Em 29 de junho de 2013, após três semanas seguidas de protestos diários pelo país, com centenas de milhares de pessoas indo à rua e promovendo o caos, o Datafolha divulgou pesquisa de opinião mostrando expressiva queda da aprovação a Dilma Rousseff, bem maior do que a verificada em pesquisa do mesmo instituto divulgada no último sábado.
Há cerca de um ano e meio, dos 57% de bom e ótimo que a presidente tinha antes de aqueles protestoseclodirem, o percentual caiu para 30%. Desta vez foi pior: Dilma perdeu 19 pontos percentuais, caindo de 42% para 23%, enquanto a taxa de ruim e péssimo explodiu, indo de 24% em dezembro para 44% agora.
O que é mais preocupante para a presidente é que, na pesquisa de junho de 2013, sua taxa de ruim e péssimo subiu de 9% para 25% e, agora, subiu de 24% em dezembro último para 44%. Desde o governo Fernando Henrique Cardoso que um presidente não tinha rejeição tão alta.
Apesar desse quadro tétrico, Dilma tem motivos para ter esperança de melhora. Assim como ela se recuperou do baque de junho de 2013 e acabou se reelegendo, ainda que por margem apertada, o mesmo pode acontecer ao longo do ano. Isso porque alguns dos motivos que estão presentes no novo desmoronamento de popularidade também estavam no anterior.
Análise ponderada dos fatos mostra que, assim como em 2013, desta vez também foi a esquerda que desencadeou a queda de popularidade acentuada da presidente. Mas não é só. Desta vez também está presente uma percepção popular sobre a economia que contribuiu para a queda de popularidade do ano retrasado.
Na pesquisa de junho de 2013, disparou para 44% a taxa dos que acreditavam que o desemprego iria aumentar; na pesquisa divulgada no sábado, o pânico com a economia foi ainda maior, com 60% temendo pelo emprego.
Em 2013, o medo da inflação também revelou uma das principais razões para a queda de popularidade da presidente. Em junho daquele ano, 54% acreditavam em disparada da inflação; hoje, o percentual, espantoso, é de 80%.
A grande semelhança entre os dois momentos é que em junho de 2013 tampouco havia razão material para o descontentamento da população com o governo federal. A população não se revoltava com o que estava acontecendo, mas com o que a induziram a crer que iria acontecer.
Hoje, como em 2013, o desemprego é baixíssimo, o salário subiu ainda mais e a inflação está controlada – terminamos 2014 com a inflação de novo dentro da meta.
Porém, assim como em 2013, de novo a esquerda (incluindo setores do PT) fomentou a revolta da população; essa esquerda (incluindo, de novo, setores do PT) desencadeou uma enorme ofensiva nas redes sociais contra nomeações de ministros considerados de direita – Katia Abreu, na Agricultura, e Joaquim Levy, na Fazenda.
A casa de Dilma começou a cair em novembro do ano passado, com manifesto de intelectuais que apoiaram a sua reeleição. Cerca de 30 dias após a presidente se reeleger, esses intelectuais fizeram uma acusação tácita a ela ao pedirem que cumprisse o programa de governo com o qual se apresentara nas urnas. Ou seja, acusaram-na de estelionato eleitoral.
Chega janeiro e Dilma nomeia os ministros Abreu e Levy, desencadeando uma onda de críticas à esquerda que foi aumentando mesmo após semanas das nomeações. Esperta, a mídia antipetista tratou de divulgar fartamente que o próprio PT e sua militância estavam acusando Dilma de estelionato eleitoral, enquanto Aécio dizia a mesma coisa.
A tese do estelionato eleitoral, agora coonestada por boa parte dos próprios correligionários de Dilma e por ex-simpatizantes da candidatura presidencial do PT, tornou-se uma tsunami que engolfou a opinião pública.
Além disso, a mídia tratou de ludibriar a população inventando uma crise de energia elétrica – que não existe – e, tacitamente, culpou o governo federal pela crise hídrica em São Paulo, onde, segundo o Datafolha, 53% acreditam que Dilma e o prefeito Fernando Haddad são responsáveis pelo racionamento velado de água que a população vem sofrendo.
Por fim, alguns formadores de opinião conseguiram “viralizar” a teoria de que Dilma deveria usar rede nacional de rádio e televisão para se defender das críticas, o que não poderia fazer sob pena de ser acusada judicialmente de usar um equipamento público para fins políticos, já que rede nacional, por lei, só pode ser usada para comunicar assuntos de interesse da população, nunca para fazer política – e Dilma se defender em rede seria fazer política.
A boa notícia é a de que, se o governo conseguir impedir que os vaticínios catastrofistas sobre a economia se materializem, sua popularidade irá se recuperar. Se não houver aumento do desemprego e da inflação, a parcela da opinião pública que foi colocada em pânico tende a reverter sua posição política.
A má notícia é a de que tudo o que está acontecendo na política está influindo drasticamente na economia. O tratamento escandaloso que a mídia vem dando à Operação Lava Jato pode obrigar a Justiça a impedir que as empreiteiras acusadas operem as grandes obras em curso no país, o que irá fazer o desemprego explodir. Além disso, investidores, assustados com o quadro político, tendem a se retrair.
O bombardeio político de Dilma e seu enfraquecimento em sua base de apoio, portanto, podem causar um desastre econômico, fazendo explodir o desemprego e a inflação. Nesse contexto, o país seria tomado pelo caos. Ressurgimento de novas manifestações de rua seria mais do que provável.
Na grande mídia, vários analistas vinham dizendo que tudo de que o PSDB e a mídia precisam para propor o impeachment de Dilma ao Congresso é perda de apoio popular. Com o último Datafolha, a direita ganhou o instrumento de que precisava. Porém, a expectativa é que espere a situação se agravar mais um pouco.
O que Dilma pode fazer é tentar dialogar com o país e, sobretudo, com os movimentos sindical e sociais e com setores do PT e da militância partidarizada ou independente que, até aqui, dizem aos quatro ventos que se arrependeram do voto na presidente por conta das nomeações daqueles dois ministros e de algumas medidas de austeridade no seguro-desemprego e em mais alguns outros benefícios trabalhistas,
Outra possibilidade que pode melhorar a perspectiva do país é o instinto de sobrevivência do empresariado. Inclusive do grande empresariado. A política está destruindo a economia brasileira e, com isso, eles amargarão prejuízos astronômicos enquanto os trabalhadores mergulharão no desemprego e no arrocho salarial.
Ou seja: a qualquer um que tenha cérebro não interessa continuar pondo lenha na fogueira contra Dilma, seja essa pessoa de direita, de centro, de esquerda, do que for. Contudo, o país vive uma catarse. A política está sabotando a economia e até quem não quer o caos cedeu ao canto da sereia da mídia ou de formadores de opinião independentes.
Na atual situação, só um pacto pela governabilidade e pela defesa dos interesses de TODOS – trabalhadores e empresários, esquerdistas e direitistas – pode evitar uma tragédia econômica que jamais aconteceria sem essa maldita guerra política que vem prejudicando tanto um país que tem tudo para continuar melhorando como vinha fazendo há mais de uma década.
Uma distensão política permitiria que terminássemos 2015 sem ganhos econômicos, mas sem desastre. Se prevalecerem os interesses políticos dos derrotados na eleição de 2014, porém, aí todos terão motivos de sobra para se preocupar. E a queda de Dilma não resolveria nada, só agravaria, pois quem a sucederia seria bem mais duro nos ajustes econômicos.