Em entrevista a Marcelo Godoy, do programa do Diário do Centro
do Mundo na TVT, o jornalista e escritor Fernando Morais diz que o
ciclo do golpe se completa não com a queda de Dilma, mas com a
inviabilização da candidatura do ex-presidente; "Só um idiota completo
pode imaginar que Globo, FIESP, extrema direita, Folha, Estado, Editora
Abril, Ministério Publico, Polícia Federal vão fazer o que fizeram para
entregar a presidência da República de bandeja pro Lula de novo",
afirma; "Não faz sentido".
247 - O jornalista e escritor Fernando Morais
acredita que o ciclo do golpe se completa não com a queda de Dilma, mas
com a inviabilização da candidatura do ex-presidente Lula.
"Só um idiota completo pode imaginar que Globo, FIESP, extrema
direita, Folha, Estado, Editora Abril, Ministério Publico, Polícia
Federal vão fazer o que fizeram para entregar a presidência da República
de bandeja pro Lula de novo", afirma, em entrevista a Marcelo Godoy, do
programa do Diário do Centro do Mundo (DCM) na TVT. "Não faz sentido",
completa.
"Eu já disse: vou dedicar o que resta de energia na minha vida a
denunciar esse golpe e carimbar e estigmatizar todo mundo que foi sócio,
parceiro, cúmplice. Eles vão ter que carregar essa tatuagem pro resto
da existência. Os bisnetos vão dizer que o bisavô deu um golpe de estado
no Brasil", acrescenta.
Assista abaixo o trecho em que ele fala de Lula e aqui outras partes da entrevista.
Em vez de apresentar o nome de Michel Temer, a lista elencou
"líder brasileiro", mesmo três dias após o evento; na foto oficial dos
líderes, Temer, ao contrário de Lula e Dilma, foi escanteado e colocado
na ponta, entre os presentes.
DoBrasil de Fato– O
presidente não-eleito Michel Temer foi o único líder que não teve o
nome citado na lista de presença do encontro do G20, que reúne as 20
maiores economias do mundo todos os anos. Em vez de apresentar o nome de
Michel Temer, a lista elencou "líder brasileiro", mesmo três dias após o
impeachment de Dilma Rousseff.
Neste ano, o evento aconteceu em Hangzhou, capital da província de
Zhejiang, na China. Iniciada neste domingo (4), a reunião terminou nesta
segunda-feira (5).
O Brasil de Fato entrou em contato com bloco por email à procura de
explicações sobre a omissão do nome de Temer, mas não obteve retorno até
o fechamento desta matéria.
O 11º Encontro do G20 será sediado em Hangzhou, Zhejiang, em 4 e 5 de
setembro. Os seguintes líderes dos países-membros do G20 irão
comparecer ao encontro a convite do presidente Xi Jinping:
- Presidente Mauricio Macri, da Argentina; líder brazileiro;
presidente François Hollande, da França; presidente Joko Widodo, da
Indonésia; presidente Park Geun-hye, da ROK; presidente Enrique Pena
Nieto, do México; presidente Vladimir Putin, da Rússia; presidente Jacob
Zuma, da África do Sul; presidente Recep Tayyip Erdogan, da Turquia;
presidente Barack Obama, dos EUA; primeiro-ministro Malcolm Turnbull, da
Austrália; primeiro-ministro Justin Trudeau, do Canadá; chanceler
Angela Merkel, da Alemanha; primeiro-ministro Narendra Modi, da Índia;
primeiro-ministro Matteo Renzi, da Itália; primeiro-ministro Shinzo Abe,
do Japão; primeira-ministra Theresa May, do Reino Unido; presidente
Donald Tusk, do Conselho Europeu; presidente Jean-Claud Juncker, da
Comissão Europeia; vice-primeiro-ministro da Arábia Saudita,
príncipe Muhammad bin Salman Al Saud da Arábia Saudita;
presidente Idriss Deby, de Chade; presidente Abdel Fatah al-Sesi, do
Egito; presidente Nursultan Nazarbayev, do Casaquistão; presidente
Bounnhang Vorachith, de Laos; presidente Macky Sall, de Senegal;
primeiro-ministro Lee Hsien Loong, de Cingapura;
primeiro-ministro Mariano Rajoy, da Espanha; primeiro-ministro Prayut
Chan-ocha, da Tailândia; secretário-geral da ONU Ban Ki-moon; presidente
do Banco Mundial, Jim Yong Kim; diretora do FMI, Christine Lagarde;
diretor-geral do WTO, Roberto Azevedo; diretor-geral Guy Ryder, da
Organização Internacional do Trabalho; presidente Mark Carney, do
Financial Stability Board; a secretária-geral Angel Gurria, da OECD,
etc..
"Nenhum reconhecimento ao governo Temer e oposição sistemática
devem ser orientadores da conduta política da oposição. As elites
econômicas e políticas devem aprender que os golpes e a ilegitimidade
custam caro. Devem aprender que a democracia deve ser respeitada. O jogo
da conciliação acabou", diz Aldo Fornazieri, professor de sociologia da
USP.
Com a consumação do impeachment de Dilma sem crime de
responsabilidade e com a violação da Constituição, o que caracteriza o
golpe, o país se encaminha para uma perigosa e irresponsável aventura
política cuja desfecho é imprevisível. Mesmo que a democracia brasileira
seja jovem, padecendo de enfermidades de nascença e muito imperfeita,
não se pode brincar de democracia violentando a soberania popular e
caçando 54 milhões de votos.
Nos Estados Unidos da América, país onde o instrumento do impeachment
foi criado no sistema presidencialista, após de 230 anos, nenhum
presidente foi afastado em definitivo por esse mecanismo, pois, para
levar a democracia a sério é preciso um ato muito grave do mandatário
supremo da nação para que se justifique tão drástica medida. A exigência
da gravidade do ato de afastamento de um presidente está diretamente
ligada ao fato de que seu mandato é expressão da vontade soberana do
povo. Não é por acaso que, em editorial, o New York Times, a exemplo de
outros jornais da grande imprensa dos EUA e da Europa, afirmou que os
deputados e senadores não têm moral para afastar Dilma.
Nos Estados Unidos existiram presidentes com baixa popularidade, como
aqui no Brasil e em outros países presidencialistas também. No seu
segundo mandato, o presidente Fernando Henrique Cardoso, tinha uma
popularidade semelhante à de Dilma e as condições econômicas e sociais
eram piores do que as de 2015 e 2016. Nem por isso se abriu o processo
de impeachment. O próprio PT, em decisão de Congresso Nacional, barrou o
“Fora FHC”, desobstruindo um estorvo político que poderia inviabilizar
aquele governo.
Fernando Henrique afirmou, em artigo publicano no domingo, que o
melhor seria que Dilma tivesse chegado ao fim do seu mandato em 2018.
Mas o que o ex-presidente tem a dizer acerca do fato de que, desde o
término das eleições em 2014, o PSDB desestabilizou o governo Dilma e se
aliou a toda sorte de conspiradores, incluindo Cunha e a extrema
direita de Bolsonaro? A crise política foi fator fundamental de
agravamento da crise econômica e de criação das condições de
ingovernabilidade. Evidentemente, Dilma e o PT contribuíram para que
esse curso dos acontecimentos se agravasse. Mas jogar a responsabilidade
apenas sobre Dilma, escamoteando a conspiração do PSDB e de Cunha e as
traições de Temer e de outros partidos que faziam parte do governo, é
incorrer naquele crime político assinalado por Max Weber, que consiste
em colocar sempre a culpa nos outros.
O golpe é inaceitável pela consciência democrática e progressista
porque é uma violência contra a democracia e contra a soberania popular.
Acresce-se a isso que o golpe é inaceitável pelos trabalhadores e pelos
movimentos sociais porque o programa do governo ilegítimo consiste em
jogar todo o peso da crise nos ombros dos assalariados, dos mais pobres e
das políticas sociais. Olhando mesmo do ponto de vista dos interesses das elites, o golpe
foi uma aventura. Aventura que se explica pela endógena vocação golpista
dassas elites, que nunca se preocuparam em construir um projeto de
país, tomando dos outros o que está ao alcance de suas mãos e se
servindo do Estado para subtrair riqueza. É aventura porque o
capitalismo precisa de segurança jurídica e de ambiente de regulação do
conflito social para prosperar. Mas como as elites estão menos
preocupadas com um capitalismo competitivo e mais em subtrair sem
esforço, o que elas querem é viabilizar um capitalismo aventureiro e
predador.
A aventura consiste em que, se Dilma era impopular, Temer é tão ou
mais impopular do que Dilma. Dilma, reconhecidamente honesta, foi
derrubada com o pretexto de combater a corrupção. Temer, que tem várias
citações na Lava Jato, integra um partido cujo comando central é um
comitê de corruptos. Aqui há um curto circuito com a opinião pública:
não se convocam milhões de pessoas às ruas para combater a corrupção
entregando-lhes como recompensa um governo constituído por corruptos. É
por isso que o governo Temer não terá o beneplácito da sociedade. Afinal
de contas, a própria manipulação da opinião pública tem seus limites.
Os analistas mais sensatos já sabem que Temer não conseguirá fazer as
reformas e que a presença do PSDB e do DEM no governo tem prazo de
validade. Sabem também que o próprio PMDB está trincado e que o centrão
se guia por interesses próprios. Assim, Temer não conseguirá governar no
sentido dos compromissos que ele mesmo se propôs. E na medida em que as
propostas de arrocho dos trabalhadores e das políticas sociais se
explicitarem, crescerão as mobilizações e as manifestações contra o
governo usurpador.
Um governo ilegítimo, fraco, impopular tenderá a perder base de apoio
no próprio conglomerado golpista da Câmara e do Senado. Esse governo,
para se manter, buscará implementar a repressão política e policial,
como ficou evidente nos primeiros dias do pós impeachment. A
radicalização política, de desfecho imprevisível, é o cenário da
aventura em que os golpistas e as elites encaminharam o país. Trata-se
de um governo sem futuro: ou se arrastará penosamente até 2018 ou será
derrubado pela força da democracia.
Mas os movimentos democráticos e progressistas e as esquerdas também
têm seus dilemas. Um dos principais consiste em conter os provocadores e
controlar as próprias manifestações, impedido os quebra-quebras que
favorecem a repressão. Convocar manifestações aos domingos, à luz do
dia, sob o sol do final das manhãs, parece ser uma condição preliminar
para impedir que as mesmas descambem para a violência e para o
esvaziamento. Mas é preciso também se opor à violência desmedida das
polícias politicamente orientada pelo ministro da Justiça. A grande
imprensa está assumindo a lógica da radicalização do golpe estimulando a
repressão fascista.
A intervenção das Forçar Armadas nas ruas e para
arbitram o conflito político é inaceitável e caso isto ocorra será
preciso promover uma campanha internacional de denúncias.
Se “Fora Temer” e “Diretas Já” é o mote mobilizador, será preciso
politizar este embate com uma plataforma que se oponha ao programa
conservador e antipopular do governo. As duas frentes – Povo Sem Medo e
Brasil Popular – devem comandar esse movimento. O PT não deve ser
excluído, mas ao mesmo tempo não se deve aceitar que ele pretenda
assumir uma condição de hegemonia desse novo processo que se abre. Uma
plataforma de construção democrática do país também deve ser debatida ao
mesmo tempo em que os movimentos sociais e populares se reorganizam com
novos paradigmas e novos princípios. O ideal seria que se buscasse uma
unidade com pluralidade, sob os auspícios de uma frente política nos
moldes da Frente Ampla do Uruguai.
Nenhum reconhecimento ao governo Temer e oposição sistemática devem
ser orientadores da conduta política da oposição. As elites econômicas e
políticas devem aprender que os golpes e a ilegitimidade custam caro.
Devem aprender que a democracia deve ser respeitada. O jogo da
conciliação acabou. A natureza própria da democracia, desde os antigos, é
o dissenso. É o dissenso dentro das regras do jogo. Mas, desta vez,
como em outras, as regras do jogo foram violadas. A violação da
soberania popular e da democracia não pode ser recompensada pela
mansuetude da cidadania, pela paz dos cemitérios, pela desigualdade
ignominiosa e pela injustiça que se pretende perpetuar.
Aldo Fornazieri – Professor da Escola de Sociologia e Política de São Paulo.