Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

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segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

Filme inglês mostra tragédia que Temer nos prepara

Paulo Moreira Leite
Se há vários motivos para aplaudir o filme "Eu, Daniel Blake," de Ken Loach, Palma de Ouro do Festival de Cannes, um dos mais importantes do mundo, é fácil reconhecer a razão principal.
Centrado na luta de um carpinteiro para proteger seus direitos, a obra apresenta um retrato sem enfeites do colapso do Estado de bem-estar social na Inglaterra, país que, entre outros benefícios sociais, construiu um sistema público de saúde gratuito e universal, ponto de partida para diversos países, inclusive o nosso SUS.
Do ponto de vista dos 200 milhões de  brasileiros, Eu, Daniel Blake ganha uma importância especial pela conjuntura política, de guerra aberta do governo Temer e da equipe de Henrique Meirelles contra a CLT e programas sociais como Bolsa Família, Previdência Social e Minha Casa Minha Vida. Neste momento, Loach mostra o destino de um dos países mais ricos do planeta, antiga potência imperial, que se encontra numa etapa posterior do processo que leva ao Estado Mínimo.
"Eu, Daniel Blake" registra numa cena a condição de cidadãos britânicos que passam fome.
A tradução para a realidade brasileira exige adaptações importantes, como uma renda per capta menor, um patrimônio acumulado também menor -- apesar do crescimento dos últimos anos. Considerando que os seres humanos tem necessidades básicas semelhantes em qualquer latitude, pode-se imaginar o tamanho da tragédia em curso. 
O mundo que se vê na tela retrata uma classe trabalhadora capaz de gestos individuais de solidariedade mas vencida em derrotas sociais imensas, onde homens e mulheres são obrigados a lutar de forma individual por seus direitos e improvisar caminhos no limite da ilegalidade para reforçar a dispensa. Num momento divertido, retrata-se um cidadão que engorda os ganhos pelos labirintos da globalização, fazendo contrabando de tênis produzidos na China.
No mundo pós-moderno de Eu, Daniel Blake, as ações coletivas sequer são cogitadas. A existência de sindicatos, que já foram uma glória do movimento operário, nem é mencionada. Ao longo do filme, o protagonista está mergulhado numa realidade que os brasileiros conhecem muito bem: no combate por direitos estabelecidos junto aos serviços de telemarketing, enfrentando um exasperante labirinto de recomendações e explicações que nada resolvem. São apenas uma forma cínica encontrada pelos governantes para adiar a entrega de um direito que as duas partes sabem que é liquido e certo -- mas dificilmente será reconhecido.
Nas cenas finais, o filme mostra o que vem depois. Após perder os direitos como trabalhador, o protagonista também é destituído de direitos como cidadão e acaba sendo tratado como criminoso comum quando  tenta de realizar um protesto por conta própria.
Com preciosas lições para a atualidade, Eu, Daniel Blake  tem uma omissão do ponto de vista histórico. Você vai para casa perguntando como tudo aquilo pode acontecer.
Em vários momentos, o filme faz referências esparsas ao governo responsável pela tragédia social do país, o Partido Conservador. Está correto. Nos 18 anos em que permaneceram no poder, onze deles com Margaret Thatcher  como primeira-ministra, os conservadores fizeram um trabalho meticuloso e profundo para destruir o Estado de Bem-Estar Social. O problema é que, a seguir, o Partido Trabalhista ocupou o governo por treze anos. Em dez deles, Tony Blair foi o primeiro ministro e, contrariando as expectativas da maioria dos britânicos, nada fez para reverter a herança recebida. Em 2010, o Labour sofreu uma nova derrota nas urnas e até agora não se recuperou.
Cabia ao Labour, pelo seu lugar na história do país, o papel de resistir aos ataques contra os direitos da maioria. A recusa em assumir este lugar também ajudou a criar um mundo no qual a questão social virou caso de polícia -- e este também é um debate que interessa aos brasileiros de 2017. Sem resistência, seus direitos também vão se transformar em poeira.

Políticos insuflam comemoração de chacinas em presídios

criminosos

Energúmenos de todas as idades, estratos sociais e regiões do país chamam de “politicamente correto” o que é, tão-somente, comportamento civilizado. Essa guerra contra o comportamento civilizado vem surpreendendo os setores civilizados da sociedade.
Desse combate que esse tipo de gente vem dando têm decorrido atitudes assustadoras como a do homem que, bradando contra o “politicamente correto” e os “direitos humanos”, pôs fim às vidas de sua esposa, filho e mais 10 pessoas.
Os entusiastas do “politicamente incorreto” agridem (verbal ou fisicamente) as mulheres, os homossexuais e os nordestinos; pedem volta da ditadura militar e o fim da defesa de “direitos humanos”; defendem execuções sumárias e chacinas de infratores da lei – contanto que sejam pobres.
Os machões e as machistas sem sensibilidade social e preconceituosos estão virando quase um modelo de comportamento.
Até as manifestações de 2013, pensava-se que extremistas de direita estavam restritos a pessoas idosas, de alto poder econômico que se isolaram a partir do fim da ditadura militar. Nos últimos três anos, porém, descobrimos legiões de jovens que flertam com o nazifascismo. Muitos, de origem pobre.
Extremistas de direita que querem volta da ditadura, chacinas em presídios, execuções sumárias de “bandidos” sem nem julgamento podem ser encontrados até entre minorias que deveriam lutar contra toda forma de discriminação e violência contra grupos, como é o caso de homossexuais, ou mesmo entre maiorias como a dos afrodescendentes, que constituem mais da metade da população brasileira.
Os recentes episódios de chacinas em presídios nos oferecem uma dica sobre o que está fazendo ascender esse comportamento incivilizado, selvagem dos que, entre um culto religioso e outro, renegam todos os principais mais elementares do cristianismo, tais como piedade, generosidade, amor ao próximo, caridade, respeito à vida etc.
O que diriam esses pseudorreligiosos de extrema-direita sobre Jesus Cristo ter perdoado um homem (crucificado ao seu lado) que matou e roubou durante a vida? Se o “filho de Deus” vivesse nos dias de hoje, por “defender bandido” seria tachado de “petralha”.
Porém, quem lidera hoje no Brasil a selvageria, as pregações de ódio, de preconceito, de violência policial e carcerária são os grupos religiosos mais fanatizados. Quanto mais religioso, atualmente, maior é a intolerância com a diferença e o desejo de ver atrocidades como chacinas ocorrerem com aqueles que o cristianismo manda perdoar.
Mas de onde vêm essas aberrações? Por que, do nada, começaram a aparecer pessoas capazes de comemorar chacinas de seres humanos, por exemplo?
Esses recentes episódios de chacinas em presídios permitiram ver quem são os propagadores dessa mentalidade.
Na primeira semana de 2017, uma centena de encarcerados – muitos dos quais sequer foram julgados ainda – foi trucidada das formas mais cruéis que se possa conceber. A começar pelos de Manaus.
O que se esperaria do responsável maior pela segurança pública daquele Estado, o governador José Melo (PROS-AM), seria que manifestasse tristeza pela tragédia e se solidarizasse com as famílias dos detentos, as quais, obviamente, não cometeram crime algum.
A atitude do governador foi digna desses moleques que ficam barbarizando nas redes sociais. “Não havia nenhum santo entre os mortos nessa rebelião”, afirmou o chefe do Executivo amazonense, supostamente o líder político de um Estado da Federação.
Como o governador do Amazonas sabe que não havia inocentes entre os presos chacinados se grande parte deles sequer havia tido julgamento?
Mas a postura irresponsável desse governador foi só o aperitivo do que viria. E quando o assunto é ignorância, truculência, insensibilidade, não pode faltar a opinião de Jair Bolsonaro, que desponta como candidato competitivo à Presidência da República.
Para quem não tem conta no Facebook e, por isso, não conseguiu ver o vídeo, basta saber que Bolsonaro apoiou as chacinas em presídios.
Esse discurso é hoje uma febre. Pesquisa Datafolha de 2015 mostrou que a maioria dos brasileiros concorda com essas ideias.
Essa maioria não quer saber se todos os encarcerados são iguais ou não, se todos são inapelavelmente culpados ou não, ou o que acontecerá quando, após anos nesses infernos, forem colocados de volta nas ruas, já que grande parte dos que estavam presos não fora nem julgada e outra grande parte cumpria penas curtas por pequenos crimes e só ficou presa por não poder pagar advogado.
Concomitantemente aos outros energúmenos, apaniguado filho de aliado político de Temer dá sua contribuição à barbárie. O ex-secretário Nacional de Juventude Bruno Júlio diz, publicamente, que seria bom haver “uma chacina [de detentos] por semana”.
Na mesma leva de horror, o ex-candidato a prefeito de São Paulo “Major Olímpio”, atual deputado federal paulista, fez piada com a tragédia nos presídios de Manaus e Roraima, onde morreram, respectivamente, 56 e 30 detentos em uma chacina em que a principal forma de execução foi decapitação: exortou a presídio carioca de Bangu a superar o número de chacinados nos outros Estados.
Outro que alia religião com selvageria e violência é o “pastor” e deputado federal Marco Feliciano. Em vídeo sobre as chacinas em presídios foi mais sutil que os colegas e simplesmente pregou “destruir o problema”, ou seja, os presidiários brasileiros.
Até o “presidente da República”, mister Fora Temer, deu sua contribuição ao caos carcerário ao qualificar como “acidente” um caso claro de desleixo e irresponsabilidade das autoridades.
Poderíamos ficar aqui por horas buscando políticos de direita que, entre um culto religioso e outro, lideram essa onda de comemorações das chacinas em presídios, do extermínio cruel e anticristão de seres humanos.
Apesar de a mídia conservadora abrigar colunistas, apresentadores etc. que chegam perto de propor atrocidades como “uma chacina por semana”, no geral ela se portou bem. Manteve o tema em evidência em tom de reprovação, ainda que não tenha tido coragem de explicar por que ninguém ganha com prisões desumanas.
Quem lidera hoje no Brasil essa mentalidade, portanto, são políticos de partidos como PMDB, DEM, PSDB, PTB, PP, PSC, PROS, SOLIDARIEADE, PPS e as conhecidas legendas de aluguel. Enfim: quem insufla mediocridade e truculência em nosso povo – e, sobretudo, entre nossos jovens – são os políticos.
Neste exato momento, quantas crianças não estão ouvindo os pais comemorarem massacres de pessoas, pregarem violência, enfim, desvalorizarem a vida humana em prol do sentimento mais venenoso que existe, o desejo de vingança? Em que essas crianças se transformarão quando chegarem na vida adulta?
Esses políticos legarão ao Brasil gerações de pessoas monstruosas, insensíveis, sádicas, burras ao extremo, adeptas de teorias nazifascistas. Eles contaminam os país das crianças brasileiras, que ensinarão essas loucuras aos filhos.
Como a história já se cansou de mostrar, nada tem potencial maior que a política para gerar tragédias às nações. Todas as guerras, todas as perseguições, todas as injustiças já vistas originaram-se de discursos políticos como os supra reproduzidos.

ASSANGE: TEMER TROCOU SEGREDOS DO BRASIL POR APOIO DOS ESTADOS UNIDOS