Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Lugo: quem ri por último, rirá melhor?

Causou perplexidade a forma como o presidente Lugo jogou a toalha, acatando seu impeachment, em golpe sumário, de forma até surpreendente pela falta de reação mais contundente. Chegou a sair com um sorriso do Palácio, coisa estranha para quem acabara de levar um golpe.

Ele poderia ter feito um escândalo na imprensa internacional, como fez Zelaya em Honduras, mas ficou voltado só para o embate interno no Paraguai. Poderia não ter enviado advogado para fazer sua defesa ao Senado para não legitimar o julgamento de impeachment. Poderia ter convocado de própria voz o povo nas ruas. Não fez nada disso.

Seria radicalismo cristão, ao oferecer a outra face após ser "esbofeteado" (de forma figurada) por dezenas de senadores e deputados?

Não. Ouvindo suas palavras no dia seguinte, nota-se que ele tem uma estratégia política.

É preciso entender a realidade do Paraguai, para tentar compreender os movimentos do presidente deposto.

Lugo foi eleito com uma coligação ampla, para vencer o partido colorado, das oligarquias, que estava no poder há décadas.

Ele, como o "bispo dos pobres", militante pela inclusão social. Do outro lado, o Parlamento eleito, inclusive com seus ex-aliados, era todo conservador e ele não conseguia governabilidade para fazer reformas populares. Mesmo na presidência, e com "vontade política", não conseguia fazer um governo verdadeiramente progressista. E ainda por cima, toda vez que não mandava baixar o porrete em movimentos sociais, era ameaçado de impeachment, até que aconteceu.

É improvável que Lugo tenha provocado seu próprio impeachment, mas a partir de certo ponto ele parece ter resolvido fazer do limão, a limonada. Em vez de passar 5 anos como um leão sem dentes na presidência, e passar a faixa devendo promessas que não teria como cumprir, preferiu expor seus adversários como seus algozes, e jogar o ônus de um governo travado pelo Congresso, a quem de direito.

Lugo foi derrubado da presidência aceitando o "processo legal", logo ninguém pode prendê-lo, nem persegui-lo. Por isso, ele já é o líder da oposição em campanha eleitoral que ocorrerá daqui a 10 meses. Em vez de ser vidraça por fazer um governo travado, voltou a ser estilingue contra o partido colorado (e seus ex-aliados, de seu vice, que viraram a casaca para o lado da oposição)

Parece que Lugo não pode ser candidato a presidente nas próximas eleições (talvez possa, há controvérsias), mas no sábado disse pensar em ser candidato ao senado. No Paraguai o voto é em lista. Lugo puxando a lista elegerá uma grande bancada, e seu partido ainda terá grande chance de fazer o presidente, afinal o mesmo discurso de mudança que o elegeu em 2008, continua atual, já que ele foi impedido. E os atuais adversários ainda irão para o pleito com a pecha de golpistas pendurada no pescoço.

Se não der errado, a coligação de esquerda de Lugo recupera a presidência em 2013 e com uma nova correlação de forças no parlamento muito mais favorável.

O Brasil é o país mais importante para o Paraguai, por suas relações econômicas e fronteiriças. O grande desafio do governo Dilma é rebater a jurisprudência do golpe de estado "constitucional" criado, e deixar claro que golpes não podem ser recompensados. Mais um precedente, além do que houve em Honduras, não é nada bom para américa latina. Mas também é preciso calibrar a dose ministrada de sanções, para não causar retrocesso maior no Paraguai. O vice já será um governo fraco, e se cair no caos, poderá emergir algo como um golpe pior de algum aventureiro, nos moldes dos golpes dentro do golpe do século passado, patrocinado por países imperialistas, para melar eleições livres.

Ao que tudo indica, o grande desafio no Paraguai para as forças políticas progressistas e solidárias latino-americanas será fortalecer o projeto oposicionista de Lugo e enfraquecer o governo golpista de Frederico Franco, até as próximas eleições (ou até alguma reviravolta que antecipe o processo).

Em tempo: há quem reclame outro caminho, como o da rebelião popular, mas é preciso entender que não existe mobilização suficiente para isso lá, como foi visto desde sexta-feira. O que parece haver é o desejo de mudança da maioria pobre e da classe média progressista, mas silenciosa, que se manifesta nas urnas. Portanto o caminho pacífico da política escolhido por Lugo ainda é o melhor remédio, por enquanto.

Leia também:

- Paraguai: Dessa vez a crise é nossa; os yankees apenas assistem de camarote

Serra Plagiando ....nem fica corado

CPI obtém todas as gravações. Civita, tremei !


Quem sabe não há outras conversas do Demóstenes com o Carlinhos, como aquela “o Gilmar mandou subir”?

Íntegra de gravações da PF está liberada à CPMI de Cachoeira


A partir desta sexta-feira, a íntegra das gravações das operações Vegas e Monte Carlo, da Polícia Federal, estará à disposição de integrantes da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga a ligação do contraventor Carlinhos Cachoeira com agentes públicos e privados. O material estava com a Justiça Federal em Goiânia e foi trazido até a secretaria da comissão na noite de quinta-feira pelo próprio relator da CPMI, deputado Odair Cunha (PT-MG).


Como se trata de documentação protegida por regras de preservação de sigilo, o material lacrado foi depositado no cofre da secretaria da CPMI. As mídias serão abertas ainda nesta sexta e inseridas no banco de dados referente às operações Vegas e Monte Carlo, da Polícia Federal. A partir daí, poderão ser consultadas por deputados e senadores que integram a comissão e seus assessores credenciados.


Segundo informações do presidente da CPMI, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), procedimentos adotados por ele e por Odair Cunha possibilitaram a liberação do material em 48 horas. O senador explicou que, até então, a CPMI só tinha acesso a gravações editadas, contendo as partes de interesse da operação policial. Com o recebimento do novo material, os parlamentares poderão consultar outros trechos que podem ser úteis ao trabalho da comissão.



Como se sabe, a PF do Zé Cardozo dificultou (propositadamente ?) o acesso às informações obtidas na Operação Monte Carlo.
Agora, a CPI e todos os seus membros obtém as informações originais.
Mete a mão naquele precioso material que estava na casa do Carlinhos Cachoeira (do Carlinhos ou do Perillo ?).
Vamos ver os detalhes de como o Demóstenes e o Carlinhos montaram a operação que deu origem ao mensalão (petista, porque o mensalão tucano se segue com a mesma rapidez).
E que permitiu à TV Record “melar o mensalão”.
Vamos ver se dessa vez, com a íntegra das gravações, a “bancada da Globo” consegue impedir o depoimento do Robert(o) Civita e seu diretor em Brasília.
O Requião vai pode repetir da tribuna do Senado: a Veja é agente do Diabo.
Quem sabe não há outras conversas do Demóstenes com o Carlinhos, como aquela “o Gilmar mandou subir”?
O logging dos vôos – será que o Carlinhos “importava” jatinhos daquele jeito que o Zé Cardozo demorou a descobrir ?
E as pegadas da Globo, que o Leandro achou na Carta Capital: haverá outras no crime organizado ?
Teremos o Cerra e o Paulo Preto com o Cavendish na marginal (sic) de São Paulo ?
E o Gurgel, os procuradores, a mulher do Juiz ?
Tem mais prevaricação acoitada, como disse o Collor ?
Como se vê, a CPI já foi longe.
Agora, vai mais ainda.
Ela dura até novembro.
E pode explodir em cima da eleição, não é isso, Paulo Preto ?




Paulo Henrique Amorim

Lugo não reconhece novo governo e anuncia resistência


Em entrevista ao Página/12, Fernando Lugo diz que foi vítima de um golpe parlamentar e resumiu seu plano deste modo: “Resistência pacífica e não reconhecimento da presidência que se instalou depois do golpe de Estado”. Lugo pareceu mais animado do que estava na quinta, quando seu então vice, Federico Franco, o substituiu na Presidência. Ele afirmou que a sua postura pacífica de sexta teve o objetivo de evitar violência nas ruas e mortes. "No Paraguai há muita violência. Na sexta, os mercadores da morte estavam rondando". A reportagem é de Martín Granovsky.

Assunção - Os seus colaboradores já encontraram um título para ele. “É o presidente dos paraguaios”, dizem, para diferenciá-lo do cargo de presidente do Paraguai que Fernando Lugo perdeu com a destituição de sexta-feira pelas mãos do Congresso. Domingo à noite, em entrevista ao Página/12, Lugo resumiu seu plano deste modo: “Resistência pacífica e não reconhecimento da presidência que se instalou depois do golpe de Estado”. Lugo parece mais animado do que estava na quinta, quando seu então vice, Federico Franco, o substituiu na Presidência. Parte de sua estratégia é interna e parte parece consistir em sua instalação internacional para fortalecer-se também entre os paraguaios.

Franco também procura agir nestes dois planos, a ponto de dizer ontem que Lugo é a única pessoa que pode evitar o conflito internacional. É uma forma de se referir aos problemas que experimenta o governo pelas crescentes medidas de castigo, começando pela já decidida suspensão do Mercosul. “Te cospem na cara e, ao mesmo tempo, te chamam de lindo”, disse Lugo ao Página/12, comentando a declaração de Franco.

Você percebe que Franco o torna responsável de qualquer represália que o Paraguai receba?

Não são castigos ao Paraguai. Estamos frente a um grande movimento de solidariedade internacional do qual participa teu país. A Argentina é um país irmão, vizinho e muito próximo, que conhecem muito bem a realidade paraguaia.

Retirou Rafael Romá, o embaixador.

Fez o que dentro de sua soberania considerou que seria útil para a liberdade e a soberania de um país que quer a democracia como o Paraguai.

E se a solidariedade se converter em problemas cotidianos, como você reagirá?

Infelizmente, muitos inocentes poderão sofrer as consequências. Eu quero o melhor para o Paraguai. Por isso, rechaçamos o regime.

Na madrugada de domingo, frente ao edifício da televisão pública, você falou de resistência pacífica. Essa será a tática?

Sim. Já começamos a resistência pacífica e não reconhecemos a presidência que se instalou depois do golpe de Estado parlamentar. E começam a surgir as manifestações de cidadãos e cidadãs. Elas crescem, são pacíficas e se expressam contra o que o parlamento decidiu naquela sexta-feira sombria. Também vamos realizar uma reunião de gabinete.

Quando?

Às seis da manhã (de segunda). Participarão dela todos os colaboradores do meu gabinete, quando estávamos no palácio de governo.

Ao se despedir dos chanceleres da Unasul, você disse que voltaria a seu trabalho político junto às bases. Foi o que relatou o chanceler Héctor Timerman ao Página/12.

E já começamos a fazer isso. Vamos unir forças com os movimentos sociais e sindicais.

Sempre dentro da ideia de não-violência?

Sim. Sempre.

Por isso, na sexta, quando o destituíram, teve uma atitude pacífica?

Sim. Nos submetemos ao julgamento político parlamentar e aceitamos o veredito para evitar derramamento de sangue. Somos contra todo tipo de violência e esse dia pressagiava violência e repressão. Hoje, já com o espírito sereno, as manifestações cidadãs são exemplares, o que ser visto nas ruas ou nas transmissões do Canal 13 do Paraguai e como o faz a televisão pública.

É uma forma de ação política que será repetida no interior do Paraguai?

Exato. E estamos serenos para essa tarefa. Esse é o motivo pelo qual a nossa atitude de sexta-feira foi ponderada por muita gente. No Paraguai há muita violência. Na sexta, os mercadores da morte estavam rondando. O julgamento era injusto, descabido e sem argumento, mas era preciso reagir como fizemos. Era a melhor coisa a fazer.

O dinamismo de sua atividade aumentará?

Estamos saindo nos comunicando com a cidadania. Hoje tivemos uma série de reuniões com líderes sociais e políticos. O rechaço crescerá. Estou seguro disso. Haverá uma consolidação do rechaço à presidência que surgiu da destituição.

Franco insiste que o Congresso só aplicou um artigo da Constituição, que fala de procedimentos e não de prazos para o julgamento político do presidente.

Sobre isso, gostaria de destacar o que disse o presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos. A ferramenta do julgamento político é válida do ponto de vista jurídico e constitucional, mas os congressistas exageraram na forma.

Os congressistas poderiam dizer que votaram com maioria qualificada.

É um simples acordo de cúpulas feito pelo pelos dirigentes dos partidos tradicionais.

Em sua primeira aparição pública após ter sido destituído, você disse que havia setores políticos vinculados ao narcotráfico. A quem estava se referindo?

Há muitos parlamentares acusados de ter uma grande participação em negócios ilícitos. O narcotráfico está dentro de alguns setores da política. Há investigações que foram publicadas, denúncias...

Os próximos passos

Nosso projeto é reforçar a presença política de Fernando Lugo, disse ao Página/12, após a entrevista, um colaborador que pediu para não ser identificado. A análise otimista dos partidários de Lugo indica que Franco não conseguirá impor a ideia de que o responsável pelo eventual isolamento do Paraguai é o presidente derrubado. “Temos isso muito claro, não vemos um perigo nesse tema”, é a opinião geral. Outro ponto considerado pelos dirigentes próximos ao ex-presidente é que, como disse um deles, “virão tempos difíceis para o setor importador e também para o setor exportador”. “Os setores fáticos ficarão em má situação, cada vez pior”, disse. No Paraguai, assim como na Espanha, quando alguém fala dos “poderes fáticos”, está usando a expressão no mesmo sentido que “establishment” é usado na Argentina.

O núncio apostólico foi o primeiro representante diplomático estrangeiro a se reunir com Franco. Em outro setor da Igreja Católica, porém, o monsenhor Melanio Medina, bispo de Missiones e Ñeembucú, ironizou ontem em sua homilia o novo presidente: “Pobre Franco, em que confusão está metido, porque a estrutura parlamentar e capitalista não vai permitir que ele faça nada”. Disse ainda que a destituição foi “um golpe do Parlamento” e que Lugo foi afastado por “querer lutar a favor dos pobres”.

Medina também incursionou na análise diplomática. “No melhor dos casos, mais adiante se acerta a relação bilateral, mas se cortarão o gás e os combustíveis que o país compra da Argentina”, disse. Além disso, atribuiu o assassinato de onze camponeses e seis policiais em Curuguaty à cobiça dos proprietários de terras. Citou Blas Riquelme, dono de mais de 40 mil hectares.

A fronteira da soja se expande frequentemente no Paraguai, assim como ocorre em Santa Fé ou Santiago del Estero (na Argentina), com disparos para amedrontar ou atacar diretamente os pequenos proprietários de terra. Segundo Medina, tanto no Paraguai como na América Latina inteira há dois modelos: “O que busca a igualdade social e o capitalismo que só quer acumular fortunas e que não tem nenhuma preocupação com a situação dos pobres”.

As declarações de Lugo ao Página/12, os comentários de seus colaboradores e o testemunho do bispo Medina parecem marcar a busca, por parte de Lugo, da popularidade que teve em seu primeiro ano de governo, em 2008, e que foi perdendo, apesar das políticas sociais e do aumento do gasto em saúde.

Desde que começou a série de discursos, a maioria de militantes de base, na frente do edifício da televisão pública, a questão da saúde foi uma das mais repetidas entre os argumentos em defesa de Lugo, Neste mesmo lugar, na madrugada de domingo, o próprio Lugo apareceu e ali mesmo houve um indício da política que quer afastar Franco. Também pela madrugada apareceu uma pessoa de uns 35 anos, sorridente, que manifestou desejo de participar das sessões de microfone aberto. Afirmou chamar-se Cristian Saguier e comunicou que era o chefe da nova direção da televisão pública. Anunciou que o governo não suprimiria o programa Microfone Aberto e que estava ali para “celebrar a discussão pública”.

Esse lugar pode ser um dos pontos de observação da política paraguaia. Por um lado, e para além do nível de audiência, mais baixo que o dos canais privados, Franco quer preservar a imagem de um Paraguai democrático, de um país que não incorreu na ruptura da ordem constitucional. Por outro, está embretado pela mesma realidade: mesmo com audiência menor, o programa é uma referência. O resto depende do que Lugo e os setores que o apoiam consigam fazer daqui até as eleições de 2013.

Tradução: Marco Aurélio Weissheimer

WIKILEAKS: GOLPE ERA PLANEJADO DESDE 2009

*Piadistas:  Senado paraguaio que deu o golpe de Estado é o mesmo que nega o ingresso da Venezuela no Mercosul; alegação: 'o país não é democrático**Lugo é referência:Unasul convoca reunião para esta 4ª feira com a presença de Fernando Lugo, que deve comparecer também à Cúpula do Mercosul, na 6ª feira.
 
 Despacho sigiloso da Embaixada dos EUA em Assunção, dirigido ao Departamento de Estado, em Washington, já informava, em 28 de março de 2009, a intenção da direita paraguaia de organizar um 'golpe democrático' no Congresso para destituir Lugo, como o simulacro de impeachment consumado na última 6ª feira. O comunicado da embaixada, divulgado pelo WikiLeaks em 30-08-2011 (http://wikileaks.org/cable/2009/03/09ASUNCION189.html) mostra  que já então o plano era  substituir Lugo pelo vice, Federico Franco, que assumiu agora. O texto enviado a Washingnton faz várias ressalvas. Argumenta que as condições políticas não estavam maduras para um golpe, ademais de mostrar reticências em relação a seus idealizadores naquele momento. Dos planos participavam então o general Lino Oviedo (ligado a interesses do agronegócio brasileiro no Paraguai, que agora pressionam Dilma a reconhecer a legitimidade de Federico Franco, simpático ao setor) e o ex-presidente Nicanor Duarte Frutos, cujo governo abriu espaço para base militar estratégica dos EUA no país.
(LEIA MAIS AQUI) 

Paraguai explica a política hoje


Em primeiro lugar, deixemos registrado que a Folha de São Paulo, em sua edição do primeiro dia útil da semana, logo depois de sua “porta” ter sido “arrombada” pela internet, publicou as fotos da aliança que fizeram Paulo Maluf e Fernando Henrique Cardoso em 1998, aliança que teve direito até a outdoor. Aliás, vale mencionar que a foto do outdoor que os dois políticos dividiram naquele ano, essa não foi parar na Folha porque, também, ninguém é de ferro…
Mas as fotos mostram a tônica da política de nosso tempo, o tempo da Realpolitik, que, aliás, de novo não tem nada, haja vista que nada difere do que foi teorizado há séculos pelo  formulador florentino Nicolau Maquiavel após ter sido usada durante toda a história da humanidade, quando impérios em guerra, que colocaram seus cidadãos para se matarem uns aos outros, casavam os próprios filhos entre si e, assim, estabeleciam paz que, de repente, seria rompida de novo. Ou pela primeira vez. Muitas vezes, até por uma traição conjugal.
O que se pode dizer do mundo contemporâneo é que ficamos mais cínicos e passamos a nos valer da Realpolitik por razões concretas em vez de por birras de reis ou rainhas corneados (as) por seus consortes. E só.
Todavia, após séculos (ou milênios?), os sucessores de uma aristocracia que não entendia nada de política – simplesmente porque nada entendia de povo –, os quais saíram das massas para comandar o Estado, passaram a exercer a política com maior competência, evitando guerras desnecessárias, sendo, assim, maquiavélicos sem culpa, sob a premissa do bem maior que alianças e rompimentos poderiam gerar ao bem comum.
Alguém disse, recentemente, que faltou um PMDB ao presidente defenestrado Fernando Lugo. Ou um Maluf. Talvez tenham faltado ambos. Certamente faltaram alianças. Possivelmente por o deposto não ter querido ceder “filhos” para o matrimônio, o que se entende por ceder em programas sociais e interlocução com sem-terras.
A deposição extemporânea e apressada de Lugo remete ao medo do processo de sua sucessão que estava à porta, sugerindo que os golpistas não sentiram-se seguros em disputar com ele a formação do novo congresso, que poderia lhe ser menos hostil.
Transfiram para o Brasil as eternas acusações de “corrupção” e “incompetência” que a direita faz à esquerda quando ela sobe ao poder – ou quando ameaça subir. Imaginem se Lula não tivesse alianças da esquerda à direita, passando pelo centro. As investigações exaustivas sobre seu envolvimento no mensalão deram em nada, mas as forças políticas esperaram as investigações terminarem. Não se pediu seu impeachement.
Até porque, em 2005 o processo eleitoral estava às portas, no ano seguinte, e as forças políticas que se assanharam com um só mandato para Lula acharam que o jogo estava jogado, após o bombardeio que fizeram da imagem dele durante a eclosão de um escândalo em que era abertamente acusado de mentor.
Se tivesse PMDB, PP e outras legendas menores de direita e centro-direita na oposição aberta a si, Lula teria sucumbido em questão de semanas, talvez um pouco mais de tempo do que Lugo. Mas, provavelmente, não tanto mais.
O golpe no Paraguai desnuda o que acontece sem alianças políticas e concessões. As acusações de “pragmatismo excessivo” e “endireitamento” aos governos Lula e Dilma partiram e partem de forças que sabiam e sabem que a Realpolitik é inevitável para manter o poder, para não ser destruído moralmente e, em casos extremos,  até fisicamente.
É aceitável discutir esse império da conveniência sobre o direito e a dignidade na política, mas só é aceitável se for uma discussão honesta. A crítica a um dos que se valem da Realpolítik sendo feita pelos que sempre se valeram, valem-se e não pretendem deixar de se valer dela nunca é inaceitável, desonesta, hipócrita e atenta contra o bem comum.
Vejam Obama. Tinha tudo para revolucionar as Américas e o mundo. Negro, ascendência africana, ainda que adotado pela aristocracia, era a aposta no fim da supremacia branca, com a chegada de um negro ao cargo de maior poder na Terra.
O que será que aconteceu com Obama? Será que se rendeu ou será que entendeu? Talvez tenha descoberto que governar uma nação deixou de ser submetê-la aos próprios desejos, nem quando são os mais nobres, até quando são abjetos, meros caprichos como os de reis e imperadores de outrora que detinham o poder de impor a própria vontade.
Governar, hoje, é tomar decisões amparadas em sentimentos coletivos, tentando, ao máximo, sobrepor a justiça à injustiça, o que está longe de ser o ideal, mas que é melhor do que era dado à aristocracia, àqueles que, à diferença do que acontece no regime democrático, não precisavam demonstrar coerência ou se explicar.
É confuso. Haveria que discutir a Realpolitik, haveria que discutir a influência de grupos de pressão sobre governos, haveria que discutir a autonomia de mandatários para deliberarem. Haveria que discutir muita coisa.
O escritor e político alemão do século XIX Ludwig August von Rochau, seguindo a idéia de Klemens Wenzel von Metternich de achar caminhos para equilibrar as relações de poder, formulou a teoria da Realpolitik, da política “real”, a qual vige, prepondera ou, do contrário, gera o que se viu no Paraguai recentemente. Gostemos ou não.

Quem são os juízes do Rio que absolvem Daniel Dantas

A Justiça brasileira não faz mais parte do “plano de negócios” de Dantas.


O Conversa Afiada considera indispensável identificar os Juízes da Justiça do Rio que absolvem Daniel Dantas.

O que talvez explique por que ele não move ação no Crime contra este ansioso blogueiro.

Porque a ação no Crime correria por São Paulo.

E Dantas prefere o Rio.

Os Juízes do Rio Flavia Romano de Rezende; Fabio Dutra; Lucia Helena do Passo;  Vera Maria Van Hambeeck; Camilo Ribeiro Ruliere; Rossidelio Lopes da Fonte (duas vezes) são os que deram ganho de causa ao passador de bola apanhado no ato de passar bola contra este ansioso blogueiro.

Tudo somado, com as multas diárias e punições extravagantes, isso dá, por baixo, um milhão de Reais !

Um milhão !

Mixaria.

Como se o criminoso fosse o ansioso blogueiro.

Um homicida, já que nem a homicidas se aplicam penas pecuniárias desta monta.

Trata-se, portanto, de uma estratégia para calar o ansioso blogueiro pelo bolso.

Estrategia inútil.

Como se vê na aba “Não me calarão”, entre perdas e danos, o ansioso blogueiro tem a receber mais do que a pagar – se é que jamais pagará qualquer coisa.

Só do Enio Mainardi, da Editora Abril e do Nelio Machado, advogado que, parece, foi demitido pelo passador de bola, dá para pagar tudo isso e muito mais.

Além do exercício da Censura – clique aqui para ler o que decidiu o “Dr Pinto Junior, ao proteger o valentão do PSDB” -, as dezenas de ações que Daniel Dantas move contra diversos jornalistas sujos, têm um caráter nocivo: com os recursos advindos da Privataria Tucana, onde “ele foi brilhante”, e seus 1001 advogados, Dantas se vale dos mecanismos da Justiça, e a utiliza para esconder o que a Justiça da Inglaterra e o Banco Mundial conhecem muito bem.

Que ele foi um banqueiro que forjava a abertura e a movimentação de contas, que é dependente de escutas ilegais, e que é um passador de bola apanhado pelo jornal nacional.

O banqueiro condenado considera que são os jornalistas que maculam a sua honra.

Como se ele fosse a versão FEBRABAN da conterrânea Irmã Dulce.

Na Inglaterra, atrás das grades, ele não ousaria dizer tal disparate.

Mas, aqui, ele deita e rola na Justiça  - às vezes.

O advogado deste ansioso blogueiro, Dr Cesar Marcos  Klouri, acaba de recolher as provas de uma rudimentar fraude, com rasuras a mão, para transferir uma ação de uma Vara para outra – na Justiça do Rio.

A carreira de Dantas se construiu com “vitórias” na Justiça.

Impecável depoimento do jornalista Samuel Possebon, da Teletime, a um documentário/livro que este ansioso blogueiro prepara para lançar com os recursos obtidos em ações judiciais, mostra que o business plan de Dantas sempre foi: montar “teias societárias” e referendá-las na Justiça, ainda que ilegais.

Dantas costuma perder na Justiça.

Especialmente para este ansioso blogueiro e para o Mino Carta.

Ele obtém vitórias efêmeras.

E nessa carreira de brilho provisório,  ele contou com decisões que se inscreverão na História da Magistratura Brasileira como exemplos edificantes  da batalha contra o crime organizado.

Entre os juízes que “absolveram” Dantas e o acompanharão em sua biografia, cabe  ressaltar Gilmar Dantas (*), que, em 48 horas, lhe concedeu dois HCs Canguru, a despeito do que o jornal nacional exibiu.

Ressaltem-se as decisões da Dra Cecilia Mello, da Justiça de Sao Paulo, que ignorou provas inequívocas e jogou a Operação Kroll no lixão do José Abreu, da “Avenida Brasil”.

Como diz o Mino Carta, se o Brasil fosse razoavelmente sério, Dantas estaria atrás das grades já por conta da Operação Kroll.

(Destruir provas na Justiça é uma das especialidades do banqueiro condenado.)

Destaque-se nesse capítulo o Dr Adilson Macabu, do Superior Tribunal de Justiça, que, à la Gilmar Dantas (*) e Dr Tourinho, no caso do Carlinhos Cachoeira, considerou  que a Satiagraha continha irremediáveis maçãs podres.

(Antes de julgar o mensalão tucano, o STF restabelecerá a legitimidade da Satiagraha, já que o ansioso blogueiro não acredita que o Supremo, por suas próprias mãos, vá tirar Daniel Dantas da cadeia pela terceira vez.)

O filho do Dr Macabu trabalhou no escritório do Dr Sergio Bermudes, advogado de Dantas, empregador da mulher de Gilmar Dantas e, de tão íntimo de Gilmar, acabou por provocar o pedido de impeachment de Gilmar, a pedido do Dr Piovesan.

Um verdadeiro B.O.

Dantas pra lá, Dantas pra cá …

Juiz pra cá, advogado pra lá …

Filho pra cá, esposa pra lá.

Mercedes Benz , haras, Central Park …

Viva o Brasil !

Nessa ilustre lista de Juízes sensíveis aos argumentos “técnicos” dos advogados de Dantas inclui-se o Dr Ali Mazloum, que continua a exercer a atividade de ministrar a Lei – sempre com redobrado espírito público –  graças a  providencial  intervenção de … de … quem ?

De Gilmar Dantas  (*)!

Gilmar Dantas (*) o salvou de uma aposentadoria antecipada ao soar do gongo.

Agora, Mazloum põe para andar uma ação que tem o objetivo de destruir não a Satiagraha, mas Protógenes Queiroz, o delegado que prendeu Dantas duas vezes.

(E ainda pretende prendê-lo.)

Em obstinada perseguição, Mazloum incluiu  entre os “criminosos” este ansioso blogueiro, que cometeu a impropriedade de telefonar para Protógenes.

O ansioso blogueiro confessou o “crime”.

De fato, ligou para Protógenes, muitas vezes.

E também para o Ligue-Taxi, Disque Pizza, 5 àSec,  Sushi Delivery e o Palácio do Planalto, a Casa Branca, e o Vaticano.

Dizem que o Juiz que Gilmar salvou se aborreceu com a sincera “confissão”.

E foi ao Supremo, onde uma derrota o espera.

Dantas está mal acostumado.

Como a Privataria é uma bomba no colo dos tucanos de Sao Paulo – leia-se Cerra e FHC – , o PiG (**) também trata o Dantas como “brilhante”.

Finge que não vê.

Acoita-o,  para usar expressão que o Senador Collor recuperou ao tratar de outro exemplar da contemporânea Magistratura.

O Estadão acaba de dar uma prova desse acovardamento: rapidinho, trocou “capangas” por economistas a serviço de Dantas.

Dantas defende terra grilada a bala e o PiG acha normal.

Como diz Franklin Martins, o PiG quer ser independente do Governo mas é dependente do Dantas.

O Dr Cesar Marcos Klouri se prepara para tomar as providências que responsabilizem, inclusive do ponto de vista pecuniário, a continuada manipulação judicial de Dantas.

Dantas não manda na Justiça brasileira.

A Justiça brasileira não faz mais parte do “plano de negócios” de Dantas.


Paulo Henrique Amorim


(*) Clique aqui para ver como eminente colonista do Globo se referiu a Ele. E aqui para ver como outra eminente colonista da GloboNews e da CBN se refere a Ele. E não é que o Noblat insiste em chamar Gilmar Mendes de Gilmar Dantas (*) ? Aí, já não é ato falho: é perseguição, mesmo. Isso dá processo…

(**) Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista.

Inacreditável! STF surtou! Britto adverte Lewandowski!

Presidente Lula, data vênia, que Supremo é esse que o Senhor montou ?
Saiu na Folha (*):

Ministro cobra colega sobre risco de atraso no mensalão


O presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Carlos Ayres Britto, enviou ofício ao ministro Ricardo Lewandowski advertindo que ele precisa devolver hoje a revisão do processo do mensalão para que o julgamento comece no dia 1º de agosto.


Na prática, o presidente do STF cobra pressa do colega de corte para que o calendário do principal julgamento do ano seja obedecido.


Britto tomou essa iniciativa na noite de quinta-feira (21) depois de tentar, sem sucesso, conversar com Lewandowski sobre o assunto naquele dia.


A atitude do presidente do Supremo, segundo ministros, é incomum no dia a dia da corte, mas se tornou necessária (na opiniao do douto repórter da Folha – PHA) devido ao risco de atraso.


Lewandowski tem reclamado nos bastidores da pressão interna que sofre dos colegas para correr com o caso.

Navalha
Não bastasse a hipótese de ter ocorrido um “Golpe paraguaio” na hora de fixar a data do julgamento, agora mais essa !
Ministro passa pito em Ministro !
Amigo navegante, a coisa está feia !
O PiG (**) marca a data, determina quando o relator tem que relatar e se prepara para condenar sem prova ?
Tudo isso porque Ayres Britto e Cezar Peluso querem participar do Maior Julgamento de Todos os Séculos (segundo os mervais globais), antes da aposentadoria ?
Presidente Lula, data vênia, que Supremo é esse que o Senhor montou ?
Ou a toga encobre a Razão ?
O pudor ?
Ou isso aqui é um grande Paraguai ?



Paulo Henrique Amorim


(*) Folha é um jornal que não se deve deixar a avó ler, porque publica palavrões. Além disso, Folha é aquele jornal que entrevista Daniel Dantas DEPOIS de condenado e pergunta o que ele achou da investigação; da “ditabranda”; da ficha falsa da Dilma; que veste FHC com o manto de “bom caráter”, porque, depois de 18 anos, reconheceu um filho; que matou o Tuma e depois o ressuscitou; e que é o que é,  porque o dono é o que é; nos anos militares, a  Folha emprestava carros de reportagem aos torturadores.

(**) Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista.

"O Mercosul e a Unasul aplicarão os tratados que firmamos"

Em entrevista ao jornal Página/12, o chanceler argentino Hector Timerman fala sobre o golpe contra o presidente do Paraguai, Fernando Lugo, e resume: "É triste o que aconteceu". Embora não tenha adiantado a decisão dos presidentes que se reunirão na quinta-feira em Mendoza, Argentina, a forma que o chanceler argentino utilizou para definir a destituição de Lugo antecipa o que o Mercosul e a Unasul farão. O Mercosul aplicará os tratados que firmamos. E a Unasul também", anunciou. A reportagem é de Martín Granovsky.

Assunção - Em diálogo telefônico, o chanceler Héctor Timerman aceitou relatar, de Buenos Aires, as gestões dos ministros de Relações Exteriores da União Sul-americana de Nações, na última sexta-feira, para que não se produzisse o que denominou “uma execução sumária”.

– Qual é a caracterização argentina sobre a troca de presidente no Paraguai?

– O governo argentino considera que estamos frente a uma ruptura da ordem democrática.

– Por que ruptura, se a destituição de Fernando Lugo se baseou no julgamento político?

– É que no Paraguai se utilizou um mecanismo contemplado na Constituição, mas foi aplicado de tal forma que viola não só o espírito dessa Constituição, mas toda prática constitucional do mundo democrático.

– Qual seria a violação?

– Praticar uma execução sumária. Dar duas horas de defesa a um presidente democraticamente eleito é um tempo menor que aquele que tem alguém que passou um sinal vermelho. É triste o que aconteceu no Paraguai. É triste ter visto Lugo na sexta-feira à tarde sozinho, em seu gabinete da casa de governo, sem papéis sobre o escritório, vendo pela televisão como o Congresso o destituía.

– Os chanceleres da Unasul estavam ali com ele nesse momento?

– Sim. Depois de haver feito todo o possível para encontrar alternativas. Mas em nenhum caso encontramos o menor interesse na oposição de dialogar conosco e procurar uma opção à execução sumária de um presidente. E isso que dissemos claramente que estávamos ali para respeitar, ao mesmo tempo, a soberania do Paraguai e os documentos internacionais que todos firmamos.

– Os textos da Unasul e do Mercosul?

– Ambos. E quero esclarecer algo que dissemos aos dirigentes da oposição a Lugo. Não só o Paraguai estava obrigado a cumprir com os acordos firmados. Mas também cada um dos outros países. Nós também estamos obrigados a cumprir com os acordos. Devemos aplicar as cláusulas inclusive a nós mesmos.

– Em algum momento os chanceleres da Unasul viram uma chance de acordo?

– Quando chegamos e falamos com Lugo pela primeira vez, ele nos disse que ainda tinha alguma esperança. Mas depois fomos nos deparando com a realidade. Primeiro nos reunimos com os dirigentes do Partido Colorado. Disseram-nos que o governo era inviável e ele tinha que ir embora. E que isso tinha que ser feito tudo rápido porque, supostamente, Lugo havia chamado elementos subversivos e violentos. Também nos reunimos com o líder do Partido Liberal Radical Autêntico no Congresso. Lembro uma das respostas de um dirigente opositor: “O melhor que os chanceleres de Unasul podem fazer é ir embora”.

– Qual foi a resposta?

– Esta: “Senhor, são 11 da manhã. Às 12h começa o julgamento. Há algo que vocês possam me dizer afim de ajudá-los para que esta situação não chegue a extremos?” Me disseram: “Não. A Constituição dá as formas de fazer o julgamento, não os prazos”. Respondi: “Estão falando de um chefe de Estado que assumiu com a representação popular. Por outra parte, não vejo ninguém na rua, e menos ainda com ânimo violento”. Um pouco depois insisti.

– Com quê argumento?

– Já eram 11 e meia da manhã. “Sigamos conversando. Digam-me qualquer ideia que tenham.” Outros chanceleres argumentavam que o Congresso estava inventando um regulamento. Nós responderam que não havia necessidade de provar os fatos porque eram de público e notório conhecimento. E repetiam a cada momento: público e notório. Quinze para o meio-dia faltavam 15 minutos para o começo do juízo. Disse: “Senhores, virão tempos muito duros para o Paraguai porque nós vamos ter que aplicar a cláusula democrática”. Não pareceu comovê-los em nada. Fomos outra vez falar com Lugo. Ali, entre os chanceleres, se decidiu que fossemos com Antonio Patriota, do Brasil, conversar com Federico Franco.

– Ainda era o vice.

– Sim. Eu disse a ele: “Olhe, não resta muito tempo. O senhor acha que é justo o que estão fazendo? Pensa que o mundo vai reconhecer a destituição desta maneira como um procedimento correto”. Lembro sua resposta: “No Paraguai um vice-presidente tem três tarefas: presenciar a reunião de gabinete, atuar como ligação com o Congresso e assumir em caso de doença, morte e destituição do presidente. Vou cumprir a Constituição paraguaia”. Perguntei-lhe se duas horas para preparar uma defesa lhe parecia um tempo suficiente. Me disse: “Só Deus sabe o tempo que lhe dei”. Pedi a ele que acompanhasse os chanceleres ao Congresso e que dissesse diante de todos que seu companheiro de governo não havia tido tempo de preparar a defesa e que, portanto, ele não assumiria a presidência em caso de destituição. “É que é minha obrigação assumir”, disse Franco.

Um dos seus acólitos comentou então que Fernando Collor de Mello tirou uma licença de seis meses. Perguntei a ele se, em caso de convencermos Lugo a pedir uma licença, dariam a ele seis meses para preparar sua defesa. Foi aí que me disse uma frase que já havíamos escutado de outros dirigentes: “Este governo é inviável. Aqui começa a violência amanhã mesmo”. Dissemos que havia pouca gente na rua e que não havia ninguém que quisesse gerar violência. “Não, já é tarde”, repetia Franco. Patriota sugeriu pedir a Lugo um pronunciamento contra a violência. Eu disse: “Vou dizer a verdade do que vai acontecer. O Paraguai sofrerá e ficará isolado e o Senhor deverá governar em condições difíceis”.

– Pelo visto, Franco estava muito decidido.

– Ele me respondeu: “Sou médico e estou acostumado a tomar decisões”. Repliquei que os médicos juram fazer o menor dano possível aos pacientes e que ele estava por fazer o maior dano possível ao Paraguai e à democracia. Também lhe dissemos que o Paraguai se transformaria em um caso Honduras Dois. Respondeu: “Mas aí tiraram um presidente de pijama!”. Pedimos que não se confundisse, que a questão não era como está vestido um presidente quando é destituído irregularmente, mas a irregularidade da destituição. Já com um clima pesado fomos embora, com Patriota, dizendo, por último, que o Paraguai estava por concretizar um golpe.

– Onde foram?

– Ver outra vez Lugo na casa de governo. Quando chegamos, não só não havia violência. Havia menos gente na rua. Os chanceleres da Unasul e o secretário Alí Rodríguez ficaram conversando com Lugo, para não deixá-lo sozinho. Vimos a votação pela televisão e quando terminou a cerimônia de destituição lhe dissemos: “Presidente, vamos embora porque não queremos estar presentes quando Franco assumir. A Argentina oferece asilo a qualquer um que o solicite”. Lugo anunciou que ficaria no Paraguai e que não chamaria um levante porque queria evitar mortos. Disse a ele que Juan Perón fez o mesmo em 1955 e que sempre se pode voltar se não há mortos.

Meia hora antes do fim da destituição apareceram no palácio de governo militares que até esse momento não estavam ali. Lugo pensou que se tratava de uma forma de pressão e nos contou que retomaria o trabalho nas bases e percorreria o país. Alí Rodríguez lhe disse: “A retirada é o primeiro passo da ofensiva”. Eu comentei: “Evidentemente, o Senhor é o presidente que nunca devia ter sido, porque vai contra a tradição do Paraguai”. Nos pediu que não abandonássemos o povo paraguaio e que ajudássemos a defender os direitos humanos e as liberdades civis. Às seis da tarde nos abraçamos e fomos embora. Havia pouca gente na rua.

– O Mercosul castigará o governo paraguaio?

– O Mercosul aplicará os tratados que firmamos. E a Unasul também.

– Está prevista a incorporação da Venezuela como membro pleno?

– A Argentina, o Brasil e o Uruguai estão interessados no ingresso da Venezuela, como se sabe, mas não acho que uma situação corresponda a outra.

Tradução: Libório Junior

 
 
 
 
 
 

MERCOSUL SUSPENDE PARAGUAI E VETA GOLPISTA NA CÚPULA DE MENDOZA

*TV Pública do Paraguai  estaria ocupada  nesse momento por partidários de Lugo**emissora teve  sinal cortado por cerca de 30 minutos quando transmitia protestos; um deles, de madrugada, contou com a participação do próprio Lugo. Veja: http://www.telam.com.ar/nota/29411
  
EM comunicado neste domingo, Argentina, Brasil, Uruguai e demais associados do Mercosul anunciaram a decisão de suspender o Paraguai de imediato e, portanto, impedir o dirigente golpista Federico Franco de participar da XLIII Reunião do Conselho do Bloco e da Cúpula dos chefes de Estado que acontece a partir desta 2ª feira,Mendoza, na Argentina. No encontro estava prevista a passagem da Presidência pro tempore do Mercosul à República do Paraguai, leia-se, ao presidente democraticamente eleito, Fernando Lugo. A decisão é o desfecho de um cerco regional crescente ao golpe que destituiu Lugo, na última sexta-feira, um simulacro de impeachment, em rito sumário, que durou menos de 30 horas. Já no sábado, em entrevista à TV Pública de seu país, Cristina Kirchner fora enfática quanto a posição de seu governo --'Argentina no va a convalidar el golpe de Estado en Paraguay'(veja aqui:http://www.telam.com.ar/nota/29325/ ). N
o mesmo dia, a Casa Rosada retirou seu embaixador em Assunção, assumindo a liderança do rechaço regional à derrubada de Lugo. Horas depois, o Brasil adotaria atitude parecida, seguido pelo Uruguai. Neste domingo Chávez fez o mesmo e cortou o envio de petróleo ao Paraguai. O comunicado do Mercosul adianta que novas represálias poderão ser adotadas em Mendoza. (LEIA O COMUNICADO AQUI)


O que difere este golpe de um histórico golpista na região? O uso das armas? O que mudou?
A lição tem que ser assimilda.Primeiro Honduras, nada fora feito de mais firme. Agora O vizinho do sul, mostrando que é preciso que haja o aprimoramento das instituições que, democraticamente eleitas, se sobrepomham as forças de interesse minoritária que detenham o capital e um grande  poder de interesses dessas classes de minorias abastadas. Não podemos deixar que fique barato sem uma dura resposta dos que fazem adjacência com nossas fronteiras. É profético o último artigo do Sr Mauro Santayanna, sobre tentativa de desmantelamento do Mercosul, com a criação da aliança do Pacífico, em conjunção com USA, Espanha,México. Soa conhecido? a recarga da ALCA? O momento é grave, creio. Caso haja uma resistência maior dos golpistas, o que será feito. Come se posicionaram os países do norte, com notório interesses na região.
Interesses que vão desde a criação de uma base militar, mais uma, no Paraguai, até à agua. ( opedeuta)

Saiba por que países do Sul e do Norte divergem sobre Paraguai


Nesse imbróglio da deposição-relâmpago do bispo Fernando Armindo Lugo de Méndez da presidência do Paraguai, o que importa menos, agora, é o desempenho que vinha tendo.  Acusado por todos os partidos com representação congressual, estava isolado e faria um governo anódino até o fim, mas foi alvo de uma farsa que se tornou o cerne da questão.
As queixas sobre seu desempenho eram muitas e de variadas origens e a debilidade política de seu governo revelou sua inabilidade. Há, ainda, informações de que não vinha sendo tão progressista quanto se esperava, ainda que sejam opiniões de grupos políticos paraguaios mais à esquerda.
Sendo verdadeiros os relatos sobre a incompetência política e administrativa de Lugo, não se entende por que foi desfechado um processo como o que se viu, no qual lhe foram negadas as mínimas condições de defesa. Surgem várias questões:
1)      Por que o processo precisou ser tão rápido?
2)      Por que a Justiça não pôde se pronunciar?
3)      Por que tudo foi feito em surdina até o último momento, surpreendendo até o povo e a comunidade internacional?
4)      Por que causou tanta comoção um processo que a classe política paraguaia esperava que fosse muito mais facilmente aceito?
5)      Países como Estados Unidos, Alemanha, Espanha e Canadá estão reconhecendo o processo político. Por que os países latino-americanos não?
As respostas a tais perguntas são facilmente respondíveis.
1)      O processo de cassação do mandato de Lugo foi rápido para não dar tempo a articulações e exigências de prazo condizente a um juízo de tal importância
2)      Se houvesse um grão de legalidade nesse processo, não poderia ter sido concluído sem que a Justiça recebesse e analisasse o questionamento que o presidente deposto tentou fazer, mas, quando lhe bateu à porta, não havia quem recebesse a ação.
3)      Vide resposta um.
4)      Vide resposta dois.
5)      Porque o que aconteceu no Paraguai não tem poder de se alastrar pelos países que aceitaram o processo suspeito, mas tem para se alastrar pelos países latino-americanos.
Ainda assim, talvez tudo pudesse ser visto como mais uma das excentricidades de uma nação que funciona como um entreposto de livre comércio de tudo que é legal e ilegal (armas, drogas etc.), que não tem qualquer importância econômica e onde golpes de Estado constituem quase uma tradição – o último ocorreu há míseros 13 anos.
Coincidentemente, os países da Unasul, que não estão deixando o episódio paraguaio cair no esquecimento, são os mesmos em que grupos políticos e empresariais vêm tentando produzir situação semelhante.
Alguns desses países, aliás, acreditam que podem se tornar a bola da vez após a ruptura institucional paraguaia – que, repito, deu-se por a Justiça ter sido apartada e pela rapidez do processo. Bolívia, Equador e Venezuela, por exemplo, nos quais, em períodos recentes, houve tentativas de desencadear o mesmo, são os candidatos mais fortes.
Na noite de sábado, no Twitter, o senador petista Delcídio Amaral (MS), considerado um dos mais moderados e acusado por alguns de ser um dos petistas mais tucanos, tuitou propugnando retaliação dura ao novo regime paraguaio.
A própria Dilma Rousseff, que tem se pautado pela sobriedade e pelo comedimento, deu declarações fortes e chamou o embaixador brasileiro para consultas.
Como podem existir visões tão distintas como a dos países ricos e a dos países do entorno paraguaio? Foi um processo “normal”, como disse, por exemplo, o chanceler alemão, ou foi um processo golpista, como disse, em outro exemplo, a presidente argentina?
Em países parlamentaristas como os do norte, a destituição de Lugo seria normal. Um gabinete de primeiro ministro pode cair em prazos tão curtos e sob acusação de mau desempenho, mas, no presidencialismo – em que o presidente é não só chefe de Estado, mas também de governo -, não.
Nos EUA, nação presidencialista que nos inspira, o apoio ao golpe tem outra razão que não a confusão entre parlamentarismo e presidencialismo. É má fé mesmo.
O que está levando países como Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Equador ou Venezuela, entre outros países latino-americanos, a repudiar a destituição de um presidente tão polêmico quanto era Lugo e a propugnarem retaliação ao novo regime paraguaio, portanto, são as reações políticas em cada um deles.
Seja nos periódicos argentinos Clarín ou La Nacion, seja nos bolivianos El Deber ou El Mundo, seja nos chilenos El Mercúrio ou La Tercera, seja nos brasileiros Folha de São Paulo ou Globo, seja nos equatorianos Últimas Notícias ou El Comercio, seja nos venezuelanos El Universal ou El Nacional, sem falar das televisões, o tom é de comemoração e apoio ao golpe.
Em todos esses países, acusações de “corrupção” e de “incompetência” do governo central – acusações usadas contra Lugo – são a tônica do discurso da mídia e da oposição. Em quase todos eles, à exceção de Argentina, Brasil e Chile, de uma forma ou de outra já houve tentativas recentes de golpe – no Brasil, porém, houve tentativa de tentativa de golpe com o mensalão.
As reações da comunidade internacional, porém, estão assustando os golpistas paraguaios. O novo presidente, percebendo o estado de espírito dos governos vizinhos, trata de fazer gestos conciliadores como oferecer a Lugo que permaneça na residência oficial do governo até quando queira e lhe pede, até, para que ajude a explicar ao mundo o golpe que sofreu…
A televisão pública paraguaia, que estava censurando manifestações e que destituiu seu diretor porque mandava cobri-las, retrocedeu, a mando do presidente, e, no último sábado, transmitiu manifestação de milhares de pessoas contra o golpe que a mídia brasileira escondeu e que, nas poucas informações que divulgou, reduziu a duzentas pessoas.
O isolamento do Paraguai decorre da velha máxima de que “Gato escaldado tem medo de água fria”. O processo paraguaio é altamente suspeito. O conflito no campo usado como desculpa não será mais investigado por comissão do governo formada por Lugo antes de sair, o que sugere que o novo presidente, que tomou tal decisão, teme o resultado da investigação.