Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Indígena dá um pito em repórter da Globo News





A opinião econômica particular vendida como de interesse geral

 
O jornalismo econômico brasileiro, a exemplo do norte-americano, está dominado pela opinião de economistas de bancos e de grandes corporações. Eventualmente, aparece um professor ou um especialista independente para fazer algum comentário, mas em tempo ou espaço suficientemente curtos para não permitir mais do que legitimar a presença dominante dos primeiros nos noticiários de jornal e televisão. Com isso a sociedade acaba com uma visão distorcida da economia política, mascarada que fica pelo viés dos negócios de curto prazo.
Galbraith, com sua fina ironia, costumava dizer que, em matéria econômica, não se devia levar muito a sério a opinião de quem tem interesse próprio em jogo. Ainda há pouco assisti no Jornal da Globo a uma “especialista” culpando o intervencionismo do Governo pela queda das ações das empresas do setor elétrico: ela estava visivelmente indignada com a decisão governamental de reduzir as tarifas elétricas, afetando a rentabilidade das empresas do setor, e não fez qualquer menção ao que isso representava de positivo para a sociedade e a economia. Claro, ela ou sua empresa certamente tem ações das elétricas!
Sou de um tempo em que, no jornalismo econômico, se separava claramente negócios de economia política. Fui subeditor de economia do Jornal do Brasil na segunda metade dos anos 70, e, depois, repórter de economia da Folha na primeira metade dos anos 80: não me lembro de uma única vez, nesses dois jornais, em que, por iniciativa própria ou por instrução da direção, tenha entrevistado um economista de banco. É verdade que, na cobertura de bolsa, havia repórteres que se referiam a “fontes” não identificadas para empurrar ações para cima ou para baixo. Mas isso não era economia política. Era corrupção mesmo.
Em 1978, meu editor no JB era Paulo Henrique Amorim. Ele tirou as greves do ABC das páginas de Polícia e as trouxe para a Economia. Fui encarregado de editá-las. Foram 40 dias e 40 noites de greve, o tempo das chuvas de Noé, em plena ditadura. A gente sentia que era algo importante, mas não podíamos adivinhar que ali estava o início do fim do autoritarismo. Quais eram os nossos entrevistados na época? Empresários com liderança no setor, líderes trabalhistas, economistas independentes, professores, ex-ministros, autoridades etc etc. Não se ouvia economista de banco que viesse a defender como se fosse de interesse geral assunto de seu interesse.
Na imprensa norte-americana, quando alguém que tem interesses específicos trata de assuntos econômicos de interesse geral, é costume identificá-lo como interessado imediato. Há um certo escrúpulo em misturar as duas coisas. Claro, ninguém põe em dúvida que um jornal de direita, como Wall Street Journal, ou liberal, como The New York Times, defendam no essencial os interesses capitalistas. Mas isso é feito abertamente, nas páginas editoriais, e não de forma camuflada numa entrevista ou num artigo vendido como de interesse geral. Nesse último caso, prevalece a opinião dos ideólogos, não dos economistas de mercado.
Há uma diferença sutil entre as duas formas de jornalismo: uma coisa é deduzir o interesse específico do interesse geral, e outra, bem diferente, é inferir o interesse geral a partir do interesse específico. No primeiro caso, há uma justificação ideológica de princípio do interesse particular no contexto mais amplo do capitalismo. É a forma padrão americana. Noutro, há uma racionalização do interesse geral a partir do particular. Trata-se de um jornalismo econômico mais primitivo que se traduz por uma manipulação ideológica disfarçada já que evita apresentar-se como defesa pura e simples do sistema capitalista.
Há um nível de manipulação ideológica menos disfarçado, sobretudo em televisão, quando âncoras de noticiário assumem, eles próprios, a “interpretação” das notícias dando-lhes maior ou menor ênfase de acordo com seu juízo subjetivo. Sabemos que aquilo é um teatro, pois tudo foi preparado e escrito previamente, mas da forma como aparece na tela o teatro sugere o mundo real.
Aqui, de novo, é o Jornal da Globo (tardio, portanto mais dedicado às elites) que me vem à mente: ao noticiar a inflação do ano passado, William Waack, que pessoalmente não parece entender nada de economia (sei disso porque trabalhamos um curto espaço de tempo juntos, no passado), fez um editorial agressivo contra o Governo, como se tivesse havido total descontrole dos preços. No entanto, como se sabe, a inflação esteve perfeitamente dentro da normalidade em função das margens da meta. A diatribe não passou de uma agressividade gratuita em relação a uma política econômica que, se não está totalmente correta, pode ser consertada numa direção que, por certo, não é a direção que William Waack quer.
J. Carlos de Assis, Economista, professor de Economia Internacional da UEPB, autor, entre outros livros, de “A Razão de Deus”, editado pela Civilização Brasileira.

UMA DIREITA À PROCURA DE UM PAÍS



A  direita brasileira está à procura de um país em que faça sentido restaurar a ortodoxia e pedir votos; escalpelar a sociedade e obter o seu apoio, ao mesmo tempo e com igual intensidade. Desqualificar moralmente o PT e suas lideranças históricas foi a primeira tentativa de reconciliar a corda e o pescoço. O diretório midiático rapidamente entendeu:  sem fuzilar Dilma naquilo que a distingue, a reordenação do investimento em plena crise mundial, seria quase operar como cabo eleitoral da reeleiçao .O 'caos econômico'  instalou-se então no generoso espaço das manchetes antes reservado à AP 470. A crise mundial de fato produz o enfraquecimento fiscal do Estado, que arrecada menos e gasta mais. Mas também adiciona notável transparência aos conflitos de interesses.O conjunto  torna inteligível e pertinente para toda a sociedade discutir a questão básica do desenvolvimento: produzir o quê, para quem, a que custo e como? Essa é a agenda que pode devolver ao governo a limpidez de um discurso mobilizador, que não apenas legitima suas iniciativas, como abre espaço para ir além, subtraindo terreno ao alarmismo fiscalista e regressivo. (LEIA MAIS AQUI)


O suicídio da imprensa brasileira


A imprensa brasileira está sob risco de desaparição e, de imediato, da sua redução à intranscendência, como caminho para sua desaparição.

Mas, ao contrário do que ela costuma afirmar, os riscos não vem de fora – de governos “autoritários” e/ou da concorrência da internet. Este segundo aspecto concorre para sua decadência, mas a razão fundamental é o desprestígio da imprensa, pelos caminhos que ela foi tomando nas ultimas décadas.

No caso do Brasil, depois de ter pregado o golpe militar e apoiado a ditadura, a imprensa desembocou na campanha por Collor e no apoio a seu governo, até que foi levada a aderir ao movimento popular de sua derrubada.

O partido da imprensa – como ela mesma se definiu na boca de uma executiva da FSP – encontrou em FHC o dirigente politico que casava com os valores da mídia: supostamente preparado pela sua formação – reforçando a ideia de que o governo deve ser exercido pela elite -, assumiu no Brasil o programa neoliberal que já se propagava na América Latina e no mundo.

Venderam esse pacote importado, da centralidade do mercado, como a “modernização”, contra o supostamente superado papel do Estado. Era a chegada por aqui do “modo de vida norteamericano”, que nos chegaria sob os efeitos do “choque de capitalismo”, que o país necessitaria.

O governo FHC, que viria para instaurar uma nova era no país, fracassou e foi derrotado, sem pena, nem glória, abrindo caminho para o que a velha imprensa mais temia: um governo popular, dirigido por um ex-líder sindical, em nome da esquerda.

A partir desse momento se produziu o desencontro mais profundo entre a velha imprensa e o país real. Tiveram esperança no fracasso do Lula, via suposta incapacidade para governar, se lançaram a um ataque frontal em 2005, quando viram que o governo se afirmava, e finalmente tiveram que se render ao sucesso de Lula, sua reeleição, a eleição de Dilma e, resignadamente, aceitar a reeleição desta.

Ao invés de tentar entender as razoes desse novo fenômeno, que mudou a face social do pais, o rejeitou, primeiro como se fosse falso, depois como se se assentasse na ação indevida e corruptora do Estado. A velha mídia se associou diretamente com o bloco tucano-demista até que, se dando conta, angustiada, da fragilidade desse bloco, assumiu diretamente o papel de partido opositor, de que aqueles partidos passaram a ser agregados.

A velha mídia brasileira passou a trilhar o caminho do seu suicídio. Decidiu não apenas não entender as transformações que o Brasil passou a viver, como se opor a elas de maneira frontal, movida por um instinto de classe que a identificou com o de mais retrogrado o pais tem: racismo, discriminação, calunia, elitismo.

Não há mais nenhuma diferença entre as posições da mídia – a mesma nos principais órgãos – e os partidos opositores. A mídia fez campanha aberta para os candidatos à presidência do bloco tucano-demista e faz oposição cerrada, cotidiana, sistemática, aos governos do Lula e da Dilma.

Tem sido a condutora das campanhas de denúncia de supostos casos de corrupção, tem como pauta diária a suposta ineficiência do Estado – como os dois eixos da campanha partidária da mídia.

Certamente a internet é um fator que acelera a crise terminal da velha mídia. Sua lentidão, o fato de que os jovens não leem mais a imprensa escrita, favorece essa decadência.

Mas a razão principal é o suicídio politico da velha mídia, tornando-se a liderança opositora no pais, editorializando suas publicações do começo ao final, sendo totalmente antidemocráticas na falta de pluralismo sequer nas paginas de opinião, assumindo um tom golpista histórico na direita brasileira.

Caminha assim inexoravelmente para sua intranscendência definitiva. Faz campanha, em coro, contra o governo da Dilma e contra o Lula, mas estes tem apoio próximo aos 80%, enquanto irrisórias cifras expressam os setores que assimilam as posições da mídia.

Uma pena, porque a imprensa chegou a ter, em certos momentos, papel democrático, com certo grau de pluralidade na história do pais. Agora, reduzida a um simulacro de “imprensa livre”, ancorada no monopólio de algumas famílias decadentes, caminha para seu final como imprensa, sob o impacto da falta de credibilidade total. Uma morte anunciada e merecida.
Postado por Emir Sader

O fiasco do ato contra Lula em SP e a ojeriza do brasileiro à política


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Claro que foi risível o fiasco dos 20 gatos pingados que foram à avenida Paulista no domingo para insultar o ex-presidente Lula e o PT. A quantidade de piadas possíveis sobre essa iniciativa ridícula é imensurável e está fazendo a festa de quem se indignou com aquela cretinice.
Todavia, à luz de recente ato público de apoio ao adiamento da posse do presidente Hugo Chávez, na Venezuela, o qual levou centenas de milhares, se não milhões às ruas, há que refletir sobre um fenômeno tipicamente brasileiro.
É mentira que o brasileiro não vai à rua. Vai, sim, só que apenas se for em causa própria.
Recentemente, perguntei a lideranças da CUT e do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC) por que ainda não se mobilizaram pela causa da regulação da mídia, que defendem. Afinal, ao menos a central sindical já conseguiu pôr dezenas de milhares na rua.
Os movimentos sociais e os sindicatos que entendem quão prejudiciais são os oligopólios de comunicação me responderam que não existe “massa crítica” para gerar manifestações de rua por esse tema.
O próprio Movimento dos Sem Mídia, fundado aqui neste blog, já conseguiu pôr centenas de pessoas na rua contra o engajamento político da imprensa dita “isenta”, como no caso da manifestação da ONG em 2009 contra editorial da Folha de São Paulo que disse que a ditadura militar brasileira teria sido “branda”.
Contudo, manifestações de 500 pessoas ou mesmo de 20, 30 mil como as que a CUT já logrou organizar para reivindicar salários etc. seriam vistas como piadas em países como Venezuela, Bolívia, Equador, Argentina e outros países politizados.
Os raros exemplos de sucesso de manifestações públicas de massas no Brasil residem entre os homossexuais e os evangélicos, que arrastam milhões de pessoas para tais iniciativas.
Aliás, verdade seja dita, nos países politizados desta região até a direita consegue pôr gente na rua, haja vista recente manifestação contra o governo na Argentina ou as marchas da oposição venezuelana menores do que as do chavismo, sim, mas, ainda assim, gigantescas.
O que acontece com o nosso povo? Por que somos tão engajados em causas de interesse de todos apenas na internet, mas sempre arrumamos um “compromisso de última hora” quando somos convocados a ir à rua defender aquilo em que acreditamos?
Os retardados que convocaram a manifestação contra Lula somaram quase duas mil pessoas no Facebook, mas a desculpa deles para não terem ido à avenida Paulista dizerem seus insultos contra o ex-presidente foi a de que “estava chovendo”…
No mesmo dia do ato dos “cansados” paulistanos, entre 300 mil (segundo a polícia) e 800 mil (segundo os manifestantes) foram à rua em Paris para protestar contra o “casamento” gay. A França, aliás, a exemplo de vários outros países europeus é palco constante de manifestações enormes.
Ir à rua protestar ou reivindicar, portanto, não é coisa de país subdesenvolvido. Muito pelo contrário, denota a preocupação dos povos em transformar retórica em ações.
Seja contra Lula, seja contra mídia, seja pelo que for – até mesmo por reivindicações que beneficiem os manifestantes –, o brasileiro demonstra comodismo e covardia.
Em 2011, a grande mídia tentou pôr gente na rua para protestar contra Lula, o PT e o governo Dilma. Impérios de comunicação martelaram convocações diuturnamente e colheram mais fiascos.
Os poucos que os grandes meios de comunicação conseguiram mobilizar, mobilizaram-se porque tais meios financiaram transporte, lanches e até pagamentos em dinheiro. Fui a algumas dessas manifestações e descobri que muitos nem sabiam por que estavam lá.
Já tentaram explicar essa apatia do brasileiro devido à ditadura, que teria atemorizado o nosso povo em relação a se mobilizar por causas políticas. É bobagem. A Argentina viveu uma ditadura mais sangrenta do que a brasileira e aquele povo se mobiliza o tempo todo.
A explicação me parece ser ojeriza do nosso povo à política. As manifestações se tornam ainda mais inviáveis quando convocadas sob tal mote.
A direita midiática, ao longo da segunda metade do século XX, trabalhou duro para gerar essa visão deturpada do povo sobre política. Nesse processo, porém, não atingiu somente a esquerda, mas a ela mesma. Hoje, aliás, a direita consegue mobilizar ainda menos gente do que a esquerda.
Esta, porém, tem instrumentos para sobrepujar a direita em mobilizações populares. Os movimentos sociais e os sindicatos estão quase que cem por cento no lado esquerdo do espectro político. Nesse ponto, surge o segundo grande inimigo da mobilização cidadã.
O comodismo explica por que pessoas politizadas e conscientes resistem a ir à rua expor suas demandas, apoios e repúdios. Esse, portanto, é o grande inimigo que é preciso combater a fim de pôr na agenda do país causa tão urgente quanto a democratização da comunicação.
Venho dizendo isso desde 2007, quando, neste blog, propus o primeiro ato público do Movimento dos Sem Mídia diante da Folha de São Paulo, que, surpreendentemente, reuniu quase 300 pessoas: ninguém muda um país sentado diante de um computador.