Foto: Edição Ana Pupulin/247
Maior parte da mídia ignora livro-bomba contra tucanos; pelo Twitter, seguidores exigem sem sucesso análises dos jornalistas Dora Kramer, do Estadão, Kennedy Alencar, da Folha, e Noblat, de O Globo; veículos tradicionais ainda estão desconectados do jornalismo 2.0
“Nunca escrevi ou comentei sob chicote de patrão, de fonte ou de leitor/telespectador/ouvinte/internauta. Não farei agora”, tuitou o jornalista Kennedy Alencar, colunista da Folha, nesta terça-feira. Essa foi a reação dele à pressão de seguidores exigindo uma opinião sobre o livro que não fica atrás do mensalão na lista de escândalos políticos brasileiros. “Se julgar válido, darei opinião ou farei algo na TV, no rádio ou na internet”, desconversou.
Sem uma linha sequer sobre o livro em suas últimas colunas, a renomada Dora Kramer, do Estadão, elevou o tom às críticas recebidas por tuiteiros: “Façamos o seguinte: matriculem-se na faculdade de jornalismo, trabalhem 30 anos no ramo e aí a gente discute, ok?”.
Ao ignorar o livro e o impacto dele para a política nacional, Kennedy Alencar, Dora Kramer e tantos outros revelam desconexão com as mídias digitais e os leitores 2.0 e 3.0. Que mal há se os seguidores exigem uma posição daqueles que consideram analistas políticos de referência sobre um fato político relevante? Esse é o mais claro indicativo de interesse público – o principal combustível do jornalismo.
Por meio das redes sociais, o jornalismo está se tornando cada vez mais horizontal. Sim, os leitores mandam, mas não precisam ser encarados como capatazes. É o interesse público em tempo real tuitando e cutucando. E não chicoteando!
O modelo top-down, a que Folha, Estadão e afins estão acostumados, não se encaixa na rotina produtiva de notícias atual. Hoje, quem decide o que é notícia não é só a empresa de comunicação, o colunista, a fonte. É o leitor – ativo, questionador, em contato permanente com o jornalista pela internet.
Esse leitor não precisa ingressar na escola de jornalismo hoje para aprender a discutir com colunistas. São os jornalistas de hoje que precisam entender que o modelo de 30 anos atrás ficou lá no passado. Mesmo!
A privataria: o dossiê de um jornalista indiciado pela Polícia Federal
Para justificar a ausência da privataria do próprio repertório político, Dora Kramer frisou “o envolvimento do autor [Amaury Ribeiro Junior] com dossiês de campanha. Arranha a credibilidade”. O amado, odiado e sobretudo seguido Ricardo Noblat, de O Globo, disse aos 132 mil seguidores que estranhou a motivação política de Amaury para escrever o livro. “Ele sabia que tava a serviço de um governador [Aécio Neves]... Isso não derruba a princípio o que ele escreveu no seu livro. Mas recomenda cautela em dobro para quem imagina lê-lo e comentá-lo”, ponderou.
Em outubro do ano passado, Amaury foi indiciado pela Polícia Federal por violação do sigilo fiscal de lideranças tucanas e de familiares de José Serra. Os investigadores apontaram que o repórter se envolveu com corrupção ativa, uso de documento falso e oferta de vantagem a testemunha. No entanto, o livro de Amaury faz revelações contundentes amparadas em documentos públicos, obtidos em cartórios e na Junta Comercial. Ainda que tivesse finalidade de dossiê, tem um denso trabalho de apuração jornalística.
Dessa forma, nada impediria que Noblat e Dora destacassem o sucesso do livro que golpeia em cheio o coração do PSDB, mas com as devidas ressalvas. “Apesar da ampla apuração e das fontes reais, documentos que comprovam a tal privataria, o autor do livro foi indiciado pela Polícia Federal por corromper testemunhas, usar documentos falsos etc e tal.”
Reinaldo Azevedo, de Veja, tentou logo desqualificar a privataria. Pouco depois do lançamento do livro, deu uma indireta bastante certeira aos leitores de seu blog. “Lembrem-se do ‘Dossiê Cayman’. Bandidagem volta a agir!” foi o título de um post em que Reinaldo se refere ao conjunto de papéis falsificados que buscava incriminar o alto escalão do PSDB na campanha eleitoral de 1998.
Quem consegue furar o cerco?
Desde a semana passada, o Brasil 247 está acompanhando a repercussão do livro de Amaury Ribeiro Jr. No off-line, a Record News e a revista Carta Capital abriram espaço para falar da privataria. No on-line, os blogueiros Luiz Carlos Azenha e Luis Nassif também se manifestaram. Essa meia dúzia de gatos pingados da mídia integra o time da “exceção”, que não se curva a um silêncio incoerente em tempos de buzz na internet.
Ao 247, Nassif criticou as empresas de comunicação: “Elas estão comprometendo a imagem de todos os jornalistas e colunistas. Como eles vão justificar que não estão tratando do tema do livro de maior vendagem da história?” Para o blogueiro, a mídia não pode mais blindar o que cai na rede. "Nas livrarias, metade das pessoas está querendo o livro. A outra metade quer saber que livro é esse", conta.
Reportagem exibida pela Record News na terça-feira, 13, sublinhou que, na queda-de-braço da grande mídia com as mídias sociais, a informação sai vitoriosa graças ao boca a boca nas redes. O âncora Heródoto Barbeiro, ex-CBN, fez questão de dizer que ele próprio está atrás do livro, esgotado em São Paulo.
O caso da privataria acena para o atraso da “grande imprensa” em lidar com o que, no passado, os donos dos veículos de comunicação carimbariam como impublicável. Hoje, isso não é mais possível pois a internet se encarrega de disseminar as histórias. A blogosfera já entendeu a mudança em curso graças à forma como a sociedade utiliza a tecnologia e as redes para obter - e compartilhar - informações.
No atual cenário de jornalismo em transformação, jornais e jornalistas deveriam ouvir mais para saber do que deveriam falar mais. Diego Iraheta _247 - A resposta da imprensa brasileira ao maior fenômeno editorial de 2011 lança luzes sobre o descompasso do jornalismo “mainstream” com a era digital. O livro A Privataria Tucana, do repórter Amaury Ribeiro Junior, vendeu 30,5 mil exemplares em quatro dias. As livrarias de todo o País já aguardam a segunda remessa da obra, que denuncia os subterrâneos das privatizações no Brasil na era FHC e revela o enriquecimento de familiares de José Serra. A despeito da bomba política, fartamente documentada, a maior parte da mídia segue calada. Não abre o bico para comentar o livro que bica o alto escalão dos tucanos. Pela internet, no entanto, milhares de brasileiros têm rompido esse silêncio e fustigado os jornalistas.
Foto: Edição Ana Pupulin/247
Maior parte da mídia ignora livro-bomba contra tucanos; pelo Twitter, seguidores exigem sem sucesso análises dos jornalistas Dora Kramer, do Estadão, Kennedy Alencar, da Folha, e Noblat, de O Globo; veículos tradicionais ainda estão desconectados do jornalismo 2.0
“Nunca escrevi ou comentei sob chicote de patrão, de fonte ou de leitor/telespectador/ouvinte/internauta. Não farei agora”, tuitou o jornalista Kennedy Alencar, colunista da Folha, nesta terça-feira. Essa foi a reação dele à pressão de seguidores exigindo uma opinião sobre o livro que não fica atrás do mensalão na lista de escândalos políticos brasileiros. “Se julgar válido, darei opinião ou farei algo na TV, no rádio ou na internet”, desconversou.
Sem uma linha sequer sobre o livro em suas últimas colunas, a renomada Dora Kramer, do Estadão, elevou o tom às críticas recebidas por tuiteiros: “Façamos o seguinte: matriculem-se na faculdade de jornalismo, trabalhem 30 anos no ramo e aí a gente discute, ok?”.
Ao ignorar o livro e o impacto dele para a política nacional, Kennedy Alencar, Dora Kramer e tantos outros revelam desconexão com as mídias digitais e os leitores 2.0 e 3.0. Que mal há se os seguidores exigem uma posição daqueles que consideram analistas políticos de referência sobre um fato político relevante? Esse é o mais claro indicativo de interesse público – o principal combustível do jornalismo.
Por meio das redes sociais, o jornalismo está se tornando cada vez mais horizontal. Sim, os leitores mandam, mas não precisam ser encarados como capatazes. É o interesse público em tempo real tuitando e cutucando. E não chicoteando!
O modelo top-down, a que Folha, Estadão e afins estão acostumados, não se encaixa na rotina produtiva de notícias atual. Hoje, quem decide o que é notícia não é só a empresa de comunicação, o colunista, a fonte. É o leitor – ativo, questionador, em contato permanente com o jornalista pela internet.
Esse leitor não precisa ingressar na escola de jornalismo hoje para aprender a discutir com colunistas. São os jornalistas de hoje que precisam entender que o modelo de 30 anos atrás ficou lá no passado. Mesmo!
A privataria: o dossiê de um jornalista indiciado pela Polícia Federal
Para justificar a ausência da privataria do próprio repertório político, Dora Kramer frisou “o envolvimento do autor [Amaury Ribeiro Junior] com dossiês de campanha. Arranha a credibilidade”. O amado, odiado e sobretudo seguido Ricardo Noblat, de O Globo, disse aos 132 mil seguidores que estranhou a motivação política de Amaury para escrever o livro. “Ele sabia que tava a serviço de um governador [Aécio Neves]... Isso não derruba a princípio o que ele escreveu no seu livro. Mas recomenda cautela em dobro para quem imagina lê-lo e comentá-lo”, ponderou.
Em outubro do ano passado, Amaury foi indiciado pela Polícia Federal por violação do sigilo fiscal de lideranças tucanas e de familiares de José Serra. Os investigadores apontaram que o repórter se envolveu com corrupção ativa, uso de documento falso e oferta de vantagem a testemunha. No entanto, o livro de Amaury faz revelações contundentes amparadas em documentos públicos, obtidos em cartórios e na Junta Comercial. Ainda que tivesse finalidade de dossiê, tem um denso trabalho de apuração jornalística.
Dessa forma, nada impediria que Noblat e Dora destacassem o sucesso do livro que golpeia em cheio o coração do PSDB, mas com as devidas ressalvas. “Apesar da ampla apuração e das fontes reais, documentos que comprovam a tal privataria, o autor do livro foi indiciado pela Polícia Federal por corromper testemunhas, usar documentos falsos etc e tal.”
Reinaldo Azevedo, de Veja, tentou logo desqualificar a privataria. Pouco depois do lançamento do livro, deu uma indireta bastante certeira aos leitores de seu blog. “Lembrem-se do ‘Dossiê Cayman’. Bandidagem volta a agir!” foi o título de um post em que Reinaldo se refere ao conjunto de papéis falsificados que buscava incriminar o alto escalão do PSDB na campanha eleitoral de 1998.
Quem consegue furar o cerco?
Desde a semana passada, o Brasil 247 está acompanhando a repercussão do livro de Amaury Ribeiro Jr. No off-line, a Record News e a revista Carta Capital abriram espaço para falar da privataria. No on-line, os blogueiros Luiz Carlos Azenha e Luis Nassif também se manifestaram. Essa meia dúzia de gatos pingados da mídia integra o time da “exceção”, que não se curva a um silêncio incoerente em tempos de buzz na internet.
Ao 247, Nassif criticou as empresas de comunicação: “Elas estão comprometendo a imagem de todos os jornalistas e colunistas. Como eles vão justificar que não estão tratando do tema do livro de maior vendagem da história?” Para o blogueiro, a mídia não pode mais blindar o que cai na rede. "Nas livrarias, metade das pessoas está querendo o livro. A outra metade quer saber que livro é esse", conta.
Reportagem exibida pela Record News na terça-feira, 13, sublinhou que, na queda-de-braço da grande mídia com as mídias sociais, a informação sai vitoriosa graças ao boca a boca nas redes. O âncora Heródoto Barbeiro, ex-CBN, fez questão de dizer que ele próprio está atrás do livro, esgotado em São Paulo.
O caso da privataria acena para o atraso da “grande imprensa” em lidar com o que, no passado, os donos dos veículos de comunicação carimbariam como impublicável. Hoje, isso não é mais possível pois a internet se encarrega de disseminar as histórias. A blogosfera já entendeu a mudança em curso graças à forma como a sociedade utiliza a tecnologia e as redes para obter - e compartilhar - informações.
No atual cenário de jornalismo em transformação, jornais e jornalistas deveriam ouvir mais para saber do que deveriam falar mais.
Por que verbete “Privataria Tucana” está em discussão pra ser eliminado da Wikipedia?
mariafro
Do Leitor Paulo Parente:Olá, o termo Privataria Tucana já consta na wikipedia, só que o artigo está ameaçado de desaparecer no que eles chamam lá de eliminação por votação, dia 19 sairá o resultado desta votação. Apenas pessoas que já votaram ou editaram textos da wikipedia há mais de 90 dias podem votar. Divulgue!http://pt.wikipedia.org/wiki/A_Privataria_Tucana