Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Paulo Teixeira desmente Globo: “Delegado não absolveu Veja”

 




Na edição desta sexta-feira (11/05) do jornal carioca O Globo, mais especificamente na coluna do jornalista Ilimar Franco, figura a seguinte informação:

Pela segunda-vez na semana, um dos veículos que assumiram a defesa in limine de Veja sobre sua relação suspeita com a quadrilha do bicheiro Carlinhos Cachoeira tenta “matar” o assunto com declarações atribuídas aos delegados que participaram das Operações da Policia Federal Vegas e Monte Carlo.
Na terça-feira (09/05), foi o jornal Folha de São Paulo que usou depoimento de um delegado a fim de encerrar a suspeição sobre a revista. Segundo o jornal, em matéria intitulada “Relação da mídia com Cachoeira é alvo de perguntas”, consta que “No depoimento do delegado Raul Souza à CPMI do Cachoeira, o depoente, questionado se havia “matérias encomendadas” por Cachoeira na revista Veja, disse que (…) elas denotam apenas relação entre repórter e fonte”.
Diante disso, o Blog da Cidadania procurou o membro titular da CPMI do Cachoeira deputado Paulo Teixeira. A breve entrevista que o deputado pelo PT de São Paulo concedeu a esta página explica melhor mais essa estratégia desonesta de Folha de São Paulo e de O Globo para confundir o público.
Confira, abaixo, a entrevista:
Blog da Cidadania – Deputado Paulo Teixeira, os jornais Folha de São Paulo e O Globo vêm publicando notas afirmando que os dois delegados da Polícia Federal que já foram ouvidos pela CPMI que o senhor integra teriam absolvido o jornalista Policarpo Júnior, da revista Veja, das suspeitas de que um e outra podem ter servido à quadrilha de Carlinhos Cachoeira. O senhor confirma essa “absolvição”?
Paulo Teixeira – Não confirmo. Primeiro, porque nenhum dos dois delegados tinha por função analisar esse assunto. Eles cuidavam de descobrir a origem do dinheiro da quadrilha que financiava suas relações com políticos e empresas. Em segundo lugar, o delegado citado pela Folha atuou na operação Vegas, em 2009, e o delegado citado por O Globo até respondeu que as gravações não mostraram que Policarpo “praticou ou participou de crime”, mas, em seguida, retificou essa informação afirmando que não tinha como afirmar isso justamente porque seu foco na investigação foi outro. O jornalista Ilimar Franco não cita a segunda afirmação, só cita a primeira.
Blog da Cidadania – Pelo que se entende, deputado, se esses delegados não podem responder a essa questão sobre a culpabilidade ou não de Policarpo e Veja, quem pode responder? Existe algum depoente que pode esclarecer essa questão?
Paulo Teixeira – Quem poderá dar essa resposta será a CPMI, investigando e esmiuçando não apenas depoimentos, mas as gravações. Só para que se tenha uma idéia do volume que há  de material a examinar e da falta de elementos dos delegados citados para responderem à pergunta sobre a culpabilidade de Veja, o delegado Matheus Mella Rodrigues, citado em O Globo, relatou que teve acesso a “apenas” 40 conversas entre Policarpo e a quadrilha, sendo que há mais de 200.
Blog da Cidadania – O senhor pode dizer se ao menos Policarpo será convocado pela CPMI para se explicar?
Paulo Teixeira – Ele será convocado, sim.

Dilma desvia de segurança e cumprimenta manifestantes do "Veta, Dilma"


ENVIADO ESPECIAL A BETIM (MG) 

A presidenta Dilma Rousseff se desviou do esquema de segurança preparado para ela em um evento em Betim (MG), nesta sexta-feira (11), e foi até a rua para cumprimentar ambientalistas e manifestantes que pediam o "Veta, Dilma".

Cerca de 90 pessoas estavam do outro lado da rua, separados por grades de segurança, gritando "Dilma pode vetar, o Brasil vai te apoiar", quando a presidenta surpreendeu aos próprios manifestantes e se aproximou para cumprimentá-los.

O gesto da presidente de simpatia com a causa dos manifestantes sinaliza (?) que ela poderá vetar partes do texto do novo Código Florestal, aprovado pelo Congresso.

Setores da sociedade, principalmente os ambientalistas, afirmam que o texto do código deixa desprotegidas as florestas e matas brasileiras.

A ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais) já disse que a presidente deverá vetar partes do texto, especialmente o que se refere a anistia dada a desmatadores.

Nesta sexta-feira, o deputado estadual Durval Angelo (PT-MG), que estava ao lado da presidente no encontro com os manifestantes, disse ter comentado com ela que o movimento "Veta, Dilma" está crescendo na região metropolitana de BH e que ela lhe respondeu que haverá vetos, mas sem fazer especificações.

Entre os manifestantes estavam ambientalistas sem vinculações a alguma organização, outros ligados à Amda (Associação Mineira de Defesa do Ambiente), da Apua (associação de preservação ambiental de Betim) e estudantes de biologia da PUC-MG, unidade Betim.

Os estudantes Raul Lansky, 19, e Gabriel da Luz, 21, organizadores do movimento "Veta, Dilma BH" nas redes sociais, afirmaram terem se surpreendido com a aproximação da presidente, que estendeu a mão para cerca de 20 manifestantes. "Ela não falou nada, apenas sorriu e estendeu a mão para cumprimentar", disse Lansky.

Após os cumprimentos, Dilma entrou no carro da comitiva e deixou o local.

A presidente foi a Betim (região metropolitana de Belo Horizonte) para inaugurar uma creche e entregar 1.160 apartamentos do "Minha Casa, Minha Vida".

Na lambança geral...



A solidariedade das famílias Globo e Abril
Veja: menino malcriado não aguenta briga e pede ajuda pro irmão mais velho
Do Escrivinhador - publicada quarta-feira, 09/05/2012 às 18:16 e atualizada quarta-feira, 09/05/2012 às 19:31
por Rodrigo Vianna
Não vou perder tempo aqui debatendo os argumento de ”O Globo”. Até porque, dois blogueiros já fizeram a análise minuciosa do editorial em que o jornal da família Marinho tenta fazer a defesa de Bob Civita – o dono da Abril.
Miguel do Rosário e Eduardo Guimarães deram uma surra de bons argumentos no diário carioca. O texto do Miguel você pode ler aqui. E o do Eduardo você encontra aqui.
O que me interessa não é o editorial em si. Mas sua motivação.
Primeiro ponto. Chama atenção que Bob Civita tenha ido pedir socorro à turma da Globo. A Abril lembra-me aquele menino malcriado que quebra o vidro da vizinha, corta o rabo do gato, cospe no garoto menor da casa ao lado. Aí, quando recebe o troco, sai chorando e pede ajuda pro irmão mais velho. A revista mais vendida do país não consegue se defender sozinha?
A Abril espalha por aí que a “Veja” tem um milhão de tiragem! Isso não é suficiente pra encarar a briga com meia dúzia de “blogueiros chapa-branca a serviço de setores radicais do PT?”. Por si só, esse já é um fato a demonstrar a mudança na “correlação de forças” da comunicação.
O velho jornalismo não se conforma com o “contraditório”. Dez anos atrás, não havia uma ferramenta para rebater um editorial de “O Globo”.Hoje, os editorialistas escrevem besteiras e, no dia seguinte, lá estão os Migueís e Eduardos a dar o troco na internet. Com categoria.
Não é a primeira vez que as Organizações Globo passam recibo do incômodo. Em 2010, depois da segunda derrota de Ali Kamel (a primeira ocorrera em 2006, com a reeleição de Lula, e a terceira aconteceria em 2012, no julgamento das quotas, como se pode ler aqui), “O Globo” passou recibo destacando em primeira página a entrevista de Lula aos blogueiros. Destilou ódio. Tentou nos atacar. Mas, sem perceber, revelou a força dos blogs. Foi até engraçado. Agora, a história se repete.
Mas há um fato novo. Dessa vez, os blogs não falaram sozinhos. A Record levou o caso “Veja-Cachoeira” para a TV aberta. E a “Carta Capital” estampou a foto de Bob “Murdoch” Civita pelas bancas de jornal de todo o país. A reportagem da Record e o texto de “CartaCapital” também passaram a ser reproduzidos pelas redes sociais. Atingiram, com isso, um público distante do debate sobre as comunicações. Soube de um caso ontem. Uma pessoa da família ligou pra perguntar: “afinal por que estão falando tão mal da “Veja? A revista é tão boa, todo mundo aqui no prédio assina, será verdade isso tudo?”.
Ou seja, o ataque à “Veja” dessa vez chegou ao público leitor da revista, provocando certo mal estar. Isso deve ter apavorado Bob Civita.Ontem mesmo, circularam informações de que Fabio Barbosa, executivo da Abril, teria pedido demissão por causa da crise. Civita está fragilizado. Correu pro colo do irmão mais velho.
E há um terceiro ponto. ”O Globo” age só como irmão mais velho protetor? Ou tem algum outro temor?
O site 247 acaba de publicar na internet um imenso arquivo digital com transcrições e grampos da Polícia Federal, que eram guardados em sigilo. O que haveria nesses arquivos? Nos próximos dias, blogueiros e tuiteiros vão decifrar os arquivos, enquanto “Globo” e “Veja” tentarão escondê-los.
Até agora, não há nenhum indício de que a Globo, institucionalmente, tenha-se comprometido com a rede criminosa de Cachoeira. Tenho dito isso a blogueiros e comentaristas mais afoitos: “muita calma, minha gente; uma coisa é ser conservador ou manipulador; e outra coisa é se associar à bandidagem”.
A Globo, até onde se sabe, não se associou a Cachoeira diretamente. Mas a Globo e o JN são “sócios” das “reportagens investigativas” policarpianas. Isso desde 2005. Ali Kamel adotou a estratégia do telejornalismo por escrito. Semanos a fio, o JN fazia a “leitura” das páginas de “Veja”, repercutindo para o grande público as “apurações” de “Veja”. Sobre isso, já escrevi aqui.
Ou seja, desmascarar a “Veja” é também desmascarar o jornalismo de araque praticado por Ali Kamel nos últimos anos, à frente da emissora da familia Marinho.
A Globo pode ser acusada de muita coisa, mas jamais de ”abandonar um companheiro ferido na estrada” (copyright: Paulo Preto). “Globo” e “Veja” jogaram juntas anos a fio. Na hora do aperto, os irmãos Marinho não se recusariam a oferecer colo ao irmãozinho mais novo com fama de traquinas. Ou fascista.
É a solidariedade das famílias.
 
Veja” agora pode ser a bola da vez na CPI
Por Ricardo Kotscho


Agora não tem mais jeito, não dá mais para esconder. A CPI, que começou com o nome de Cachoeira (por que não Demóstenes?) e ameaçou virar CPI da Delta, pode tomar um novo rumo, investigando pela primeira vez, além de corruptos e corruptores, atividades nebulosas de setores da imprensa brasileira.
Ao terminar de assistir à demolidora reportagem sobre as íntimas relações entre Cachoeira, a Delta e a maior revista semanal do país, exibida na noite deste domingo, no programa Domingo Espetacular, da TV Record, não tenho mais dúvidas: a "Veja" agora pode ser a bola da vez da CPI.
As gravações das escutas telefônicas, apresentadas com exclusividade pelo repórter Afonso Mônaco, denunciam que o contraventor Carlinhos Cachoeira não era apenas uma "fonte" da revista, como nós jornalistas chamamos quem nos dá informações.


Cachoeira aparece também muito à vontade fazendo o papel de pauteiro e até de editor da "Veja", sugerindo em qual espaço e data suas "matérias" deveriam ser publicadas. Cinco capas da revista nasceram assim, como mostram as gravações da Polícia Federal.
Após a publicação, comemorava com Cláudio Abreu, diretor da Delta, também preso, o resultado do trabalho de Policarpo Júnior, um dos redatores-chefes da revista, baseado em Brasília.
"Poli" ou "PJ", como era carinhosamente chamado por Cachoeira e Abreu, foi o co-autor da denúncia sobre a corrupção nos Correios, em 2005, que deu origem à crise do mensalão. Por ordem de Cachoeira, o jornalista da "Veja" recebeu de Jairo Martins, araponga do staff do contraventor, o vídeo mostrando um diretor dos Correios, embolsando uma propina de R$ 3 mil. Foi um trabalho de parceria.
Será que Carlinhos Cachoeira utilizou Policarpo Júnior apenas para combater a corrupção nos Correios, preocupado com a moralidade nos negócios públicos? Ficaria claro algum tempo depois que o "empresário de jogos" fez isso para derrubar um grupo corrupto e colocar outro em seu lugar nos Correios, mais afinado com seus interesses.
 
As gravações reveladas pelo Domingo Espetacular, mostram também que foi o mesmo Jairo Martins quem forneceu à revista o vídeo do hotel em que se hospedava José Dirceu em Brasília, utilizado, no ano passado, para a capa "O poderoso chefão", episódio em que um repórter subordinado a Policarpo tentou invadir o apartamento do ex-ministro.
Como se vê na reportagem, as relações entre Cachoeira e Policarpo são antigas e variadas, mas até agora ainda pouco se sabe sobre o conteúdo das mais de 200 ligações feitas entre os dois personagens e gravadas pela PF.
O pouco que vazou até agora e a reportagem que a Record colocou no ar domingo, no entanto, quebrando a cortina de silêncio dos barões da mídia reunidos no Instituto Millennium, já foi suficiente para que tanto o presidente da CPI, Vital do Rego, como o relator, Odir Cunha, admitissem no próprio programa que a imprensa pode, sim, ser investigada também.
Para o deputado federal Fernando Ferro, do PT de Pernambuco, não só o jornalista Policarpo Júnior deveria ser convocado pela CPI, mas também o proprietário da Editora Abril, Roberto Civita: "Na minha opinião, ele é o principal responsável. Ele é o dono dessa revista, e ele operou com vontade".
As famílias proprietárias da grande imprensa nem admitem ouvir falar nesta possibilidade, ao contrário do que aconteceu com o magnata Rupert Murdoch, convocado a depor em comissão do Parlamento britânico e agora ameaçado de perder o seu império.
A direção da Abril não se manifestou oficialmente sobre o assunto até o momento. Apenas foi publicada, na versão on-line, onde escrevem alguns bate-paus da revista, uma espécie de "carta de princípios", assinada pelo diretor de redação Eurípedes Alcântara, em que não cita fatos nem nomes ligados ao escândalo.
Tudo poderá agora ser esclarecido pela CPI. É para isso mesmo que ela foi criada: investigar tudo e todos.

A ética da Veja: ensinamentos de jornalismo ou de hipocrisia



Na condição de ex-professor de jornalismo, mais especificamente da disciplina de Planejamento Editorial, tive a paciência de ler por diversas vezes o artigo do diretor de redação da revista VEJA, Eurípedes Alcântara, intitulado “Ética jornalistica: uma reflexão permanente”, onde procura justificar a relação do veículo com Carlinhos Cachoeira. Poderiamos escrever uma tese para demonstrar que longe de nos oferecer ensinamentos de jornalismo e ética, o referido diretor nos agracia com uma verdadeira aula de hipocrisia. Nos basta, porém, analisar exclusivamente o argumento principal de Alcântara para confirmamos esta hipótese.
Para justificar a relação do veículo com o referido personagem, o senhor Eurípedes usa como alicerce para o seu texto a afirmação de que “o ensinamento para o bom jornalismo é claro: maus cidadãos podem, em muitos casos, ser portadores de boas informações”. Para sustentar a sua tese, o mesmo faz uma analogia de tal situação com a de um conhecido intrumento judicial, afirmando que “um assassino que revela na cadeia um plano para assassinar o presidente da República é possuidor de uma informação de interesse público – e pelo mecanismo da delação premiada ele pode ter sua pena atenuada ao dar uma informação que impeça um crime ainda pior do que o cometido por ele. Portanto, temos aqui uma situação em que a informação é de qualidade e o informante não, por ser um assassino”. Desta forma, o diretor da Veja procura nos convencer de que o relacionamento do veículo com Cachoeira foi ético e que a revista visava exclusivamente o interesse público.
De imediato, não podemos prosseguir sem deixar claro que a concessão do benefício da delação premiada compete exclusivamente ao poder judiciário, e não a quaquer policial e muito menos a um jornalista ou veículo de imprensa. Faz-se necessário esclarecermos também que tal benefício só pode ser concedido a indivíduo que não só se dispõe a delatar, mas que também demonstre arrempendimento de seus crimes e que ofereça garantias de abandono da atividade criminosa. A mesma é firmada por escrito e na forma de contrato.
Fica claro, portanto, para qualquer pessoa com um mínimo de inteligência, que a analogia proposta por Eurípedes Alcântara é absolutamente descabida. Mas uma vez que a mesma foi feita, podemos utilizá-la para aprofundar a demonstração de o quanto é hipócrita a argumentação do referido diretor.
Suponhamos que um determinado criminoso procure um juiz ou promotor e se disponha a delatar um rival, oferendo provas da atividade criminosa. A condição da delação proposta é a de que, caso venha a ocupar a atividade criminosa deste rival, não será denunciado ou perseguido por este juiz ou promotor. Convenhamos, não é preciso ser jurista para afirmar categoricamente que tal juiz ou promotor que aceite referida proposta estará se associando ao crime, tornando-se criminoso tanto quanto o delator ou delatado. Não há a menor margem para que os mesmos afirmem que agiram na defesa do interesse público aceitando tal pacto.
Sobre a figura de Carlinhos Cachoeira, a quem a grande imprensa rotula de “contraventor”, há muito é de conhecimento público que suas atividades vão da operação de jogos de azar (contravenção propriamente dita) ao aliciamento de agentes públicos para fraudes licitatórias (crime), passando por todos os tipos de atividades ilegais entre estes dois extremos. Em resumo, fosse “The Godfather” uma obra brasileira e recente, não seria exagero afirmar que Mario Puzo se inspirou no Cachoeira para criar os personagens Vito e Michael Corleone.
Desde a reportagem em 2005, que desencadeou a crise do mensalão, é de conhecimento público que o flagra no Maurício Marinho foi armado e fornecido à Veja por funcionários de Cachoeira e que o objetivo dos mesmos foi o de retomar o espaço que haviam perdido nos correios para fraudes e outros crimes. Também fica claro hoje, a partir do vazamento dos telefonemas entre Cachoeira e jornalistas da revista, que praticamente todas as reportagens publicadas pela Veja envolvendo corrupção no governo federal tiveram por fonte o “contraventor”. Mais, que todas as informações fornecidas pelo “contraventor” ao semanário tinham por objetivo remover obstáculos ou rivais de posições públicas para ocupar espaços para suas atividades criminosas. As gravações mostram que Cachoeira inclusive influenciava a revista sobre a melhor ocasião e forma de publicar as suas denúncias.
Alguém deve estar se perguntando se os editores da revista são tão ingênuos, ou até mesmo imbecis, a ponto de não perceberem que foram instrumento da atividade criminosa do senhor Carlinhos Cachoeira nestes últimos sete ou oito anos. Obviamente que não. Tinham plena e total consciência de que estavam se associando a atividade criminosa.
Estaria eu afirmando que a revista Veja operava também com ações de fraudes em parceria com o Cachoeira?
Não, pois não acredito nesta hipótese.
Como é possível então explicar esta associação ao crime por parte da revista?
Carlinhos Cachoeira não tem cor política, partidária ou ideológia. Entre outras atividades criminosas, atua em todos os níveis dos poderes públicos, independente de que quem esteja no poder seja vermelho, amarelo, laranja, verde, roxo ou preto. Quando queria detonar algum esquema rival que atuava em um governo de uma cor, usava um determinado meio, quando queria detonar um rival que atuava em um governo de outra cor, usava a revista Veja.
Para a Veja, pouco importava se o esquema de Carlinhos Cachoeira iria roubar mais, menos ou igual àqueles a quem a revista estava detonando no interesse do “contraventor”. O que interessava é que sua associação ao criminoso lhe fornecia artilharia contra os inimigos de seus aliados políticos. Em síntese, esta é a lógica da associação promiscua e criminosa entre as partes.
Assim, seria mais produtivo ao senhor Eurípedes Alcântara, ao invés de tentar nos dar uma aula de boas práticas jornalísticas para justificar a relação da Veja com Cachoeira, simplesmente afirmar que a ética da revista é a mesma de Franklin Roosevelt. Certa feita um assessor do ex-presidente norte-americano o questionou sobre sua aliança com o saguinário ditador nicaraguense Anastácio Somoza, afirmando que o mesmo não passava de um “son of a bitch”. Roosevelt respondeu de bate-pronto que “he´s a son of a bitch, but he's our son of a bitch”.
No mínimo seria menos hipócrita.
Jorge Gregory, jornalista, consultor em gestão de educação superior, foi professor de jornalismo.
No Ornitorrinco

Mino x Globo: medo une o PiG (*)

O Conversa Afiada reproduz editorial de Mino Carta, na Carta Capital:

Eternos chapa-branca


O jornal O Globo toma as dores da revista Veja e de seu patrão na edição de terça 8, e determina: “Roberto Civita não é Rupert Murdoch”. Em cena, o espírito corporativo. Manda a tradição do jornalismo pátrio, fiel do pensamento único diante de qualquer risco de mudança.


Desde 2002, todos empenhados em criar problemas para o governo do metalúrgico desabusado e, de dois anos para cá, para a burguesa que lá pelas tantas pegou em armas contra a ditadura, embora nunca as tenha usado. Os barões midiáticos detestam-se cordialmente uns aos outros, mas a ameaça comum, ou o simples temor de que se manifeste, os leva a se unir, automática e compactamente.


Não há necessidade de uma convocação explícita, o toque do alerta alcança com exclusividade os seus ouvidos interiores enquanto ninguém mais o escuta. E entra na liça o jornal da família Marinho para acusar quem acusa o parceiro de jornada, o qual, comovido, transforma o texto global na sua própria peça de defesa, desfraldada no site de Veja. A CPI do Cachoeira em potência encerra perigos em primeiro lugar para a Editora Abril. Nem por isso os demais da mídia nativa estão a salvo, o mal de um pode ser de todos.


O autor do editorial exibe a tranquilidade de Pitágoras na hora de resolver seu teorema, na certeza de ter demolido com sua pena (imortal?) os argumentos de CartaCapital. Arrisca-se, porém, igual a Rui Falcão, de quem se apressa a citar a frase sobre a CPI, vista como a oportunidade “de desmascarar o mensalão”. Com notável candura evoca o Caso Watergate para justificar o chefe da sucursal de Veja em Brasília nas suas notórias andanças com o chefão goiano. Ambos desastrados, o editorialista e o líder petista.


Abalo-me a observar que a semanal abriliana em nada se parece com o Washington Post, bem como Roberto Civita com Katharine Graham, dona, à época de Watergate, do extraordinário diário da capital americana. Poupo os leitores e os meus pacientes botões de comparações entre a mídia dos Estados Unidos e a do Brasil, mas não deixo de acentuar a abissal diferença entre o diretor de Veja e Ben Bradlee, diretor do Washington Post, e entre Policarpo Jr. e Bob Woodward e Carl Bernstein, autores da série que obrigou Richard Nixon a se demitir antes de sofrer o inevitável impeachment. E ainda entre o Garganta Profunda, agente graduado do FBI, e um bicheiro mafioso.


Recomenda-se um mínimo de apego à verdade factual e ao espírito crítico, embora seja do conhecimento até do mundo mineral a clamorosa ignorância das redações nativas. Vale dizer, de todo modo, que, para não perder o vezo, o editorialista global esquece, entre outras façanhas de Veja, aquele épico momento em que a revista publica o dossiê fornecido por Daniel Dantas sobre as contas no exterior de alguns figurões da República, a começar pelo presidente Lula.

Anos de chumbo. O grande e conveniente amigo chamava-se Armando Falcão
Concentro-me em outras miopias de O Globo. Sem citar CartaCapital, o jornal a inclui entre “os veículos de imprensa chapa-branca, que atuam como linha auxiliar dos setores radicais do PT”. Anotação marginal: os radicais do PT são hoje em dia tão comuns quanto os brontossauros. Talvez fossem anacrônicos nos seus tempos de plena exposição, hoje em dia mudaram de ideia ou sumiram de vez. Há tempo CartaCapital lamenta que o PT tenha assumido no poder as feições dos demais partidos.


Vamos, de todo modo, à vezeira acusação de que somos chapa-branca. Apenas e tão somente porque entendemos que os governos do presidente Lula e da presidenta Dilma são muito mais confiáveis do que seus antecessores? Chapa-branca é a mídia nativa e O Globo cumpre a tarefa com diligência vetusta e comovedora, destaque na opção pelos interesses dos herdeiros da casa-grande, empenhados em manter de pé a senzala até o derradeiro instante possível.


Não é por acaso que 64% dos brasileiros não dispõem de saneamento básico e que 50 mil morrem assassinados anualmente. Ou que os nossos índices de ensino e saúde públicos são dignos dos fundões da África, a par da magnífica colocação do País entre aqueles que pior distribuem a renda. Em compensação, a minoria privilegiada imita a vida dos emires árabes.


Chapa-branca a favor de quem, impávidos senhores da prepotência, da velhacaria, da arrogância, da incompetência, da hipocrisia? Arauto da ditadura, Roberto Marinho fermentou seu poder à sombra dela e fez das Organizações Globo um monstro que assola o Brazil-zil-zil. Seu jornal apoiou o golpe, o golpe dentro do golpe, a repressão feroz. Illo tempore, seu grande amigo chamava-se Armando Falcão.


Opositor ferrenho das Diretas Já, rejubilado pelo fracasso da Emenda Dante de Oliveira, seu grande amigo passou a atender pelo nome de Antonio Carlos Magalhães. O doutor Roberto em pessoa manipulou o célebre debate Lula versus Collor, para opor-se a este dois anos depois, cobrador, o presidente caçador de marajás, de pedágios exorbitantes, quando já não havia como segurá-lo depois das claras, circunstanciadas denúncias do motorista Eriberto, publicadas pela revista IstoÉ, dirigida então pelo acima assinado.


Pronta às loas mais desbragadas a Fernando Henrique presidente, com o aval de ACM, a Globo sustentou a reeleição comprada e a privataria tucana, e resistiu à própria falência do País no começo de 1999, após ter apoiado a candidatura de FHC na qualidade de defensor da estabilidade. Não lhe faltaram compensações. Endividada até o chapéu, teve o presente de 800 milhões de reais do BNDES do senhor Reichstul. Haja chapa-branca.


Impossível a comparação entre a chamada “grande imprensa” (eu a enxergo mínima) e o que chama de “linha auxiliar de setores radicais do PT”, conforme definem as primeiras linhas do editorial de O Globo. A questão, de verdade, é muito simples: há jornalismo e jornalismo. Ao contrário destes “grandes”, nós entendemos que a liberdade sozinha, sem o acompanhamento pontual da igualdade, é apenas a do mais forte, ou, se quiserem, do mais rico. É a liberdade do rei leão no coração da selva, seguido a conveniente distância por sua corte de ienas.


Acreditamos também que entregue à propaganda da linha auxiliar da casa-grande, o Brasil não chegaria a ser o País que ele mesmo e sua nação merecem. Nunca me canso de repetir Raymundo Faoro: “Eles querem um País de 20 milhões de habitantes e uma democracia sem povo”. No mais, sobra a evidência: Roberto Civita é o Murdoch que este país pode se permitir, além de inventor da lâmpada Skuromatic a convocar as trevas ao meio-dia. Temos de convir que, na mídia brasileira, abundam os usuários deste milagroso objeto.

 

Mestre Falcão: Gurgel não
é melhor do que ninguém

Na pág. A6 da Folha (*) desta sexta feira, o Mestre Joaquim Falcão faz pertinente análise da polêmica sobre a ida do brindeiro Gurgel à CPI:

“Decisao pode acabar no Supremo”, ele prevê.

Diz ainda:

“Legalmente, a CPI pode convocá-lo. Nem mesmo o Presidente da República  escapa de prestar informações, mesmo por escrito. É uma faculdade do Congresso dentro da separação dos poderes. Poder controla poder, diz o princípio. Executivo, Legislativo e Judiciário se controlam mutuamente, se equilibram e fazem a democracia.”

Não se deve sofrer por antecipação, recomenda o sereno Mestre.

Por enquanto, a CPI “convidou”.

Não “convocou”.

Se convocar e o brindeiro Gurgel se achar mais que os outros, aí, prevê Falcão, o problema desembarca no Supremo.

“Mas, será que a CPI tem mesmo a ver com o mensalão ? Esta é a pauta que o procurador quer que se conheça e se discuta”, conclui o Mestre.

Falcão é professor de Direito Constitucional da FGV-Direito, Rio.
Foi membro do Conseho Nacional de Justiça, quando destituiu um juiz que combinava a administração da Lei com negócios particulares na área do Ensino.
Êpa !
Falcão fez parte da invejável equipe que Fernando Lyra levou para o Ministério da Justiça do Dr Tancredo.
Outro, José Paulo Cavalcanti Filho – que, como Falcão, deveria estar no Supremo – agora Dilma levou para a Comissão da Verdade.
Ou seja, o Ministério da Justiça não é refratário ao talento.




Paulo Henrique Amorim



(*) Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista.

SIMBIOSE PROFANA: REVISTA PAUTA QUADRILHA; QUADRILHA USA REVISTA EM ACHAQUES E GOLPES

O MUNDO SE MOVE: esquerda francesa tem 46% das intenções de voto  nas eleições  parlamentares de junho** frente de esquerda Cyrisa vencerá nova eleição na Grécia, caso os partidos conservadores não cheguem a acordo de maioria no Congresso ** Chávez tem 17 pontos de vantagem nas eleições de outubro (Leia análise de Marcel Gomes nesta pág)**QUEM PAGA O MICO? 687 mil imóveis encalhados, preços que não param de cair e um estoque de terrenos sem liquidez corroem o patrimonio bancário espanhol**desequilíbrios contábeis derretem a banca e exigem forte intervenção estatal nos mercados: Rajoy engole sua agenda neoliberal e estatiza o 3º maior banco do país**Estado mínimo vale para os serviços públicos**domingo, 'Indignados' espanhóis completam um ano de lutas (Leia análise de Oscar Guisoni, de Madrid, nesta pág)

'Além de 200 telefonemas trocados, o editor da revista Veja em Brasília, Policarpo Júnior, e integrantes da quadrilha do contraventor Carlinhos Cachoeira se encontram presencialmente, pelo menos, 10 vezes. Só com Cachoeira foram 4 encontros.O número pode ser maior, uma vez que a reportagem de Carta Maior teve acesso apenas ao apenso 1 do inquérito, com 7 volumes. Entretanto, existem mais dois apensos que, juntos, tem 8 volumes. Um destes encontros ocorreu no dia 10 março de 2011. Em ligação telefônica no dia anterior, às 22:59, Cachoeira diz ao senador Demóstenes Torres (então do DEM, hoje sem partido):"É o seguinte: eu vou lá no Policarpo amanhã, que ele me ligou de novo, aí na hora que eu chegar eu te procuro". (leia a reportagem exclusiva de Vinicius Mansur, com detalhes de uma rotina orgânica entre interesses políticos e pecuniários que fundiram uma redação e uma quadrilha; nesta pág)

Os encontros entre Policarpo, da Veja, e os homens de Cachoeira

Levantamento feito a partir de documentos da Operação Monte Carlo indicam que o editor da revista Veja esteve, pelo menos, 10 vezes com o contraventor Cachoeira e membros de sua organização. Em geral, os temas dessas conversas acabaram se transformando em matérias da revista. Operação no Hotel Nahoum, que envolveu tentativa de invasão do quarto de José Dirceu, também foi tema dessas conversas. A reportagem é de Vinicius Mansur.

Brasília - Um levantamento do inquérito 3430, resultado da Operação Monte Carlo, da Polícia Federal (PF), indica que o editor da revista Veja em Brasília, Policarpo Júnior, e a quadrilha do contraventor Carlinhos Cachoeira se encontraram presencialmente, pelo menos, 10 vezes. Só com Cachoeira foram 4 encontros.

O número pode ser maior, uma vez que a reportagem de Carta Maior teve acesso apenas ao apenso 1 do inquérito, com 7 volumes. Entretanto, existem mais dois apensos que, juntos, tem 8 volumes.

O primeiro destes encontros foi marcado para o dia 10 março de 2011. Em ligação telefônica no dia 9 daquele mês, às 22:59, Cachoeira diz ao senador Demóstenes Torres (então do DEM, hoje sem partido):

“É o seguinte: eu vou lá no Policarpo amanhã, que ele me ligou de novo, aí na hora que eu chegar eu te procuro.”

No dia 27 de abril, Cachoeira anunciou ao diretor da construtora Delta no Centro-Oeste, Cláudio Abreu, outro encontro com o jornalista. Sobre a ligação, interceptada às 07:19, o inquérito da PF relata:

“Carlinhos diz que vai almoçar com a prefeita de Valparaíso e com Policarpo da revista Veja”.

Às 09:02, o contraventor avisa a Demóstenes do almoço com Policarpo:

“Eu vou almoçar com o Policarpo aí. Se terminar o almoço e você estiver lá no apartamento eu passo lá.”

O senador respondeu:

“Ok... o Policarpo me ligou, tava procurando um trem aí. Queria que eu olhasse pra ele algumas coisas. Pediu até pra eu ligar para ele mais tarde, não quis falar pelo telefone”.

Nesta mesma conversa, Demóstenes pediu conselhos a Cachoeira sobre sua mudança de partido. Cachoeira afirmou que “esse DEM já naufragou” e disse:

“Tem que ir pro PMDB, até pra virar do STF né?”

O terceiro encontro: o alvo é Zé Dirceu, não a Delta

A partir do dia 7 de maio de 2011, aparecem conversas da quadrilha de Cachoeira sobre a reportagem “
O segredo do sucesso”, assinada por Hugo Marques e publicada pela revista Veja na edição 2216, daquele mesmo fim de semana. A matéria relaciona o crescimento da empresa Delta com os serviços de consultoria de José Dirceu.

Em ligação do dia 8 de maio, às 19:58, Cachoeira diz a Cláudio Abreu que Demóstenes vai trabalhar nos bastidores do Senado para abafar a reportagem.
No dia 9, às 23:07, Cláudio pergunta ao bicheiro se ele irá “no almoço com aquele Policarpo” no dia seguinte. Cachoeira responde:

“Ah o Policarpo eu encontro com ele em vinte minutos lá no prédio, é rapidinho”.

No dia 10, às 14:43, Cachoeira conversa com Cláudio. O resumo da ligação feito pela PF diz: ”Carlinhos conta a Cláudio sobre a conversa que teve com Policarpo, da Veja, a respeito da reportagem que saiu na revista no último final de semana”.

Em outra ligação, no dia 11, às 09:59, Idalberto Matias de Araujo, o Dadá, tido pela PF como braço direito de Cachoeira, conta ao bicheiro que conversou com o repórter da Veja, Hugo Marques, que lhe revelou que o alvo de sua reportagem era “Zé Dirceu e não a Delta”.

O quarto encontro foi com Cláudio Abreu. No dia 29 de junho de 2011, às 19:43, Cláudio disse a Cachoeira que esteve com Policarpo e passou informações sobre licitação da BR 280. As informações foram parar na reportagem “
O mensalão do PR
, publicada na edição 2224 da revista Veja, dando origem as demissões no Ministério dos Transportes.

No dia 7 de julho, às 09:12, Cláudio conta a Cachoeira que “o JR” quer falar com ele.
Cachoeira: “Que que é JR?”

Cláudio: “PJ, né amigo.”

Cachoeira: “PJ?”

Cláudio: “Pole.”

Cachoeira: “O que?”.

Cláudio: “Engraçado lá, Carlinhos. Policarpo, porra.”


No dia 26 de julho de 2011, Policarpo perguntou a Cachoeira, em telefonema às 19:07, como fazer para levantar umas ligações entre o deputado Jovair Arantes (PTB-GO) e “gente da Conab”.

No dia 28, às 17:19, uma ligação interceptada pela PF entre Jairo Martins, o araponga de Cachoeira, e uma pessoa identificada apenas como “Editora Abril” é sucintamente resumida pela palavra “encontro”.

No fim de semana seguinte a revista é publicada com a reportagem “
Dinheiro por fora”, trazendo informações sobre o financiamento de campanha de Jovair e de outros políticos de Goiás por empresa favorecida pela Conab.

Invadindo o hotel Naoum
No dia 2 de agosto de 2011, às 10:46, Jairo Martins, marca encontro por telefone “no Gibão do Parque da Cidade” com “Caneta”, identificado inicialmente pela PF como alguém da Editora Abril. Às 12:04, Jairo informa a Cachoeira que irá almoçar com “Caneta” às “15 pra uma” para tratar “daquela matéria lá (...) que ta pronta”.

Às 14:30, o araponga informa ao bicheiro que “Caneta” quer usar imagens do hotel “pra daqui a duas semanas, que naquele período que ele me pediu, o cara recebeu 25 pessoas lá, sendo que 5 pessoas assim importantíssimas” (sic). Ele também se mostra preocupado e diz que o combinado era não usar as imagens. Cachoeira diz:

“Põe ele pra pedir pra mim”.

Às 21:03, Cachoeira revela a identidade de “Caneta”. O contraventor conta a Demóstenes:

“...o Policarpo vai estourar aí, o Jairo arrumou uma fita pra ele lá do hotel lá, onde o Dirceu, Dirceu, é, recebia o pessoal na época do tombo do Palocci”.
Segundo Cachoeira, Policarpo pediu para “por a fita na Veja online”.

No dia 4, às 17:18, Cachoeira fala com Policarpo ao telefone e pede para ele ir encontrar Cláudio Abreu, da Delta, que está esperando. Às 17:31, Cachoeira
diz para Claudio mandar Policarpo soltar nota de Carlos Costa.

Às 17:47, Cláudio pergunta onde a nota deve ser publicada. Cachoeira diz que no “on-line já ta bom”, mas “se for na revista melhor”. Às 18:37, o bicheiro informa ao diretor da Delta que Policarpo “está com um problema sério na revista”, pediu para desmarcar o encontro e receber a nota por email.

No dia 10 de agosto, às 19:11, Cláudio conta ao chefe da quadrilha que estará em Brasília no dia seguinte para falar com “PJ”. No mesmo dia, às 19:22, Jairo e Policarpo combinam por telefone um “encontro no churrasquinho”. Às 20:41, Jairo e Cachoeira falam sobre liberação das imagens.

No dia 11, às 08:58, Carlinhos fala a Demóstenes que almoçará com Policarpo. O resumo de uma ligação às 14:09, entre Cachoeira e Cláudio, afirma que “Carlinhos está no Churchill, possivelmente com Policarpo Júnior”. Às 20:05, em conversa com Demóstenes, Cachoeira conta que encontro com Policarpo foi para ele “pedir permissão para o trem lá do Zé”.

No dia 15, às 10:12, Cachoeira orienta Jairo para “matar a conversa com Policarpo”:

“Nós temos que pedir aquele assunto para ele.”

Às 19:04, Policarpo marca encontro com Jairo “em 10 minutos no espetinho”. O resumo de uma ligação entre os dois às 19:26 diz “encontro”.

O resumo de uma ligação às 12:45 do dia 16 descreve:

“Carlinhos diz que liberou, que só falta ele liberar. Jairo diz que falta pouca coisa. Acha que hoje ele libera.”

No fim de semana de 27 e 28 de agosto de 2011, a revista Veja deu uma capa com o título “O Poderoso Chefão”, em alusão a influência que o ex-ministro José Dirceu ainda tinha sobre o PT e o governo de Dilma Rousseff. A reportagem trouxe imagens de vários políticos visitando Dirceu dentro do Hotel Naoum, onde ele se hospedava em Brasília, afirmando que Dirceu articulou a queda do então ministro da Casa Civil, Antônio Palloci.

O repórter da Veja, Gustavo Ribeiro, foi acusado de tentar invadir o apartamento de Dirceu. A polícia também investiga como as imagens do circuito interno do hotel foram capturadas.

O Prevaricador Geral da República


Fim de linha para Gurgel: ele piscou e passou recibo. Algo mortal na política 
Blog do Rovai


O Procurador Geral da República saiu em sua própria defesa na tarde de ontem.


Foi um péssimo advogado de si mesmo. E o conteúdo das frases que disse deixam claro duas coisas.


1) Ele não tem como explicar porque engavetou o processo contra Demóstenes e Cachoeira mesmo com tantas evidências de que ambos articulavam um grupo que operava crimes contra o Estado.


2) A falta de justificativa para o que fez o levou a invocar o mantra do mensalão, com o objetivo de criar uma cortina de fumaça e ganhar a mídia tradicional e o que resta da oposição raivosa para a sua defesa.


Uma pessoa no cargo que ele ocupa só assume tão deliberadamente um lado quando sente que o furo no bote é grande e o número de passageiros é maior do que o de boias. Ou seja, bateu o desespero.




Não fosse isso, Gurgel explicaria o caso e se disporia a dar explicações. Além disso, tentaria buscar pontes na base do governo para apresentar suas justificativas.


Qualquer pessoa com o juízo em dia e que não estivesse sobre forte pressão por conta de ter sido pega no pulo, faria isso.


Gurgel, no entanto, piscou e passou recibo.


Em política isso é mortal.


Gurgel acabou.


 




O cheiro fétido das instituições

Ontem foi um dia duro para a democracia brasileira. Descobrimos o que fundamenta a ousadia e a arrogância desmedidas dessas máfias da comunicação e a razão do estado de miséria em que se encontram as nossas instituições. Sabemos agora por que gangsteres empresariais, políticos, jurídicos e midiáticos ousam tanto.
Apesar de Roberto Gurgel ter sido acusado por dois delegados da Polícia Federal de ter engavetado denúncias contra o bicheiro Carlinhos Cachoeira e o senador Demóstenes Torres, o procurador-geral da República aparece na tevê, banhado de arrogância, negando explicações e acusando os parlamentares do governo e da oposição que as pediram.
Aí vem a mídia e sustenta a desfaçatez e a arrogância de Gurgel mesmo após ele ter permitido a Carlinhos Cachoeira que continuasse corrompendo a República por quase três anos além do necessário.
Em seguida, dois juízes do Supremo Tribunal Federal se mostram em sintonia com o poder midiático. Gilmar Mendes e Joaquim Barbosa dizem o impensável, que Gurgel é inatacável, fazendo-nos refletir sobre como é possível que um cidadão seja colocado acima da lei por… Juízes!
Mesmo que outro juiz, Marco Aurélio Mello, tenha surpreendido a todos ao reconhecer a “extravagância” que foi Gurgel atribuir a envolvidos no escândalo do mensalão a culpa por estar sendo cobrado por sua inação pretérita, note-se que a opinião pública foi manipulada porque os telejornais esconderam o fato.
Legislativo e Judiciário, portanto, foram arrastados para o jogo político por meia dúzia de impérios de comunicação pertencentes a meia dúzia de famílias. E como o PT e aliados têm o Executivo e a maioria do Legislativo, além de seu quinhão no Judiciário, vemos os dois lados mobilizando as instituições para uma guerra política.
Em jogo, o poder dessas empresas de comunicação de inocentarem e acusarem a quem bem entendem enquanto se concedem licença para o que lhes der na telha, num simulacro da mesma ascendência que outro empresário tinha sobre as instituições e que considerava inesgotável.
Um empresário, no entanto, que hoje está vendo o sol nascer quadrado.
A mídia, portanto, engana-se. Mesmo com Gilmar Dantas – ou Mendes, tanto faz –, com o chefe do Ministério Público Federal e com boa parte de seu corporativismo nas mãos, não deve se esquecer, repito, de como Cachoeira já se considerou “inatacável”, de como superestimou o próprio poder.
A mídia que acha que tem ainda menos explicações a dar do que Roberto Gurgel, contudo, é a mesma que antes elegia presidentes e que há 9 anos perdeu esse poder. E é a mesma que, agora, corre o risco de ver outra grande manipulação sua virar pó.
Lembram-se de que a máfia midiática dizia que havia mais evidências de envolvimento do governo Agnelo Queiróz com Cachoeira do que deste com o governador Marconi Perilo? Lembram-se dos diagnósticos de Reinaldo Azevedo ou de Merval Pereira, entre outros calunistas do PIG, nesse sentido?
Agora, a cada minuto que passa Perillo se enrola mais e vai ficando cada vez mais claro que Agnelo não tem nada de mais grave pesando contra si. De que adiantou, então, a mídia manipular os fatos? A verdade vai aparecendo. Quer queira, quer não. E não irá parar de aparecer, pois, ainda que muitos não creiam, ela é uma força da natureza como o vento ou a chuva.
O que preocupa, entretanto, é ver as instituições se digladiando e até membros do STF estarem dando declarações a favor de Gurgel mesmo a despeito de que, amanhã, esses mesmos membros poderão ter que julgá-lo.
Como Joaquim Barbosa julgaria o mesmo Gurgel que hoje diz “inatacável”? Como Gilmar Mendes poderia julgá-lo após ter endossado sua acusação indigna de que os questionamentos contra si derivam de “medo de envolvidos no mensalão”?
E mais: como dois juízes, sem conhecer a fundo um caso, sem estudá-lo, sem analisar provas ou meras evidências, podem emitir sentença tão séria?
Mesmo que a verdade triunfe, vamos descobrindo quão podres ainda são as instituições no Brasil, infestadas que estão de despachantes de interesses menores que podem vir a se revelar apenas versões menos toscas de um Carlinhos Cachoeira, mas que, nem por isso, são menos danosos à nossa combalida democracia.