bomba política, fartamente documentada, a maior parte da mídia segue calada. Não abre o bico para comentar o livro que bica o alto escalão dos tucanos. Pela internet, no entanto, milhares de brasileiros têm rompido esse silêncio e fustigado os jornalistas.
“Nunca escrevi ou comentei sob chicote de patrão, de fonte ou de leitor/telespectador/ouvinte/internauta. Não farei agora”, tuitou o jornalista Kennedy Alencar, colunista da Folha, nesta terça-feira. Essa foi a reação dele à pressão de seguidores exigindo uma opinião sobre o livro que não fica atrás do mensalão na lista de escândalos políticos brasileiros. “Se julgar válido, darei opinião ou farei algo na TV, no rádio ou na internet”, desconversou.
Sem uma linha sequer sobre o livro em suas últimas colunas, a renomada Dora Kramer, do Estadão, elevou o tom às críticas recebidas por tuiteiros: “Façamos o seguinte: matriculem-se na faculdade de jornalismo, trabalhem 30 anos no ramo e aí a gente discute, ok?”.
Ao ignorar o livro e o impacto dele para a política nacional, Kennedy Alencar, Dora Kramer e tantos outros revelam desconexão com as mídias digitais e os leitores 2.0 e 3.0. Que mal há se os seguidores exigem uma posição daqueles que consideram analistas políticos de referência sobre um fato político relevante? Esse é o mais claro indicativo de interesse público – o principal combustível do jornalismo.
Por meio das redes sociais, o jornalismo está se tornando cada vez mais horizontal. Sim, os leitores mandam, mas não precisam ser encarados como capatazes. É o interesse público em tempo real tuitando e cutucando. E não chicoteando!
O modelo top-down, a que Folha, Estadão e afins estão acostumados, não se encaixa na rotina produtiva de notícias atual. Hoje, quem decide o que é notícia não é só a empresa de comunicação, o colunista, a fonte. É o leitor – ativo, questionador, em contato permanente com o jornalista pela internet.
Esse leitor não precisa ingressar na escola de jornalismo hoje para aprender a discutir com colunistas. São os jornalistas de hoje que precisam entender que o modelo de 30 anos atrás ficou lá no passado. Mesmo!
A privataria: o dossiê de um jornalista indiciado pela Polícia Federal
Para justificar a ausência da privataria do próprio repertório político, Dora Kramer frisou “o envolvimento do autor [Amaury Ribeiro Junior] com dossiês de campanha. Arranha a credibilidade”. O amado, odiado e sobretudo seguido Ricardo Noblat, de O Globo, disse aos 132 mil seguidores que estranhou a motivação política de Amaury para escrever o livro. “Ele sabia que tava a serviço de um governador [Aécio Neves]... Isso não derruba a princípio o que ele escreveu no seu livro. Mas recomenda cautela em dobro para quem imagina lê-lo e comentá-lo”, ponderou.
Em outubro do ano passado, Amaury foi indiciado pela Polícia Federal por violação do sigilo fiscal de lideranças tucanas e de familiares de José Serra. Os investigadores apontaram que o repórter se envolveu com corrupção ativa, uso de documento falso e oferta de vantagem a testemunha. No entanto, o livro de Amaury faz revelações contundentes amparadas em documentos públicos, obtidos em cartórios e na Junta Comercial. Ainda que tivesse finalidade de dossiê, tem um denso trabalho de apuração jornalística.
Dessa forma, nada impediria que Noblat e Dora destacassem o sucesso do livro que golpeia em cheio o coração do PSDB, mas com as devidas ressalvas. “Apesar da ampla apuração e das fontes reais, documentos que comprovam a tal privataria, o autor do livro foi indiciado pela Polícia Federal por corromper testemunhas, usar documentos falsos etc e tal.”
Reinaldo Azevedo, de Veja, tentou logo desqualificar a privataria. Pouco depois do lançamento do livro, deu uma indireta bastante certeira aos leitores de seu blog. “Lembrem-se do ‘Dossiê Cayman’. Bandidagem volta a agir!” foi o título de um post em que Reinaldo se refere ao conjunto de papéis falsificados que buscava incriminar o alto escalão do PSDB na campanha eleitoral de 1998.
Quem consegue furar o cerco?
Desde a semana passada, o Brasil 247 está acompanhando a repercussão do livro de Amaury Ribeiro Jr. No off-line, a Record News e a revista Carta Capital abriram espaço para falar da privataria. No on-line, os blogueiros Luiz Carlos Azenha e Luis Nassif também se manifestaram. Essa meia dúzia de gatos pingados da mídia integra o time da “exceção”, que não se curva a um silêncio incoerente em tempos de buzz na internet.
Ao 247, Nassif criticou as empresas de comunicação: “Elas estão comprometendo a imagem de todos os jornalistas e colunistas. Como eles vão justificar que não estão tratando do tema do livro de maior vendagem da história?” Para o blogueiro, a mídia não pode mais blindar o que cai na rede. "Nas livrarias, metade das pessoas está querendo o livro. A outra metade quer saber que livro é esse", conta.
Reportagem exibida pela Record News na terça-feira, 13, sublinhou que, na queda-de-braço da grande mídia com as mídias sociais, a informação sai vitoriosa graças ao boca a boca nas redes. O âncora Heródoto Barbeiro, ex-CBN, fez questão de dizer que ele próprio está atrás do livro, esgotado em São Paulo.
O caso da privataria acena para o atraso da “grande imprensa” em lidar com o que, no passado, os donos dos veículos de comunicação carimbariam como impublicável. Hoje, isso não é mais possível pois a internet se encarrega de disseminar as histórias. A blogosfera já entendeu a mudança em curso graças à forma como a sociedade utiliza a tecnologia e as redes para obter - e compartilhar - informações.
No atual cenário de jornalismo em transformação, jornais e jornalistas deveriam ouvir mais para saber do que deveriam falar mais.

Por que verbete “Privataria Tucana” está em discussão pra ser eliminado da Wikipedia?

mariafro

Do Leitor Paulo Parente:
Olá, o termo Privataria Tucana já consta na wikipedia, só que o artigo está ameaçado de desaparecer no que eles chamam lá de eliminação por votação, dia 19 sairá o resultado desta votação. Apenas pessoas que já votaram ou editaram textos da wikipedia há mais de 90 dias podem votar. Divulgue!http://pt.wikipedia.org/wiki/A_Privataria_Tucana

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

PF intimará Datafolha, Ibope, Sensus e Vox Populi

Compareci nesta quarta-feira (7/12) à sede da Polícia Federal em São Paulo atendendo a intimação para que lá comparecesse a fim de ratificar – ou não – informações contidas em representação que o Movimento dos Sem Mídia protocolou no ano passado no Ministério Público Federal (Eleitoral) contra os institutos de pesquisa Datafolha, Ibope, Sensus e Vox Populi e para eventualmente oferecer novas informações.
A ONG Movimento dos Sem Mídia, por conta de denúncias veiculadas pela imprensa em 2010 que davam conta de que institutos de pesquisa teriam praticado fraudes em favor do candidato José Serra ou da candidata Dilma Rousseff, representou à Procuradoria Geral Eleitoral pedindo investigação e a mesma determinou à Polícia Federal que abrisse o inquérito.
Apesar do grande atraso, agora o processo começou a andar.
Fui atendido pelo delegado Fernando Reis, da Delegacia de Defesa Institucional, que cuida justamente de crimes eleitorais. Ele pediu que eu ratificasse ou não os termos da Representação que assinei em nome do MSM e perguntou se tinha outros elementos a oferecer.
Abaixo, a declaração que assinei não apenas ratificando o que dissera anteriormente, mas esclarecendo a natureza da iniciativa da ONG.

Apesar de o delegado ter concordado comigo que a representação está fundamentada pelo fato de que quem levantou a hipótese de fraude nas pesquisas foi ao menos um dos investigados, a Folha de São Paulo, dona do Datafolha, que acusou publicamente – e mais de uma vez – os institutos Sensus e Vox Populi de usarem planilhas de pesquisa que teriam induzido os entrevistados a declararem voto em Dilma Rousseff, o policial se queixou, em tom confessional, de que quem poderia ter investigado a denúncia do MSM a tempo, a Procuradoria Geral Eleitoral, em vez de investigar remeteu caso a PF, o que retardou e tornou mais difícil a investigação.
Sempre usando o mesmo tom confessional – apesar de não ter recebido de mim qualquer garantia de sigilo quanto ao que estava sendo dito –, informou-me de que seria difícil tomar providência devido ao tempo transcorrido desde a denúncia, mesmo achando que a mídia “manipula mesmo, tanto para a direita quanto para a esquerda”, uma afirmação da qual este blogueiro discorda, pois, em sua opinião, a mídia brasileira é toda de direita.
Ungido por presença de espírito advinda de seu grande interesse em colaborar com a lei, este intimado houve por bem lembrar ao douto policial que, assim como o PSDB conseguiu investigar pesquisa Sensus, ano passado, enviando especialista contratado à sede do instituto para examinar as planilhas das entrevistas da pesquisa da qual o partido, à época, não gostou, a Polícia Federal poderia fazer o mesmo, pois a lei eleitoral determina que as planilhas das entrevistas devem permanecer arquivadas.
Além da informação sobre como fazer, este intimado também revelou ao delegado por que fazer – porque temos eleições, ano que vem, e se as denúncias dos próprios institutos contra seus concorrentes forem ignoradas será escancarada uma porta para novas fraudes, o que, em uma questão como processos eleitorais, constitui legítimo atentado à democracia.
Naquele momento, produziu-se uma luminescência no olhar do doutor Reis, seguida por uma declaração animadora:
O senhor me deu uma idéia. Vou pedir essas informações aos institutos”.
Em resumo, portanto, a Polícia Federal do Brasil, de acordo com as palavras de seu delegado, intimará os institutos Datafolha, Ibope, Sensus e Vox Populi a fornecerem as planilhas de cada uma das pesquisas citadas na representação do Movimento dos Sem Mídia, planilhas que, como se sabe, têm nome, endereço e telefone dos pesquisados, bem como as informações sobre metodologia, para que tudo seja submetido a análise pericial.
Resta relatar que o delegado da Polícia Federal doutor Fernando Reis concordou com este blogueiro que diferenças de até 12 pontos percentuais entre pesquisas realizadas com intervalo de poucos dias, como ocorreu com aquelas que deram causa à representação em tela, não são aceitáveis e denotam que alguém andou mentindo. E, em sendo assim, a investigação proposta poderá, sim, apontar quem foi.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Colunista da Veja propõe censura a “petistas” na internet

Processos autoritários começam de forma tímida e vão avançando até erigirem as ditaduras. Este país tem grande experiência nisso. Uma ditadura de direita foi posta em prática neste país há quase cinqüenta anos e durou 4/10 desse período baseando-se nas seguintes premissas:
1 – A esquerda não podia se manifestar publicamente.
2 – Qualquer preceito ideológico identificado com a esquerda era crime.
3 – Ao se manifestar, o esquerdista deveria ser punido.
4 – A identificação e supressão da difusão de “idéias esquerdistas” seria política de Estado.
5 – O “esquerdismo” seria intrinsecamente mau e seus adeptos, criminosos
Durante a segunda metade do século passado, em boa parte da América Latina, sob o pretexto da defesa da “liberdade” grandes meios de comunicação de massas passaram a só dar espaço para idéias “antiesquerdistas”.
No processo de criminalização política e ideológica em curso hoje em várias partes da mesma América Latina, com criação de escândalos na mídia sempre contra um lado, aquele lado que chegou a ser proibido de existir durante parte dos últimos cinqüenta anos do século XX, finalmente surge o ovo da serpente.
Nesta quarta-feira, um colunista da revista Veja, publicação que pertence a um ítalo-argentino que se aliou a um grupo de mídia sul-africano que teve papel preponderante na sustentação do regime do Apartheid na África do Sul, faz uma proposta inédita: censurar esquerdistas.
A tese do colunista? “Se você é bom, justo e democrata, não pode ser de esquerda”. Em seguida, propõe que “os sites dos jornais” e “os portais” dos grandes meios de comunicação impeçam que “petistas” tenham acesso à caixa de comentários de leitores em suas matérias.
O colunista da revista Veja Reinaldo Azevedo comentou matéria veiculada ontem pelo portal do Jornal Folha de São Paulo que dava conta de que o PT está organizando equipes para atuarem na internet nas eleições do ano que vem.
Azevedo recomenda que sejam criados “filtros” só para “petistas”. Ou seja: se a opinião for favorável ao PT, o comentarista deve ser imediatamente considerado “de esquerda” e, assim, banido das páginas dos grandes meios de comunicação.
Essa política de seletividade político-ideológica já é praticada no blog desse jornalista. A caixa de comentários de sua página só aceita comentários antipetistas.
A mera leitura do que dizem esses seres imunes ao “esquerdismo” ou ao “petismo” que o colunista da Veja diz superiores e, eles sim, detentores de liberdade de expressão mostra que a estupidez humana não tem cor político-partidária ou ideológica.
Recentemente, o jornalista Marcelo Rubens Paiva, em seu blog, publicou uma amostra da “superioridade” desses internautas que Azevedo prega que possam comentar sem “filtros”.  Marcelo, que é paraplégico, provocou a ira do colunista da Veja e este o atacou em seu blog, do que decorreu onda de comentários “superiores” de seus leitores que reproduzo abaixo:
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agnes eckermann – 26/09/2011 às 0:37
“Sou assinante do Estadão, mas não perco tempo lendo o que escreve esse sujeito. É um recalcado, era um filhinho de papai, quando o regime sumiu com seu pai. E após o acidente que o deixou numa cadeira de rodas, ele odeia tudo e todos, aliás menos o PT e os comunas seus amigos. É lamentável que o Estadão dê espaço para esse tipo de pessoa, que não tem conteúdo e escreve boçalidades.”
Nilton – 15/09/2011 às 17:51
“Pois é, o cara tem 52 anos mas não cresceu. Tenta dar a impressão de que tem 32, mas a cabecinha continua nos 22. Seu sonho de mundo ideal (o mundo melhor…) é poder comer a mulher do próximo sem censuras, e servir, presumo, sua própria mulher de banquete para os amigos. O pior é que o infeliz nem sabe escrever, nem tem talento, humor, graça, verve, essas coisinhas básicas para quem quer ganhar a vida como escritor. É por essas e outras que não vou renovar minha assinatura do Estadão. Enquanto gente dessa estirpe e estatura colaborar com o jornal (pois há muitos outros…) eu tô fora.”
estrela azul – 15/09/2011 às 15:23
“Este cara pode ser simplesmente um mentiroso, ou, verdadeiramente, um petista. Ainda que saiba da coisa apenas por ouvir dizer, dentro da militância petista, é normal o acasalamento animalesco tal qual o descrito.”
Ali – 15/09/2011 às 12:35
“Esse MRPaiva é um deslumbrado, sempre se aCHOU “JÊNIO” e agora tá mais bobo ainda, dizendo que está cada vez mais à esquerda? Deve ser efeito retardado do tombo de cabeça quando era ABORRECENTE!!!!”
bolsa terrorista – 15/09/2011 às 11:15
“só pra saber: o marcelo ganha bolsa terrorista?”
eder – 15/09/2011 às 11:07
“o Marcelo participou da marcha da maconha…mas será que apareceu nesse último dia 7 na marcha contra a corrupção???…duvido!!!”
claudio – 15/09/2011 às 10:12
“Quem tem um amigo como este, não precisa se preocupar, porque o cabra é mentiroso pra caramba!”
Baianinho – 15/09/2011 às 9:52
“Rei, gostaria de ler um texto teu sobre o “educador” das madrugadas, Serginho Groisman. Ou, o chuchu politicamente correto.”
Rods – 15/09/2011 às 9:28
“REI. ESTE É MAIS UM COMUNISTA QUE É BAJULADO POR CAUSA DE SUA DEFICIÊNCIA FÍSICA, TER SIDO FILHO DE UM COMUNISTA E POSSUIR SUPOSTA CULTURA ESQUERDOPATA. MAIS UMA CRIAÇÃO DAS ESQUERDAS COM O EPÍTETO DE INTELECTUAL.”
marina silva – 15/09/2011 às 9:19
“A entrevista é mesmo papo de ptrlha em TPM sem pé nem cabeça…Parece que a queda do rapaz ainda provoca sequelas além da tetraplegia pois se nao era assim nao se exporia a esse ridiculo!”
DaIlha – 15/09/2011 às 8:09
“O pai dele talvez discordasse…Mas o Marcelo é feito da mesma matéria que o Lulla, a vítima, o tadinho, que falava “verdades” corajosamente no apagar da ditadura e com isso angariou simpatias. Outro paralelo é que os dois se levam muito à sério…”
Bene – 15/09/2011 às 5:57
“Esse tal de marcelo realmente, nunca poderia pertencer a outra corrente a não ser a esquerda- burra, anacrônica e destituida de um mínimo de bom senso.Mais um a receber pagamento do lullo-petismo para inverter a ordem das coisas e conspurcar a verdade da forma vulgar com que eles se especializaram ao longo dos anos, de vagabundagem que é a caracteristica principal dessa súcia.”
Toninho boca suja – 15/09/2011 às 2:52
“Li “Feliz Ano Velho”,e nunca mais pus os olhos num livro dele. Pensei até que já tinha desencarnado por efeito de drogas.”
Alexandre Campolina – 15/09/2011 às 0:27
“Sinceramente? Nem todos podem ter todos os prazeres que a vida permite e optam por fantasiar sobre os prazeres que as pessoas normais têm. E então estes coitados (No sentido inocente da palavra) encontram alternativas fictícias de prazer. Alguns bebem, outros cheiram. E há os que queiram holofotes falando asneiras.”
Alexandre M. F. Silva – 14/09/2011 às 22:54
“Marcelo Rubens Paiva é sempre o mesmo: vazio e ignorante. Uma das piores figuras da imprensa brasileira.”
Leniéverson Azeredo – 14/09/2011 às 22:35
“Reinaldo, eu acho o Marcelo Rubens ideologicamente parecido com um certo atual Governador do estado do RJ.”
Anônimo – 14/09/2011 às 21:54
“Elle (Marcelo Paiva) se acha. Certa ocasião estava no bar de um teatro em Sampa e ele apareceu por lá. Tive oportunidade de observá-lo de uma mesa próxima, e constatar o quanto é arrogante. É apenas um “intelectualóide” metido a besta. Só se tornou conhecido por conta dos dos tristes acontecimentos de sua trajetória de vida. Menos, Marcelo Paiva!”
WHK – 14/09/2011 às 21:31
“Pode prestar atenção: arnaldo jabor é cineasta = ficção;
marcelo rubens paiva = escritor = ficção.
Outros ditos “jornalistas” se acham escritores (= ficçãO). Ora, quando vai trentar expressar alguma coisa sobre a realidade, acaba acontecendo a mesma coisa que um cisdadão comum querer pilotar um caça. Ou seja, como não são do ramo, só vão fazer merda. Esperar coerência de uns tipos como esses?”
JM – 14/09/2011 às 20:59
“Liga”não! Todo bom comuna é recalcado e invejoso. A inveja é uma …. Aliás ,vc já viu algum país socialista produzir vinho de qualidade? Vinho bom ,só na área do Império Romano.”
Alvaro Risso – 14/09/2011 às 20:23
“esse é o problema do comunismo: Até as mulheres são “bens de produção” (geram filhos) e por isso são propriedade do estado e estão à disposição dos “cumpanheiros”. Tô fora! Aliás já li comentários assim a respeito dos nossos grupos guerrilheiros das décadas 60-70.”
Mauricio A – 14/09/2011 às 20:07
“Uns roubam hóstia, outros roubam namorada. Mas todos esquerdistas roubam.E assumidamente. E ninguém acha feio. Ninguém acha que se rouba uma coisa, pode roubar outras.É a moralidade elástica do brasileiro. Têm o que merecem.”
Valéria Rodrigues – 14/09/2011 às 19:44
“Tambem quase caí da cadeira ao ler que o Marcelo Rubens Paiva tem 52 e o polemista de direita tem 50! Pensando bem, ele só pode mesmo estar indo cada vez mais para a esquerda. Aquela barba “de cara suja”, pose “de jovem”… hoje ele deve ter uns 20 aninhos. Nunca vai ser um tiozinho.”
Leopoldo Dogher – 14/09/2011 às 19:09
“Quem é mesmo Marcelo Rubens Paiva? O garotão? O eterno adolescente? Hahahaha, o carinha é da tchurma dos modernos da Vila Madá e da Folha. Tem salvo conduto permanente.Pega mal não gostar dele.”
Gil – 14/09/2011 às 19:08
“Sólê Marcelo RubensPaiva a brava gente que pertence à diretoria da UNE…”
Gil – 14/09/2011 às 19:05
“Reinaldo, você fez bem em nunca ter sido Marcelo Rubens Paiva. Que vida levou esse eterno jovem de 52 anos? Ancorou-se na história do pai por décadas para fazer a sua jornada de vida. É só o que ele tem a dizer, nada mais. Como não seria ele de esquerda? Como não seria ele a favor da Comissão da Verdade? Como não deixaria ele de mamar na Bolsa Ditadura? Taí mais um tema para mais um futuro livro adolescente dele…”
Bastião – 14/09/2011 às 18:26
“Eu tenho hepatite C e estou quase no bico do corvo, não vou usar o meu sofrimento para bater a carteira de ninguem.”Mesmo nos tempos de mais grave doença,nunca me tornei doentio” “Na solidão,o solitário se devora a si mesmo;na multidão devoram-no inúmeros.Então escolhe.” Nietzsche. Não dou esmolas no farol e nem compro livros porcaria.”
patricia m. – 14/09/2011 às 18:16
“PARA QUEM DIZ QUE SE SITUAR COMO ESQUERDA OU DIREITA EH “ROTULAR” PESSOAS (ha uns 2 ou 3 comentarios assim abaixo): ISSO EH COISA DE GENTE QUE TEM VERGONHA DE ADMITIR QUE EH DIREITA OU COISA DE ESQUERDALHA. EU SOU DIREITA E COM ORGULHO. Deviamos lancar um movimento desse tipo, alias… SOU DIREITA E COM ORGULHO.”
ClaudioM – 14/09/2011 às 18:06
“Tarso (16:39), MRP escreveu um mini-conto no Estadão certa vez em que, resumindo, é a história de uma garota que conheceu um cara, transou com ele, botou a roupa e foi embora. Sem cigarrinho, nem pipi depois. E o cara ficou ali na cama, choroso e apaixonado.”
MULLA DA SELVA – 14/09/2011 às 18:04
“foi uma das pessoas mais mal educadas e arrogantes que conheci. trabalhei na radio usp onde ele tbem tinha lá uma espeice de ’sinecura’. achava-se um ‘deus’. em uma festa, certa vez, aproximei-me e com educação apresentei-me e lhe disse ‘oi, meu nome é fulano e trabalhamos juntos na Radio’…NAo ME ESTENDEU A MÃO DE VOLTA E ME FEZ UMA CARA DE DESDEM QUE JAMAIS ESQUECEREI . Ao seu lado, duas meninas, filhas de dois grandes nomes da indústria paulista o adulavam com um conversê de ‘esquerda-chic’.”
Paulo Bento Bandarra – 14/09/2011 às 17:25
“Os amigos dele devem estar agoraem dúvida. Tenhoou não tenho galhada? Eu sugeriria um exame urgente de AIDS.”
Justo Eu – 14/09/2011 às 17:12
“É aquele cara que não pensa o que faz por isso está paraplégico.”
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Comentários absurdos como esses não são exclusividade de nenhuma ideologia ou grupo político. Há idiotas em qualquer grupo, em qualquer corrente de pensamento. Assusta quando alguém tenta atribuir defeitos intrínsecos a quem professa esta ou aquela ideologia.
Alguns leitores desta página que se identificam com a sua linha editorial reclamam frequentemente da permissão que se dá aqui à exposição da divergência. Tento sempre explicar que a convivência em sociedade nos obriga a nos expormos ao contraditório.
Todos podem cometer excessos retóricos. Algumas vezes perdemos a calma e escrevemos algo de que podemos nos arrepender depois, de cabeça fria. Isso não é característica de ideologia alguma, seja política, religiosa ou de qualquer outra natureza. Acreditar no contrário, é doentio.
Enfim, até o momento esse defensor da “liberdade” e combatente da “praga comunista” ainda não propôs censura a “petistas” nos outros meios de comunicação. Por enquanto, parece admitir que políticos do PT possam se manifestar na mídia. Por enquanto.
Todavia, nos sites e portais dos grandes meios de comunicação já há uma profunda censura ideológica sendo praticada. Comentaristas desta página que podem ser tachados como “petistas” vivem informando que foram alvo de censura nas páginas da grande mídia.
Aliás, os jornais aos quais o colunista da Veja se refere também praticam esse “filtro” político-ideológico. Basta ver as seções de cartas de leitores de jornais como Folha ou Estadão que se notará que há muito mais leitores antipetistas em um país em que o PT é o partido político mais robusto.
Se a proposta de Reinaldo Azevedo for bem recebida no resto da grande mídia, além da Veja, ela não terá muito trabalho para implementá-la. Para que a censura de “petistas” – sejam políticos, militantes ou simpatizantes do PT – seja completa, falta muito pouco.