Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

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segunda-feira, 16 de setembro de 2013

O Brasil é pensado “dentro da caixa”

caixa


Nos anos 70, os estudiosos de marketing e administração criaram a expressão “pensando fora da caixa” para definir o que rompia a maneira convencional de encarar os problemas. E achava, por isso, soluções.
Nós, no Brasil, estamos com o nosso pensamento – salvo em raros momentos – sempre dentro de uma caixa de onde jamais nos libertamos.
Essa talvez seja a mais cruel e duradoura herança dos anos da ditadura neoliberal, que não penas persiste nas mentes conservadoras como acabou sendo absorvida por parte do pensamento progressista, que repete, sem compreender bem (e às vezes compreendendo, mas aceitando a lógica do conservadorismo) as “verdades” que em alguma tábua dos mandamentos estranha foram definidas como regra das relações sociais, a economia entre (e à frente) elas.
São inúmeros os exemplos disso, a começar pelo “tripé metas de inflação – superávit primário – câmbio flutuante”, que até Marina Silva anda repetindo.
Violar qualquer destes mandamentos é menos que um heresia, uma atitude demoníaca ou alucinada de irresponsáveis.
graficosicsu1Mas é só olhar os fatos e ver que essa cantilena de que a “inflação em alta” ameaça a “conquista da estabilidade econômica” que se repete todo santo dia. Uma olhadinha no gráfico ao lado mostra que, deste o estabelecimento da banda de variaçÑao inflacionária, quem as estourou foi o governo FHC e, com a escalada de preços que deixou, contaminou o primeiro ano de governo Lula.
De lá para cá, jamais se rompeu o teto das previsões. E você ppode reparar na ilustraçao que nao se elevou teto para que a perda de valor da moeda ficasse abaixo dele.
Idem, idem o tal do superavit primário, a economia que fazemos para pagar juros e tentar amortizar parte de nossa dívida pública.
gastos2Se é esse o seu fim, o tamanho do superávit necessário depende do volume e do custo (taxa de juros) desta dívida.  Sobre a comparação entre os juros do período do PSDB e os governos Lula-Dilma, nem é preciso falar. E do volume da dívida (em relação ao Produto interno Bruto, basta olhar o gráfico ao lado para ver que, com superávits imensos, crescia a dívida com Fernando Henrique, enquanto agora ela diminui.
O Brasil tem uma dívida pública lìquida (dívidas menos ativos financeiros) de 34%. Os EUA, 90%. Os países da Zona do Euro, idem.
Por último, o câmbio.
Você lembra do famoso um real = um dólar do início do Governo Fernando Henrique? Do início, não vamos falar do dólar acima de R$ 3 que ele deixou ao final…
Se corrigirmos o real pela inflação, aquele mesmo real valeria hoje R$ 4,75, enquanto aquele dólar, pela inflação americana, valeria hoje US$ 1,49. Ou seja, um dólar valeria R$ 3,17. Não é menos do que isso que está valendo, mesmo com a recente alta? É claro que essa taxa é hoje – como era naquele 1995 – ainda baixa para o equilíbrio comercial brasileiro.
Como se vê, ponto por ponto, onde está a história do “desmonte” do tripé econômico?
Mas você, caro leitor, escuta isso todo dia, repetido como um mantra.
Temos uma crosta intelectual que sufoca qualquer pensamento dissidente.
Começamos, até fora do campo conservador,  a nos pautar por estes indicadores, a pensar dentro desta caixa monetária e financeira.
E esquecemos que a finalidade da polìtica econômica é desenvolver o país, elevar a renda de seu povo, melhorando sua distribuição com impostos e “anti-impostos”, os programas de transferência de renda, dotando o país de infraestrutura, de serviços públicos de qualidade.
Quando o raciocínio dos homens públicos segue a lógica do capital, é ao capital que ele beneficia.
Ninguém, por obvio, está sugerindo “chutar baldes” em matéria de expansão monetária, de austeridade fiscal, de sobressaltos em matéria cambial.
Mas o tripé verdadeiramente capaz de desenvolver o país é outro: investimento, produção e consumo.
Por: Fernando Brito

O DAY AFTER DE UMA 4ªFEIRA PARA NÃO ESQUECER


Duas decisões com potencial para alterar o equilíbrio da disputa política no país se superpõem nesta semana e num mesmo dia. Na quarta-feira,18, um Brasil em suspenso acompanhará o voto de desempate do ministro Celso de Mello, sobre o acolhimento de embargos infringentes na AP 470. A questão que dividiu o Supremo num tenso ombro a ombro de 5 X 5 na última semana, vem  emoldurada por uma avalanche conservadora, que  tenta alterar a previsível disposição do decano do STF de acatar o recurso dos réus. Um duo afinado de decibéis midiáticos e  fígados togados, cujos não hesitam em atropelar a coerência jurídica para destilar a bile ideológica contra o PT, a esquerda e o ‘comunismo', exercita o passo de ganso das falanges regressivas de triste memória na vida nacional. As próximas 72 horas serão ilustrativas do que eles são capazes, se é que ainda há alguma dúvida sobre isso. A reportagem de Carta Maior testemunhou aplausos no recinto do STF na última 5ª feira, após o gorduroso voto conservador de Gilmar Mendes. A claque vinha do recinto reservado à  imprensa. Repita-se, jornalistas que reportam o julgamento na mídia conservadora exibiram uma ruidosa identidade com a peroração excretada pelo extremismo togado.  Não por acaso esta página alertou, no mesmo dia, que a suspensão dos trabalhos determinada por Joaquim Barbosa era uma ardilosa tentativa de emparedar Celso de Mello nas turquesas do 12º ministro do Supremo, e talvez o de maior influência no tribunal: a mídia conservadora. A eventual decisão do decano de preservar a biografia, acolhendo os embargos, não deve iludir. O day after da 4ª feira não será de trégua: nem da parte dele -um centurião, ao lado de Mendes e Barbosa, na beligerância ímpar contra o PT; nem da mídia, inconsolável. Não cometerá erro quem tabular no computo dessa luta sem quartel, a cobertura, ou melhor, a torcida conservadora pelo fracasso das licitações de ferrovias, estradas e portos, que terão um round decisivo igualmente nesta 4ª feira, 18. Considere-se que o governo foi ao limite nas concessões para atrair capital privado. Em alguns casos, a ancoragem de dinheiro público chega a 85% do valor do investimento. O coro mercadista insiste: 'é pouco'. Ora se acusa o governo de intervencionista, ao fixar prazos, custos e tarifas de obras públicas, majoritariamente financiadas pelo Estado; ora se reclama que ‘ainda há riscos' nos projetos. Onde querem chegar os liberais de um capitalismo ao mesmo tempo sem risco e sem Estado? O PT e o governo não devem se iludir com o resultado dos leilões ou com o voto de Celso de Mello nesta 4ª feira. Serão bem-vindos, se favoráveis. E podem alterar a balança da disputa imediata rumo a 2014. Mas não revogam a agenda principal: é preciso reforçar a democracia no país, em todas as suas dimensões, inclusive no acesso amplo à informação plural,para evitar  que eles arrastem a Nação ao verdadeiro ponto onde querem chegar.