Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Colunista da Folha diz que mídia obriga Dilma a demitir ministros

O colunista da Folha de São Paulo Fernando Rodrigues, em vídeo, faz comentário em tom insolente, jactando-se em nome da “imprensa” por ela estar obrigando a presidente a demitir ministros. Segundo o colunista, ela só não demitiu o do Esporte, “ainda”, para não passar recibo de que as quatro demissões de ministros, neste ano, decorreram do poder midiático.
Como se verá mais adiante, a locução do jornalista está alguns tons acima do tom jornalístico, tendo clara conotação de disputa política, uma espécie de queda de braço. Antes, porém, vale fazer algumas considerações.
A fúria midiática tem uma “razão” de ser que para qualquer pessoa de juízo normal parece absurda, ou seja, revolta com o governo do país por ele não ter obedecido a capricho de empresários de comunicação que querem que suas denúncias se transformem em medidas governamentais sem maiores apurações, só porque esses empresários querem.
Claro que a mídia tem medo de perda de credibilidade por ter se antecipado e decretado a demissão do ministro. É o que dá origem ao tom que o jornalista usou nesse comentário de arrogância espantosa. Os portais UOL, Estadão e G1 passaram dias comunicando a demissão do ministro em manchetes garrafais e, depois, nada aconteceu.
Ainda é difícil dizer se o jornalista não tem razão. O histórico deste governo o favorece, mesmo que a presidente diga que todas as demissões ocorridas até hoje foram a pedido dos demitidos. Enfim, leia, a seguir, o comentário do jornalista Fernando Rodrigues. Ou, se preferir, assista ao vídeo, reproduzido logo abaixo da transcrição do comentário.
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A situação de Orlando Silva. O ministro do Esporte está “cai, não cai”. É possível que ele saia nos próximos dias, mas é impossível dizer quando isso vai acontecer, porque Dilma Rousseff simplesmente detesta ler na imprensa e assistir notícias na televisão ou ler na internet que ela já decidiu pela demissão de Orlando Silva. A presidente não quer consolidar a imagem que existe – e é verdadeira – de que ela foi sempre a reboque da mídia nas demissões de todos os seus ministros acusados de corrupção. Agora será da mesma forma, não importa se Dilma espere um pouco mais ou um pouco menos. Se demitir Orlando Silva, terá demitido o ministro do Esporte porque a IMPRENSA investigou o que acontecia por lá.
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Matemáticos revelam rede capitalista que domina o mundo


Uma análise das relações entre 43.000 empresas transnacionais concluiu que um pequeno número delas - sobretudo bancos - tem um poder desproporcionalmente elevado sobre a economia global. A conclusão é de três pesquisadores da área de sistemas complexos do Instituto Federal de Tecnologia de Lausanne, na Suíça. Este é o primeiro estudo que vai além das ideologias e identifica empiricamente essa rede de poder global.

Nota introdutória publicada por Ladislau Dowbor em sua página:

The Network of Global Corporate Control - S. Vitali, J. Glattfelder eS. Battistoni - Sept. 2011

Um estudo de grande importância, mostra pela primeira vez de forma tão abrangente como se estrutura o poder global das empresas transnacionais. Frente à crise mundial, este trabalho constitui uma grande ajuda, pois mostra a densidade das participações cruzadas entre as empresas, que permite que um núcleo muito pequeno (na ordem de centenas) exerça imenso controle. Por outro lado, os interesses estão tão entrelaçados que os desequilíbrios se propagam instantaneamente, representando risco sistêmico.

Fica assim claro como se propagou (efeito dominó) a crise financeira, já que a maioria destas mega-empresas está na área da intermediação financeira. A visão do poder político das ETN (Empresas Trans-Nacionais) adquire também uma base muito mais firme, ao se constatar que na cadeia de empresas que controlam empresas que por sua vez controlam outras empresas, o que todos "sentimos" ao ver os comportamentos da mega-empresas torna-se cientificamente evidente. O artigo tem 9 páginas, e 25 de anexos metodológicos. Está disponível online gratuitamente, no sistemaarxiv.org

Um excelente pequeno resumo das principais implicações pode ser encontrado no New Scientist de 22/10/2011 (e está publicado a seguir).


(*) O gráfico em forma de globo mostra as interconexões entre o grupo de 1.318 empresas transnacionais que formam o núcleo da economia mundial. O tamanho de cada ponto representa o tamanho da receita de cada uma

A rede capitalista que domina o mundo
Conforme os protestos contra o capitalismo se espalham pelo mundo, os manifestantes vão ganhando novos argumentos.

Uma análise das relações entre 43.000 empresas transnacionais concluiu que um pequeno número delas - sobretudo bancos - tem um poder desproporcionalmente elevado sobre a economia global.

A conclusão é de três pesquisadores da área de sistemas complexos do Instituto Federal de Tecnologia de Lausanne, na Suíça

Este é o primeiro estudo que vai além das ideologias e identifica empiricamente essa rede de poder global.

"A realidade é complexa demais, nós temos que ir além dos dogmas, sejam eles das teorias da conspiração ou do livre mercado," afirmou James Glattfelder, um dos autores do trabalho. "Nossa análise é baseada na realidade."

Rede de controle econômico mundial
A análise usa a mesma matemática empregada há décadas para criar modelos dos sistemas naturais e para a construção de simuladores dos mais diversos tipos. Agora ela foi usada para estudar dados corporativos disponíveis mundialmente.

O resultado é um mapa que traça a rede de controle entre as grandes empresas transnacionais em nível global.

Estudos anteriores já haviam identificado que algumas poucas empresas controlam grandes porções da economia, mas esses estudos incluíam um número limitado de empresas e não levavam em conta os controles indiretos de propriedade, não podendo, portanto, ser usados para dizer como a rede de controle econômico poderia afetar a economia mundial - tornando-a mais ou menos instável, por exemplo.

O novo estudo pode falar sobre isso com a autoridade de quem analisou uma base de dados com 37 milhões de empresas e investidores.

A análise identificou 43.060 grandes empresas transnacionais e traçou as conexões de controle acionário entre elas, construindo um modelo de poder econômico em escala mundial.

Poder econômico mundial
Refinando ainda mais os dados, o modelo final revelou um núcleo central de 1.318 grandes empresas com laços com duas ou mais outras empresas - na média, cada uma delas tem 20 conexões com outras empresas.

Mais do que isso, embora este núcleo central de poder econômico concentre apenas 20% das receitas globais de venda, as 1.318 empresas em conjunto detêm a maioria das ações das principais empresas do mundo - as chamadas blue chips nos mercados de ações.

Em outras palavras, elas detêm um controle sobre a economia real que atinge 60% de todas as vendas realizadas no mundo todo.

E isso não é tudo.

Super-entidade econômica
Quando os cientistas desfizeram o emaranhado dessa rede de propriedades cruzadas, eles identificaram uma "super-entidade" de 147 empresas intimamente inter-relacionadas que controla 40% da riqueza total daquele primeiro núcleo central de 1.318 empresas.

"Na verdade, menos de 1% das companhias controla 40% da rede inteira," diz Glattfelder.

E a maioria delas são bancos.

Os pesquisadores afirmam em seu estudo que a concentração de poder em si não é boa e nem ruim, mas essa interconexão pode ser.

Como o mundo viu durante a crise de 2008, essas redes são muito instáveis: basta que um dos nós tenha um problema sério para que o problema se propague automaticamente por toda a rede, levando consigo a economia mundial como um todo.

Eles ponderam, contudo, que essa super-entidade pode não ser o resultado de uma conspiração - 147 empresas seria um número grande demais para sustentar um conluio qualquer.

A questão real, colocam eles, é saber se esse núcleo global de poder econômico pode exercer um poder político centralizado intencionalmente.

Eles suspeitam que as empresas podem até competir entre si no mercado, mas agem em conjunto no interesse comum - e um dos maiores interesses seria resistir a mudanças na própria rede.

As 50 primeiras das 147 empresas transnacionais super conectadas

Barclays plc
Capital Group Companies Inc
FMR Corporation
AXA
State Street Corporation
JP Morgan Chase & Co
Legal & General Group plc
Vanguard Group Inc
UBS AG
Merrill Lynch & Co Inc
Wellington Management Co LLP
Deutsche Bank AG
Franklin Resources Inc
Credit Suisse Group
Walton Enterprises LLC
Bank of New York Mellon Corp
Natixis
Goldman Sachs Group Inc
T Rowe Price Group Inc
Legg Mason Inc
Morgan Stanley
Mitsubishi UFJ Financial Group Inc
Northern Trust Corporation
Société Générale
Bank of America Corporation
Lloyds TSB Group plc
Invesco plc
Allianz SE 29. TIAA
Old Mutual Public Limited Company
Aviva plc
Schroders plc
Dodge & Cox
Lehman Brothers Holdings Inc*
Sun Life Financial Inc
Standard Life plc
CNCE
Nomura Holdings Inc
The Depository Trust Company
Massachusetts Mutual Life Insurance
ING Groep NV
Brandes Investment Partners LP
Unicredito Italiano SPA
Deposit Insurance Corporation of Japan
Vereniging Aegon
BNP Paribas
Affiliated Managers Group Inc
Resona Holdings Inc
Capital Group International Inc
China Petrochemical Group Company

Anonymous desmascara a Veja: Um show de manipulação

A Veja desta semana tenta linkar o movimento Anonymous com os protestos anti-corrupção no Brasil, utilizando a máscara de Guy Fawkes, símbolo do movimento, em sua capa. Um show de manipulação, já que uma coisa não tem nada a ver com outra.
Em resposta à Veja, o Anonymous postou este vídeo no Youtube

PS do Viomundo: Coincidentemente no último domingo, apareceu em  nossa capa um anúncio da Veja, que bloqueamos e esclarecemos em muitos comentários e e-mails recebidos.  Para quem não acompanhou essa “batalha”,   aproveitamos para colocar os pingos  nos is.
O Viomundo utiliza o Google Adsense,  que é uma rede de anunciantes gerenciada pelo Google. Como estamos classificados como blog de política e provavelmente a Veja comprou espaço publicitário no Google  envolvendo o tema  “política”, o anúncio acabou sendo exibido aqui. É algo sobre o qual não temos controle a priori.
Porém, tão logo fomos alertados por leitores, saímos imediatamente a campo para bloqueá-lo. Em HIPÓTESE ALGUMA, o Viomundo aceitaria um anúncio da Veja. O tipo de Jornalismo praticado por ela é tudo aquilo que condenamos na mídia. Uma incompatibilidade total com os nossos princípios éticos, jornalísticos e profissionais  (Conceição Lemes).

PiG não é PiG porque denuncie a corrupção.

O sistema político brasileiro por definição é corrupto.

Não mais que o americano, o italiano, o russo ou o mexicano, por exemplo.

Mas, corrupto é.

Nos acima citados sistemas, a Caixa Dois, a sobra de campanha e a sujeição aos interesses dos financiadores são goiabada com queijo.

Uma das formas centrais do sistema político corrupto – como nos acima mencionados – é o acesso à televisão.

Tempo de tevê vale ouro – e voto.

E a manipulação do acesso à tevê é uma das causas do descrédito dos partidos e dos homens públicos nessas grandes democracias.

O noticiário político só faz equiparar a atividade público a reality show de ex-prostitutas.

Outra causa é a notória impunidade.

O sistema judicial torna-se cúmplice e parte de um sistema que se nutre de corrupção.

O financiamento público e uma Ley de Medios podem atenuar a penetração da corrupção no sistema político.

No Brasil, à parte a geneneralizada impunidade – que se acentuará com o fechamento do Conselho Nacional de Justiça  pelo Supremo -, há um fenômeno que não se repete em nenhuma das citadas democracias.

É a concentração do PiG (*).

Três famílias – Marinho, Frias e Mesquita (by proxy) – , dominam a tevê, o rádio, o jornal, as revistas, as agências de notícias e portais na internet.

(A família Civita, expulsa da Argentina, no Brasil explora outro ramo de negócio, que não o jornalismo.)

Três famílias – duas em São Paulo e outra no Rio, a Globo, que, porém, trabalha para o IBOPE de São Paulo – dominam o conteúdo da informação e a agenda de debates de um país de 200 milhões de almas, com uma maravilhosa e suprimida diversidade cultural.

O papel central do PiG é derrubar os Governos trabalhistas, onde, apesar de todo o bom-pracismo dos governantes, os negócios empresariais do PiG enfrentam mais obstáculos.

Quando os Neolibelês (**) estiveram no Governo, o PiG sentava-se à mesa do banquete.

O PiG não é golpista porque denuncie a corrupção.

O PiG é golpista porque SÓ denuncia a corrupção dos trabalhistas.

Para o PiG, a massa cheirosa não rouba.

Nem roubou.

O PiG tem parte, tem lado, obedece a uma linha política, como o Ministro Gilmar Dantas (***): está sempre do lado de lá.

As denúncias de corrupção são apenas uma das faces do golpismo.

Outra é a fixação da agenda.

O PiG e o Congresso acabam por discutir só o que o PiG quiser.

O PiG determina a hierarquia: a ponte de 3,5 km sobre o rio Negro não tem menor importância.

Só teria se ficasse comprovado o esmagamento de um bagre na hora de fincar uma estaca.

Aí, sim, seria um Deus nos acuda.

Vamos sublimar, amigo navegante, a criminosa discriminação que o PiG pratica contra os atos dos governos trabalhistas.

Vamos por à parte o excepcional Governo do Nunca Dantes, aprovado por 80% da população.

Ou do Governo de sua sucessora, que segue a mesma trilha.

Vamos à Argentina.

Agora, com a acachapante vitória da Cristina, só agora se sabe que o maior eleitor foi a bonança econômica.

A Argentina bomba !

E aqui se tinha a impressão de que a Argentina era uma pocilga encravada na caverna do Ali Babá.

As atividades do PiG são, pela ordem, deturpar, omitir, mentir.

As denúncias de corrupção do PiG são bem-vidas, porém.

E devem servir de elemento para coibir o malfeito.

O problema é que no PiG se esvaecem como nuvens as denúncias de corrupção do outro lado: as ambulâncias superfaturadas; o Ricardo Sergio, o Preciado, o Paulo Preto, o Daniel Dantas, o  Robanel dos Tunganos; a concorrência do metrô de São Paulo; o mensalão de Minas; a empresa de arapongagem do Cerra paga pelo contribuinte paulista; os anões do Orçamento da Assembléia tucana de Sao Paulo.

Tudo isso se lava com água e sabão e vai embora pelo ralo.

E a corrupção da empresa privada ?

Os subornadores, os financiadores dos políticos ?

Quem compra os políticos ?

A Madre Superiora ?

Quem ganha todas as concorrências e não perde uma na Justiça ?

Quem são e o que fazem os que a Evita Peron chamava de “oligarcas de mierda ?”

Por que no Brasil não tem empresário ladrão ?

Nem rico na cadeia ?

É por isso que o PiG é golpista.

Porque é cúmplice, beneficiário e arauto dessa máfia do poder, como diz o Mino.

As denúncias de corrupção são a face branda quase pueril do PiG.

Vamos pegar o PiG pelo gancho: vamos fazer uma Ley de Medios.


Paulo Henrique Amorim


(*) Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista.

(**) “Neolibelê” é uma singela homenagem deste ansioso blogueiro aos neoliberais brasileiros. Ao mesmo tempo, um reconhecimento sincero ao papel que a “Libelu” trotskista desempenhou na formação de quadros conservadores (e golpistas) de inigualável tenacidade. A Urubóloga Miriam Leitão é o maior expoente brasileiro da Teologia Neolibelê.

(***) Clique aqui para ver como um eminente colonista do Globo se referiu a Ele. E aqui para ver como outra eminente colonista da GloboNews e da CBN se refere a Ele.
 

Todos perderam com o caso Orlando Silva

Surgiu um discurso sobre as denúncias contra o ministro Orlando Silva e o PC do B que mostra que esse caso, além de só ter distribuído prejuízos, fez isso com uma justiça verdadeiramente poética. É o discurso de setor da sociedade acusado de “isentismo”, ou seja, de não se comprometer com lado algum. Não ficando em cima do muro, mas erguendo o muro.
É muito simples: a mídia, de fato, faz denúncias seletivas só contra o governo Dilma e, mais objetivamente, contra o ministério do Esporte, mas só faz isso porque esse ministério deixa “rabo” por ter sido “aparelhado” pelo PC do B, que, segundo essa visão, estaria fazendo alguma coisa que os outros partidos não fazem ou que, por ser o PC do B, não teria “direito” de fazer.
Quando ouvi hoje de uma das pessoas mais sóbrias, inteligentes e honestas que conheço certa afirmação sobre esse caso, fiquei assustado. Na verdade, fiquei assustado depois que essa pessoa me disse que, claro, evidente, a mídia estava querendo, sim, acuar o governo e adquirir o poder de governar, mas que, também, o PC do B, de fato, teria “aparelhado” o Ministério do Esporte.
Quando perguntei em que se baseava a afirmação, a resposta foi de que reportagem do Fantástico teria mostrado “claramente” que estava sendo entregue dinheiro do ministério do Esporte a ONG de militante do PC do B, o que, apesar de legal, seria “imoral”. Daí quis saber como se pode inferir, daquela reportagem, que há uma legião de ONGs desse partido mamando no ministério do Esporte como ONGs de nenhum outro partido  fazem em outros ministérios.
A pessoa, alguém muitíssimo bem informado, não soube informar. Disse-me, apenas, que estaria “clara” a existência de uma legião de ONGs do PC do B que seria toda fornida com dinheiro do ministério que o partido comanda há tanto tempo.
Então perguntei se isso não ocorreria em outros ministérios. Resposta: claro que ocorre porque o problema é “estrutural”, ou seja, o sistema que rege as relações do Estado com o Terceiro Setor propiciaria abusos. E o fato de a mídia só fiscalizar um lado não reduziria a “culpa” do lado que está sendo acusado.
A teoria é a seguinte: já que não dá para pegar os dois lados porque, por exemplo, pedidos de CPIs sobre a relação do governo de São Paulo com o Terceiro Setor dormitam na Assembléia Legislativa do Estado e continuarão ali pois a mídia não irá nunca fazer a mesma (ou qualquer) pressão sobre o PSDB , que se puna um lado só.
É aquela história da utopia possível. Já que não dá para fazer o necessário, que se faça o que dá para fazer até que, em algum dia incerto de um futuro distante, seja possível pegar os dois lados.
Aí pergunto à pessoa se fazer com que um lado só seja punido enquanto o outro fica livre não fará com que esses que têm licença para corromper ou ser corrompidos voltem ao poder e, aí, a corrupção estará institucionalizada, porque, então, como acontece aqui em São Paulo não haverá mais fiscalização do governo federal, mas, sim, aquela imprensa elogiosa, baba-ovo e chapa-branca da época de FHC.
Mas o que fazer, então? Calar? Compactuar com o roubo no meu lado e acusar o lado da mídia e da oposição porque compactua com o roubo dos seus aliados? Ou será que devo me juntar à direita e derrubar e desmoralizar o ministro Orlando Silva e seu partido mesmo que disso possa resultar que amanhã seja eleito um grupo político com licença para roubar, como era até 2002?
É absolutamente irracional que uma pessoa que deseja o melhor para o país possa querer que ocorram punições desonrosas como demitir Orlando Silva e execrar todo o seu partido sob denúncias não investigadas e sem provas inquestionáveis como a que levou o ex-governador de Brasília José Roberto Arruda do palácio do governo direto para o xilindró.
Há que fazer uma diferenciação entre o que é prática comum a todos os partidos, ministérios, secretarias de Estado e dos municípios – e que, inclusive, é legal, por mais que seja questionável – e o que é prática criminosa. Depois disso, não se pode querer debitar as deficiências do sistema a um único homem e seu partido inteirinho.
Todos sabem que a esposa do ex-governador José Serra tem uma ONG que recebe dinheiro de empresa estatal que o governo paulista controla, a Sabesp. A ONG da ex-primeira dama Ruth Cardoso, que Deus a tenha, também recebia dinheiro público. Mesmo que, presumidamente, essas organizações ligadas a tucanos façam aquilo a que se propõem com o dinheiro público que recebem, para essas pessoas não vale o mesmo critério que vale para membros do PC do B?
Só há uma postura correta, em tal situação: que as instituições de controle investiguem e que a Justiça puna ou absolva. Mas sem viés político. Se resultar uma constatação de culpa, que se puna só os corruptos que foi possível pegar, então. Agora, querer punir um lado só enquanto o outro lado tem licença para roubar, e ainda querer punir sem provas, não dá mesmo.
É por isso que todos perderam com o caso Orlando Silva. Porque falta honestidade a QUASE todos os lados. Quem defende o tribunal seletivo de exceção, está errado; quem não quer nem saber de investigação porque a intenção da mídia é clara, também; e quem entende que há hipocrisia da mídia mas acha que onde há fumaça há fogo, idem.
Quem queria o linchamento de Orlando Silva (a mídia e a oposição) perdeu porque apostou todas as fichas em que Dilma cederia, divulgou a demissão como fato e depois foi desmentido; quem está sendo acusado (o ministro e seu partido) também perde porque há gente séria e que sabe que a mídia é partidária e desonesta, mas que, mesmo assim, acredita nela.
Mas há um perdedor maior: a ética na política e na administração pública. No caso Palocci, por exemplo, como a onda de moralismo contra ele se limitou a defenestrá-lo e depois não tocou mais no assunto, nunca houve debate sobre regulação do processo de transição de cargos no governo para o setor privado, a tal quarentena. Então outros enriquecerão como Palocci.
Quem denuncia essa situação não quer impunidade “dos seus” coisa nenhuma. O que não se quer é pressa, é linchamento. Para desonrar alguém para o resto da vida com demissão sumária por corrupção, sobretudo sendo um partido político com dezenas de milhares de filiados, é preciso mais do que “Eu acho que eles fizeram, sim, porque parece que fizeram”.
Como alguém honesto e bem-intencionado pode pregar que se puna Orlando Silva e seu partido inteirinho sem que existam elementos inquestionáveis de prova? E o que é pior: em um prazo absurdo, ridículo de uma mísera semana após a acusação. Isso é linchamento, ora. Não há outro nome.
Não sei se o PC do B fez aquilo tudo de que o acusam. Vejo até gente séria dizendo que “é claro” que fez. Como assim? Quero a defesa do partido, para me posicionar. E o resultado de uma mínima investigação. Não posso aceitar esse linchamento feito de notícias falsas que chegam a desdizer inclusive a presidente da República quando ela diz que dará direito de defesa aos acusados.
Se ainda fosse a primeira vez, não seria “nada”. Mas é o quinto ministro que a mídia quer tirar “por corrupção” sem prova alguma sob o argumento de que “é claro” que se corrompeu, sendo que os quatro ministros anteriores, depois que saíram do cargo, não tiveram culpa provada, muitas vezes nem tendo existido qualquer investigação após se renderem à mídia.
Não se pode, é claro, dizer que inexiste a hipótese de os acusados da vez serem mesmo culpados, ainda que a hipótese de que um partido como o PC do B seja institucionalmente corrupto me soe para lá de absurda e até antidemocrática. Não diria tal coisa do PSDB, ao menos de cabeça fria. Posso discordar do partido, mas é claro que tem gente séria
Obviamente que há legendas de aluguel, mas se nos pretendemos em um Estado de Direito e não respeitamos o princípio “civilizatório” e constitucional de presunção da inocência, e ainda só contra um lado, estaremos apoiando uma ditadura midiática.
Bom seria, então, que quem fomentou essa farsa refletisse minimamente que, ao acusar leviana e indiscriminadamente os adversários, o país logo irá parar de vez de dar bola para qualquer denúncia, até para as fundamentadas. E a pior coisa que pode acontecer a um país é ele não se indignar com a corrupção. Mas é o que acontecerá, nesse ritmo.

A astúcia do “poste”



Este blog tem sido crítico em relação ao governo Dilma. Apesar de alguns pensarem que aqui não se critica o governo por acharem que crítica é fazer acusações de corrupção sem provas, crítica não é isso. Aqui não se faz oposição partidária, como a mídia, mas críticas objetivas à condução política do governo e quaisquer outras que eventualmente precisem ser feitas.
Aqui se faz até críticas à condução administrativa desse governo. Por exemplo, no que diz respeito ao processo de construção de um marco regulatório para as comunicações, do qual o governo Dilma tem se omitido de uma forma inaceitável em um momento em que o mundo discute regras e leis para a mídia.
Só aqui na América do Sul, Argentina, Bolívia, Equador, Uruguai, Paraguai e Venezuela já reformularam – ou estão reformulando – suas legislações sobre a matéria, adequando as leis aos novos tempos da comunicação digital. Estão muito à frente do Brasil, nesse quesito civilizatório e republicano que é extinguir castas privilegiadas.
Aliás, o país de Primeiro Mundo que têm uma das legislações mais brandas entre seus pares, a Inglaterra, está equacionando novas regras inclusive para conteúdo dos veículos impressos, que, antes, era autorregulado por eles e que, em breve, deve deixar de ser.
A condução política e a Comunicação do governo Dilma também são ruins. O governo se manifesta pouco e de forma ambígua e despolitizada em busca de se converter em uma espécie de repartição pública, apesar de que governos são eleitos e sustentados pela política e de que governo nenhum é apolítico como este parece tentar se mostrar.
Todavia, não se pode deixar de constatar, em nome da honestidade intelectual, que da última investida da mídia partidarizada contra o governo Dilma, agora em relação ao ministério do Esporte e ao seu titular, transpareceu estratégia política que, ao menos desta vez – e meramente até aqui –, parece que vai dando certo.
Dilma fala pouco sobre política e só quando provocada e o governo silencia quando explode a gritaria dos adversários políticos assumidos e enrustidos, o que permite à mídia colocar palavras na boca e na pena da presidente da República como fez agorinha mesmo, quando noticiou à farta a demissão do ministro do Esporte, Orlando Silva.
Ano passado, porém, durante o processo eleitoral, os colunistas e comentaristas da grande mídia, em uma exibição deprimente de engajamento político, cunharam para a atual presidente a alcunha depreciativa “poste”, aludindo a que, no poder, ela se tornaria uma títere do ex-presidente Lula, o que, mais uma vez, os fatos negam.
Tome-se a relação de Dilma com a mídia partidarizada e enrustida ou com os inimigos políticos assumidos. Todos dedicam um ódio e uma fixação patológicos a Lula. Dilma, porém, vai às festas dos meios de comunicação que tanto a detrataram e ao seu padrinho político – o termo “padrinho” é lícito porque quem a elegeu foi o antecessor – e hoje mesmo ela recebe, na residência oficial, o líder máximo dos desafetos de Lula, Fernando Henrique Cardoso.
Parece lógico inferir que, se Lula controlasse Dilma, essa relação entre ela, de um lado, e a mídia e a oposição de outro, seria mais parecida com a que ele teve…
Uma das frases que marcaram a era Lula, aliás, foi dele mesmo. O ex-presidente dizia, reiteradamente, que se orgulhava de nunca ter almoçado ou jantado com donos de meios de comunicação durante a sua Presidência. Aliás, este blogueiro ouviu isso dele pessoalmente quando o entrevistou no Palácio do Planalto, ano passado.
Brasileiro pode não ter memória política para fatos, mas as picuinhas políticas ficam gravadas. Quando se passa meses a fio chamando uma personagem política de “poste” em jornais, rádios, televisão e na internet, como foi durante o ano passado, isso fica, sim, na cabeça das pessoas.
Como todos sabem que Lula e FHC são adversários, ver Dilma e o tucano confraternizando diz muito sobre aquela história midiática de que, se eleita, ela se tornaria um joguete. O que alguém lhe diz e que não se confirma vai tirando, pelo menos em seu inconsciente, a confiança que você tinha em quem disse, sobretudo se acreditou anteriormente nesse alguém.
Esse desmentido factual da mídia aconteceu de novo, agora de forma mais explícita e instantânea. No último fim de semana, a mídia foi infestada pela “demissão” virtual do ministro Orlando Silva. O blogueiro da Veja, Reinaldo Azevedo, chegou a garantir, no sábado, que de segunda-feira ele não passava, como ministro.
Ontem à tarde, a caminho de casa, o blogueiro estaciona o carro diante de um botecão para comprar cigarros. Um grupo de senhores maduros, mais para idosos, tomava cerveja e conversava. Enquanto esperava para ser atendido pelo caixa do estabelecimento, percebeu que debatiam, acaloradamente, se Orlando Silva ainda era ministro ou não.
Um deles garantia que a nora, que dizia “bem informada, havia lhe comunicado que lera “no jornal” que o “negão” não era mais ministro, ao que outro afiançava que a informação estava errada, que o Jornal Nacional dissera que o ministro continua no cargo. E emendou: “Cada hora dizem uma coisa”.
É curioso como na era da informação este país se vê tão pouco informado. As novas tecnologias deveriam fazer com que os que se interessam pela informação pudessem se informar como nunca fora possível. Todavia, o que acontece hoje é o contrário. Cada vez mais as pessoas duvidam de informações porque, ao que um diz, o outro desdiz. Sobretudo em política.
Pensando bem, no entanto, talvez isso seja bom, porque informações polêmicas precisam de questionamento e de múltiplas versões.
Prossegue, no entanto, a dúvida deste blog em relação ao acerto da estratégia política de Dilma. Mas, astuciosamente, desta vez ela deixou a mídia “rasgar a camisa”, como diz uma amiga, ao investir dessa forma descontrolada contra o governo, chegando ao absurdo de anunciar a demissão de um ministro. E depois a deixou se estatelar ao mantê-lo no cargo.
O episódio conferiu credibilidade a afirmações quase inaudíveis de Dilma – por conta da baixa ou distorcida divulgação da mídia – de que os outros ministros não foram demitidos, de que saíram porque quiseram e de que, se quisessem, poderiam ter permanecido nos cargos, pois ela os teria mantido, e de que só saíram porque fraquejaram diante dos ataques da mídia às suas famílias.
Dilma, porém, aprimorou a sua estratégia. Apesar de poucas declarações, desta vez ela manifestou um apoio bem maior a um ministro na berlinda midiática, por mais que tenha condicionado esse apoio ao não surgimento das provas que a revista Veja e seu delator haviam prometido contra Orlando Silva e que garantiam que iriam “nocauteá-lo”.
Seja como for, ontem a mídia se arrebentou ao ter sido obrigada a divulgar matéria como a que saiu no portal G1 no meio da tarde, que reconhecia, já no título, que Policial diz que não tem provas específicas contra Orlando Silva. Mais à noite, no Jornal Nacional, a reportagem sobre o caso tampouco pôde fugir de reconhecer o mesmo.
No alto da página, imagem da capa da revista Época em uma edição publicada no fragor da disputa eleitoral do ano passado, em que Dilma aparecia fazendo uma pergunta que, neste momento, adquire um sentido especial: “Você acha que sou um poste?”. Se tivesse que responder, diria que, de “poste”, essa mulher que governa o Brasil não tem nada.