Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

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terça-feira, 26 de agosto de 2014

O Brasil espremido entre dentaduras e dentadas


Enquanto a dentadura da boca sertaneja é tratada como um escândalo, a dentada rentista desfruta o espaço de uma pauta séria nos seus espaços midiáticos.

por: Saul Leblon
 
Arquivo

O Brasil espremido entre dentaduras e dentadas

A dentadura que devolveu o sorriso à boca de uma sertaneja pobre de Paulo Afonso, na Bahia, foi transformada pela mídia isenta em um escândalo eleitoral.

As escolhas que ela envolve são mais sérias do que esse factoide.

Oito incisivos, 4 caninos e 20 molares de resina da sertaneja Nalvinha receberam da mídia um tratamento equivalente ao dispensado ao aeroporto de R$ 14 milhões que Aécio construiu com dinheiro público na fazenda do tio Múcio.

Mereceram a mesma gravidade atribuída ao misterioso jatinho Cessna, de R$ 24 milhões, cuja queda matou Eduardo Campos e abriu uma cratera de dúvidas quanto à origem, a legalidade e os interesses que embalam a candidatura do PSB.

Não importa que os trinta e dois dentes novos façam parte de um amplo programa federal lançado em março de 2004, destinado a devolver o sorriso a milhões de brasileiros cujo único vínculo com a saúde bucal era o velho boticão.

Não é uma miragem.

Ao completar uma década, o ‘Brasil Sorridente’ já entregou quase 500 mil próteses dentárias parecidas com a de Nalvinha. Estendeu o direito a tratamento dentário a 79,6 milhões de adultos e crianças em 4.971 municípios brasileiros.

A julgar pelo martelete midiático, tudo não passa de uma fraude.

A tola e/ou ingênua decisão de providenciar a prótese da sertaneja Nalvinha na véspera da visita da Presidenta Dilma a sua casa, também equipada de cisternas –o governo federal já financiou 481 mil delas em 1.426 municípios do semiárido nordestino e liberou R$ 1 bilhão este ano para chegar a 750 mil até dezembro— alimentou o banzeiro.

Foi o suficiente para que o maior programa de saúde bucal do mundo evaporasse na conveniência da narrativa conservadora.

O episódio seria só mais um embate em torno de um programa social, não fosse tão representativo da imensa dificuldade que é mover a fronteira da inclusão social no Brasil à margem do Estado e das políticas públicas.

Entre outras coisas, a polêmica da ‘dentadura eleitoral’ sonegou ao eleitor alguns paradoxos de uma matriz conhecida.

Por exemplo, o fato de o Brasil ser o país com o maior número de dentistas do mundo.

Tem-se aqui quase 20% dos profissionais de odontologia do planeta.

São cerca de 250 mil dentistas de um total pouco superior a um milhão no mundo; um contingente que mesmo em termos relativos impressiona. Com população superior a nossa, os EUA, por exemplo, dispõem de pouco mais que 170 mil dentistas; a Alemanha tem 70 mil deles; França, México e Argentina contam com 40 mil cada.

A dianteira pelo jeito veio para ficar.

A Associação Brasileira de Odontologia (ABO) informa que quase 15 mil novos dentistas chegam ao mercado brasileiro a cada ano, formados pelas 203 faculdades de odontologia existentes no país.

O segundo paradoxo: esse superlativo arsenal está longe de se refletir no sorriso de boa parte da população que não tem acesso ao cuidado odontológico.

Até entrar em campo o ‘Brasil Sorridente’, um contingente da ordem de 30 milhões de brasileiros nunca havia sentado em uma cadeira de dentista.

A razão é a mesma que levou o governo a importar mais de 14 mil médicos cubanos para levar assistência a 50 milhões de brasileiros pobres, através do ‘Mais Médicos’.

A mesma que gerou o Bolsa Família. A mesma que levou à criação do Prouni. A mesma que promoveu a instituição de cotas na universidade. A mesma que impulsionou o crédito subsidiado à agricultura familiar. A mesma que leva o BNDES a carrear recursos do Tesouro para áreas do interesse estratégico do país. A mesma que fez o governo Lula instituir uma regulação soberana para o pré-sal. A mesma que encorajou a Petrobrás a impor um índice de nacionalização de 60% nas encomendas de serviços e equipamentos necessários à exploração.

A razão é que o capitalismo deixado à própria sorte é incapaz de construir uma sociedade. E menos ainda uma democracia social como a que se pretende no Brasil.

O sorriso devolvido à sertaneja Nalvinha não é fruto das forças de mercado.

Ele só ressurgiu no rosto da sertaneja de Paulo Afonso porque os governos Lula e Dilma tomaram a decisão política de resgatá-lo investindo R$ 10 bilhões no ‘Brasil Sorridente’.

Vem daí a pergunta incomoda, abafada pela pauta dos operadores e herdeiros da alta finança.

Se nem mesmo uma dentadura chega à boca do brasileiro pobre, sem a ação do Estado, como conceber que um novo ciclo de desenvolvimento associado à justiça social possa florescer por força da lógica estrita da ‘racionalidade dos mercados’?

Aquela que inclui entre os seus preceitos a ideia de que a moeda de uma nação deve ser entregue à administração de um banco central independente do governo e da democracia.

A diretriz anunciada tanto pelo operador tucano Armínio Fraga, quanto pela coordenadora do programa do Partido Socialista, Neca do Itaú, vende como ciência aquilo que é a essência da dominação financeira no capitalismo: o manejo dos juros na economia.

Trata-se de ‘proteger’ as decisões monetárias das pressões originárias do mundo político, alega-se.

Por mundo político entenda-se o conflito de classes, ilegítimo aos olhos de quem enxerga a política como excrescência e o seu interesse como uma segunda natureza, e não parte de uma correlação de forças que disputa o destino da economia e o da sociedade.

A repartição do ônus gerado pela maior crise do capitalismo dos últimos 80 anos demonstra a pouca aderência dessa visão à realidade.

Seis anos após o colapso de 2008, a lucratividade dos bancos norte-americanos registrou lucros recordes nesse segundo trimestre.

Em contrapartida, a subutilização da força de trabalho –indicador que soma emprego parcial e desistência de buscar vaga- atinge assustadores 13%.

Na maior economia capitalista da terra, metade das vagas criadas no pós-crise é de tempo parcial, com salários depreciados.

Não é um aquecimento de motores. É o padrão de uma economia desossada em seus esteios produtivos , por obra da desregulação financeira promovida pelo ciclo neoliberal, a partir de Reagan.

É esse subenredo de uma recuperação tíbia que leva a criteriosa presidente do BC de lá, Janet Yellen, a resistir às pressões dos interesses rentistas para elevar as taxas de juros do mercado.

Pressões políticas, como se vê, partem muitas vezes de onde menos esperam os defensores da independência do BC por essas bandas.

Um dos maiores gargalos do Brasil nesse momento é justamente a ausência de espaço para a discussão madura dessas interações entre política e economia, entre opções, custos, concessões, salvaguardas e requisitos à ordenação de um novo ciclo de crescimento, que só virá por força de uma repactuação democrática da sociedade.

A eleição deveria servir para isso.

Mas enquanto a dentadura da boca sertaneja é tratada como escândalo, a dentada rentista subjacente ao BC independente desfruta do privilégio de pauta ‘séria’.

Sob a pressão desse maxilar ideológico o passo seguinte do desenvolvimento brasileiro gira em círculos que sonegam futuro ao país e esclarecimento à sociedade.

Não é uma combinação promissora. E a história já evidenciou isso algumas vezes. A ver.

Marina, será que eles poderão trocar de CNPJ?

:

Com multas bilionárias aplicadas pela Receita Federal, empresas como o banco Itaú, de Roberto Setúbal, grupo Globo, de João Roberto Marinho, e Natura, do ex-vice de Marina Silva Guilherme Leal, observam exemplo do PSB; partido fechou comitê financeiro anterior à nova candidata e agora abre outro CNPJ – o registro de pessoas jurídicas – para superar histórico de contas e arrecadações e começar vida nova, sem passivos a saldar; entre as três grandes empresas mordidas pelo Leão, todas apostam em Marina agora; será que ela vai apoiar mudanças de CNPJ como a que seu partido quer fazer? 

247 – Depois que o PSB anunciou a fórmula que está usando para encerrar o passado de arrecadações e despesas da campanha do ex-governador Eduardo Campos, com o fechamento formal do comitê financeiro e abertura de outro, com novo CNPJ (o número de registro de pessoas jurídicas), pelo menos três grandes empresas que pertencem ao campo de influência da candidata Marina Silva estão atentas.
Com uma multa a pagar de nada menos de R$ 18,7 bilhões à Receita Federal, por conta de impostos considerados não recolhidos pela fusão com o Unibanco, o banco Itaú tem esse problema em seu CNPJ. A alternativa encontrada pelo PSB, com a anuência de Marina, que já começa uma nova corrida de arrecadação, pode interessar.

No mesmo caso está uma companhia muito próxima da candidata. A Natura, do empresário Guilherme

Leal, que foi candidato a vice de Marina em 2010, igualmente tem problemas com o Fisco. No ano passado, a empresa recebeu uma conta de R$ 628 milhões por IPI e Pis não recolhidos. Um CNPJ zero quilômetro também cairia bem para superar essa situação.

Para as Organizações Globo, que jamais esconderam sua oposição à presidente Dilma Rousseff e, nessa medida, veem com simpatia a opção Marina, uma suavização no apetite do Leão igualmente seria positiva.

A emissora perdeu no ano passado recurso contra a receita de R$ 730 milhões, em razão de impostos não recolhidos pela transmissão da Copa do Mundo de 2002.

Se a moda lançada pelo PSB de Marina pegar, com o passado menos transparente sendo jogado no lixo da história para a abertura de um futuro novo em folha, a fila para fazer o mesmo deverá ser grande.

Inflar Marina foi o maior tiro no pé que a mídia já deu


Em algumas horas, sairá a primeira pesquisa sobre a sucessão presidencial posterior ao auge da comoção provocada por um espetáculo sórdido que apelidaram de “velório de Eduardo Campos”. Devido ao considerável volume de pesquisas privadas que têm sido feitas, já dá para arriscar uma previsão sobre como está a corrida pela Presidência da República.
A pesquisa Ibope que está para ser divulgada deve mostrar o seguinte quadro: Aécio despencando com força, Dilma melhorando um pouco (mais provavelmente em aprovação pessoal e de seu governo, mas pouco ou nada em intenções de voto) e Marina disparando e ultrapassando o tucano.
Nenhuma surpresa, até aqui. Na segunda-feira da semana passada (18/8), este blog já avisava que Marina é problema de Aécio, não de Dilma. Pelo menos no primeiro turno. No segundo, a conversa é outra. Inclusive porque pode não haver segundo turno.
Devido à contaminação pelos desejos dos que encomendaram as tais “pesquisas privadas” citadas no primeiro parágrafo, há que ter cuidado. Contudo, alguns afirmam que Aécio caiu tanto que, mesmo com a forte subida de Marina, a soma dos votos dos adversários de Dilma pode ser insuficiente para levar a eleição para o segundo turno.
Esse quadro, ao menos em pesquisas Ibope, Datafolha ou Sensus (instituto que, nesta eleição, trabalha para o PSDB), dificilmente será mostrado, caso exista. Em 2014, à diferença de 2010, Dilma não conta com nenhuma série de pesquisas de um instituto isento – os que vêm apurando o cenário são ligados à mídia tucana. Mas a possibilidade existe…
Seja como for, o imenso prejuízo que a candidatura de Marina causou a Aécio já é, praticamente, uma certeza. Poucos acreditam que o Ibope deixará de mostrá-lo sendo fortemente ultrapassado por ela.
Claro que Marina representa ameaça a Dilma em um eventual segundo turno. A mesma pesquisa prestes a ser divulgada pode/deve mostrar que, se houver uma segunda eleição, a “socialista” venceria a petista, ainda que por margem igual ou ligeiramente superior ao limite da margem de erro. Mas, detalhe: só se a eleição fosse hoje. E não é.
O problema de Marina é que a eleição só ocorrerá daqui a mais de um mês, tempo suficiente para ela ser submetida à máquina tucana na mídia. Aliás, segundo vários analistas essa máquina já começará a ser posta em funcionamento na próxima quarta-feira, quando ela for submetida ao interrogatório do Jornal Nacional.
Devido a esse suposto naufrágio da candidatura de Aécio, William Bonner e Patrícia Poeta podem/devem partir com tudo para cima de Marina brandindo o caso do avião que caiu com Eduardo Campos, por suspeita de a aeronave ser produto de caixa 2.
Aécio e Dilma não devem partir já para cima de Marina. Dilma porque ela não é sua adversária no momento e Aécio porque confia na mídia para fazer o serviço por ele. Desse modo, já no fim de semana a mídia tucana começou a bombardear Marina. E não vai parar enquanto ela não cair ou não ficar claro que Aécio não tem mais chances de ir ao segundo turno, se houver segundo turno.
De uma coisa, porém, já se pode ter certeza: a mídia, ao inflar Marina como inflou logo após a morte de Campos, deu um tiro de canhão no próprio pé. Acreditou firmemente que, por ser tida como “de esquerda”, tiraria votos de Dilma. Foi um erro crasso. Que esquerdista vota numa candidata que tem o segundo maior banco do país por trás de si?
Mais: veja, leitor, quem são os “honoráveis empresários” que cederam um avião a jato a ela e a Campos. Tutti buona gente. Fizeram com os dois um acordo nebuloso para lhes emprestar (?) ferramenta imprescindível numa campanha nacional: um jatinho.
Marina, de esquerda? Então tá.
Mas, como já se disse aqui, Marina, neste momento, é problema de Aécio. E, por ser problema de Aécio, ela é, também, problema da mídia tucana – Globo, Folha, Veja e Estadão, a priori. E, sendo problema da mídia tucana, quanto mais passar o tempo, mais ela deve ser atacada. A menos que Aécio caia muito. Nesse caso, pode ocorrer outro fenômeno. Muito mais divertido.
Marina é uma aposta de extremo risco. Seu governo pode vir a ser qualquer coisa. Pode ser tomado pelo PSDB, mas muitos acham que o PT poderia adquirir hegemonia.
PMDB? Claro que sim, mas não será suficiente. Um governo do PT ou do PSDB terá uma forte base parlamentar própria. Sobretudo se Dilma vencer. O PT deve sair dessa eleição com cerca de uma centena de deputados. O PSDB, com metade disso. Seja como for, para montar uma base de apoio sólida Marina teria que negociar tudo e com quem pagar mais.
Um desastre para o Brasil.
Imagine se Marina vence e cumpre a promessa de governar com PT e PSDB. Seria um governo em guerra permanente.
Por outro lado, as manias de Marina. Apesar de ter a dona virtual do Itaú coordenando sua campanha, apesar de estar andando com um cabeça de planilha (Eduardo Gianneti) a tiracolo, parte do mercado – e não é só o agronegócio – teme suas conhecidas esquisitices. Afinal, uma candidata que vem lutando contra a construção de hidrelétricas não chega a ser o ideal para o mundo capitalista…
Tudo isso que você acaba de ler foi escrito para demonstrar que Marina é muito menos confiável e desejável/aceitável para o capital do que Aécio. Porém, ela pode vencer. Eis que, entre ela e Dilma, o mercado pode tender a ficar com a segunda, que seria considerada o “mal menor” na falta do tucano.
A mídia pensou que, inflando Marina, ela ganharia alguns pontinhos nas pesquisas, mas não mais do que o suficiente para provocar um segundo turno entre Aécio e Dilma. Não a levou a sério. Não imaginou que cresceria tanto. E, o que é mais, de jeito nenhum imaginou que Aécio seria o maior prejudicado.
Um petista que sabe das coisas disse ao Blog que a mídia tucana não conhece o eleitorado brasileiro. Conhece-o tão pouco quanto o próprio PSDB. A campanha nauseante de “santificação” que Globos, Folhas, Vejas e Estadões fizeram para Marina comprova essa tese. Agora, a mesma mídia terá que desconstruí-la para Aécio. Haverá tempo?

“Os documentos estavam no avião”, sugere tesoureiro de Marina. “Se não tem avião, não tem papéis”

franca
O senhor Márcio França, tesoureiro de campanha de Marina Silva, acaba de dar uma declaração ao IG dizendo que “”documento de avião você carrega no avião. Se estava no avião, já não existem mais (os documentos)”
É uma das maiores abjeções de caráter que já vi, ao longo de 56 anos de vida, ser praticada.
Sabe, meu amigo e minha amiga, não é diferente de você dizer que, se um carro pegou fogo, “documento de carro você carrega no carro e, se o carro pegou fogo, já não existe mais”.
Márcio França não é um imbecil, mas é um debochado.
Quer dizer que havia uma pastinha no avião com todos os contratos – se é que havia contrados – de compra e venda, de registro de propriedade e de manutenção. Ninguém pagou, ninguém recebeu, ninguém tem nada com isso.
O avião fica, assim, como algo que não existiu.
Estava tudo no “porta-luvas”.
É bom que Marina Silva arranje logo outras explicações e outro tesoureiro.
Um homem capaz de dizer isso não tem condições morais de tomar conta do caixa de uma barraquinha de festa junina.
“Caiu um bucapé aqui e queimou todas as contas do caixa”
É o impensável da canalhice algo assim, perdoem-me por sair do meu equilíbrio.
Morreram sete pessoas, outras ficaram feridas e dezenas perderam suas casas.
Mas não é responsabilidade de ninguém, os documentos estavam no avião e, agora, ninguém é dono dele.
Isso é um escândalo de proporções inimagináveis que, se não for corrigido, coloca o centro da campanha de Marina Silva no campo do escárnio para com a opinião pública.