Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

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segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

Pesquisadora da Unicamp e jornal inglês veem surto fascista no país

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Quando alguém diz que há um surto fascista no Brasil, não são só as pessoas conservadoras e/ou assumidamente de direita que se incomodam. Até pessoas autoproclamadas de esquerda acham exagero. Não é o que pensam, porém, o diário inglês Financial Times e uma pesquisadora da Unicamp.
Nas primeiras horas do último dia 10 de janeiro, o site da publicação britânica divulgou reportagem intitulada como (em tradução livre) “Neonazismo no Brasil desafia mito da democracia racial da nação”.
A reportagem se baseia em monitoramento da internet realizado pela antropóloga e pesquisadora da Unicamp Adriana Dias, quem tem dedicado a vida à etnografia do neonazismo no Brasil.
Para quem não sabe, etnografia é estudo descritivo de grupos sociais, de suas características antropológicas, sociais etc., e o neonazismo é uma forma de fascismo.
A última medição da pesquisadora mostrou que o número de sites que veiculam informações de interesse neonazistas subiu 170%, saltando de 7.600 para 20.502. No mesmo período, os comentários em fóruns sobre o tema cresceram 42.585%.
O aumento do comportamento nazifascista no Brasil vem chamando tanta atenção que o diário inglês Financial Times – que tem mais de 2 milhões de leitores mundo afora e foi fundado há mais de um século – produziu uma reportagem que você irá ler a seguir em tradução um tanto quanto capenga, mas que dá para entender perfeitamente.
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Neonazismo no Brasil desafia mito da democracia racial da nação
10 de janeiro de 2017
Por Joe Leahy
Quando o policial brasileiro Paulo César Jardim lançou uma série de inspeções às casas de supostos neonazistas no Estado do Rio Grande do Sul, revelou uma trama bizarra.
O movimento neonazista do país, com seu mundo secreto de suásticas, propaganda de ódio e violência nas ruas, estava sendo recrutado por extremistas de direita na Ucrânia para lutar contra rebeldes pró-russos na guerra civil do país europeu.
A Divisão Misantrópica da Ucrânia, um grupo de extrema-direita alinhado com o Batalhão Azov, um grupo paramilitar ultranacionalista alinhado com Kiev, estava por trás da campanha de recrutamento, alegou o Sr. Jardim, o principal caçador neonazista do Brasil.
Uma pessoa foi detida junto com 47 cargas de pistola de 9mm nas invasões de dezembro. Mais tarde ele foi libertado. A polícia ainda estava investigando se os brasileiros já haviam se juntado à luta na Ucrânia, disse ele, negando-se a elaborar mais.
“Tínhamos consciência de que alguém tinha vindo da Europa. . . Um italiano. . . Tinha vindo ao Brasil para recrutar pessoas para a Ucrânia “, disse Jardim ao FT.
A revelação, se comprovada, de que os movimentos ultranacionalistas subterrâneos do Brasil buscam experiência de combate no exterior é um desenvolvimento preocupante em um fenômeno que chocou um país que se considera um caldeirão racial.
O surgimento de neonazistas no Brasil tem desafiado um mito popular de que o racismo, pelo menos a variedade evidente em exibição nos EUA e outros países ocidentais, não existe lá. Com mais de metade da população reivindicando pelo menos alguma herança africana, os brasileiros se orgulham das relações relaxadas entre os diferentes grupos raciais do país. Mas tem havido um fluxo constante de ataques nos últimos anos.
Apenas no ano passado, os neonazistas atacaram uma banda de punk que defendia direitos iguais e homossexuais com facas e tomahawks.
Enquanto a extrema-direita ainda é vista como a margem da política em um país que se libertou de duas décadas de ditadura militar apenas em meados dos anos 80, os políticos ultraconservadores e seus partidários estão dispostos a preencher um vácuo político que se desenvolveu após o julgamento de agosto da ex-presidente Dilma Rousseff, dizem analistas.
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Bolsonaro nega ser neonazista
Jair Bolsonaro, congressista de extrema-direita e ex-capitão do exército brasileiro, conquistou as manchetes no ano passado por elogiar um conhecido torturador da era da ditadura. Também no ano passado, um grupo de ultraconservadores invadiu o Congresso e revelou bandeiras pedindo o retorno do governo militar.
Bolsonaro negou ser neonazista, mas os críticos o acusam de compartilhar muitos pontos de vista do movimento, como o racismo ea intolerância.
“Nunca imaginei que o neonazismo fosse possível no Brasil porque este é o país do futebol, o país do carnaval. . . Nós somos um povo feliz “, disse Jardim.
A fortaleza do neonazismo no Brasil é o sul e sudeste do país, do Rio de Janeiro e de São Paulo ao Rio Grande do Sul, regiões que receberam a maior parte dos imigrantes alemães, italianos e poloneses do Brasil.
Enquanto a América do Sul também era conhecida por ter recebido nazistas fugindo da derrota da Alemanha de Hitler na segunda guerra mundial, os movimentos neonazistas não têm relação com esses indivíduos e, em sua maioria, surgiram de sites de ódio na Internet.
O Brasil, com 200 milhões de habitantes, tem 150 mil “simpatizantes” envolvidos em movimentos neonazistas, segundo um artigo da antropóloga Andriana Dias da Unicamp.
“A violência expressa por esses grupos, seja em ataques físicos a negros, judeus ou homossexuais, ou a disseminação de sua literatura de ódio. . . Tem exigido nos últimos anos muito trabalho. . . Em termos de investigação e condenações “, escreveu ela.
Um dos casos mais marcantes ocorreu em Porto Alegre, em 2005, no 60º aniversário do fim do Holocausto, quando um grupo de neonazistas armados com facas atacou judeus comemorando o evento, ferindo gravemente várias de suas vítimas.
Em casos mais recentes, os skinheads têm como alvo os gays na Avenida Paulista, a principal via pública em São Paulo. Em 2011, três skinheads foram condenados por tentar matar quatro pessoas, incluindo uma pessoa negra com um membro protético, com bastões e facas.
Desde o atentado de 2005 em Porto Alegre, a polícia do Rio Grande do Sul adotou uma atitude mais preventiva, prendendo e interrogando suspeitos antes que pudessem chocar suas parcelas, disse Jardim. Houve até 50 acusações nos últimos 15 anos, acrescentou.
Esta foi a abordagem utilizada na investigação da Ucrânia – chamada Operação Azov após o suposto envolvimento do grupo paramilitar da Europa Oriental.
Sr. Jardim disse que quando ele trouxe suspeitos para interrogatório, como ele fez durante a Operação Azov, ele muitas vezes tentou convencê-los que seu credo estava fora de lugar em um país cujos heróis incluíam futebolistas da Copa do Mundo Ronaldinho, Ronaldo e Romário – preto. Mas eles raramente mudaram de ideia.
“Estes não são criminosos comuns ou ladrões, eles têm uma ideologia. São pessoas que acreditam na limpeza étnica, na pureza racial “, disse ele.
Reportagem adicional de Mark Rachkevych na Ucrânia
É uma bomba. Grupos neonazistas brasileiros estariam indo ao exterior buscar treinamento militar. Ao mesmo tempo, o diário inglês – insuspeito de ser “comunista” ou “petralha”, já que é uma publicação conservadora que criticava muito a política econômica de Dilma Rousseff – coloca Jair Bolsonaro como líder de um movimento que, na tese do veículo inglês, estaria para praticar ações armadas no país.
É preocupante e espantoso que o jornal conservador, voltado para negócios e crítico de políticas econômicas como as dos governos do PT no Brasil, faça a primeira associação de peso entre criminosos neonazistas comuns e os movimentos políticos que derrubaram Dilma Rousseff de uma forma que foi questionada por toda a grande mídia internacional e por legiões de juristas e personalidades mundo afora.
A associação é lícita, já que os métodos de militância de grupos como Vem Pra Rua, Movimento Brasil Livre e de lideranças políticas como a família Bolsonaro guardam profunda relação com o nazifascismo – ou neonazismo, para quem preferir.
A militância neonazista a que o FT se refere pode ser vista nas agressões nos espaços públicos a pessoas e personalidades de esquerda que encarnam hoje os comunistas que Hitler perseguiu tanto quanto aos judeus. Sucedem-se relatos de pessoas sendo agredidas física e moralmente nas ruas do país só por despertarem suspeitas de serem de esquerda ou “petistas”.
Ao mesmo tempo em que líderes políticos como Bolsonaro e congêneres insuflam violência e ódio, como no caso da comemoração das chacinas em presídios que levantaram em seus discursos públicos, grupos organizados praticam ataques racistas a celebridades como forma de propaganda neonazista, nazifascista ou como preferirem chamar.
O nazifascismo cresceu tanto que até membros do governo golpista recitam teorias análogas à “solução final” de Hitler como se estivessem declamando um poema de amor, como foi o caso de um secretário do governo Temer que pediu “uma chacina de presos por semana”.
Tão preocupante quanto as denúncias do FT e da combativa pesquisadora Adriana Dias – quem, há mais de uma década, luta contra a ascensão nazifascista no Brasil – é a minimização que surge sempre que se faz um alerta de que as coisas estão para sair de controle.
Foi assim com as manifestações de junho de 2013 e foi assim com os avisos de que havia risco de um golpe parlamentar no Brasil. Houve displicência dos setores pensantes da sociedade quanto à possibilidade de golpe. E sobre o risco que significava ir à rua protestar contra não se sabe o que ao lado de qualquer radical disposto a marchar por alguma coisa, mesmo sendo um neonazista.
O nazismo já foi subestimado uma vez. Hitler foi produto da irresponsabilidade dos setores pensantes da sociedade alemã dos anos 1920, que não o levaram a sério e viram nele meios de a burguesia se livrar dos comunistas.
Encerro o post propondo uma reflexão àqueles que minimizaram antes e continuam minimizando os riscos à democracia.
A cena no vídeo que você vai ver a seguir é do cult movie “Cabaret”, de Bob Fosse (1972), com Liza Minelli e Michael York. Simboliza o modo como a ideologia nazista foi tomando conta das pessoas a partir do apelo à natureza, às belezas da pátria e a um futuro de glória.
Em um almoço paroquial, o personagem de Michael York comentava com um amigo da burguesia alemã que os nazistas eram ridículos e jamais chegariam ao poder, mas que antes de serem descartados ajudariam os ricos a se livrarem dos comunistas.
Eis que um jovem alemão típico (loiro, alto, olhos claros) e fardado se levanta e começa a entoar uma canção patriótica, Tomorrou Belongs To Me (o amanhã me pertence). O público se encanta e começa a cantar junto, tomado pela emoção patriótica.
Ao fim da cena, um dos burgueses pergunta ao outro se após a demonstração de força ainda achava que os nazistas não seriam problema. Eis o autoengano que atirou o mundo em uma das maiores catástrofes da história. Assista ao vídeo e lembre-se: já subestimamos o nazifascismo uma vez. E bastou.

quarta-feira, 23 de abril de 2014

Pra quem pensa que o nazismo morreu, os novos “meninos do Brasil”

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Do Facebook do meu sempre professor Nilson Lage,  comentando que “o avanço da extrema direita europeia impulsionado pela recessão econômica é o bastante para estimular, aqui, a ressurreição dos meninos do Brasil“, copiando nota do blog de Marcos Espíndola, colunista de Cultura do Diário Catarinense, sobre o aniversário de nascimento de Adolph Hitler, ocorrido ontem:

“Homenagem” em aniversário de Adolf Hitler assusta itajaienses

Um amigo de Itajaí ficou assombrado ao se deparar com cartazes homenageando o aniversário de Adolf Hitler, ocorrido no domingo (20/4). As peças trazem a assinatura de White Front (algo como “Frente Branca”) e foram coladas em postes no Centro da Cidade. Nos cartazes, a imagem do líder nazista com a mensagem: “Heróis não morrem. Parabéns Führer”. A existência de um suposto grupo ou de simpatizantes do nazi-fascismo é algo novo e assustador para uma comunidade historicamente pacífica e plural.

domingo, 10 de novembro de 2013

Para derrotar Dilma em 2014, oposições planejam impor o caos no país


Há um fato com o qual praticamente todos os analistas políticos concordam: em uma disputa limpa haverá poucas chances de candidatos da oposição derrotarem a presidente Dilma Rousseff na eleição presidencial do ano que vem. Essa chance só se materializará se a sensação de bem-estar gerada por emprego e renda em alta for anulada.
Mas como anular uma realidade que se faz sentir na veia da maioria dos cidadãos brasileiros, uma maioria hoje inserida na classe média baixa e que, agora, vê filhos se tornando os primeiros universitários da família, que está comprando o primeiro automóvel, que está reformando ou comprando imóveis, que vem tendo sucessivos aumentos de salários?
Em primeiro lugar, os que pretendem tirar o PT do poder após dez longos anos de hegemonia política desse partido sonham com uma ampla frente das oposições de esquerda e direita ao governo Dilma. PSDB, DEM, PSB, PSOL e PSTU vêm mantendo diálogo por meio de interpostas pessoas, acertando pontos mínimos de convergência e uma estratégia comum.
Uma frente formal que reúna partidos aparentemente tão diferentes não é viável. Pegaria mal tanto para o lado esquerdo quanto para o direito. Mas a aliança pode se dar no discurso e nas táticas que serão usadas para tentar anular o bom e velho “feel good factor”, ou “fator sentir-se bem”, em tradução livre.
Mas como fazer o cidadão esquecer que hoje qualquer um consegue emprego em um país em que a escassez de emprego sempre foi tão grande que as empresas pagavam salários de fome até para engenheiros formados? Como fazer o cidadão esquecer do automóvel que agora tem na garagem ou do filho que será o primeiro membro da família a se formar?
Durante as manifestações de rua que se abateram sobre o país ao longo do mês de junho ficou provado que é possível hipnotizar um país inteiro. Diante de um mundo perplexo, o país que mais tem avançado na distribuição de renda, na redução da pobreza, na geração de empregos, no aumento do poder de compra dos salários e que tem resistido à maior crise econômica em cerca de um século parecia um dos países árabes em que ditaduras cruéis foram derrubadas por grandes protestos daqueles povos famintos e sem perspectivas.
A espantosa queda de aprovação de Dilma em um espaço de míseros 30 dias mostrou ser possível, sim, fazer um país esquecer tudo o que conquistou graças aos que o governaram nos últimos dez anos.
Em tese, portanto, bastaria reeditar as tais “jornadas de junho” para derrotar a atual presidente. Os partidos que detêm “tecnologia” para colocar massas nas ruas – PSOL e PSTU, que se valem de todo tipo de gente para inflar protestos, inclusive de neonazistas, punks, skinheads e assemelhados – fariam todo o trabalho e aos partidos de direita bastaria apontar a “insatisfação do país” com “esse governo”.
Enquanto a oposição de esquerda enche as ruas com militantes de esquerda e psicopatas de direita para forjar “insatisfação generalizada”, a de direita usaria os grupos de mídia que a apoiam para desacreditar o Brasil no exterior com olhos na possibilidade (real) de uma reviravolta na crise internacional que tiraria os países ricos da linha de tiro e colocaria países em desenvolvimento.
Recentemente, o colunista da Folha de São Paulo Demétrio Magnoli citou uma “tempestade perfeita” que despencaria sobre o Brasil no ano que vem e que anularia o “feel good factor”.
Em tese, a “tempestade perfeita” de Magnoli consistiria em os Estados Unidos subirem as taxas de juros, hoje praticamente zeradas com vistas a estimular o crescimento de uma economia doente. Com esse aumento de remuneração do capital nos EUA, haveria uma fuga de dólares do Brasil e, com menos dólares na praça, o real se desvalorizaria, gerando inflação.
Enquanto os black blocs estivessem apavorando e espantando turistas e fazendo o Brasil passar vexame em plena Copa do Mundo, possivelmente afetando a moral da Seleção, que completaria a tragédia jogando mal e perdendo a Copa “em casa”, os preços estariam explodindo, os empresários entrariam em pânico e, nesse momento, a mídia ainda trataria de expor algum dos escândalos de última hora que sempre explodem contra governos petistas em períodos eleitorais.
Contudo, o que o novo colunista da Folha e os que endossam sua teoria da “tempestade perfeita” não avaliam é que o Brasil resistiu aos solavancos da economia internacional ao longo de toda a década passada. Devido às imensas possibilidades de investimento em nosso país, pode não haver fuga relevante de dólares mesmo que os EUA aumentem os juros.
Além disso, mesmo que diminua o fluxo de dólares para o Brasil, os níveis de investimento irão aumentar ao longo do ano que vem, sobretudo por conta dos investimentos no campo de petróleo de Libra, recém-leiloado.
O que preocupa é que no próprio PT há gente disposta a se unir à oposição pela esquerda. Recentemente, um dos candidatos a presidente do partido propôs que seja “sacrificada” a reeleição de Dilma em troca de se “fazer a reforma agrária”, provavelmente achando que é possível reverter 500 anos de concentração de propriedade da terra ao longo de 2014. E ignorando que a volta da direita ao poder reverteria qualquer conquista.
Contudo, apesar de até o próprio PT abrigar uma oposição de esquerda ao governo federal em seus quadros, de a oposição em outros partidos de esquerda só pensar em vingança contra os grupos de centro-esquerda que hoje dominam o partido do governo e que expulsaram os que fundaram PSOL, PSTU etc., e de haver risco, sim, de os EUA aumentarem os juros, o governo ainda tem bala na agulha.
Apesar da estrondosa queda de popularidade de Dilma advinda das “jornadas de junho”, a continuidade da instalação de programas sociais e de medidas econômicas que beneficiam a maioria reverteu aquela queda.
Assim como o Minha Casa, Minha Vida, como a redução das contas de Luz ou como a queda dos juros liderada pelos bancos oficiais, o governo continuou implantando programas que beneficiam as massas, sendo o Mais Médicos o último programa dessa série. Com isso, reverteu-se a queda de popularidade de Dilma, que já desponta como favorita em 2014.
Está posto, então, o quadro político para o ano que vem. Mais uma vez, haverá disputa entre a razão e a emoção, como em 2002, 2006 e 2010.
Em 2002, Lula venceu graças à racionalidade: após FHC se reeleger em 1998 prometendo não desvalorizar o real, no primeiro mês de seu segundo governo ele violou a promessa. O povo foi racional tirando do poder um partido que o enganou, o PSDB.
Em 2006, Lula se reelegeu contra a comoção que tentaram instalar no país contra a “corrupção” do PT no âmbito do escândalo do mensalão. Mais uma vez prevaleceu a racionalidade. A sociedade preferiu os avanços que já sentia no cotidiano ao discurso moralista que tentava transformar Lula em um corrupto mesmo sem nenhuma prova contra ele.
Em 2010, Lula elegeu Dilma com base no imenso bem-estar social que seu governo gerou ao país. Salários crescendo, empregos surgindo em toda parte, pobreza e desigualdade despencando e o protagonismo internacional do Brasil derrotaram o fundamentalismo religioso e a rede de intrigas aos quais José Serra se agarrou para tentar derrotar a adversária
A racionalidade vem derrotando a catarse há mais de uma década, portanto. Mas essa racionalidade foi rompida em junho graças a um espetáculo pirotécnico que os oposicionistas da situação e da oposição conseguiram montar – uns por falta de visão e outros por má fé mesmo.
O que resta saber, portanto, é se após a sociedade despertar da catarse junina ela poderá ser drogada de novo. Será que o povo aprendeu alguma coisa após ver toda aquela pantomima não resultar em absolutamente nada? Será que a desmoralização da tática de quebra-quebra fará o povo resistir à droga político-ideológica que tentarão lhe inocular?
Façam suas apostas.

sexta-feira, 21 de junho de 2013

AZENHA VIU O ÓDIO CONTRA LULA E DILMA “Notei que meia dúzia de militantes levantou seguidamente o braço direito e gritou três vezes “sieg heil”.

Na foto, um manifestante apartidário (PHA) (Foto: Marcos Bezerra / Futura Press)



Do Viomundo:

OS PELA “DEMOCRACIA SEM PARTIDOS” ATACAM MILITANTES DE ESQUERDA



por Luiz Carlos Azenha


Os militantes de partidos de esquerda que foram à avenida Paulista nesta quarta-feira — e se identificaram com suas bandeiras — foram seguidos continuamente por um grupo considerável de manifestantes aos gritos de “sem partido”. Houve empurra-empurra, troca de insultos, agressões físicas e a tomada de bandeiras vermelhas, que eram em seguida queimadas. Isso aconteceu até mesmo com bandeiras do PSTU, cujos militantes gritavam palavras de ordem contra o governo Dilma durante a passeata.

Desta feita o formato da celebração organizada pelo Movimento Passe Livre foi distinto. Os integrantes do MPL vieram na frente, seguidos dentro do mesmo cordão de isolamento por gente do PSTU, PCO, PCdoB e PSOL (não necessariamente nesta ordem). O último grupo misturava militantes dos movimentos sociais — como UNE e MST — a petistas com meia dúzia de bandeiras do partido. Um cordão de isolamento fechava a passeata e ficou todo o trajeto exposto a xingamentos e tentativas de agressão.


Quem atacava era um grupo razoavelmente organizado. Tentativas de identificá-los foram inúteis. Todos se diziam apenas “apartidários”. Além de “fora PT, leva a Dilma com você”, gritavam também “o povo, unido, não precisa de partido”. Houve vários bate-bocas ao longo do trajeto. Em resposta aos gritos de “sem partido”, militantes de esquerda gritavam “sem censura, acabou a ditadura”. A tensão na manifestação durou enquanto os vermelhos desfilavam com suas faixas, bandeiras e cartazes (os do PSOL, amarelos).

O risco de violência física fez com que boa parte deles se dispersasse bem antes de atingir o prédio da TV Gazeta — partiram da esquina da Paulista com a Consolação.

Outra vez a manifestação teve de tudo: protestos contra a Copa, a PEC 37 e o deputado Feliciano. Jovens de classe média eram majoritários. Havia skatistas, punks e estudantes de ensino médio, misturados a anarquistas e gente que aparentava ser neonazista. Notei várias pessoas que pareciam policiais à paisana. A Polícia Militar acompanhou desarmada, à distância.


Os únicos militantes que levaram faixas contra o governador tucano Geraldo Alckmin, que desatou a repressão sem precedentes contra o Movimento Passe Livre, estavam dentro da passeata de esquerda.

A certa altura, duas passeatas corriam paralelas: numa pista, os militantes de esquerda; na outra, os de direita, que se agacharam e começaram a gritar “fica em pé turma da corrupção”, ou algo assim.

Veja:


Testemunhei várias situações em que militantes de esquerda argumentavam e discutiam com os de direita, sem agressões. Os primeiros eram acusados de “oportunismo”. Respondiam gritando “fascismo”, relembrando que Mussolini também governou sem partidos.

Todos os militantes de esquerda com os quais conversei se mostravam preocupados. Um deles, chorava.

Aparentemente, no vácuo da desorganização da militância que se deu paulatinamente depois da chegada do PT ao poder, a direita brasileira construiu um quadro razoável de ativistas organizados. Hoje eles carregavam cartazes: “Dilma vaca”, dizia um; “Goleiro Bruno, fica com a Dilma e deixa o resto com o Macarrão”, dizia outro.

Igor Fellipe, integrante do MST, acompanhou tudo de perto: “O grupo que agrediu o bloco de movimentos sociais, organizações políticas, movimento estudantil, sindicalistas e os partidos era de encapuzados, muitos bombados, parte deles deve ter sido paga e outra parte caiu nessa onda conservadora de agredir”.

“O mais assustador é que a violência começou com foco no PT, mas quando a militância petista se dispersou entre os outros partidos, as agressões se voltaram contra toda a esquerda, do PSTU ao PSOL, do PCdoB ao PCO”, continua.


“Ou seja, é um sentimento antidemocrático contra qualquer organização política”, diz Igor. “O que foi impressionante é que todos fomos agredidos juntos. A esquerda se uniu sob o cacete da direita”, continuou.

O nível de agressividade contra o PT em particular e as bandeiras vermelhas em geral era organizado. “Foi orquestrado para fazer com que essa nova classe média se revolte contra os partidos”, concluiu Igor.

Tirando esta polarização mais aguda e localizada, a manifestação foi bastante tranquila e com muitos pedidos de “sem violência”, assim que se armava alguma confusão.

Porém, a repulsa aos partidos teve cenas preocupantes. Várias bandeiras e faixas vermelhas foram “capturadas” por incursões no meio da passeata de militantes de esquerda. Numa delas deu para ver claramente a estrela do PT. Em seguida, eram queimadas diante de fotógrafos e cinegrafistas. Assisti a algumas incursões, de longe. Depois de uma delas, no meio da confusão, notei que meia dúzia de militantes levantou seguidamente o braço direito e gritou três vezes “sieg heil”.


quinta-feira, 16 de agosto de 2012

SEM COMENTÁRIO, GAUCHADA



CLASSE MÉDIA GOLPISTA GAUCHA REUNIDA. SÃO REALMENTE DIFERENCIADOS.......
CASO SE COLOCASSE UM UNIFORME E , UM SUÁSTICA ...LEMBRARIA ALGO, TALVEZ COM ORGULHO PARA ALGUNS DOS PARTICIPANTES.  LÁSTIMA......


A RESPOSTA.



POR UMA EDUCAÇÃO EM CONDIÇÕES IGUALITÁRIAS, PÚBLICA E DE QUALIDADE.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Mariana Gomes: Brasil deve rejeitar seu papel no imaginário racista e colonizador



Hasteamento da bandeira olímpica no Rio de Janeiro. (Foto Tânia Rêgo, Agência Brasil)
O jeitinho brasileiro nas Olimpíadas de Londres
por Mariana Selister Gomes*
O brasileiro, com seu sorriso e samba no pé, cativa o segurança britânico e, com seu jeitinho brasileiro, entra nas Olimpíadas de Londres.
Um britânico branco, detentor da vigilância, tenta humilhar o brasileiro negro que acaba por conquistá-lo com dança e sorriso.
Essa é a imagem que o Brasil ainda quer mostrar ao mundo?
Ainda vamos aceitar essa parte que nos cabe no imaginário internacional racista e colonizador?
Temos que mostrar nosso samba no pé e nosso sorriso com muito orgulho.
Mas esse povo que samba também trabalha e com seu árduo trabalho, principalmente dos brasileiros afrodescendentes, ajudou a construir inclusive a riqueza europeia.
Temos que mostrar nosso samba como parte da nossa história e não como entretenimento para inglês ver.
Temos que mostrar nossos Renatos Sorrisos com toda a dignidade e grandeza que nós merecemos e não sendo corridos por seguranças europeus e tendo que cativar gringos com ginga para serem respeitados.
Já é chegada a hora de acrescentar a nossa capacidade de trabalho (técnico, científico, intelectual e artístico) à imagem de samba e de alegria.
Não queremos mais ser apenas o “bobo da corte” dos grandes centros mundiais.
As Olimpíadas são um importante momento de (des)(re)construção da imagem de um país no mundo.
Eu, que há alguns anos tenho pesquisado a imagem do Brasil, tenho esperança que a Copa do Mundo de Futebol de 2014 e as Olimpíadas do Rio de 2016 sejam (ao menos) aproveitadas para reposicionar a imagem do nosso país.
Na amostra em Londres (ainda bem) não apresentaram mulheres dançando seminuas para alimentar o imaginário europeu de mulher brasileira como objeto sexual (que faz com que brasileiras imigrantes sofram com assédios, preconceitos e discriminações).
Ainda posso ter esperança…
Esperança…
Estamos cansados de ter esperança!
Precisamos de mais investimento (público e privado) sério, democrático e socializado, nas nossas crianças, nos/as nossos/as atletas, na nossa imagem…
Afinal “esse Brasil que canta e é feliz; é também um pouco de uma raça, que não tem medo de fumaça e não se entrega não”.
 *Doutoranda em Sociologia no Instituto Universitário de Lisboa, bolsista de doutorado pleno no exterior da CAPES/MEC/Brasil, criadora do  “Manifesto contra o preconceito às mulheres brasileiras em Portugal”
Leia também:
Por unanimidade, Justiça condena o coronel Brilhante Ustra como torturador da ditadura
Tatiana Merlino: “Seguiremos em busca de Justiça contra Ustra e os outros torturadores do meu tio”
Relatório da Secretaria de Direitos Humanos confirma: Reitor da USP votou contra vítimas da ditadura
Para acessar o relatório na íntegra, basta clicar aqui
Vladimir Safatle: Respeitar a Lei da Anistia?
Marcio Sotelo: Punir a tortura é direito e dever da humanidade
Mauricio Dias: A verdade sobre a Lei da Anistia aflora?
Criméia Almeida: “Quem já luta há mais de 30 anos, não vai desistir agora”
Edson Teles: Punir ou anistiar os torturadores?


Menina de Ouro do Piauí faz História no Brasil Olímpico


Quando saiu do Brasil rumo a Londres, a pequena SARAH MENEZES carregava expectativas desproporcionais para seu tamanho. Lutadora mais leve da seleção de judô, a peso-ligeiro, de apenas 1,52m e 48kg, era a grande esperança de primeira final olímpica do Brasil entre mulheres na história da modalidade. A piauiense, porém, foi além: com a vitória neste sábado sobre a romena Alina Dumitru, campeã dos Jogos de Pequim 2008, Sarah entrou para a história como a primeira mulher brasileira a ganhar uma medalha de ouro no judô nas Olimpíadas. A grandeza da conquista pode ser medida também na comparação com outras modalidades. Até este sábado, só uma mulher brasileira havia conseguido o ouro em prova individual na história das Olimpíadas: Maurren Maggi, no salto em distância, em Pequim 2008.(G1)
olympics/2012/athletes/2c680dff-8a94-4c4c-959a-46c33b596cb6 com/2012/olympics/judo/wires/07/28/2090.ap.oly.jud.women.s.48k/index.html 2012/07/28/sarah-menezes-gold-olympic-womens-judo-medal_n_1713717.html sports/sarah-menezes-of-brazil-wins-womens-48-kilogram-olympic-judo-gold-medal/2012/07/28/gJQA6dpAGX_story.html

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

O BRASIL EM LONDRES E AS AVES DE RAPINA DA INTERNET


Nos QGs da trollagem virtual, estavam todos com os dedinhos de prontidão. Terminou o aperitivo cênico brasileiro e os gatilhos foram disparados.

Para um troller do UOL "o país é uma vergonha aos mostrar mulatas".

Para outro, no mesmo jornal, faltou o "carro alegórico dos corruptos do PT".

Para um terceiro, um "absurdo perder tanto tempo mostrando um simples gari".

Um quarto afirmou que "o Brasil nunca chegará aos pés da Inglaterra em talento artístico".

Não impressiona que os comitês de trollagem a serviço da oposição reforcem, com devoção, a síndrome de vira-lata. A turma de Soninha e Eduardo Graeff é bem treinada para executar esse "serviço".

Como de costume, comentaristas profissionais do UOL, Estadão e G1 esforçam-se por parecer não-brasileiros. Fantasiam um estrangeirismo caricato. Oniscientes e indignados, pranteiam como se fosse obrigados a viver ao sul do Equador.

Rotulam-se como superiores, como se seus avós ou bisavós não tivessem chegado ao Brasil com uma mão na frente e outra atrás, muitos deles mal vestidos e mal alimentados.

Evidentemente, o pensamento conservador, típico do eleitorado da trinca PSDB-DEM-PPS, não contempla valor na miscigenação. Para esses, no fundo, misturar equivale a "estragar a raça", como dizia Monteiro Lobato.

A mulata lhes causa constrangimento e, muitas vezes, nojo, mesmo quando delas são diretos descendentes. Adoram destilar pequenos venenos sobre a anatomia dos afro-brasileiros.

Logicamente, o história da "corrupissaum" não podia ficar de fora. É o mantra histórico de todo fascista, devotado a denunciar vícios alheios. O adversário deve ser desprezado, humilhado e, por fim, criminalizado.

Logicamente, o gari causou-lhes repugnância. Como pupilos de Boris Casoy, adeptos das doutrinas disseminadas no velho CCC do Mackenzie, adoram barreiras sociais e incomodam-se tremendamente com a diversidade.

Para esses, em vez do funcionário da limpeza pública, talvez o ideal fosse apresentar em Londres engomados como Daniel Dantas, Demóstenes Torres, Cachoeira e o pistoleiro das letras Policarpo Jr.

Houve quem repudiasse os índios, classificados como "vagabundos cachaceiros que vivem dos nossos impostos". Previsível.

É esse tido de visão que embasa a campanha da direita contra as "ações afirmativas". É isso que a gente bandeirante pensa do povo da terra, desde 1554. É isso que um bandeirante ensina a seu filho.

Obviamente, era de se esperar a sentença de inferioridade, o registro de suposta superioridade do gringo. E ela veio no elogio embasbacado da festa londrina, como se os países disputassem a medalha do espetáculo midiático.

Evidentemente, selou o destino brasileiro: "nunca serão capazes de fazer algo melhor".

Afinal, trata-se de estratégia antiga de controle e submissão. Diga ao brasileiro que ele é incapaz, que é menor, que não presta. Drene suas forças e sobre ele exerça pleno domínio.

Pior que isso: convença-o a repetir essa sandice, todos os dias.

A campanha contra a Rio-2016 começou neste domingo de agosto e tomou conta das redes sociais. Na mira dos sabotadores, o Brasil e os brasileiros. A guerra começou.


Enviado pelo autor: Walter Falceta Jr.

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Por que tanta dificuldade para entender os paulistas?

Foto minha, tirada a uns 2 Km de minha casa
Gemza, meu saco está prestes a explodir com as besteiras repetidas a exaustão nas redes sociais sobre uma suposta dificuldade dos paulistas em entender os fatos da política. Não há dificuldade alguma: os paulistas são o equivalente brasileiro, mais pobres e mais feios, dos texanos.

Até onde a vista alcança os paulistas sempre foram assim. Lembro-me de ainda criança ouvir comentários elogiosos ao Massacre da Lapa e a surpresa com o fato de ainda haverem comunistas vivos.

Lembro-me vivamente dos elogios que ouvi ao massacre de Eldorado dos Carajás. Lembro-me do entusiasmo com o massacre do Carandiru. E poderia ficar aqui lembrando até o fim dos tempos.

A opinião majoritária em São Paulo varia do conservador ao nazista. E que não se entenda "nazista" como ofensa: refiro-me à imensa quantidade de pessoas que defendem o extermínio dos "bandidos", dos "mendigos", dos "viados" e, acreditem-me, dos "baianos".

É claro que não são todos, afinal eu sou paulista, não é? Mas mesmo no campo "progressista" a maioria é contra grande parte do que em outros lugares é considerado "progressista".

Dando uma de Datafolha eu chutaria que a esquerda em São Paulo fica entre 10 e 15%, os centro-esquerdistas mais uns 25%. Do resto acho que uns 25% acham que Hitler fez um trabalho de preto ao deixar que alguns judeus sobrevivessem e uns 30 ou 35% são conservadores, mas não querem exterminar os pobres; preferem que saiam da pobreza, mas sem "esmola".

Dito isso chego à conclusão que até as pedras já chegaram há décadas: a esquerda, qualquer esquerda, só vai vencer e poder governar quando conseguir o apoio majoritário dos conservadores não-fascistas. O resto é silêncio e ilusão.

 O Esquerdopata

quarta-feira, 20 de junho de 2012

O complicado assunto neonazi na Alemanha

Dossiê das duas agências do Serviço Secreto Federal Alemão indica que é inteiramente falsa a difundida e, na verdade, nunca contraditada versão de que grupos de esquerda, como o chamado grupo "Baader-Meinhof”, teriam ajudado os membros da facção palestina Setembro Negro que assaltaram o prédio 31 da Vila Olímpica em Munique, onde se hospedava a delegação israelense, durante os Jogos Olímpicos de 1972. A conexão do Setembro Negro, na verdade, teria sido com neonazistas. O artigo é de Flávio Aguiar.

Enquanto os eurolíderes se debatem com a banca financeira, por ela comprimidos agora na Espanha, novo(?) elo fraco na cadeia, enquanto a Itália está na sala de espera da UTI, o complicado assunto neo nazi voltou a mostrar o nariz – e a cara inteira – na Alemanha.

A revista Der Spiegel (versão em inglês) trouxe à luz copioso noticiário, a partir de um dossiê de duas mil páginas das duas agências do Serviço Secreto Federal Alemão (Bundesamt für Verfassungsschutz e Bundesnachrichtendienst), sobre ser inteiramente falsa a difundida e, na verdade, nunca contraditada versão de que grupos de esquerda, como a RAF (Rote Armee Fraktion, também conhecida indevidamente como “Grupo Baader-Meinhof”), teriam ajudado os membros da facção palestina Setembro Negro que assaltaram o prédio 31 da Vila Olímpica em Munique, onde se hospedava a delegação israelense, durante os Jogos Olímpicos de 1972.

No assalto, os oito assaltantes mataram dois dos israelenses (um atleta e um treinador) e sequestraram outros nove, no dia 5 de setembro. Queriam troca-los por 234 prisioneiros palestinos e também por alguns prisioneiros da RAF, fato que, entre outros, levaram à “conclusão” de que essa organização alemã os tinha ajudado.

No dia 6, ao tentarem embarcar num avião que os levaria para fora do país, num aeroporto militar, foram interceptados por uma operação anti-terrorista das Forças Armadas alemãs, o que redundou numa catástrofe. Os assaltantes mataram todos os reféns (embora haja a suspeita de que alguns deles possam ter morrido no fogo cruzado). Dos oito terroristas, cinco morreram na hora e três foram presos. Mais tarde esses três foram libertados através do sequestro de um avião da Lufthansa. Mas dois deles morreram em operações posteriores do Mossad, que eliminou quase todos os suspeitos de participação ou planejamento no ataque de Munique. O terceiro assaltante vive até hoje na clandestinidade, enquanto o idealizador do sequestro, Abu Daoud, morreu em 2010 de causas naturais.

O dossiê comprova que Abu Daoud tinha uma estreita ligação com Willi Pohl, hoje beirando os 70 anos, que conseguira-lhe pelo menos carros para a operação, além de levá-lo a viajar por toda a Alemanha. Há a possibilidade de que Pohl tenha conseguido também armas, embora ele, numa entrevista à própria Der Spiegel, o negue. Em todo caso, colocou Daoud em contato com Wolfgang Abramovski, reconhecido falsificador de documentos que, levado para as cercanias de Beirute, provavelmente forneceu passaportes para o grupo.

Ocorre que Pohl e Abramovski não eram membros de nenhum grupo terrorista ou não de esquerda, mas sim de uma célula neonazista, e foram denunciados à polícia ainda antes dos acontecimentos de Munique, inclusive sobre a ligação com Daoud, por um ex-colega de militância e pelo ex-patrão do primeiro, de quem ele tomara algum dinheiro.

Depois do conhecido “Massacre de Munique”, Abramovski e Pohl foram presos, em outubro daquele ano, de posse de considerável arsena de armamentos, panfletos e cartas ameaçadoras ao juiz que dirigia o processo contra os três sobreviventes da tragédia, parte de um primeiro plano para libertá-los, que evidentemente não foi adiante. Desde então o Serviço Secreto alemão já sabia que a conexão alemã do Setembro Negro era neonazi, e não esquerdista, como comprovam mensagens trocadas pelas agências envolvidas, que nunca vieram a público – até esta semana.

É claro que restam milhares de luzes e perguntas acesas e ainda sem respostas sobre esse caso e esse dossiê. Algumas delas:

1) Se agisse de modo mais consistente, investigando a fundo as denúncias que recebera, o Serviço Secreto alemão poderia ter evitado o sequestro?

2) Essa é mais uma operação neonazi na história alemã pós-Segunda Guerra que “passa batida”, num primeiro momento, por essas agências e que a opinião pública fica com a versão de que seriam outros os implicados. Qual o significado disso?

3) Grupos de esquerda – a RAF em particular – foram acusadas de forma disseminada de participação na tragédia. Nada se fez durante quatro décadas para desmentir essa acusação. Por quê? (É verdade que declarações bombásticas de mebros da RAF, inclusive de Ulrike Meinhof, ajudaram a forjar essa impressão, mas tudo, hoje está comprovado, era blefe, não realidade).

4) Surpreendentemente, quando julgados em 1974, Pohl e Abramovski receberam penas extremamente leves, somente por “posse ilegal de armas”. Por que? O que isso significa?

Para arrematar: segundo a revista, Pohl hoje nada tem a ver com terrorismos ou com quaisquer atividades neonazis. É autor (de sucesso) de histórias policiais, inclusive como roteiros de TV, com outro nome, é claro.
De Abramovski não se tem notícia.

segunda-feira, 30 de abril de 2012

As jóias do pensamento único. Extrema-direita cresce em quase toda a Europa



O “pensamento único” é como um vampiro. A gente acha que ele morreu num filme. Mas ele renasce em outro, mais desempenado e arrogante do que nunca. No caso em pauta, ele sucumbiu na América Latina, mas vem mostrando toda a sua garra – e as garras também – na Europa.

Lembram do “pensamento único”, dos tempos de FHC, Menem et alii? Acharam que ele estava morto? Mas o “pensamento único” é como um vampiro. A gente acha que ele morreu num filme. Mas ele renasce em outro, mais desempenado e arrogante do que nunca.

No caso em pauta, ele sucumbiu na América Latina, mas vem mostrando toda a sua garra – e as garras também – na Europa.

O seu novo empreendimento – e comentaristas ortodoxos já se aprestam a tanto – é desacreditar o programa de François Hollande (v., p. ex. “How Long Will Hollande’s Party Go On”, por Wolfgang Kaden).

Tais vozes apontam-lhe a falácia da pretensão de promover o crescimento econômico com o concomitante crescimento do endividamento público.

O vocabulário é o de sempre: higienista e desqualificador. O programa de Hollande estaria “infectado” pelas idéias de Lord Keynes – nessa altura mais odiado do que Marx. Representaria um recuo de 40 anos no tempo. Seria a prova de que Hollande e os que pensam como ele “não aprenderam nada” com a presente crise.

Além do acréscimo nas despesas públicas, o que mais exaspera esse pensamento é a possibilidade de que, se a ótica de Hollande prevalecesse, o Banco Central Europeu mudaria de natureza. Passaria a promover o crescimento, coisa indesejável, porque ele teria de se comportar como um verdadeiro banco, lançando letras, captando fundos, e assim estaria concorrendo deslealmente com a banca privada, que continua sendo a menina dos olhos e o menino prodígio dos planos de austeridade, que visam promove-la a “reguladora” dos “novos” estados nacionais que devem emergir dessa crise.

Para esse pensamento, quais são os males a combater? Salários altos demais, que promovem pensões altas demais, tornam países pouco competitivos, diminuição das horas trabahadas, aposentadorias precoces, além do ensinamento maléfico, que viria das atitudes promovidas “pela agenda esquerdista clássica”, qual seja, a de que se pode viver acima dos próprios meios. E isso vale para trabalhadores e para países igualmente.

Enquanto isso, sem falar nos gordos bônus dos altos exectuivos do sistema financeiro, o Banco Central Europeu distribuiu 200 bilhões de euros para governos endividados – para que eles possam continuar a honrar seus compromissos com a banca privada – e repassou 1 trilhão diretamente a essa banca, para que ela possa continuar a promover os ganhos especulativos de que está acostumada a viver.

Agora, que o BCE passe a captar fundos para promover o crescimento, isso é inusportável para esse tipo de pensamento. E ele nem de longe consegue cogitar que tenha algo a ver com o que está acontecendo no mundo real: a catástrofe espanhola, o drama português, a tragicomédia britânica, o crescimento da extrema-direita na França, a tragédia grega, as crises na Holanda e na Romênia, o caldo de cultura favorável à xenofobia na Europa – com o caso dramático da Noruega, por exemplo.

Como se tudo isso não bastasse, Hollande fala em rever o pacto fiscal europeu – esse mesmo que está levando a Europa à inanição recessiva e boa parte do mundo com ela. Portanto, de tudo isso, só se pode tirar uma conclusão: está na hora de Angela Merkel disciplinar Hollande, ou pelo menos mostrar a ele quem é que manda.

Tão enraizado é esse “pensamento único”, que mesmo dirigentes do SPD alemão (não todos) vêm chamando as idéias de Hollande de “ingênuas”.
Essa arrogância não tem cura. Ela não cogita a partir do real, mas somente a partir da fantasia de suas premissas modelares.

Como nos filmes de vampiro, o único remédio para ela é uma estaca no coração. Política, é claro. Não estamos falando de apologia da violência. Isso é coisa da direita, inclusive de sua vanguarda “moderna”: o “pensamento único” que, para preservar os próprios anéis, não hesita em cortar os dedos, as mãos e os sonhos... dos outros.

Flávio Aguiar é correspondente internacional da Carta Maior em Berlim.


A extrema-direita vai subindo ano após ano os degraus do poder e poucos são os países que estão a salvo da influência que o partido de ultradireita francês Frente Nacional exerce desde a década de 80: França, Itália, Inglaterra, Bélgica, Grécia, Holanda, Hungria, Suécia, Dinamarca, Finlândia, a bandeira ultradireitista recorre como uma doença incurável as democracias europeias. A extrema direita francesa fez escola em quase toda a União Europeia. O artigo é de Eduardo Febbro.

Paris - O último filho nasceu na Grécia. A extrema direita, abraçada na crise que flagela este país há três anos, volta ao primeiro plano 38 anos depois da queda da ditadura dos coronéis (1967-1974). O Partido LAOS e o Aurora Dourada (Chrissi Avigi) somam mais de 8% de intenções de voto para as próximas eleições legislativas de seis de maio. Não é uma exceção na Europa. A ultradireita vai subindo ano após ano os degraus do poder e poucos são os países que estão a salvo da influência que o partido de ultradireita francês Frente Nacional exerce desde a década de 80: França, Itália, Inglaterra, Bélgica, Grécia, Holanda, Hungria, Suécia, Dinamarca, Finlândia, a bandeira ultradireitista recorre como uma doença incurável as democracias europeias.

A extrema direita francesa fez escola em quase toda a União Europeia. O partido ultradireitista Frente Nacional surgiu na França a partir dos anos 80, justamente depois da eleição do socialista François Mitterrand à presidência da República (maio de 1981). O FN já existia, mas sua participação era secreta. As táticas eleitorais de Mitterrand destinadas a debilitar a direita clássica foram um dos fatores que levaram a ultradireita francesa a se converter, com o passar dos anos, em um partido poderoso, capaz de perturbar o equilíbrio político clássico e contaminar com suas ideias todos os debates, da esquerda à direita.

Três décadas mais tarde, o Frente Nacional, agora dirigido pela filha de seu fundador, Marine Le Pen, obteve o maior resultado eleitoralde sua história: quase 18% dos votos no primeiro turno das eleições presidenciais do dia 22 de abril passado. A ultradireita xenófoba e populista é um míssil político tóxico com suficiente força como para desfazer maiorias, precipitar a queda de governos e conseguir que suas ideias impregnem a ação política dos partidos conservadores. A extrema direita tem, de fato, duas fases históricas; a que vai de 1945 ao ano 2000, onde o antissemitismo foi norma, e a que se inicia com o século XXI, onde a islamofobia é o atrativo das urnas.

Depois da França, o segundo marco da ultradireita teve lugar na Áustria, entre os anos 80 e 2000. O FPÖ, Partido Austríaco da Liberdade, fundado no começo dos anos 50 pela ala nacionalista e populista da extrema direita, é ainda um dos mais sólidos da União Europeia. O FPÖ teve sua hora de glória na década de 80, quando formou uma coalizão governamental com os socialdemocratas do SPÖ. Depois, sob a influência de seu carismático líder, Jörg Haider, a ultradireita nacionalista austríaca regressou ao poder em 1999 após obter 27% dos votos nas eleições legislativas desse ano.

Playboy e negacionista, Haider prosseguiu a obra de Jean Marie Le Pen, o fundador do Frente Nacional Francês. Transcorreu um quarto de século e a ultradireita é agora um movimento normalizado, admitido e legitimado. Esta corrente mudou suas ideias e passou de um antissemitismo secular à islamofobia delirante e à crítica violenta contra Bruxelas. O exemplo mais moderno e devastador desta reencarnação é o líder populista holandês Geert Wilders e o Partido pela Liberdade, PVV. Desde as eleições de 2010, onde obteve 24% dos votos, o PVV é um aliado da coalizão de direita-conservadora que governou a Holanda até que o próprio Wilders fizesse balançar os alicerces do primeiro-ministro Mark Rutte forçando eleições antecipadas. Um desacordo no seio da coalizão sobre os planos de austeridade demonstrou a capacidade destrutora da ultradireita. Wilders é um islamófobo notório, defensor do fechamento por completo as fronteiras à imigração. Em 2008 o chefe do PVV assinou um panfleto infecto contra o Islã e em seguida realizou um documentário, Ftina (A Discórdia), no qual combinou imagens dos versos do Corão com atentados terroristas.

Nos países escandinavos, o retrocesso dos partidos socialdemocratas deu lugar ao surgimento de partidos de ultradireita. Muitos destes passaram da marginalidade a formar alianças de governo. Esse é o caso da Dinamarca entre 2009 e 2011: em 2009, na Noruega, o Partido do Progresso alcançou 22% dos votos nas eleições: na Finlândia, a coalizão formada pela esquerda e a direita impediu in extremis que o Partido dos Verdadeiros Finlandeses integrasse o governo logo que, após as eleições legislativas de 2011, esta agrupação da extrema direita obtivera 19% dos votos e passara a ser a terceira força política do país: na Suécia, a extrema direita do partido Democratas da Suécia levou 5,8% dos votos nas eleições legislativas e entrou pela primeira vez no Parlamento.

A Itália é uma exceção. Tem uma ovelha negra, a regionalista e fascistóide, Liga do Norte, de Umberto Bossi, mas o movimento ultra mais poderoso que existia sofreu uma transformação inédita até hoje. O neofascista Movimento Sociale Italiano, de Gianfranco Fini, se transformou, a partir de 1994, em um sólido partido de direita, a Alianza Nazionale. Essa transmutação foi muito além do mero nome: Fini, que depois formou aliança com Silvio Berlusconi, condenou o antissemitismo, reconheceu como válidos os valores da Resistência e os termos da Constituição. Entretanto, em dezembro passado, um militante do movimento de extrema direita italiano CasaPound, assassinou dois imigrantes senegaleses.

Na Hungria, as milícias do partido neofascista Gobi, "A Guarda Húngara”, praticam com toda impunidade sua brincadeira predileta: sair à caça dos ciganos, muito numerosos no nordeste do país.

Uma depois da outra, em maior ou menor medida, as sociedades do Velho Continente sucumbem ao canto da sereia do ultradireitismo. A receita do êxito é sempre a mesma: a globalização e suas inúmeras e reais consequências, entre elas as deslocalizações, o desemprego, a imigração, a chama do confronto do “povo” contra as elites “corruptas”, a ameaça do Islã e a identidade nacional em perigo pelo multiculturalismo.

Dominique Reynié, autor do ensaio “Populismes”, destaca o duplo impulso dos valores que a extrema direita apregoa hoje: “por um lado está a proteção dos chamados interesses materiais, ou seja, o nível de vida ou do emprego, e, pelo outro, o patrimônio imaterial, a reivindicação de determinado estilo de vida ameaçado pela imigração e a globalização”. A força da extrema direita consiste em apresentar-se como uma resposta “anti-sistema” frente a uma arquitetura formada pelas elites corrompidas e “ofuscadas” pela globalização e o multiculturalismo. O partido de ultradireita britânico British National Party se nutre desse discurso. Os ultranacionalistas e ultradireitistas do partido Vlaams Belang conseguiram pesar de maneira decisiva no tabuleiro político com uma linha política similar.

Este coquetel de discursos remete diretamente aos anos da Alemanha Nazista. Hitler havia irrompido com um acerbo ataque às elites industriais e bancárias, além de seu criminoso e exterminador discurso sobre a pureza da raça. A repercussão deste discurso sobre as construções políticas dos países é considerável. A partir de 14 ou 15% de votos obtidos pela extrema direita, os partidos conservadores tradicionais caem na tentação de imitar seus princípios. A mutação é assim considerável e o transtorno dos valores termina em uma grande confusão da qual sai sempre o mesmo ganhador: a ultradireita.

As eleições presidenciais francesas são um exemplo espetacular dessa corrida protagonizada pelos conservadores liberais para subtrair à extrema direita seu saldo eleitoral. O presidente francês, Nicolas Sarkozy, saiu em busca dos votos que lhe faltavam para ser reeleito com um argumentário digno da mais pura extrema direita: logo após perder o primeiro turno, Sarkozy considerou, entre outras delicadezas, que Marine Le Pen era “compatível com a República”.

O caso grego mostra até o absurdo como a crise apaga a memória. Dos dois partidos de extrema direita, LAOS e Aurora Dourada (Chrissi Avigi), o primeiro passou a formar parte da coalizão governamental criada no ano passado em meio à crise. O segundo, Chrissi Avigi, está se convertendo em um ator importante. O Chrissi Avigi é um partido pró-nazista, cujo emblema se parece com uma suástica. A recuperação do medo ao Islã, a agressão verbal contra os imigrados são hoje, nas sociedades europeias, uma das sementes mais frutíferas da conquista do poder.

Tradução: Libório Junior


Fotos: Manifestação da Aurora Dourada, partido de extrema-direita da Grécia


quinta-feira, 26 de abril de 2012

STF extingue cotas de 100% para brancos nas universidades


Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me Vós, Senhor Deus
Se é loucura, se é verdade
Tanto horror perante os céus
(…)
Quem são estes desgraçados
Que não encontram em Vós
Mais que o rir calmo da turba
Que excita a fúria do algoz
Quem são?
Se a estrela se cala,
Se a vaga à pressa resvala
Como um cúmplice fugaz,
Perante a noite confusa…
(…)
São os filhos do deserto,
Onde a terra esposa a luz
Onde vive em campo aberto
A tribo dos homens nus…
São os guerreiros ousados
Que com os tigres mosqueados
Combatem na solidão.
Ontem simples, fortes, bravos.
Hoje míseros escravos,
Sem luz, sem ar, sem razão. . .
Navio Negreiro, de Castro Alves
*
Assusta viver em um país em que é preciso apresentar números sobre a situação da maioria negra de seu povo apesar de que todos a encontram em cada rua, a cada esquina, a todo tempo.
É o vizinho que habita a calçada
Com mulher, filhos e humilhação
Oriunda de mera decisão
Da sociedade, do patrão e da madame
Do jovem rico e de sua indolência infame
Que rouba a vaga do que anseia pela razão
Que para o mancebo rico não faz noção
Eis que brindado com o direito de herança
Que pisoteia do negro a esperança
A pobreza que atinge brancos não é igual à que atinge negros. Desonestidade intelectual devia dar cadeia tanto quanto a material.
A mentira mais hedionda sobre cotas “raciais” que um partido que deveria servir ao povo esgrimiu na Suprema Corte de Justiça foi a de que a política afirmativa cotas não beneficia “pardos”, ainda que centenas de milhares deles já sejam beneficiados.
É mentira que a pobreza que a negros atinge seja a mesma que atinge ao branco. A do negro é muito maior e pior, como IBGE e IPEA comprovam.
97 milhões, entre 190 milhões de brasileiros, declaram ao IBGE que são afrodescendentes. Os negros, pois, somam 51% da população.
O IPEA diz que o salário médio do branco é de R$ 1,8 mil e o do negro, R$ 0,8 mil. Diz também que os que se declaram afrodescendentes são 70% dos pobres, 70% dos indigentes e quase 80% dos jovens que morrem por violência.
A Suprema Corte de Justiça de um país que tem 51% de afrodescendentes, tem 1 único magistrado negro e, no Congresso, só 8 % dos deputados são negros.
Na propaganda, nas novelas, nos bunkers dourados da elite branca, ditos “condomínios”, onde o egoísmo se resguarda da pobreza matizada, erigida pela mais pura vilania, a unanimidade racial de tons rosados e louros com um frio olhar azul ou verde deu o primeiro passo rumo à lata de lixo da história.
Não faltam números para provar que a pobreza, no Brasil, tem cor. Não faltam cenas que comprovam a cor da pobreza, a cor da humilhação, a cor da injustiça. O que falta é vergonha na cara a um setor minoritário e rico da sociedade. Vergonha de mentir impiedosamente e, ainda, afetando indignação.
A Suprema Corte do Brasil marca mais um tento no ranking da pacificação social, da igualdade, da verdade e da Justiça. Que cada voto, de cada magistrado, seja um libelo contra a hipocrisia desumana que pisoteia a imensa maioria deste povo brasileiro. Um libelo acusatório a uma minoria microscópica que tem a audácia de negar uma realidade que lhe lambe as faces a cada passo nas ruas.
Eliminado o produto da hipocrisia e da desonestidade intelectual, resta descobrir como instilar ética e sinceridade nessa parcela diminuta da nação que tanto mal vem produzindo à sua quase totalidade ano após ano, década após década, século após século.