Fui dar uma xeretada de novo nos arquivos da VEJA. Cheguei à edição de 24 de agosto de 2010, com Fernando Henrique Cardoso na capa com a chamada abaixo. Em meio a essa hedionda onda de boatos que anda varrendo o país no embalo da chamada "onda verde" que empurrou a eleição pro segundo turno, verifiquei coisas bastante curiosas.
Recomendo, inclusive, aos interessados, que voltem aqui por esses dias que estão por vir. A mesma edição traz enigmática matéria sobre a cruzada religiosa que se levanta em tempos de eleição. E também sobre o que a revista chamou de "central de boatos" montada, naquele ano, no Banco Central, então sob o comando de Gustavo Franco, todos eles atingindo o então candidato Lula e o PT. Não se trata de mera coincidência, evidentemente. Mas de reincidência de uma prática reprovável que desvia o foco do debate político que deve nortear uma eleição desse porte. Ocorre que nortear uma eleição pela conduta correta - do debate, do confronto de idéias - nunca foi o forte do PSDB, do DEM, e como veremos, a partir de hoje, de Fernando Henrique Cardoso e de José Serra, dois mitômanos que vêm sendo supostamente beneficiados por essa boataria impressionante que corre o país.
O PT há de reagir, e muito em breve. Valendo-se da verdade e do esclarecimento dos fatos. Não da prática da mentira mais sórdida, dos golpes mais sujos, da canalhice que despolitiza o momento histórico que vivemos, à beira de elegermos a primeira mulher presidente do Brasil, mantendo a condução exitosa dos oito anos de governo Lula.
Vamos à entrevista com FHC.
A revista faz uma pergunta ligeiramente inquietante para o então candidato:
"O senhor sabia que o empresário Sergio Motta, secretário-geral do PSDB e tesoureiro de sua campanha, pagou propinas para receber pagamentos atrasados do Estado?"
Responde FHC:
"Eu não tenho nenuma noção sobre o que o empresário Sergio Motta tenha feito aqui ou ali em suas empresas. Nunca soube que tenha feito pedidos para suas empresas, ele nunca me pediu que fizesse isso. Quem encontrar algum exemplo disso, que apresente...
Essa informação foi publicada por VEJA nesta semana e não foi desmentida. Que providência o senhor pode tomar?
Nenhuma. Isso não tem nada a ver comigo. Eu não tenho nenhuma relação com isso."
A revista provoca:
O senhor não vai nem perguntar a ele sobre isso?
Aí vem o patético...
"Posso perguntar. Mas eu não sou policial. Vocês investiguem bem o caso. (...). Se alguém tem uma informação e não anuncia, também é criminoso. Nesse terreno é preciso ser ao mesmo tempo firme e cuidadoso. Não dá pra jogar a honra dos outros na lama. (...)."
Vejam... daria para escrever uma tese sobre a postura falaciosa do ex-presidente que, ao que tudo indica, agora vai aparecer na campanha de José Serra, depois da eleição de Aloysio Nunes doPSDB em SP, que usou, à larga, sua imagem em toda a campanha para o Senado Federal.
Ele não é policial. O repórter da VEJA, que lhe fez a pergunta, também não é.
A
VEJA, pelo que se depreende da leitura da entrevista, teria seguido os conselhos de
FHC. Tinha as informações sobre
Sérgio Motta e as publicou. Mais: pela ótica do tucano - que disse que "poderia perguntar" sobre a denúncia - não seria ele, diante da denúncia e do pouco caso demonstrado, um criminoso também? Ao sugerir que é preciso ser
"firme e cuidadoso", vale a pergunta: estão sendo cuidadosos a imprensa e os próprios membros do
PSDB que dedicam-se, dia e noite, a jogar a honra de tantos na lama? Diga-se mais: quando se viu, no Brasil, tantos ataques, os mais baixos, publicados na imprensa, divulgados na televisão, disparados por gente que não guarda o mínimo respeito pela instituição Presidência da República? O que dizer, por exemplo, de uma das mais patéticas cenas da televisão brasileira, protagonizada pelo declaradamente tucano
Marcelo Madureira e
Diogo Mainardi (vejam essa nojeira
aqui) que, batendo palminha e rindo, chamaram o Presidente da República de
"vagabundo" e
"picareta"? O mesmo termo, aliás, usado pelo mestre dos dois -
FHC - ao se referir aos aposentados em episódio mais que conhecido.
Sérgio Motta, como se sabe, foi uma espécie de homem forte no governo FHC. Conduziu com mãos de ferro os processos criminosos de privatização. Falei em processo criminoso e quero levantar uma lebre que não é fruto de boataria, é fato.
Ao lado de Sérgio Motta na operação de arrecadação de fundos para a campanha de FHC esteve um homem chamado Ricardo Sérgio. Este último foi diretamente beneficiado pela chamada "Operação Banespa", que permitiu a remessa de muito dinheiro para paraísos fiscais, operação essa que foi aprovada, de forma não muito lícita, digamos assim, por aquele que era vice-presidente de operações do banco paulista, Vladimir Antônio Rioli (é bastante interessante fazer uma pesquisa no STJ com o nome de Rioli).
Rioli tinha um sócio. Quem?
José Serra, que detinha dez por cento do capital social da empresa CONSULTORIA ECONÔMICA E FINANCEIRA LTDA..
Pigarreio, deixo com vocês a imagem desse trecho da entrevista e sigo.
Para terminar a exposição de hoje, um troço que muita gente parece ter esquecido (ou que tem, por força do preconceito contra Lula e o PT, preferido nem lembrar): em seus oito anos de governo, FHC gerou algo em torno de 800.000 empregos. Tomem nota desse número - 800.000 em 8 anos - que muito contrasta com os 11.000.000 de empregos criados por Lula no mesmo espaço de tempo.
Ocorre que na mesmíssima entrevista, FHC se enrola com os números (basta ler o trecho abaixo, dividido em 3 imagens por conta da diagramação da revista) e ao ser questionado sobre a geração de empregos - falava-se, à época, na criação de 8.000.000 de empregos - diz que vai criar, no mínimo, e notem que ele se refere, é claro, aos 4 anos de mandato que estava disputando, "pelo menos isso", ou seja, 6.000.000 de empregos, que ele ainda considerava "pouco".
Nem nos oito anos de governo (entre 1994 e 2002) o mitômano criou isso. Criou, repito, 800.000 apenas.
Nada como a confirmação de que o tempo é o senhor da verdade.
Até.