Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

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quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Carta Aberta a Arnaldo Jabor

Impiedoso, Mauro Carrara implode Arnaldo Jabor

Via Vermelho

Em carta aberta, jornalista desmascara Arnaldo Jabor
Leia abaixo a carta que o jornalista Mauro Carrara escreveu a Arnaldo Jabor, desmascarando os artifícios e a superficialidade do ultradireitista comentarista político da TV Globo.

Carta Aberta a Arnaldo Jabor
Mauro Carrara

Quase perfeitíssimo truão,
Primeiramente, atente ao substantivo, e não desconfie de insulto. Os bobos da corte são, historicamente, mais que promotores de fuzarca ou desvalidos a serviço do entretenimento. Os realmente talentosos urdiam na teia das anedotas a crítica a seus senhores monarcas, traduzindo pela ironia a bronca popular.
Era o caso do ácido e desengonçado Triboulet, vosso patrono, uma espécie de grilo falante capaz de estimular as consciências de Luís XII e Francisco I. Tantos outros venceram no ofício, como o impagável Cristobal de Pernia, uma espécie de conselheiro extra-oficial de Felipe IV.
Neste Brasil da pós-modernidade globalizante, el rei Dom Fernando Henrique Cardoso reviveu a bufonaria. No entanto, empregou-a de modo diverso, quase sempre como dissimulação hilariante para desviar atenções de sua ética de conveniência mercantil, tão bem definida por Dom José A. Gianotti, seu filósofo e encanador.
O ex-monarca utilizou ainda sua trupe de falastrões para promover a alienante festa pública sugerida por Maquiavel.  Portanto, nunca é exagero te parabenizar pelo empenho profissional.  Há anos, na ribalta televisiva, te devotas a divertir e iludir os ''psites do sofá'', mesmo depois que o tiranete a quem servias foi apeado do trono. Sempre diligente, conclamas e incitas, rebolando patranhas tal qual histriônico cabo de esquadra do restauracionismo.
Recentemente, contudo, causou-me espanto tua fúria salivante para edulcorar a participação do embusteiro Geraldo Alckmin no embate contra o grisalho herói de todos os sertões.
Como é próprio de teu ofício, fizeste rir ao embaralhar significados, ao abusar das hipérboles, ao exceder-se nos adjetivos impróprios, ao viajar na maionese das idéias desconexas.
No entanto, truão Jabor, prosperou aqui a dúvida. Que quiseste dizer com o clichê ''choque de capitalismo''? Seria referência ao rombo de R$ 1,2 bilhão legado pelo embusteiro alquimista ao ressabiado governador Lembo? Ou seria apenas ironia herdada de teus predecessores, na profecia zombeteira de um novo ''que comam brioches''?
Destacam-se também, como enigmas, tuas dupletas acres de escassa teoria. São os casos de ''socialismo degradado'', ''populismo estatista'' e ''getulismo tardio''. Eita, nóis! Que essas vigarices binárias nos viessem, ao menos, com sal de fruta. Né? Ora, de qual ''socialismo'' tratas? Será que resolveste, no supletivo dos sexagenários, estudar a industrial cultural e as idéias de Adorno? Hum... Pouco provável.
No que tange ao termo ''populismo'', arrisco uma resposta. Tu o compraste na escribaria de ordenança dos novos donatários. É coisa do bazar de tolices de Civita e Frias Filho. Acertei? Diga aí...
Mas o que queres dizer com ''getulismo''? Pelo que percebi, escapa-te o fenômeno à compreensão histórica. Tratas daquele do Departamento de Imprensa e Propaganda?  Ou te referes àquele das necessárias justiças trabalhistas?
Outros exageros me encafifaram em tua anedota de encomenda. Tratas lisergicamente de um São Paulo ''rico'', como se construído dos empenhos da malta quatrocentona. Em teus seminários de apedeuta, desapareceu o povo. Evaporaram-se João Ramalho, Bartira, Tibiriçá, Anchieta, tantos mamelucos arabizados, tantos avós europeus aqui remixados, tantos irmãos nordestinos que ergueram nossos arranha-céus. Teu São Paulo mítico, tristemente, não admite a antropofagia.
E tem mais... Em tua pregação, o embusteiro Alckmin surge como legítimo herdeiro da alva elite construtora do progresso. Nesse delírio pós-positivista e lombrosiano, não há rastro d a gestão criminosa dos privateiros tucanos, dos sonegadores dasluzeiros, dos pedageiros corruptos e dos sócios do marcolismo.  Não te rendeste ao excesso? Ai, ai, ai...
Agitando guizos, executas tua prestidigitação. Empregas, em simultâneo, o sapato pontudo para alojar sob o tapete o sacrifício juvenil na Febem, as nove centenas de contratos irregulares e o estupendo assalto ao tesouro da gente bandeirante. Não exageraste? És bufão ou advogado, truão Jabor?
Entre tuas deformações, tão valiosas ao ofício, suponho até mesmo a cegueira de um olho. Ignoras o júbilo de milhões de vassalos não mais famintos, agora metidos a escrever o próprio nome. Vê, quanto atrevimento! Tampouco registras a voz de ameríndios e afro-descendentes, agora perigosamente mais próximos de ti, a tomar lugar nos bancos da universidades. Não enxergas a energia elétrica nos grotões nem o canto de esperança dos humildes da terra, fortalecidos em cooperativas de produção.
Depois, qual demiurgo de botequim, dizes que o nasolongo Alckmin é ''incisivo'', enquanto o outro te parece ''evasivo''. Ladino que és, julgas os combatentes pelo aspecto cênico e não pela natureza das idéias. No caso do embusteiro alquimista, excedes ao elogiar o espantalho bélico, aplicadíssimo ao método de stanislavskiano. Ora, magnífico truão, todos vimos que o herói de todos os sertões é adepto de outra técnica. Pisa o palco de Brecht, revelando-se como realmente é, antes que se mistifique no papel de fundeiro de microfone.
Cantaste, portanto, a vitória do ''limpinho'', do ''sem barba'', do malcriado que imita Tyson. Como líder de torcida, vibraste na platéia, tuas pernas flácidas saltitando de contentamento, as mãos agitando invisíveis fitas coloridas. Ah, mas perdeste a razão...
Depois, destilaste teu parvo sarcasmo sobre o ''povo'', sobre a ''mãe analfabeta'' do operário e sobre os ''pobres'', em suma, sobre esses todos do ''lado de cá''. Na piada rancorosa, revelaste um desprezo moldado para a auto-proteção.
Sabes o quanto é doloroso viver deste lado da linha, no território dos anônimos, dos que sofrem e trabalham de verdade.
Se há dialética nesta missiva, agrego teus motivos. Sabes o valor de uma adoção real, ainda que precises caminhar de quatro, atado à coleirinha de el rei. Sabes o quanto é estratégica essa assepsia, esse descontato com o ímpio das ruas, dos campos e das construções.
Assim, me permito uma visita a teu passado. Tua obra ''séria'' resultou, caro truão, em enorme fracasso. E, disso, bem sabes. Por um tempo, tuas ventosas de sanguessuga agarraram algumas tetas públicas. Desse modo, pudeste alimentar teus espetáculos de terceira categoria, ainda que fizessem rir quando a intenção era pretensiosamente induzir à reflexão.
Incerto dia, pobre de ti, todo o oportunismo de parasita foi castigado, de modo que te encontraste novamente vadio, mergulhado na mais profunda frustração. Naquele momento, julgo, buscaste inspiração em Triboulet...
Na Vênus Platinada do decrépito Marinho, iniciaste tua pândega panfletária, calcada na manipulação marota de cacos de idéias. Nada por inteiro. Coerente para quem, por natureza, carece de  integridade.
Esse flashback permite, portanto, compreender melhor o roteiro cínico. Tanto faz se teu senhor largou o reino às escuras, se destacou piratas para pilhar o patrimônio público, se foi incompetente até mesmo para empreender no capitalismo que tanto celebras. Às tuas costas, no tempo, estende-se a terra arrasada pela peste do egoísmo, habitada de fariseus neoliberais e de peruas ridículas e mesquinhas. Por meio da ruidosa retórica de falso indignado, desvias o olhar público dessa paisagem da tragédia.
Para seguir o ato farsesco, fazes descer o pano da falácia sinistra do golpismo lacerdista, da distorção, da maledicência e da espetacularização do rito inquisitório. Simulas ver aqui, em alto grau, o que ignoras ali. Na telinha da ''Grobo'', distribui sofismas, injetas no sangue de Otello a desconfiança, patrocinas a intriga nacional.
Poder-se-ia encontrar em ti o personagem Sacripante. Uma observação acurada, entretanto, revela mais um Silvério dos Reis das artes cênicas. Certa vez, me disse Henfil: ''o pior humorista é o que vende sua comédia aos canalhas que fazem o povo chorar''. Simples, didático, serve à elaboração de um código de ética de tua categoria.
Pois, tua notícia deturpada do embate, devotado truão, mostrou-se cômico engodo. Foi lá, teu embusteiro ''truco-lento'' dar com as fuças na parede. Saiu do campo laureado e enganado, pior que Pirro. Este, menos imbecil, admitiu que a vitória contra os romanos fora uma tragédia, o prólogo de sua ruína.
Portanto, o exemplo da derrota também te serve. Decisivamente, ainda que te gabes, jamais superaste Paulo Francis, o bobo da corte mais destro nessas artes de sabujo-rabujo. E se cultivas alguma pretensão de hegemonia, te sugiro mover o pescocinho atrofiado. Pilantrinhas peraltas, como Mainardi e Azevedo, emparelham já contigo, disputam hidrofobicamente a suprema magistratura da bufonaria.
E, percebe truão, que a dupla tonto-fascista não te fica a dever: são também inescrupulosos, traiçoeiros e carregam a poderosa energia do ressentimento, sem contar que igualmente migraram do fracasso profissional para a aventura mercenária midiática.
Por fim, adorável truão, ajusta o relógio da tua soberba. Não é hora de celebrar a ignomínia convertida em comédia.  Nem é momento de levantar a horda de rufiões da ''ética'' para cantar a vitória restauracionista. Para além dos simulacros do teu moralismo cínico, lambuzado de paroxismos impróprios, exercita-se o sabre do julgamento público, implacável, aquele cuja lâmina é afiada pelo tempo. Subiram os letreiros... Perdeste o charme. Perdeste a graça.

Mauro Carrara - Jornalista

A medíocre elite social brasileira

Ignorante e presunçosa, ela lê pouco, ostenta, cultiva o consumismo e tem profundo preconceito em relação às maiorias


Henrique Abel, no Observatório da Imprensa

Um dos preconceitos mais firmemente bem estabelecidos no Brasil é aquele que afirma que a culpa de todos os problemas do país decorre da “ignorância do povo”. A elite social da população brasileira, formada pelas classes A e B, em linhas gerais, está profundamente convencida de que o seu status de elite social lhe concede – como um bônus – também o título de “elite intelectual” do país.
Dentro desse raciocínio, a elite brasileira “chegou lá” não apenas economicamente, mas também no que diz respeito às esferas intelectuais e morais – talvez até espirituais. O país só não vai pra frente, portanto, por causa dessa massa de ignóbeis das classes inferiores. Embora essa ideia preconcebida seja confortável para o ego dos que a sustentam, os fatos insistem em negar a tese do “povo ignorante versus elite inteligente”.
O motivo é simples de entender: em nenhum lugar do mundo, a figura genericamente considerada do “povo” se destaca como iluminada ou genial. Por definição, uma autêntica elite intelectual de um país se destaca, precisamente, por seu contraste com a mediocridade (aí entendida como “relativa ao que é mediano”). Ou seja, não é “o povo” que tem obrigações intelectuais para com a elite social, e sim, justamente o contrário: é preferencialmente entre a elite social e econômica que se espera que surja, como consequência das melhores condições de vida desfrutadas, uma elite intelectual digna do nome.
Analfabetos funcionais
Uma elite social que, intelectualmente, faça jus ao espaço que ocupa na sociedade, não apenas cumpre com o seu papel social de dar algum retorno ao meio que lhe deu as condições para uma vida melhor como, ainda, cumpre o seu papel de servir como exemplo – um exemplo do tipo “estude você também”, e não um exemplo do tipo “lute para poder comprar um automóvel tão caro quanto o meu”.
Tendo isso em mente, torna-se fácil perceber que o problema do Brasil não é que o nosso povo seja “mais ignorante”, pela média, do que a população dos Estados Unidos ou das maiores economias europeias. O problema, isso sim, é que o nosso país ostenta aquela que é talvez a elite social mais ignorante, presunçosa e intelectualmente preguiçosa do mundo, que repele qualquer espécie de intelectualidade autêntica precisamente porque acredita que seu status social lhe confere, automaticamente, o decorrente status de membro da elite intelectual pátria, como se isso fosse uma espécie de título aristocrático.
Nenhum país do mundo tem um povo cujo cidadão médio é extremamente culto e devorador de livros. O problema se dá quando um país tem uma elite social que é extremamente inculta e lê/escreve num nível digno de analfabetismo funcional. Pesquisas recentemente divulgadas dão por conta que apenas 25% dos brasileiros são plenamente alfabetizados, e que o número de analfabetos funcionais entre estudantes universitários é de 38%. A elite social brasileira possivelmente acredita que a totalidade desses 75% de deficientes intelectuais encontra-se abrangida pelas classes C, D e E.
Sem diferença
Será mesmo? Outra pesquisa recentemente divulgada noticiava que o brasileiro lê uma média de cerca de quatro livros por ano. Enquanto os integrantes da Classe C afirmavam ter lido 1,79 livro no último ano, os integrantes da Classe A disseram ter lido 3,6. O número é maior, como naturalmente seria de se esperar, mas a diferença é muita pequena dado o abismo de condições econômicas entre uma classe e outra. Qual é o dado grave que se constata aí? Será que o problema real da formação intelectual do nosso país está no fato de que o cidadão médio lê apenas dois livros por ano? Ou está no fato de que a autodenominada elite intelectual do país lê apenas quatro livros por ano? Vou encerrar o argumento ficando apenas no dado quantitativo, sem adentrar a provocação qualitativa de questionar se, entre esses quatro livros anuais, consta alguma coisa que não sejam os últimos e rasos best-sellers de vitrine, a literatura infanto-juvenil e os livros de dieta e autoajuda.
O que importa é ter a consciência de que o descalabro intelectual brasileiro não reside no fato de que o típico cidadão médio demonstra desinteresse pela vida intelectual e gosta mais de assistir televisão do que de ler livros. Ora, este é o retrato do cidadão médio de qualquer país do mundo, inclusive das economias mais desenvolvidas.
O que é digno de causar espanto é, por exemplo, ver Merval Pereira sendo eleito um imortal da Academia Brasileira de Letras em virtude do “incrível” mérito literário de ter reunido, na forma de livro, uma série de artigos jornalísticos de opinião, escritos por ele ao longo dos anos. Ou seja: dependendo dos círculos sociais que você frequenta, hoje é possível ingressar na Academia Brasileira de Letras meramente escrevendo colunas de opinião em jornais. Podemos sobreviver ao cidadão médio que lê dois livros por ano, mas não estou convencido de que podemos sobreviver a uma suposta elite intelectual que não vê diferença literária entre Moacyr Scliar e Merval Pereira.
“Vão ter que me engolir”
Apenas para referir mais um exemplo (entre tantos) das invejáveis capacidades intelectuais da elite social brasileira: na semana passada, o jornal Folha de S.Paulo noticiou que uma celebridade global havia perdido a compostura no Twitter após sofrer algumas críticas em virtude de um comentário que havia feito na rede social. A vedete, longe de ser uma estrelinha de quinta categoria, é casada com um dos diretores da toda-poderosa Rede Globo.
Bem, imagina-se que uma pessoa tão gloriosamente assentada no topo da cadeia alimentar brasileira certamente daria um excelente exemplo de boa formação intelectual ao se manifestar em público por escrito, não é mesmo? Pois bem, vamos dar uma lida nas sua singelas postagens, conforme referidas na reportagem mencionada:
“Almas penadas, consumidas pela a inveja, o ódio e a maledicência, que se escondem atrás de pseudônimos para destilarem seus venenos. Morram!”
“Só mais uma coisinha! Vão ter que me engolir, também f…-se, vocês são minurias [sic] e minuria [sic] não conta.”
Em quem se espelhar?
Não vou nem entrar no mérito da completa falta de educação dessa pessoa, que parece menos uma rica atriz global do que um valentão de boteco. Vou me ater apenas a dois detalhes. Primeiro: a intelectual do horário nobre da Globo escreve “minoria” com “u”, atestando para além de qualquer dúvida razoável que se encontra fora do grupo dos 25% dos brasileiros plenamente alfabetizados (ela comete o erro duas vezes, descartando qualquer possibilidade de desculpa do tipo “foi erro de digitação”).
Segundo: ela acha que “minorias não contam”, demonstrando, portanto, que ignora completamente as noções mais elementares do que vem a ser um Estado democrático de Direito, ou mesmo o simples conceito de “democracia” na sua acepção contemporânea. Do ponto de vista da consciência de direitos políticos, sociais e de cidadania é, portanto, analfabeta dos pés à cabeça.
Com os ricos e famosos que temos no Brasil, em quem o mítico e achincalhado “homem-médio” poderia mesmo se espelhar?

Mariana Gomes: Brasil deve rejeitar seu papel no imaginário racista e colonizador



Hasteamento da bandeira olímpica no Rio de Janeiro. (Foto Tânia Rêgo, Agência Brasil)
O jeitinho brasileiro nas Olimpíadas de Londres
por Mariana Selister Gomes*
O brasileiro, com seu sorriso e samba no pé, cativa o segurança britânico e, com seu jeitinho brasileiro, entra nas Olimpíadas de Londres.
Um britânico branco, detentor da vigilância, tenta humilhar o brasileiro negro que acaba por conquistá-lo com dança e sorriso.
Essa é a imagem que o Brasil ainda quer mostrar ao mundo?
Ainda vamos aceitar essa parte que nos cabe no imaginário internacional racista e colonizador?
Temos que mostrar nosso samba no pé e nosso sorriso com muito orgulho.
Mas esse povo que samba também trabalha e com seu árduo trabalho, principalmente dos brasileiros afrodescendentes, ajudou a construir inclusive a riqueza europeia.
Temos que mostrar nosso samba como parte da nossa história e não como entretenimento para inglês ver.
Temos que mostrar nossos Renatos Sorrisos com toda a dignidade e grandeza que nós merecemos e não sendo corridos por seguranças europeus e tendo que cativar gringos com ginga para serem respeitados.
Já é chegada a hora de acrescentar a nossa capacidade de trabalho (técnico, científico, intelectual e artístico) à imagem de samba e de alegria.
Não queremos mais ser apenas o “bobo da corte” dos grandes centros mundiais.
As Olimpíadas são um importante momento de (des)(re)construção da imagem de um país no mundo.
Eu, que há alguns anos tenho pesquisado a imagem do Brasil, tenho esperança que a Copa do Mundo de Futebol de 2014 e as Olimpíadas do Rio de 2016 sejam (ao menos) aproveitadas para reposicionar a imagem do nosso país.
Na amostra em Londres (ainda bem) não apresentaram mulheres dançando seminuas para alimentar o imaginário europeu de mulher brasileira como objeto sexual (que faz com que brasileiras imigrantes sofram com assédios, preconceitos e discriminações).
Ainda posso ter esperança…
Esperança…
Estamos cansados de ter esperança!
Precisamos de mais investimento (público e privado) sério, democrático e socializado, nas nossas crianças, nos/as nossos/as atletas, na nossa imagem…
Afinal “esse Brasil que canta e é feliz; é também um pouco de uma raça, que não tem medo de fumaça e não se entrega não”.
 *Doutoranda em Sociologia no Instituto Universitário de Lisboa, bolsista de doutorado pleno no exterior da CAPES/MEC/Brasil, criadora do  “Manifesto contra o preconceito às mulheres brasileiras em Portugal”
Leia também:
Por unanimidade, Justiça condena o coronel Brilhante Ustra como torturador da ditadura
Tatiana Merlino: “Seguiremos em busca de Justiça contra Ustra e os outros torturadores do meu tio”
Relatório da Secretaria de Direitos Humanos confirma: Reitor da USP votou contra vítimas da ditadura
Para acessar o relatório na íntegra, basta clicar aqui
Vladimir Safatle: Respeitar a Lei da Anistia?
Marcio Sotelo: Punir a tortura é direito e dever da humanidade
Mauricio Dias: A verdade sobre a Lei da Anistia aflora?
Criméia Almeida: “Quem já luta há mais de 30 anos, não vai desistir agora”
Edson Teles: Punir ou anistiar os torturadores?


Menina de Ouro do Piauí faz História no Brasil Olímpico


Quando saiu do Brasil rumo a Londres, a pequena SARAH MENEZES carregava expectativas desproporcionais para seu tamanho. Lutadora mais leve da seleção de judô, a peso-ligeiro, de apenas 1,52m e 48kg, era a grande esperança de primeira final olímpica do Brasil entre mulheres na história da modalidade. A piauiense, porém, foi além: com a vitória neste sábado sobre a romena Alina Dumitru, campeã dos Jogos de Pequim 2008, Sarah entrou para a história como a primeira mulher brasileira a ganhar uma medalha de ouro no judô nas Olimpíadas. A grandeza da conquista pode ser medida também na comparação com outras modalidades. Até este sábado, só uma mulher brasileira havia conseguido o ouro em prova individual na história das Olimpíadas: Maurren Maggi, no salto em distância, em Pequim 2008.(G1)
olympics/2012/athletes/2c680dff-8a94-4c4c-959a-46c33b596cb6 com/2012/olympics/judo/wires/07/28/2090.ap.oly.jud.women.s.48k/index.html 2012/07/28/sarah-menezes-gold-olympic-womens-judo-medal_n_1713717.html sports/sarah-menezes-of-brazil-wins-womens-48-kilogram-olympic-judo-gold-medal/2012/07/28/gJQA6dpAGX_story.html

Pesquisa do Datafolha é fraudulenta


Resultados de encomenda 
Marcos Coimbra 

Na primeira aula do curso de pesquisa de opinião, o aluno aprende as coisas básicas da profissão. Uma é ter cuidado com as perguntas indutivas.

É esse o nome que se dá às que são formuladas com um enunciado que oferece informação ao entrevistado antes que ele responda.

Há diversos tipos de indução, alguns dos quais muito comuns. Quem não conhece, por exemplo, a pergunta chamada de "voto estimulado", feita habitualmente nas pesquisas eleitorais? Ela pede ao respondente que diga em quem votaria, tendo em mãos uma lista com o nome dos candidatos.

É claro que, assim procedendo, avalia-se coisa diferente do "voto espontâneo".

Para diminuir o risco de que a indução conduza os entrevistados a uma resposta, recomenda-se evitar que o pesquisador leia nomes. Mesmo inadvertidamente, ele poderia sugerir alguma preferência, seja pela ordem de leitura, seja por uma possível ênfase ao falar algum nome. Daí, nas pesquisas face a face, o uso de cartões circulares, onde nenhum vem antes.

Essa cautela — e outras parecidas — decorre da necessidade de ter claro o que se mede. Sem ela, podemos confundir o significado das respostas.

Dependendo do nível de indução, o resultado da pesquisa pode apenas refletir a reação ao estímulo. Em outras palavras, nada nos diz a respeito do que as pessoas genuinamente pensam quando não estão submetidas à situação de entrevista.
Para ilustrar, tomemos um exemplo hipotético.

Vamos imaginar que alguém quer saber se as pessoas lamentaram a derrota da equipe de vôlei masculino na disputa pela medalha de ouro na Olimpíada. A forma "branda" de perguntar talvez fosse começar solicitando que dissessem se souberam do resultado e como reagiram — sem informar o placar.

Outra, de indução "pesada", seria diferente. A pergunta viria a seguir a um enunciado do tipo "O Sr./A Sra. ficou triste ao saber que o Brasil perdeu para a Rússia, depois de liderar o jogo inteiro e precisar apenas um ponto para se sagrar campeão olímpico?"

Nessa segunda formulação, ela não somente induz um sentimento (mencionando a noção de "tristeza"), como oferece um motivo para ele (a ideia de ter estado perto de alcançar algo desejável).

É muito provável que os resultados das duas pesquisas fossem diferentes. Na primeira, teríamos a aferição da resposta espontânea — e mais real. Na segunda, a mensuração de uma reação artificialmente inflada. Em última instancia, fabricada pela própria entrevista.

É o que aconteceu com a recente pesquisa do Datafolha sobre os sentimentos da opinião pública a respeito do "mensalão" e seu julgamento.

Contrariando o que se esperaria de um instituto subordinado a um jornal, não deixa de ser curioso que decidisse fazer seu primeiro levantamento sobre o assunto 10 dias depois do início do processo no Supremo. Dez dias depois de ter sido pauta obrigatória nos órgãos da "grande imprensa". Dez dias depois de um noticiário sistematicamente negativo — como aferiram observadores imparciais.

Preferiu pesquisar só depois que a opinião pública tivesse sido "aquecida". Foi à rua medir o fenômeno produzido.
Não bastasse a oportunidade, a pesquisa abusou de perguntas indutivas, que tendiam a conduzir os entrevistados a determinadas respostas. Como diz a literatura em língua inglesa, fornecendo-lhes "pistas" sobre as respostas "corretas".
Mas o mais extraordinário foi seu uso editorial, na manchete que ressaltava que a maioria desejava que os acusados fossem "condenados e presos".

Parecia de encomenda: embora o resultado mais relevante da pesquisa fosse mostrar que 85% dos entrevistados sabiam pouco ou nada do assunto, o que interessava era afirmar a existência de um desejo de punição severa.

E quem se importa com o que estabelecem as normas das boas pesquisas!

O jogo da Globo, da Veja, do PT e do Protógenes...


por JV
A Globo, ontem, fez o jogo dela. Sabe que a revista Veja corre o perigo de ir para a fogueira e tratou de sair na frente, dando uma matéria no Fantástico a respeito de Carlinhos Cachoeira. Nem uma palavra sobre Policarpo Jr., é claro. Faz sentido. Afinal, a emissora foi parceira da Veja esse tempo todo. Repercutiu uma a uma as matérias criminosas feitas pela revista, como o grampo sem áudio. Se disser que Veja estava o tempo todo vinculada a um criminoso irá admitir inderetamente que ela também estava. Nojento, portanto. Mas compreensível.
Mais nojenta e menos compreensível é a atitude dos parlamentares da base aliada na CPMI, que vêm atuando como verdadeiros guardiões da revista, sabotando sistematicamente todas as tentativas de convocar Policarpo Jr. para depor. O Partido dos Trabalhadores não é uma pobre vítima do PMDB de Temer, como dizem alguns. É CÚMPLICE de Temer. Ambos atuam em conjunto para proteger a revista. Hà vozes isoladas (não só nem principalmente do PT) pedindo a convocação. O PT enquanto partido tem sido CONTRA. 
Ao que tudo indica, existe um acordo de "cavalheiros" entre o governo Dilma Rousseff e a editora Abril. A revista Veja faria apenas críticas pontuais ao governo, sem lançar nenhum tipo de campanha sistemática de desestabilização. Em troca, o governo cerraria fileiras contra o envolvimento da revista na CPMI. Agora, com o surgimento de novas evidências, o preço parece ter aumentado. Já não basta mais "pegar leve". Tem que aderir. Tem que apoiar. Anunciando na capa seu apoio ao governo Dilma Rousseff, a revista (para usar a metáfora popular que vem tão a propósito neste caso) ficou de quatro. Não se trata exatamente, como se vê, de uma posição política.
Meu palpite é que o assunto ganhou dinâmica própria. Cada vez menos deputados estarão dispostos a encobrir as falcatruas da revista. Temos que ficar atentos. Minhas atenções, por exemplo, recaem sobre o deputado Protógenes Queiroz, em quem infelizmente votei nas últimas eleições. No momento em que mais precisávamos dele, sumiu. Fez tanto barulho, e na hora H não dá as caras. O delegado deve explicações, sim, e não apenas a respeito da revista Veja. Vemos agora quem era o Dadá que ele chamou para auxiliá-lo durante a operação Satiagraha. Um capanga de Carlos Cachoeira. Um torturador a mando de um bicheiro, pelo que mostram os áudios divulgados ontem pela Rede Globo. Não duvido que o silêncio do delegado seja o produto de algum tipo de chantagem. Envolveu-se até o pescoço com essa gente, que agora tem munição de sobra para usar contra ele, caso não se comporte direitinho. 

Temos que denunciar sistematicamente E SEM MEDO os parlamentares que traem nosso voto nesse caso. Nada de aliviar a situação dos parlamentares do PT, por exemplo. Cada um tem que mostrar a sua cara. Queremos a convocação de Policarpo Jr. Queremos ver a revista Veja na berlinda, explicando-se a respeito de suas relações com Carlos Cachoeira. Achamos uma infâmia que parlamentares de esquerda ajam como têm agido nesse caso. Não votaremos mais em quem se comporta desse modo. Vocês ficarão sozinhos em breve. Sem mandato, serão alvos fáceis para seus algozes. Quatro anos passam muito rapidamente. Dois, aliás, já se passaram.

Governo lança programa de concessões de rodovias e ferrovias


O programa prevê a duplicação de 7,5 mil quilômetros de rodovias e a construção de outros 10 mil de ferrovias, com previsão de investimento total de R$ 133 bilhões, sendo R$ 79,5 bilhões já nos primeiros cinco anos. “Nós, aqui, não estamos nos desfazendo de patrimônio público para acumular caixa e reduzir dívida. Nós estamos fazendo parcerias para ampliar a infraestrutura do país, para beneficiar sua população e seu setor privado, para saldar uma dívida de décadas de atraso em investimentos em logísticas e, sobretudo, para assegurar o menor custo logístico possível, sem monopólios”, afirmou a presidenta Dilma Rousseff.

Brasília - O governo federal lançou nesta quarta (15), em cerimônia no Palácio do Planalto, o Programa de Concessões de Rodovias e Ferrovias, que prevê a duplicação de 7,5 mil quilômetros de rodovias e a construção de outros 10 mil de ferrovias, com previsão de investimento total de R$ 133 bilhões, sendo R$ 79,5 bilhões já nos primeiros cinco anos. “É o maior programa do gênero que já se fez no país”, anunciou o ministro dos Transportes, Paulo Sérgio Passos.

Segundo ele, a iniciativa faz parte do Programa de Investimentos em Logística que, na próxima semana, anunciará também mudanças na política de concessões de portos e aeroportos, com o objetivo de integrar os diferentes modais, reduzir custos e ampliar a capacidade de transporte, promover a eficiência e aumentar a competitividade do país, além de estimular o investimento nacional e internacional no setor.

A presidenta Dilma Rousseff disse que os investimentos em logística significarão “menor custo para quem produz, para quem paga impostos, e, fundamentalmente, mais e melhores empregos”. “Nosso modelo de desenvolvimento deu certo e iremos preservá-lo. Mas preservá-lo consiste em aprofundá-lo. Para continuar sendo justo, o Brasil precisa ter uma economia cada vez mais competitiva. E isso implica em custos mais baixos de infraestrutura”, afirmou.

A presidenta destacou o acerto do governo brasileiro em adotar um modelo de desenvolvimento baseado no trinômio desenvolvimento, crescimento e inclusão social. “Poucas vezes na história um projeto estratégico para o Brasil deu resultados tão positivos e também tão promissores”, disse.

Segundo ela, o Brasil se tornou a sexta economia mundial, com estabilidade, respeito aos contratos, situação fiscal equilibrada, crescimento do emprego e ampliação da renda dos trabalhadores. “Nós criamos um dos maiores mercado interno de consumo do mundo. Com isso, nós tornamos o Brasil um país menos desigual”, continuou.

Concessão X privatização
A presidente refutou, desde já, possíveis críticas ao sistema de concessões. “Nós, aqui, não estamos nos desfazendo de patrimônio público para acumular caixa e reduzir dívida. Nós estamos fazendo parcerias para ampliar a infraestrutura do país, para beneficiar sua população e seu setor privado, para saldar uma dívida de décadas de atraso em investimentos em logísticas e, sobretudo, para assegurar o menor custo logístico possível, sem monopólios”, ressaltou.

Em coletiva à imprensa, o ministro dos Transportes, Paulo Sérgio Passos, também defendeu a parceria público-privada. “Esse programa se soma ao grande esforço de investimento que é o PAC. As concessões não substituem as obras públicas, mas as completam”, esclareceu.

Segundo ele, a duplicação das rodovias envolverá a concessão 2,3 mil quilômetros a mais do que o já realizado até agora, com previsão de investimentos de R$ 42 bilhões. São nove lotes de obras, envolvendo corredores que se articulam com outras rodovias do país. “É mais do que tudo o que já foi feito até hoje em termos de rodovias”, enfatizou.

Já as ferrovias devem receber R$ 56 bilhões só nos cinco primeiros anos, e R$ 35 bilhões nos seguintes. No total, são 12 empreendimentos que favorecem o escoamento de grãos, minério e produção siderúrgica. “Aqui está se desenhando uma grande rede nacional de grande capacidade”, afirmou o ministro.

Ele frisou que os investidores terão condições bastante favoráveis de financiamento, com subsídios expressivos. Os investimentos serão financiados com juros de TJLP + até 1% ao ano, carência de cinco anos e amortização em 20 anos para rodovias e 25 para ferrovias, além de grau de alavancagem entre 65% e 80%.

Também assegurou que usuários não serão prejudicados. De acordo com ele, seleção dos vencedores das concessões se dará por menor preço de tarifa de pedágio, não haverá cobranças em áreas urbanas e a cobrança só será iniciada após a conclusão de pelo menos 10% das obras. O ministro destacou também que as obras iniciais deverão gerar 150 mil empregos diretos.


Fotos: Wilson Dias/ABr

FHC aposta no mensalão contra a superioridade histórica de Lula




Aparentemente, Fernando Henrique Cardoso é um homem feliz. A mídia aliada o retrata sempre satisfeito e sorridente enquanto tece loas ao seu desastroso período à frente do governo do país. Todavia, é um homem magoado e frustrado com o registro que a história e a voz do povo, que só as urnas expressam com clareza, fazem de sua atuação como presidente.
Uma década após ter sido virada a página daqueles oito anos de crises incessantes, de desemprego, de quebradeiras, de descrédito internacional do Brasil, de aumento da violência e da criminalidade, de caos na educação e na saúde e até de aumento da pobreza e da desigualdade, tentam reescrever a história. Contudo, tem sido em vão.
A maior prova de que dez anos foram tempo insuficiente para o povo brasileiro esquecer o que foi a era FHC está na última eleição presidencial, na qual, como em todas as eleições presidenciais anteriores desde 2002, o candidato do PSDB da vez (José Serra) tentou esconder o ex-presidente da República de seu partido de forma que o eleitorado não o associasse a ele.
Eis que, no âmbito do julgamento do mensalão “do PT”, o ressentido ex-presidente vê a oportunidade de tisnar o período presidencial que sucedeu ao seu e que, de forma diametralmente oposta, recebeu dos brasileiros toda a aprovação possível e imaginável.
Quase dois anos após ter deixado a Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva ainda é objeto da admiração e do respeito do povo ao ponto máximo, a um ponto tão alto que pesquisa de opinião do instituto Sensus recém-divulgada mostra que nada mais, nada menos do que SETENTA POR CENTO dos brasileiros querem que Lula governe de novo o Brasil.
FHC, então, sempre contando com uma literal tentativa de fabricação da realidade por uma mídia que cooptou durante seu governo, acaba de declarar publicamente que condenações no julgamento do mensalão irão “manchar” o governo daquele que o sucedeu na Presidência da República.
De onde o ex-presidente tucano tirou isso? De alguma pesquisa de opinião? De alguma pitonisa? Nada disso: tirou essa hipótese de seus desejos mais recônditos de ao menos minimizar o êxito espantoso que ao menos o povo brasileiro e o mundo atribuem a Lula e ao seu período histórico na Presidência da República.
O que será registrado nos livros de história sobre esses dois períodos de governo tão distintos, a retórica dos titulares dos governos entre 1995 a 2002 e entre 2003 a 2010 e dos aliados de cada um ou os fatos, ou seja, os resultados finais daqueles governos e a visão do povo sobre cada um deles?
A história registrará que não apenas Lula jamais teve fato que o desabonasse comprovado ou sequer analisado pela Justiça como legou à sucessora um país com a economia entre as mais organizadas do planeta e com uma situação social infinitamente melhor do que a do período que antecedeu seu governo pleno de êxitos e realizações que o mundo reconheceu.
Não é fácil reescrever história. Isso porque ela não é escrita só pelos grandes órgãos de imprensa ou por este ou aquele escritor ou historiador, mas por uma ampla coalizão de observadores entre os quais o povo é o protagonista. A história, por fim, é escrita pelos fatos. E são esses fatos que contrariam a esperança de FHC em uma farsa que ajudou a erigir.

Hora da verdade para parceria Veja-Cachoeira


Em tempo (atualizado às 13h45):
Ao voltar do almoço, leio na capa do R7 que, antes mesmo de ser apresentado o requerimento de convocação de que trato no post abaixo, um acordo entre os partidos que formam a CPI do Cachoeira já melou tudo (leia aqui).
A mídia pode investigar, julgar e condenar todo mundo, mas ninguém pode mexer com a intocável mídia nativa. Este é o retrato dos limites da nossa democracia, num país em que o quarto poder quer ser o primeiro e único, e os parlamentares morrem de medo dos jornalistas e de seus patrões. * * *

Esta matéria você não vai encontrar nas primeiras páginas dos jornalões e nem nas capas das revistonas, é claro, mas um fato inédito na nossa história política recente pode surgir na tarde desta terça-feira, em Brasília, quando a CPI do Cachoeira se reúne para decidir sobre a convocação do dono da Editora Abril, Roberto Civita, e de Policarpo Jr., redator-chefe da revista Veja.
Chegou a hora da verdade. É a primeira vez em que se terá a oportunidade de investigar a fundo os longos braços da sociedade secreta que se formou, desde 2004, entre a organização criminosa do "empresário de jogos" Carlinhos Cachoeira, que está preso desde fevereiro, o senador cassado Demóstenes Torres e a maior revista semanal do País.
Baseado num relatório com mais de cem interceptações telefônicas feitas pela Polícia Federal nas operações Vegas e Monte Carlo, que mostram as relações muito especiais do jornalista da Editora Abril com o esquema de Cachoeira, o deputado federal Dr. Rosinha (PT-PR) vai finalmente romper a barreira do silêncio imposta pela grande imprensa ao apresentar um requerimento de convocação de Civita e Policarpo Jr.
Até aqui, apenas os telejornais da Rede Record e reportagens da revista Carta Capital trataram do assunto, enquanto o restante da mídia só queria falar de mensalão e acabar logo com a CPI.




Em reportagem assinada por Leandro Fortes, a parceria Veja—Cachoeira é assim resumida na Carta desta semana:
"(...) Cachoeira fornecia fotos, vídeos, grampos e informações privilegiadas do mundo político e empresarial ao jornalista. O bicheiro usava, sem nenhum escrúpulo, a relação íntima que mantinha com Policarpo Jr. para planejar notícias contra inimigos. Em contrapartida, a revista protegia políticos ligados a ele e deixava, simplesmente, de publicar denúncias que poderiam prejudicar os interesses da quadrilha."
Tudo é amplamente documentado no relatório de mais de cem páginas que será apresentado pelo parlamentar, com base nas informações enviadas à CPI pela Polícia Federal.
Mais do que uma simples relação profissional entre repórter e fonte, como a direção da Veja alegou desde o início da história, as gravações da PF revelam um trabalho conjunto para servir, de um lado, aos negócios ilegais de Cachoeira e, de outro, aos interesses políticos da revista, que queria derrubar o governo do PT e, derrotada nas urnas, em 2006 e 2010, dedica-se atualmente a desgastar a imagem do ex-presidente Lula.
Em várias ocasiões, o "jornalismo investigativo" da revista, como revelam os diálogos gravados pela PF, foi baseado em material produzido por dois arapongas de Cachoeira, Idalberto Matias de Araújo, o Dadá, e Jairo Martins (também presos na operação Monte Carlo e já soltos), em parceria com Policarpo Jr., como na recente reportagem sobre encontros mantidos pelo ex-ministro José Dirceu com membros do governo num hotel em Brasília.
Ricardo Kotscho

Tóffoli e a armadilha da Globo

 



Já se vão quatro dias desde que o blogueiro da Globo Ricardo Noblat divulgou suposto descontrole verbal que o ministro do Supremo Tribunal Federal José Antônio Dias Tóffoli teria tido ao deixar festa da qual ambos participaram na última sexta-feira.
No último sábado, Noblat reproduziu em seu blog “de cabeça”, segundo escreveu, insultos de baixíssimo calão que teriam sido proferidos pelo magistrado contra si. O relato do blogueiro, aliás, reproduz, de forma absolutamente desnecessária, cada palavrão que teria sido dito.
No mesmo dia, em comentário no blog em questão, filho do ex-ministro do STF Sepúlveda Pertence contestou o blogueiro dizendo que acompanhou Tóffoli até a saída da tal festa e que em nenhum momento ouviu o que foi dito que o magistrado teria proferido.
Ainda naquele dia, Noblat postou no Twitter que o filho de Pertence,Eduardo Pertence, telefonou-lhe para “pedir desculpas” por tê-lo desmentido. Além disso, apesar de ter dito que reproduziu “de cabeça” os supostos insultos de Tóffoli, Noblat insinuou que “gravou” tudo.
Até o momento, porém, o acusador, que tem o ônus da prova, nem apresentou a tal gravação nem qualquer prova de que o filho de Pertence lhe pediu “desculpas”. E muito menos alguma testemunha do hipotético destempero de Tóffoli.
A estranha iniciativa do blogueiro não parou por aí. Além de ter passado o sábado e o domingo provocando e desafiando pelo Twitter aquele que acusou a negar a acusação, na segunda-feira Noblat publicou novo post em que persistiu na provocação e no desafio.
A melhor análise do episódio é do editor da revista Fórum, Renato Rovai, que desvendou o que está por trás de tudo isso. Se tivesse caído na armadilha da Globo e batido boca com o blogueiro global, Tóffoli, aí sim, poderia impedir a si mesmo de julgar o mensalão.
Na opinião deste blog, porém, a armadilha para impedir o magistrado de participar do julgamento do mensalão não foi de Noblat, mas de seus patrões. Só que foi tudo em vão porque, espertamente, Tóffoli não lhes deu a menor bola.