Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

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quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Globo exalta "dono da bola" e pai do Mensalão

 

Capa da revista Época Negócios é dedicada ao banqueiro Ricardo Guimarães, do BMG, que foi o maior financiador do Mensalão; na lógica da imprensa brasileira, todos os corruptos devem ser punidos; já os corruptores...
Aguarda-se, para o início de 2012, o julgamento do maior escândalo de corrupção de todos os tempos no País: o “Mensalão”, que eclodiu em 2005, depois que o ex-deputado Roberto Jefferson denunciou um esquema de compra de deputados operado pelo ex-publicitário Marcos Valério de Souza. À época, uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito, instalada no Congresso Nacional, descobriu a origem dos recursos. Eram empréstimos concedidos pelos bancos Rural e BMG, ambos sediados em Minas Gerais – a maior parte dos recursos veio do BMG, que irrigou os cofres do Partido dos Trabalhadores com R$ 44 milhões. O Rural pretendia obter facilidades do Banco Central para adquirir o Banco Mercantil de Pernambuco. O BMG, por sua vez, não apenas pretendia, como obteve facilidades para operar, com exclusividade, operações de crédito consignado para pensionistas do INSS e do setor público.
Como consequência do escândalo, foram denunciados 40 políticos envolvidos no esquema. Numa outra ação paralela, também foram denunciados os financiadores do Mensalão. Entre eles, o banqueiro Ricardo Annes Guimarães, presidente do BMG, e vários diretores do banco, como Marcio Alaor de Araújo e o próprio pai de Ricardo, Flávio Pentagna Guimarães. Eles foram denunciados por gestão fraudulenta porque, nos empréstimos concedidos ao PT, não teriam sido observadas normas internas do Banco Central, nem as normas internas do próprio banco.
No entanto, para as Organizações Globo, o banqueiro Ricardo Guimarães, já está reabilitado. Ele é a capa da edição deste mês da revista Época Negócios, que o apresenta como “O Dono do Futebol”, uma vez que o BMG patrocina equipes como Vasco, Flamengo, São Paulo, Santos, Palmeiras, Atlético, Coritiba e Cruzeiro – coincidência ou não, o Brasileirão, sustentado por patrocínios como o do BMG, é um dos melhores negócios da Globo.
O Mensalão não existiu?
Da leitura da reportagem de Época Negócios, depreende-se que o Mensalão não existiu. Não há uma única referência da revista ao esquema de compra de parlamentares financiado com empréstimos concedidos pelo BMG, banco que hoje responde por 10% do volume de crédito a pessoas físicas no Brasil.
Há uma aspa, na boca do próprio Ricardo Guimarães, no fim da reportagem, sobre o caso, quando ele contesta que o BMG tenha tido qualquer exclusividade na concessão de crédito consignado. Eis o trecho.
“Nunca foi dada exclusividade alguma ao BMG”, diz Ricardo Guimarães. “Essa é uma história fictícia que surgiu junto com a acusação de que o banco fazia parte do mensalão. Não é nem uma história – é uma estória. O que houve é que nós apenas nos interessamos pelo produto, que tinha um spread menor. E trabalhamos com afinco para promovê-lo.”
Depois disso, a revista afirma que os sócios do BMG não estão entre os 38 réus que serão julgados pelo Supremo Tribunal Federal.
De fato, não estão. São réus em outro inquérito, paralelo ao do Mensalão, que foi aberto em Minas Gerais por determinação do ex-procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza. São acusados de gestão temerária de instituição financeira, por terem emprestado recursos para o PT sem observar normas exigidas pelo Banco Central, nem as normas do próprio BMG.
Fica, então, combinado assim.
O Mensalão não foi uma história.
Foi uma estória.
E o BMG não tem nada a ver com isso.
Curioso é que as Organizações Globo, sempre tão dispostas a atacar corruptos, como em capas recentes da revista Época, não tenham o mesmo afinco quando se trata de investigar corruptores.

Armar um circo judicial ou reforçar a Justiça

Por Alberto Dines em 02/08/2012
 
Fazer justiça, ajuizar, é escolher, refletir. Ponderar equivale a julgar, razão pela qual decisões judiciais exigem ritos e revestem-se de solenidade para alongar o ato de cogitar e deliberar.
O início do julgamento dos réus do escândalo do mensalão, ao contrário, foi perigosamente eletrificado. O justificado receio de manobras protelatórias e procrastinações maliciosas empurrou a mídia informativa para uma tensão incompatível com o caráter paradigmático do caso. O país está pendurado num pêndulo existencial, e isto não é um Big Brother.
O julgamento dos mensaleiros pode reverter a tradicional complacência da sociedade brasileira com a corrupção, com a ilicitude, e estabelecer novos padrões de exigência em matéria moral. A intensa dramatização midiática justifica-se como recurso para chamar a atenção dos segmentos da população enfiados nos diferentes grotões, imunes ao debate político, mesmo exaltado.
A veemência, em compensação, pode reverter e se transformar numa irreprimível modorra tão logo o espetáculo judicial caia na rotina. O que fatalmente acontecerá.
O mensalão, tal como aconteceu com outros episódios da nossa história recente (inclusive a derrubada do presidente Fernando Collor de Melo), inicia-se com um curto-circuito na ética jornalística. O ex-presidente da República caiu porque Veja publicou uma vigorosa denúncia, sem provas, veiculada pelo irmão, Pedro Collor, conhecido pelo desequilíbrio psíquico. A doidice, felizmente, só continha verdades.
O mensalão é um clássico do “jornalismo fiteiro”, aquela modalidade de reportagem terceirizada em que uma fita (em vídeo ou sonora), obtida clandestinamente por arapongas profissionais, é jogada no colo de um jornalista que a reproduz – e endossa – sem qualquer verificação.
Tentações em conta
O flagrante da entrega de 3 mil reais a um alto funcionário dos Correios, Maurício Marinho, representante do PTB na empresa estatal, foi publicado na Veja no sábado, 14 de maio de 2005. Reprisado no dia seguinte pelo Fantástico tornou-se ícone da corrupção.
O PTB, integrante da base de sustentação do primeiro governo Lula, foi imediatamente empurrado para o banco dos réus da CPI dos Correios. Menos de dois meses depois (em 6/7/2005), o presidente do partido, deputado Roberto Jefferson, concedeu uma entrevista-bomba à repórter Renata Lo Prete, da Folha de S.Paulo, e abria-se o caminho para a CPI do Mensalão.
Entrevista clássica, sem anonimatos, transformou uma propina de 3 mil reais embolsados por um funcionário no maior escândalo político da história do país, com revelações sobre centenas de milhões de reais transitando pelos porões de agências de publicidade, bancos e Câmara dos Deputados.
Uma fita clandestina – xaveco jornalístico – revelou como funcionam as bases de sustentação política dos governos brasileiros. Uma entrevista rigorosamente canônica escancarou a promiscuidade e a devassidão nos altos escalões do poder.
Ao cobrir o julgamento do mensalão – talvez o julgamento do século – a mídia precisa levar em conta as tentações bipolares do processo jornalístico: armar um circo judicial ou ajudar o cidadão acabrunhado a confiar na Justiça.

Miro: PiG (*) esconde Lista de Furnas

“A mídia ‘privada’ é bastante seletiva na escandalização da política”.


O Conversa Afiada republica texto de Altamiro Borges, no Blog do Miro:

Mídia esconde a “Lista de Furnas”



Por Altamiro Borges

A mídia “privada” é bastante seletiva na escandalização da política. Nos últimos dias, ela só pensa naquilo – no “julgamento do século” do chamado “mensalão do PT”, que se inicia nesta quinta-feira (2) no Supremo Tribunal Federal. As revistonas deram capas terroristas; as manchetes dos jornais parecem combinadas; e os “calunistas” da tevê não falam em outra coisa. De tão concentrada, porém, a mídia deixou de noticiar que Ministério Público Federal decidiu fazer a denúncia formal sobre a famosa Lista de Furnas.

O premiado jornalista Amaury Ribeiro Jr., autor do livro “A privataria tucana” – o best-seller que também foi omitido pela mídia tucana –, registrou ontem no jornal Hoje em Dia a decisão do MPF. Segundo revelou, a autenticidade de “lista” já teria sido provada. Ela revela que a estatal Furnas superfaturou contratos para repassar dinheiro a cerca de 150 políticos durante a campanha eleitoral de 2002. Os principais beneficiários seriam candidatos do PSDB e do DEM, entre eles o mineiro Aécio Neves e o paulista Geraldo Alckmin.

Cinismo dos tucanos e da mídia

A famosa “lista de Furnas”, que os demotucanos juravam não existir e que a mídia “privada” sempre evitou investigar, teria sido feita pelo próprio ex-presidente e ex-diretor de planejamento da empresa, Dimas Toledo. Para a procuradora Andrea Bayão Ferreira, do Rio de Janeiro, agora não há mais dúvida sobre a sua autenticidade. De posse dos documentos, Amaury Ribeiro inclusive já pensa em escrever a segunda parte do livro “A privataria tucana”. Para ele, a lista comprova a existência de um “mensalão” de Furnas.

A decisão do MPF também animou o deputado Rogério Correia (PT-MG). Com base num laudo pericial da Polícia Federal, ele foi um dos primeiros a denunciar o rombo na estatal para financiar a eleição de Aécio Neves ao governo de Minas, em 2002. “Quando fiz a denúncia, tentaram até mesmo cassar o meu mandato. Mas a verdade, finalmente, começa a prevalecer”. Para ele, a lista comprova a hipocrisia dos tucanos. “Eles só querem investigar os esquemas dos outros, porque esse de Furnas eles tentam abafar até agora”.



Clique aqui para ler “Amaury pega tucanos na Lista de Furnas”.

E aqui para ver que “Documentos do MP/MG afogam os tucanos”.


(*) Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista.

E se o golpe de 2005 tivesse dado certo?




Um historiador inglês (Neill Ferguson, História virtual) se dedicou a pensar vias alternativas daquelas que triunfaram efetivamente na história realmente existente, como exercícios de pensamento sobre o que teria sido se não fosse. Por exemplo: e se a Alemanha de Hitler tivesse triunfado na Segunda Guerra? E se a URSS não tivesse desaparecido? E outras circunstâncias como essas.

No Brasil podemos pensar o que teria acontecido se várias tentativas de golpe militar – antes e depois da de 1964 – tivessem triunfado, o que teria acontecido com o Brasil. Um bom exercício também para entender o presente, quando as mesmas forças que protagonizaram essas tentativas no passado – as fracassadas e a vencedora de 1964 – se excitam de novo e, como toda força decadente, tratam de dar aos estertores da sua última tentativa, uma dimensão épica, que somente uma classe que não pode olhar para sua vergonhosa historia golpista, pode fazer. Juizes, jornalistas, políticos derrotados, usam os superlativos que suas pobres formas de expressão permitem, para falar “do julgamento do século”, do “maior caso de...”.

Pudessem assumir a história do Brasil como ela realmente ocorreu e ocorre, se dariam conta que o maior julgamento da nossa história teria sido o da ditadura militar – aventura da qual essas mesmas forças participaram ativamente -, que destruiu a democracia no país, violou todos os direitos humanos, em todos os planos – políticos, jurídicos, sociais, culturais, econômicos -, abriu as portas para o assalto do Estado e do pais às grandes corporações nacionais e internacionais, impôs a ditadura também no plano da liberdade de expressão, prendeu, torturou, assassinou, fez desaparecer, alguns dos melhores brasileiros.

Em suma, passar a limpo essa página odiosa da nossa história – que tem as impressões digitais dos mesmos órgãos de comunicação que lideraram a ofensiva golpista de 2005 – teria sido o maior julgamento da nossa história, onde seriam réus eles mesmos, junto à alta oficialidade das FFAA, grande parte dos empresários nacionais e internacionais, entre outros.

Podemos, por exemplo, especular o que teria sido o país se tivesse triunfado o golpe contra Getúlio, em 1954. Era um movimento similar ao que triunfou uma década depois, com origem na Doutrina de Segurança Nacional, típica ideologia da guerra fria. Na Argentina, por exemplo, a queda de Peron, um ano depois do suicídio do Getúlio, introduziu o tipo de militar “gorila” (a expressão nasceu na Argentina, com o golpe de 1955), que se generalizaria a partir do golpe brasileiro.

Na Argentina, com a proscrição do peronismo, Arturo Frondizi conseguiu se eleger presidente, mas nem ele, nem os presidentes ou ditadores que o sucederam – houve novo golpe em 1966, que também fracassou, como o de 1955 - conseguiram estabilizar-se, frente à oposiçao do peronismo, principalmente do seu ramo sindical, que tornou impossível a vida a todos os governos, até o retorno de Peron, em 1973.

No Brasil, um objetivo central do golpismo era evitar a continuidade do getulismo, expressada no JK, mas também no Jango. A famosa frase – suprassumo do golpismo – de Carlos Lacerda, de que “Juscelino não deveria ser candidato; se fosse, não deveria ganhar; se ganhasse, não deveria tomar posse; se tomasse posse, não deveria poder governar”, espelhava aquele objetivo.

Se Getulio nao tivesse apelado para o gesto radical do suicídio, para brecar a ofensiva golpista, o movimento de 1964 teria surgido uma década antes. Ao invés das eleições relativamente democrática de 1955, teríamos tido uma ditadura militar mais ou menos similar à de 1964. As consequências teriam sido ainda mais catastróficas, porque o sacrifício do Getúlio conquistou dez anos, que o movimento popular aproveitou para se fortalecer amplamente. Nessa década avançou não apenas a industrialização, mas também o movimento sindical e outros movimentos populares, assim como a consciência social na massa da população. Uma ditadura – ou algum regime duro, mesmo se recoberto de formas institucionais, mas que impedisse a continuidade do regime getulista – teria atuado sobre um movimento popular com muito menor capacidade de organização e de consciência social.

Na Argentina os militares tiveram que, em prazos mais ou menos curtos, convocar novas eleições, o fizeram depois de prescrever o peronismo, a grande força politica e ideológica, do campo popular argentino. No Brasil, teriam feito algo similar, castrando a democracia brasileira da vitalidade que os movimentos populares possuíam e imprimiam ao país.

De qualquer forma, grande parte dos retrocessos que a ditadura
impôs ao Brasil, teriam sido antecipados por um movimento de direita que tivesse se apropriado do Estado brasileiro em 1964. Nossa história seria ainda pior do que ela foi, a partir do golpe triunfante de 1964.

Outras tentativas golpistas existiram durante o governo do Juscelino, pelo menos duas de caráter militar – por membros da Aeronáutica -, de menor monta, mas as articulações golpistas nunca deixaram de existir, de tal maneira que os antecedentes do golpe de 1964 vem da fundação da Escola Superior de Guerra, por Golbery do Couto e Silva e Humberto Castelo Branco, vindos da guerra na Itália, sob influência e patrocínio diretos dos EUA, que desembocou finalmente no golpe vitorioso de 1964, que não por acaso teve nesses dois militares seus protagonistas fundamentais.

E se nos perguntarmos o que teria sido do Brasil se o movimento de um golpe branco contra o Lula – que poderia ter sido um impeachment ou uma derrota eleitoral em 2006 – tivesse triunfado?

Se nos recordamos que o candidato da direita era o neoliberal acabado que é Alckmin, podemos imaginar os descalabros a que teria sido submetido o país. (O que torna ainda mais absurda a posição da ultra esquerda, que se absteve ou pregou o voto nulo diante da alternativa Lula ou Alckmin.) Só para recordar uma circunstância concreta, quando Calderon triunfou no México, de forma evidentemente fraudulenta, nas eleições presidenciais de julho de 2006, Alckimin saudou-a como o caminho que o Brasil deveria seguir. (Ver artigo aqui na Carta Maior, comentando essa similitude assumida por Alckmin.)

Significaria, antes de tudo, a retomada de um Tratado de Livre Comércio com os EUA, ja que a ALCA (Área de Livre Comércio das Américas) tinha sido substituída por tratados bilaterais com países do continente, como o Chile, entre outros, pelos EUA, depois que o Brasil contribuiu decisivamente para enterrar a ideia de uma America Latina totalmente aderida ao livre comercio, subordinada completamente aos EUA.

Os processos de privatização que FHC não tinha conseguido completar, pela resistência do movimento popular brasileiro, seriam retomados, atingindo a Petrobras, o Banco do Brasil, a Caixa Economica, a Eletrobras, entre outras empresas sobreviventes do vendaval privatizando do governo dos tucanos.

Mas sem ir mais longe, bastaria imaginar o que teria sido o Brasil – e também a América Latina – se a crise internacional do capitalismo, iniciada em 2007 e ainda vigente, tivesse encontrado o Brasil tendo ao neoliberal duro e puro do Alckmin como presidente. Estaríamos ainda pior do que um país como a Espanha ou a Grécia ou Portugal. Estaríamos devastados pela recessão, pelo desemprego, pelos compromissos escorchantes do FMI.

Basta esse quadro realista do que estaríamos vivendo se o golpe de 2005 tivesse dado certo. O seu objetivo inicial era tentar impor uma derrota de longo prazo à esquerda, que teria fracassado, com Lula, seu principal dirigente, por um prazo longo, permitindo que as forças tradicionais da direita retomassem o controle do Estado brasileiro.

O julgamento que começa esta semana é, sobretudo, o julgamento de uma tentativa frustrada de golpe branco contra um governo popular e democrático, eleito pelo voto popular e legitimado pela reeleição do Lula e pela eleição da Dilma. O povo já disse sua palavra.
Postado por Emir Sader

Nem a mídia crê em veto a Toffoli

Quem assistiu ao Jornal Nacional na noite de véspera do início do “maior espetáculo da Terra” no qual a mídia pretende converter o julgamento do mensalão e depois leu os jornais na manhã que antecedeu o início desse julgamento pode ter acreditado que o ministro do STF José Antonio Dias Toffoli irá ceder às pressões midiáticas e se declarar impedido de julgar.
O fato é um só: tudo isso, toda essa superprodução do julgamento do mensalão, não passa de  produto do medo. Pense bem, leitor: se a condenação dos “mensaleiros” (assim, indistintamente, sem estabelecer as mais que evidentes inocências e gradações de culpa) fosse tão certa, por que a mídia faria tanta pressão? Seria só esperar as condenações e correr pro abraço, certo?
Está tudo muito longe disso. Aliás, ao pôr o ministro do STF Marco Aurélio Mello para falar em hipótese sobre a Corte que integra vir a ter que analisar um suposto impedimento de Toffoli que poderia ser pedido por uma das partes do processo (acusação ou defesa), o Jornal Nacional só quis semear o discurso que adotará caso José Dirceu seja absolvido –  dirá que o STF amaciou para ele.
A Globo quis demonstrar, também, que haveria ressonância no STF à tese de impedimento de Toffoli e que, portanto, poderia arrancar esse impedimento. Talvez até pudesse. Já se sabe que a acusação (leia-se Roberto Gurgel, procurador-geral da República) atua em consonância com a mídia e a oposição e, assim, poderia propor àquela Corte uma votação sobre a participação de Toffoli.
Gurgel não fará isso e a própria mídia reconhece. E não fará porque, primeiro, se fizer poderá atrasar o início do julgamento do mensalão e, assim, perder o voto tido como “certo” pela condenação de Dirceu que é imputado ao ministro Cezar Peluzo, que terá que se aposentar ao completar 70 anos, em 3 de setembro.
Em segundo lugar, além de correr o risco de jogar o julgamento do mensalão para depois das eleições se tentar impedir Toffoli, o conclave entre mídia, oposição, Procuradoria Geral da República e parte dos ministros do Supremo sabe muito bem que não é só Gurgel que pode pedir o impedimento de um dos juízes.
Analisando sob hipótese, o eventual impedimento de Toffoli teria como conseqüência um pedido de mais de um dos réus do processo para impedir o ministro Gilmar Mendes, cujo impedimento ético, pelos critérios da mídia, é bem maior do que o do ministro que a direita midiático-judicial não quer que julgue porque acha que votará a favor de Dirceu.
Não é à toa que a mídia esconde os questionamentos que estão sendo feitos à participação de Gilmar Mendes no julgamento do mensalão.
Há mais: a recente polêmica entre Gilmar e Lula em que aquele acusou este e foi desmentido por Nelson Jobim, as críticas e denúncias públicas todas que Gilmar fez ao governo Lula durante sua vigência – e que faz até hoje – e a própria condição de também ter integrado o governo federal dos adversários do PT são motivos tão bons quanto os que há contra Toffoli.
A mídia tem é medo. Medo da absolvição de José Dirceu. Acima da absolvição de qualquer outro “mensaleiro”, a do ex-chefe da Casa Civil afastaria o caso de Lula e desmontaria, de maneira irremediável, a tese sobre esquema do governo anterior para comprar apoio no Congresso.
A absolvição de Dirceu é um cenário impensável para a mídia. Arrasaria o que resta – se é que resta – de sua credibilidade junto ao povo. A mídia deu um rosto ao mensalão e esse rosto é o do ex-ministro. Ele tem que ser condenado a qualquer preço. Nenhuma outra condenação poderia, no entender da mídia, mudar a opinião do povo sobre o governo Lula
A mídia costuma confundir opinião publicada – que chama de “opinião pública” – com a opinião do povo sobre Lula e seu governo revolucionário que pôs o Brasil entre as grandes potências mundiais, que melhorou a vida do povo brasileiro como nunca antes na história deste país e que até hoje é aprovado com entusiasmo por esse povo.
O povo já julgou o mensalão, sim. A mídia diz que julgou e condenou os “mensaleiros”, mas isso é outra tremenda bobagem. Se o povo desse bola pra isso não teria reeleito Lula em 2006 e, em 2010, não teria votado em quem ele indicou para suceder a si mesmo. A condenação de Dirceu não retiraria os ganhos sociais e econômicos que Lula gerou ao povo brasileiro.
O clima de juízo final para o PT, por fim, é a mãe de todas as bobagens. Como diz Paulo Henrique Amorim, o mensalão “não passa de Resende”. Ou seja, não passa de São Paulo. Sim, acho que torna mais difícil a situação de Fernando Haddad, mas acho que é até bom que ele seja confrontado duramente com o mensalão durante a campanha.
Não entendeu, leitor? Explico: está acontecendo o seguinte: a mídia está promovendo uma avalanche de acusações contra o PT pelo mensalão e se o partido levasse esse tema para o espaço considerável que terá na mídia durante o horário eleitoral gratuito no rádio e na TV poderia ser questionado na Justiça Eleitoral por desvio do objetivo daquele espaço.
Agora, se os adversários de Haddad usarem o julgamento contra ele obviamente que terá o direito de se defender. As tentativas que serão feitas de criminalizar todo o PT por conta de membros do partido que estarão sendo julgados permitirá a ele não só obter seguidas vitórias na Justiça Eleitoral, mas usar o horário eleitoral para dizer o que a mídia não deixa.
Entre 2005 e 2006, este blog foi firme ao dizer que a mídia daria com os burros n’água ao achar que poderia ir sangrando Lula até chegar a eleição para, então, eleger o tucano de plantão que com ele disputaria a Presidência. Agora eu repito: os prejuízos eleitorais ao PT que o julgamento do mensalão causará serão bem localizados (São Paulo).
Para concluir análise sobre o quadro político que começou como análise do impedimento ou não de Toffoli, entra em pauta um fato sobre o qual a mídia já refletiu muito: a eventual absolvição de Dirceu. Se for condenado, o mundo continuará tão longe de acabar para o PT quanto está hoje. Para a mídia, porém, sua absolvição será um cataclismo, uma tragédia.