Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

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segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Revolta contra a revista Veja por induzir estudantes a serem expulsos do ENEM



A revista Veja virou alvo de críticas nas redes sociais após publicar em seu perfil no Twitter (@VEJA) um polêmico post entendido como incitação a violar regras do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), com potencial para vazar o conteúdo da prova, durante sua realização, antes de seu término.

O post, publicado no domingo (4), uma hora antes do início da prova, dizia: "Compartilhe fotos do Enem no Instagram: #VEJAnoEnem. As melhores serão exibidas em VEJA".

O uso de celular e câmeras é proibido nos locais da prova, conforme o edital do exame. No sábado, 37 alunos foram desclassificados por infrigirem esta regra.

A revista se defende dizendo que convidou os internautas a enviar fotos sobre o Enem, e não da prova do Enem.  No entanto, no Twitter, os estudantes foram duros nas críticas à revista entendendo que estava induzindo-os a ser expulso do Enem:

Alguns comentários dos internautas sobre o caso:

Fe Príncipe ‏@itsfeprincipe
E depois seja eliminado da prova RT @VEJA Compartilhe fotos do Enem no Instagram: #VEJAnoEnem. As melhores serão exibidas em VEJA"

Luan da Costa ‏@LuanCostapb
Seja babaca e tenha sua prova anulada seguindo as orientações da toda poderosa @VEJA . #VEJAnoENEM

Carlos Eduardo Felix ‏@ceduardofelix
Se vc tirou foto da PROVA do ENEM por causa de um post da @VEJA, vc é um imbecil que nem merecia estar na sala de prova. #VEJAnoEnem

Luan da Costa ‏@LuanCostapb
mais um desserviço da na querida @VEJA #VEJAnoENEM . e agora ? o q vão argumentar?

Guilherme Athaide ‏@guiathaide
@Veja disse q pessoas foram desclassificadas por fotografarem o enem e pedem para estudantes fazerem isso p vcs #pqfazissoveja? #vejanoenem

Anita Silveira ‏@anitasilveira
#VEJAnoEnem dando lições de atrocidade. depois a culpa é MEC. que absurdo

Jardinho ‏@jaderplanob
e seja eliminado da prova RT @VEJA: Compartilhe fotos do Enem no Instagram: #VEJAnoEnem. As melhores serão exibidas http://goo.gl/e2wq1 Seguido por Reserva Cultural

"É difícil acreditar que isso foi escrito de forma inocente", diz professora

A coordenadora de língua portuguesa e professora de redação do Cursinho da Poli, Caroline Andrade, foi ouvida pelo site Universia e questionou a atitude da revista Veja: "é difícil acreditar que isso foi escrito de forma inocente, porque gera uma ambiguidade enorme e nenhum veículo midiático escreve sem um propósito. Se a publicação não agiu de má fé, ela acabou sendo até inocente na maneira como ela construiu nessa frase". (com informações do Universia, aqui, aqui e aqui)

Os horroristas brasileiros.Sobre os humoristas brasileiros



O Brasil, conforme constatou agudamente um leitor do Diário, tem uma esquisitice humorística: os comediantes são reacionários. Não vou entrar no fato de que são essencialmente sem graça. Me atenho apenas ao conservadorismo. Comediantes, como artistas em geral, costumam, em todo o mundo, ser progressistas. Eles quase sempre têm uma forte consciência social que os leva a criticar situações de grande desigualdade e a ser antiestablishment.

Os comediantes brasileiros fogem da regra, e esta é uma das razões pelas quais são tão sem graça. Marcelo Madureira é um caso extremo de conservadorismo petrificado e completo alinhamento com o chamado “1%”. Marcelo Tas é outro caso. De Londres, não o acompanhei, mas ao passar algumas semanas no Brasil, agora, pude ver – sem sequer assistir a um episódio de seu programa – o quanto ele é mentalmente velho.

O que o CQC fez a Genoino em nome da piada oscila entre o patético, o ridículo e o grotesco. Não me refiro apenas ao episódio em si de explorar o drama de Genoíno. Também a sequência foi pavorosa. Vi no YouTube Tas ter uma disenteria verbal ao falar de Genoino. Corajosamente, aspas, chamou-o repetidas vezes, aos gritos, de “mequetrefe”.

Não sou petista.

Jamais votei uma única vez em Genoíno.

Mas Tas tem condições morais — e conhecimento, pura e simplesmente —  para julgar e condenar Genoíno?  Várias vezes ele diz que Genoíno foi condenado pela justiça. E daí? Quem acredita na infalibilidade da justiça brasileira acredita em tudo, como disse Wellington.

O que me levou a procurar Tas no YouTube foi uma mensagem pessoal que recebi de Ana Carvalho. Ela estava no local em que houve a confusão entre o humorista Oscar Filho e amigos de Genoino. Ana acabou sendo citada num texto que OF escreveu, e ficou tão indignada que decidiu escrever sua versão dos fatos numa carta aberta que ela, cerimoniosamente, me pediu que lesse. Li. Primeiro, ela esclarece: ao contrário do que OF escreveu, ela não é militante do PT. Estava apenas votando, com a família, no lugar do tumulto, e tentou ajudar a serenar os ânimos,  como boa samaritana.

Ana relata o que ouviu, na refrega, do produtor do CQC e de Genoino. Do produtor, berros que diziam que os “mensaleiros filhos da puta” iam ser punidos: em vez de um minuto, o programa falaria horas do caso. De Genoíno, ela ouviu: “Calma, calma, sem bater, sem bater”. Mas quem publicaria o que ela ouviu? Essa pergunta Ana fez a si mesma, e é um pequeno retrato da maneira distorcida com que a grande mídia trata assuntos de política no Brasil. A resposta é: ninguém. Nem Folha e nem Estadão e nem Veja e nem Globo publicariam o relato de Ana – embora ela fosse testemunha privilegiada da confusão.

Há formas e formas de violência. O que o pessoal do CQC fez foi uma violência mental, uma tortura. Não faz muito tempo, o mundo soube que presos nos Estados Unidos tinham sido torturados com sessões de música ininterrupta da série Vila Sésamo. Vinte e quatro horas, sete dias por semana. (O autor ficou perplexo com o uso dado a sua canções tão inocentes.)

O que o CQC fez tem um nome: tortura moral. Humor não é isso. Citei, em outro artigo, os repórteres do Pânico que invadiram o funeral de Amy Winehouse para fazer piada. Tivessem sido pilhados, terminariam na cadeia – e teriam formidável dificuldade para convencer a justiça londrina de que a liberdade de expressão, aspas, os autorizava a fazer o que fizeram.

Humor sem graça, como o feito no Brasil, é um horror. Mas consegue ficar ainda pior quando à falta de espírito se junta um reacionarismo patológico, uma completa desconexão com o povo brasileiro, e este é o caso de Marcelo Tas e seu CQC.