Uma das perguntas “difíceis” que o candidato Aécio Neves terá que responder durante a campanha eleitoral, é a seguinte: afinal de contas, a organização da Copa do Mundo de 2014 é ou não é responsabilidade de Dilma Rousseff?
Segundo o candidato a presidente Aécio Neves, as obras da Copa só seriam responsabilidade da adversária petista se, como ele previu, o evento tivesse sido um fiasco no quesito organização. Ao ter sido um sucesso, o tucano agora diz que o mérito é “do povo”.
Aécio e seu partido não podem apagar o que disseram. A Folha de São Paulo de 22 de fevereiro deste ano, por exemplo, reproduziu alegação do senador tucano de que o governo Dilma era responsável pelos “atrasos nas obras de mobilidade urbana para a Copa”.
Contudo, junho chegou e, com ele, a Copa. Não houve fiasco. Muito pelo contrário: o Brasil e o mundo se espantaram com a boa organização de um evento que, durante anos, todos ouviram dizer que fracassaria devido à organização. Por conta disso, Dilma subiu nas pesquisas.
Aécio não falou sozinho sobre a responsabilidade de Dilma na organização da Copa. Por anos, mídia e oposição, em conluio, responsabilizaram o governo federal pelo que viesse a ocorrer durante o evento, em termos de organização.
Como foi dito anteriormente nesta página, essa gente não respeita o povo; julga-o incapaz de pensar e de sequer se lembrar de fatos recentíssimos. É uma aposta alta, como se verá logo adiante.
Agora, Aécio e os órgãos de imprensa que o apoiam tentam confundir a organização da Copa com o resultado devastador que a Seleção brasileira obteve em campo. Capa do jornal O Estado de São Paulo de 10 de julho último afirma, na caradura, que Dilma “tenta” se “descolar” do “fracasso” da Seleção.
Como assim, “Dilma tenta se descolar”? Quer dizer que a presidente da República está “colada” ao “fracasso” da Seleção? Ela, por acaso, é a treinadora da equipe? Foi ela quem escolheu o treinador? Foi ela quem escolheu a direção da CBF?
Matéria do mesmo Estadão afirma, já no título, que “Tucanos avaliam que derrota na Copa anula discurso de petista” – ou seja, de Dilma. Segundo o texto, “Comitê de Aécio acredita que Dilma não poderá mais explorar Mundial” e quer que o “Sucesso extracampo” do evento seja “atribuído ao povo”.
Vamos esmiuçar a expressão “sucesso extracampo”. Significa, por óbvio, sucesso fora do campo. Que sucesso existe “fora do campo”? A organização do evento, claro.
Muito bem: então, pelo menos, Aécio e seu partido já admitem que a organização da Copa, que tanto criticaram, é um sucesso.
A grande pergunta que precisa ser feita ao candidato tucano, portanto, é a seguinte: como essa organização pode ser atribuída agora ao povo se até há pouco o mesmo candidato e seu partido atribuíam ao governo?
A péssima estratégia de Aécio foi comprada pela mídia tucana, que aumentou a aposta. Nesta sexta-feira, outro jornal apoiador de Aécio (a Folha) levou seu discurso torto à primeira página, em manchete principal.
Aécio critica uso da Copa? Sim, critica. Refere-se à organização do evento, pois Dilma tem dito que os pessimistas que previram “caos” agora têm que aplaudir. Mas quando ele disse que haveria esse “caos”, não fez “uso” da Copa?
Esse discurso duplo de Aécio é um suicídio político, mas só se a campanha de Dilma expuser essa contradição. Infelizmente, apesar de o ministro Gilberto Carvalho ter manifestado seu repúdio à cara-de-pau do candidato tucano, não houve uma declaração precisa sobre o que Aécio dizia antes e o que diz agora sobre a organização da Copa.
Contudo, a campanha eleitoral está só começando e os fatos estão amplamente registrados.
É óbvio que essa contradição do candidato tucano a presidente será levantada. Como ele irá explicar que a organização da Copa era responsabilidade de Dilma quando diziam que o evento fracassaria e deixou de ser quando, segundo os tucanos, tornou-se um “sucesso”?
A menos que a campanha de Dilma resolva colaborar com o adversário e deixe de expor o discurso duplo de Aécio sobre a organização da Copa, ele ficará em uma bela sinuca – não terá como responder à questão que este Blog propõe.