Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Indústria de mentiras antipetistas inventa filme sobre José Dirceu

Eduguimarães
farsa dirceu capa
Estamos vivendo um momento surreal no Brasil. Qualquer boato contra o PT, contra Dilma Rousseff ou Lula, por mais absurdo que seja, vira verdade nas redes sociais e se espalha como fogo. As invencionices ganham as ruas e são comentadas nos mais diversos ambientes sociais.
Durante o Carnaval, meliantes criaram boato sobre confisco de cadernetas de poupança da Caixa EconômicaFederal. A denúncia se espalhou pela rede WhatsApp e, em questão de horas, pelo Brasil todo já se falava do assunto.
Quando o ministério da Fazenda emitiu desmentido (tímido) em nota pouco divulgada justamente nas redes sociais em que a mentira foi espalhada – as pessoas parecem mais propensas a compartilhar mentiras do que verdades –, de norte a sul do país as pessoas entravam em pânico.
Na semana passada, a revista Veja publicou matéria afirmando que o ex-presidente Lula iria dar uma festa de aniversário para um “sobrinho de três anos chamado Thiago” ao custo de 220 mil reais, com o detalhe de que cada convidado ganharia um I-Pad de presente. Claro que nem o ex-presidente tem esse sobrinho nem a festa é verdadeira.
Até o momento, porém, não há notícia de desmentido por parte da revista.
Mas para quem está nas redes sociais, sobretudo no Facebook ou no WhatsApp, esse tipo de farsa não é novidade. Todo dia há mentiras absurdas, algumas com alguma sofisticação, outras grosseiras.
No último dia 19, porém, um perfil no Facebook publicou uma invenção tão inacreditável que chega a surpreender mesmo em um quadro de proliferação de farsas como o que estamos vivendo.
farsa dirceu 1
O perfil em questão está ativo. A farsa contém uma “informação” estarrecedora. Veja o que o autor escreveu:
farsa dirceu 2
que é curioso é que, apesar dos 5.055 compartilhamentos, apenas 15 pessoas curtiram e só dez comentaram. Incluindo o autor da postagem. Mesmo que os compartilhamentos sejam fajutos, aquela farsa continua lá e vai pegando incautos.
Claro que nem houve edição do Diario Oficial da União em 15 de fevereiro último nem o Ministério da Cultura poderia destinar 134 milhões de reais para um filme sobre José Dirceu, mas, como se vê na postagem, ao menos dez pessoas caíram na farsa. Isso se os 5.055 compartilhamentos forem falsos…
farsa dirceu 3
O dono do perfil diz ser ex-membro da Polícia Federal e residente no Rio de Janeiro. O nome que usa, Leonardo de Oliveira Coelho, coincide com o de um diretor do Sindicato dos Servidores do Departamento de Polícia Federal do Rio de Janeiro – SSDPF-RJ, mas nada garante que seja a mesma pessoa.
Esses golpes pululam aos milhares nas redes sociais. Sempre contra o PT, contra Dilma ou Lula. Não há esse tipo de coisa contra o PSDB, por exemplo. Há postagens críticas, mas não se vê essas invenções grosseiras.
Sobre o confisco da poupança, por exemplo, fui procurado por amigos e até por familiares querendo saber se havia alguma verdade na história. Há incontáveis relatos de leitores sobre seus parentes e amigos que acreditaram na farsa e tiraram suas economias da Caixa Econômica Federal.
O fato é que esse tipo de postagem nas redes sociais certamente responde por grande parte da queda de popularidade do governo e do próprio Partido dos Trabalhadores.
Durante a campanha eleitoral do ano passado, o PT, como faz a cada eleição, montou sites e perfis em redes sociais para desmentir essas farsas, mostrando que basta desmentir com eficiência para anular esse tipo de golpe. Porém, terminou a campanha e o PT, ingenuamente, desmontou seu aparato de combate a fraudes envolvendo seu nome e de seus expoentes.
Enquanto escrevo este post, milhares, talvez milhões de pessoas estão ajudando a difundir, muitas vezes de boa-fé, absurdos como confisco da poupança, festa milionária do “sobrinho de Lula”, financiamento milionário do governo Dilma a um filme sobre Dirceu – o que não falta é gente com cabeça fraca, por aí.
E que ninguém espere que órgãos de Estado combatam essas farsas. Como se sabe, há importantes policiais federais participando dessas correntes da mentira na internet. Alguns deles envolvidos em igualmente importantes investigações, como a Operação Lava Jato.
Mas será que um partido do porte do Partido dos Trabalhadores não tem recursos para montar uma equipe para desmentir e denunciar essas farsas e processar autores que as elaboram sabendo exatamente o que estão fazendo?
Se as autoridades quiserem, este Blog dispõe de um imenso arquivo de farsantes que, sob nomes obviamente falsos, passam seus dias na internet espalhando mentiras. Grande parte deles comenta aqui.  Seria um prazer denunciá-los.

Mídia brasileira oculta histórico golpista do prefeito de Caracas

ledezma

Olhando a situação política da Venezuela através dos relatos da parcialíssima grande imprensa brasileira, e sem maiores explicações sobre a história recente do país, as atitudes do governo venezuelano soam esdrúxulas e autoritárias. Porém, o contexto político daquele país justifica medidas que em situação de normalidade democrática seriam realmente inaceitáveis.

Na quinta-feira da semana passada, o prefeito de Caracas, Antonio Ledezma (59), foi preso pelo serviço de inteligência venezuelano (Sebin – Serviço Bolivariano de Inteligência) sob acusação de estar encabeçando preparativos para um golpe de estado através de um dito “plano Jericó”.

Assista, abaixo, à explicação do governo venezuelano sobre o plano golpista.

Ledezma era alvo de investigação havia mais de um ano sem que essa investigação fosse conhecida, e sua prisão foi levada a efeito sem apresentação de provas de seu envolvimento em um plano para derrubar o governo constitucional de Nicolás Maduro.

Curiosamente, no Brasil está em curso uma operação da Polícia Federal, agora encampada pelo Ministério Público e pela Justiça, que não perde em nada para a operação do serviço de inteligência venezuelano. A Operação Lava Jato encarcerou empresários sem apresentação de prova alguma justamente porque esse tipo de investigação é sempre conduzido em sigilo.

Sucedem-se os relatos sobre condições degradantes de encarceramento dos alvos da Lava Jato e sobre a falta de informações e apresentação de provas, tal qual ocorreu na Venezuela durante a prisão de Ledezma. Isso porque investigações e inquéritos como esse são levados a cabo em sigilo.

Então surgem as perguntas óbvias: como investigar alguém avisando-o de que está sendo investigado e por que a imprensa brasileira cobra apresentação de provas que, no Brasil, ainda são desconhecidas devido ao “segredo de justiça” envolvendo a Lava Jato?

Há duas vertentes na oposição venezuelana. Uma é encabeçada pelo candidato derrotado à Presidência Henrique Capriles Radonski e defende uma saída eleitoral e constitucional para chegar ao poder; outra tem como expoente o prefeito de Caracas, Antonio Ledezma, e prega, abertamente, que o poder seja tomado à força, porque acusa o regime bolivariano de fraudar eleições, comprar votos etc., o que centenas de observadores internacionais negaram tanto sobre a eleição presidencial de 2012, que Hugo Chávez disputou com Capriles antes de morrer, quanto sobre a de 2013, em que Maduro derrotou o mesmo Capriles.

Se a Venezuela vivesse uma situação de normalidade democrática como o Brasil seria defensável cobrar do governo daquele país uma condução mais serena e transparente dos processos contra opositores, já que, em princípio, usar o poder de Estado contra a oposição soa a autoritarismo. Porém, desde 2002 a Venezuela deixou de viver uma situação de normalidade democrática.

A imprensa brasileira apresentou o prefeito recém-encarcerado de Caracas como vítima inocente e indefesa de um regime truculento, mas não é bem assim.

Em fevereiro do ano passado, Ledezma defendeu publicamente a violência nos protestos contra o governo que deixaram 43 mortos e milhares de feridos. Ao longo do ano passado, houve quase uma guerra civil na Venezuela. Ocorreram mortes dos dois lados.

Ao lado do líder partidário Leopoldo Lopez e da ex-deputada Maria Corina Machado, Ledezma defendia abertamente que Maduro deveria deixar a Presidência sem citar processo de impeachment ou referendo revogatório como aquele a que Chávez se submeteu – e venceu –em 2004, dois anos após o golpe de Estado que sequestrou e encarcerou por 48 horas o presidente constitucional do país, até que o povo venezuelano cercasse os golpistas no Palácio Miraflores e exigesse a libertação de seu líder político.

Em janeiro deste ano, Ledezma foi signatário de um manifesto que considerava “inadiável” a deposição de Maduro em 2015. E como o texto não fazia menção a nenhum processo eleitoral para tirar o presidente do poder, contribuiu para a acusação de golpe sob a qual o prefeito de Caracas foi preso.

Contudo, o histórico golpista de Ledezma vem de bem antes.

Em abril de 2002, durante o fracassado golpe que tirou Chávez do poder, o atual prefeito caraquenho e um grupo de sicários sob seu comando invadiram a prefeitura do município de El Libertador – o principal município da Grande Caracas, que inclui o centro histórico da capital venezuelana – para derrubar pela força o prefeito Freddy Bernal, então aliado de Chávez, que estava sequestrado pelos golpistas.

Ledezma foi um dos artífices do golpe fracassado de 2002. Junte-se a isso a reiterada pregação que vem fazendo pela tomada do poder pela força e a atuação concreta para esse fim ao comandar protestos em que seus partidários pegaram em armas contra o governo no ano passado – do que resultaram dezenas de mortes de governistas e oposicionistas –, a forma como o prefeito caraquenho foi preso encontra justificativas.

Após a prisão de Ledezma, Maduro anunciou, publicamente, que, nesta segunda-feira (23), pretende apresentar ao mundo vídeos, áudios e “outras provas” de que Ledezma estava planejando executar plano que já anunciara publicamente de derrubar o regime sem detalhar por que forma isso seria feito.

A situação política sui-generis que vige na Venezuela, o histórico golpista da oposição, a atuação de Ledezma durante os protestos violentos de 2013 e 2014, tudo isso explica o cuidado do governo em prender o opositor para desarticular o que é verossímil que se julgue uma nova ofensiva golpista.

Claro que o governo venezuelano está obrigado a exibir ao mundo as provas que alega ter de que o tal “plano Jericó” não foi uma invenção para justificar atos de arbítrio, mas a história recente da Venezuela justifica medidas de exceção para manter a vontade que o povo daquele país manifestou em 2012 e confirmou em 2013.