Na última segunda-feira, o pré-candidato a presidente da República Jair Bolsonaro (PSC-RJ) entoou um discurso que virou moda entre os golpistas. Para ele, “o trabalhador vai ter de decidir: menos direitos e emprego ou todos os direitos e desemprego”.
Bolsonaro não explica como o Brasil conseguiu fazer o emprego com carteira assinada subir sem parar de 2003 a 2014 sem tirar um só direito e aumentando salários. Vão dizer que gerar empregos formais quebrou o Brasil, mas é papo furado.
As pessoas estão percebendo que a economia brasileira foi sabotada. Alguns vão demorar um pouco mais a perceber, mas outros já percebem ou perceberão em pouco tempo.
Em resumo: essa frase de Bolsonaro sobre o trabalhador vir a ter que escolher entre direitos e empregos resume o espírito de uma direita que decidiu apostar em presumida burrice do povo brasileiro.
Um bom exemplo disso é uma manifestação que grupos antipetistas reunidos com investimentos pesados de partidos políticos de direita pretendem fazer no próximo dia 26 de março.
Os grupos MBL (Movimento Brasil Livre) e Vem Pra Rua, dois dos principais organizadores das manifestações que pediram o impeachment de Dilma Rousseff, são os autores de uma manifestação que, apesar de não dizer, tem como pauta principal as ditas “reformas” trabalhista e da Previdência Social.
A estratégia desses malandros é propor um pacote de burrice aos incautos que vêm se deixando engabelar desde meados do primeiro governo Dilma.
Em 2013, os picaretas do MBL e do Vem Pra Rua infiltraram a extrema-direita nos protestos do Movimento Passe Livre e, ao fim de junho daquele ano, tínhamos militantes do PSTU, do PSOL, da Rede, do MST, do DEM, do PSDB e do PMDB bradando contra os famigerados “20 centavos”.
Realmente são muito espertos. Na manifestação do próximo dia 26 eles vão mesclar as ultra impopulares reformas trabalhista e da Previdência com temas ainda populares como apoio à Operação Lava Jato, ao fim do “foro privilegiado” e do estatuto do desarmamento.
É uma aposta na burrice, na falta de neurônios, na idiotia, em um “boquirrotismo bolsonarento” que contamina dez entre dez idiotas de um país em que idiotas abundam. Porém, até burrice tem limite.
Pesquisa recente do Ibope mostrou que nada mais, nada menos do que 81% dos brasileiros são contra a reforma da Previdência que o governo Temer quer aprovar, ou seja, uma reforma que aumenta absurdamente a idade e o tempo de contribuição.
Contudo, acredite quem quiser, a matéria do jornal O Globo tem um título que afirma que 60% dos brasileiros aprovam UMA reforma da Previdência. Só que o título da matéria é uma ofensa ao leitor porque 60% aprovam que seja feita alguma reforma que melhore a Previdência, mas 81% desaprovam a reforma que Temer quer aprovar.
Essa malandragem pode dar a impressão de que seus autores estão no controle da sociedade, que fazem dela o que quiserem, que todos vão engolir todas as trapaças desses seres desprezíveis que querem estimular milhões e se afundarem voluntariamente na pobreza. Mas é só impressão. Os brasileiros não são todos idiotas. Talvez ingênuos, mas não idiotas.
PMDB, PSDB, MBL, Vem Pra Rua, Bolsonaro, mídia corporativa, enfim, todos esses espertalhões entenderam mal o apoio que granjearam para derrubar Dilma Rousseff e desmoralizar o PT.
Quando a situação econômica do brasileiro começou a ficar esquisita, em 2014, os conservadores começaram a crescer entoando o discurso de que se o povo tirasse o PT do poder a economia iria melhorar rapidamente. Assim, muitos votaram na oposição e Aécio Neves chegou ao fim do segundo turno da eleição presidencial daquele ano quase empatado com Dilma.
A tese de que derrubar Dilma faria a economia entrar nos eixos continuou se fortalecendo em 2015 e 2016, até que ela fosse afastada, em maio do ano passado. A partir dali começou a contagem regressiva para os golpistas cumprirem o que prometeram.
Porém, uma vez no poder graças ao apoio dos incautos à derrubada do governo que preservaria direitos trabalhistas e previdenciários nas medidas contra a crise, Temer e os tucanos trataram de iniciar uma agenda da qual nem suspeitava a parcela da sociedade que condescendeu com o impeachment.
Ninguém apoiou a queda de Dilma e do PT para que quem tomasse o poder piorasse as vidas das pessoas com menos direitos trabalhistas, salários menores, jornadas de trabalho maiores aposentadoria praticamente impossível. O apoio da sociedade foi para que fosse feito o inverso.
O crescente apoio a Lula refletido por sucessivas pesquisas de opinião mostra que as pessoas estão caindo na real. Trabalhadores humildes que chegaram a xingar Dilma antes de ela ser derrubada já começam a dizer que “só Lula resolve”.
Isso está nas ruas. Cada vez mais gente está vendo e ouvindo e as pesquisas de opinião refletem nos números: se houvesse uma eleição presidencial hoje, o ex-presidente seria eleito até com certa folga.
A tendência, pois, é a de que até o ano que vem Lula continue se fortalecendo de maneira persistente e em ritmo crescente, haja o que houver nos processos contra si na Justiça.
E se tentarem impedi-lo de se candidatar não é a (só) a esquerda que vai sair à rua em favor de Lula, até porque boa parte dessa esquerda faz o jogo do PSDB, do PMDB, do DEM, da mídia, do empresariado, como se viu em 2013. Quem vai exigir que deixem Lula disputar a eleição presidencial do ano que vem será o povo.
Dirão que nem a esquerda foi em peso para as ruas defender o mandato de Dilma. E que as manifestações antipetistas foram muito maiores. E é verdade. Foi isso mesmo o que aconteceu.
Porém, agora as coisas mudaram. As manifestações de direita foram infladas por pessoas que estavam acreditando que bastaria tirar Dilma do governo para tudo se ajeitar.
Essas pessoas já perderam a ilusão, e muitas estão furiosas porque os planos de Temer e do PSDB de tirar direitos dos brasileiros e piorar as condições de trabalho e de aposentadoria não foram combinados com ninguém, são uma surpresinha golpista.
E como a incerteza até sobre se Temer irá continuar a governar vai manter a economia estagnada e o desemprego alto, a tendência é de que a vida das pessoas venha a piorar muito até o ano que vem.
E que ninguém se iluda com inflação menos ferina; é consequência da falta de demanda para os produtos, gerada pela falta de dinheiro no bolso.
Assim, se a direita entender que a única forma de tirar Lula do páreo será impedindo que dispute a eleição de 2018, condenando-o em segunda instância, além de enfrentar problemas internacionais (como o processo na ONU) enfrentará pressão interna.
A maioria não poder votar em Lula por ele estar sendo condenado em favor e por conta dos interesses dos seus adversários políticos poderá provocar manifestações gigantescas em sentido contrário ao do biênio 2015-2016.
Em resumo: a aposta da direita na burrice dos brasileiros é uma aposta errada, ela mesma uma burrice.
O brasileiro foi ingênuo? Foi, mas não foi burro. Quis tentar uma cartada para consertar as coisas, foi induzido a isso pela mídia que prometia que com Dilma fora tudo melhoraria como por mágica.
A maioria que ano que vem estará com a memória do governo Lula fresca na memória não vai aceitar que o impeçam de votar naquele que venha a achar que poderá tirar o país do buraco. Se tentarem impedi-lo de concorrer, o povo irá para a rua.
Quem tiver dúvida de que estou falando sério, assista ao depoimento de Lula. E tire suas conclusões.