O
Brasil vive um dos seus melhores momentos da história do ponto de vista
democrático. E o impressionante é que em alguns setores à esquerda e à
direita isso não é valorizado da forma que deveria. Do lado dos brucutus
que têm saudades dos tempos das casernas, vivemos hoje num Estado
aparelhado pelos comunistas. Mas à esquerda também não é incomum ouvir
gente séria fazendo coro à tese de que o Brasil não é democrático
porque, entre outras coisas, a polícia é muito violenta e a injustiça
social imensa.
Aos que seguem a cantinela de Olavo de Carvalho, Lobão, Roger,
Rodrigo Constantino e outros importantes e ilustres pensadores, dá pra
entender que busquem a todo custo destruir o que foi construído nos
últimos 30 anos.
Do outro lado da corda, às vezes o desprezo pelo já construído tem
relação com os limites da democracia direta. Que precisam ser testados e
reformulados a partir de lutas como o do projeto de Lei da Constituinte
Soberena e Exclusiva para a Reforma Política, que obteve cerca de 8
milhões de assinaturas.
Mas até para avançar é preciso que se valorize o que já se
conquistou. E nos limites deste atual modelo o Brasil já avançou muito
nos últimos anos. Somos um país muito melhor. Há muito menos gente
passando fome, construímos legislações avançadas, como o Estatuto da
Criança e Adolescente, sistemas universais, com o SUS, um sistema
político onde há distribuição de poder e no qual partido algum consegue
controlar o país inteiro, melhoramos a fórceps a distribuição de renda,
temos movimentos sociais fortes e que garantem estruturas de
participação popular, tivemos imensa ampliação da consciência de
direitos e lutas de grupos como mulheres, negros e LGBT. Enfim, a
despeito de uma série de problemas, o saldo a favor é muito grande.
E neste processo há grupos políticos que entregaram mais do que
outros, mas o fato é que um país não é feito de apenas uma parte. Ele
também é fruto das suas contradições.
Nesta eleição, porém, o clima atual é muito perigoso. Talvez até
menos pelo discurso dos candidatos e mais pelo ódio que é estimulado por
segmentos da mídia e por algumas de suas sub celebridades. Aquelas que
só têm compromisso com alguns minutos de fama e nada mais. Que desprezam
tanto as consequência do que dizem e escrevem como também as suas
biografias.
E é isso que tem gerado agressões em bairros mais elitizados a
pessoas que se posicionam a favor de candidaturas, em especial, nesta
eleição, vinculadas ao PT. Há um setor da direita buscando impedir o
posicionamento daqueles que consideram que os avanços dos últimos 12
anos no Brasil foram maiores que nos anos anteriores. E que por isso
preferem Dilma.
É inaceitável que artistas que estão declarando votos sejam
constrangidos em restaurantes, que militantes sejam expulsos aos gritos e
pontapés de áreas de classe média, que ativistas de rede social incitem
a violência contra aqueles que divergem. A convivência democrática
entre as partes que divergem é um dos principais valores a serem
defendidos pelos que são de fato democratas. Quem buscar caminhos tortos
para se impor, pode ganhar no curto prazo, mas perde na hora que a
história pede sua prestação de contas.
Bolsonaro, Malafaia e Felicianos da vida quando somam diminuem o
candidato que apoiam. E quando se tornam protagonistas de um dos lados
da disputa, maculam seus propósitos.
O ódio capturou boa parte dos militantes mais ativos da candidatura
de Aécio, em especial em São Paulo. Jovens classe média que votam em
Dilma não têm coragem de declarar isso para seus familiares. Pessoas que
residem em prédios nobres, não se sentem à vontade para colocar um
adesivo no carro por medo de retaliação. Quem trabalha em empresas mais
tradicionais que declarou o voto, tem sofrido assédio.
Isso não é do jogo e precisa ser combatido, mas não com o mesmo ódio.
O contraponto tem que ser pelo diálogo e com tolerância. Mas sem se
deixar intimidar por esse brucutonismo. Se eles passarem, seremos reféns
de seus caprichos e demônios. E os demônios dessa gente gostam de
sangue. Sangue que já foi vertido em outros momentos da história do
país e não levou o país a avançar. Ao contrário, que fez com que quase
todos perdêssemos muito naquele período.
A melhor resposta a isso é exercer seu direito cidadão, defender seu
candidato, desfraldar sua bandeira, conversar sobre política e saber que
aquele que não pensa como você não é seu inimigo. É adversário
político. Porque é do jogo ter adversários, porque faz parte da batalha
querer vencer. Mas há limites. E ultrapassá-los ou negá-los é a pratica
dos intolerantes. E esses precisam ser combatidos mais do que todos.