FHC
volta a flertar com o golpismo e sugere a 'judicialização das decisões'
diante do que chama de 'quase ilegitimidade' de Dilma; tucano que
comprou a emenda da reeleição divide o país entre 'o Brasil dinâmico'
que votou em Aécio' e o 'dependente', que apoiou Dilma.
Dilma define Joaquim Levy no comando na economia e promete maior diálogo com movimentos sociais.
A teimosia do Brasil aos cacos: vendas dos supermercados sobem 2% até outubro
Recuperação
sem poder aquisitivo: consumidor dos EUA aumenta em apenas 0,2% seu
gasto em outubro; demanda fraca espalha anemia nas encomendas de
máquinas industriais; setor rasteja em outubro pelo 2º mês seguido.
Alemanha
estabelece déficit fiscal zero e lava as mãos para o futuro de uma
Europa assombrada pelo espectro da deflação recessiva.
Site Carta Maior
Blog Cidadania.
A escolha da presidente Dilma Rousseff para o principal cargo da
equipe econômica, o de ministro da Fazenda, gerou aflição em muita
gente. O Blog tem recebido mensagens via e-mail e comentários privados
nesta página e nas redes sociais. Leitores perguntam se devem temer por
seus empregos diante do que vem sendo pintado como a adoção pela
presidente do programa econômico que ela dizia, durante a campanha
eleitoral, que provocaria desemprego no país: o programa econômico de
Aécio Neves.
Para começar a explicar, vale propor uma reflexão: por que a
presidente faria tal maldade com o povo brasileiro? Estaria finalmente
revelando uma perversidade latente que ocultou ao longo dos quase quatro
anos de seu primeiro mandato ou é apenas covardia imotivada?
A revolta com a escolha do engenheiro naval Joaquim Levy para
comandar a principal pasta econômica do governo federal levou muitos dos
que votaram em Dilma há um mês a, agora, dizerem-se arrependidos da
escolha. Um dos mais decepcionados chegou a sugerir que, diante da
escolha deste ou daquele nome para o novo ministério da presidente, nada
haveria a estranhar se ela colocasse o assustador deputado fluminense
Jair Bolsonaro na Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da
República, o que dá uma ideia do climão que se instalou entre os setores
progressistas da opinião pública ante a escolha de Levy.
A materialização da escolha maldita no penúltimo dia útil da semana
torna inoportunas maiores considerações sobre o que esta página vem
julgando um exagero e um equívoco. Passemos, assim, às questões
práticas.
A nova equipe econômica não fará algo que a anterior não faria,
apesar de o agora ex-ministro da Fazenda Guido Mantega dificilmente
poder ser considerado um bicho-papão como Levy. Diante disso, este Blog
dará sua opinião sobre o que aconteceu na economia brasileira durante o
primeiro mandato de Dilma e o que acha que deverá acontecer daqui para
frente. E, ainda, irá explicar a razão da escolha de Levy e de outros
ministros polêmicos do segundo mandato.
Entre 2008 e 2013, o mundo passou pela maior crise econômica da
história recente da humanidade. Foi considerada mais grave do que a que
quebrou a bolsa de valores americana em 1929. Sessenta milhões de
empregos foram extintos em todo o planeta. Países como os Estados
Unidos, o mais rico do mundo e o terceiro em qualidade de vida (segundo o
IDH 2013), viram surgir favelas em seus territórios.
No Brasil, poderia ter sido feita uma política econômica que
contivesse a inflação no centro da meta de 2014 (4,5%). Essa política,
apesar de recessiva, segundo os economistas de linha liberal teria
resultado em maior crescimento. Os investimentos do Estado em programas
gigantescos de obras, a renúncia fiscal para incontáveis setores da
economia, os aportes em bancos públicos para conter os juros ao
consumidor e propiciar financiamento farto e crescente a esse
consumidor, porém, geraram inflação mais alta.
As políticas anticíclicas (ou antirrecessivas) do governo Dilma
fizeram a inflação bater no teto da meta, mas, em contrapartida,
impediram o desemprego e o arrocho salarial. Com isso, o brasileiro,
apesar de pagar mais caro a compra do mês no supermercado, teve dinheiro
para fazê-la – e quanto mais baixa a classe social, menos os hábitos de
consumo ora gastadores foram afetados pela crise devido aos salários
virem subindo acima da inflação.
Houve, porém, um preço a pagar por essa proteção que Dilma deu ao
emprego e ao salário: além da inflação um pouco mais alta (2 pontos
percentuais a mais do que o centro da meta), houve certo desarranjo nas
contas públicas. Por exemplo, o país reduziu drasticamente o superávit
primário, economia que o governo faz para pagar suas dívidas.
O superávit primário, porém, é uma tara neoliberal. Sobretudo em um
país que tem quase 400 bilhões de dólares de reservas cambiais e,
portanto, mesmo sem economizar um centavo via superávit primário por
certo tem como pagar suas dívidas. Porém, esse superávit demonstra a
disposição do governo de não confrontar o investidor.
Por isso, apesar de tudo o que se falou de Levy ele deu uma
declaração na edição do Jornal Nacional da data em que foi anunciado
como novo ministro da Fazenda que contraria tudo o que disse a oposição
durante a recente campanha eleitoral e que indica que o bicho-papão
neoliberal, visto como uma espécie de genérico de Armínio Fraga, talvez
venha a se mostrar muito menos malvado do que parece – ao menos por ter
que se reportar a uma Dilma Rousseff.
Para ver um Levy menos carrasco do que o previsto, leia, abaixo, trecho de
matéria do JN de quinta-feira 27 sobre a nova equipe econômica.
“(…)Os ministros indicados para a
Fazenda e para o Planejamento anunciaram o compromisso de fazer um
ajuste nas contas do governo nos próximos três anos. Descartaram a
adoção de um pacote econômico e medidas drásticas para acertar as contas
do país. Segundo Joaquim Levy, os ajustes serão graduais, porque o
Brasil não vive uma crise (…)”
Epa! Como assim? Se Levy implementará o modelo de gestão que o
ministro da Fazenda que Aécio Neves disse que nomearia, caso fosse
eleito, prometeu adotar, então deveria ter, como Armínio Fraga, dito que
o Brasil vive uma grave crise que requer justamente ao contrário, ou
seja, “medidas drásticas para acertar as contas do país”.
Não foi o que ele disse. Ele e os outros membros da equipe econômica.
Ah, ele está fazendo média com Dilma? Bem, se está fazendo média ou
não, tanto faz. Sua declaração não é a que daria Fraga ou o possível
ministro da Fazenda de Marina Silva, Eduardo Gianetti. Sem uma
declaração catastrofista não se pode dizer que a nova política econômica
será draconiana como a que prometiam o PSDB e o PSB durante a última
campanha eleitoral.
Além disso – agora no campo dos fatos efetivos e não do que eles
parecem ser –, a proposta da nova equipe econômica para o maldito
superávit primário está longe de ser “draconiana”. Outro trecho do
Jornal Nacional revela que o ajuste será mesmo gradual, de forma a não
gerar desemprego e arrocho salarial.
“Ele [Levy] anunciou que o
governo pretende fazer, em 2015, um superávit primário (economia para
pagar os juros da dívida pública) de 1,2% do PIB – que é a soma de
todos os bens e serviços produzidos no país num determinado período.
Esse número é menor do que a previsão feita pelo governo em agosto, de
2%, mas é maior que a economia esperada para 2014. Para 2016 e 2017, a
meta é de um superávit primário 2% do PIB”
Para quem não sabe, no tempo de FHC/Armínio Fraga (
2002) o Brasil chegou a fazer superávit primário de 4,06% do PIB, o que fez o desemprego explodir para cerca de 12% no país. E, em
2003, primeiro ano do primeiro governo Lula, o superávit primário teve a maior meta da história, de 4,25%.
Detalhe: quem fez aquele superávit primário do primeiro ano de Lula foi Antonio Palocci, do PT.
Porém, como o mundo vai saindo da crise – sobretudo porque os EUA
estão saindo, após mais de 5 anos de uma quase depressão econômica –,
agora é hora de se preocupar com a higidez das contas públicas.
Tivemos recursos para bancar a preservação do povo brasileiro dos
horrores da crise internacional. Foi como se tivéssemos uma gorda
poupança da qual retiramos uma pequena parcela para atravessar um
período difícil e, agora que a situação começa a melhorar, trataremos de
repor o que usamos daquela reserva.
Por conta da boa situação de caixa do país, pode-se adotar,
paulatinamente, uma fórmula que, mais do que as contas públicas, terá o
condão de melhorar um componente da economia que, devido à política,
contribuiu para manter o país estagnado durante o período em que o
governo Dilma foi mais “heterodoxo”, por assim dizer: a taxa de
investimento privado, que foi brecada por aquelas injunções políticas e
pelo temor dos investidores que se estabeleceu.
Aliás, convenhamos, muito empresário segurou investimentos visando
criar uma situação-limite para a política econômica, em uma espécie de
chantagem política do capital contra o Estado.
Não adiantaria Mantega tocar a mesma política econômica dura que
tocou Palocci durante o primeiro governo Lula porque antecessor de Levy
perdeu a confiança do mercado ao cumprir a determinação de Dilma
Rousseff de afrouxar o garrote das finanças públicas de modo a que o
país não mergulhasse no desemprego e no arrocho salarial. Assim, Levy e
outros ministros conservadores pretendem, agora que a direita midiática
perdeu a eleição, fazer com que os empresários parem de pirraça e voltem
a investir, o que é vital para o país.
É simples assim, leitor. Por conta disso, a opinião deste Blog é a de
que você não precisa se preocupar com seu emprego. Mas é claro que aqui
tampouco se recomenda que continue comprando o último modelo de carro
ou de celular, viajando toda hora de férias com a família etc. É hora de
poupar para ajudar o país a atravessar um par de anos menos duros do
que foram os primeiros anos do primeiro governo Lula, mas, ainda assim,
mais duros, do ponto de vista fiscal e monetário, do que entre 2006 e
2014.
PS: a nova equipe econômica também irá produzir um outro efeito
benfazejo. Qual seja, o de reduzir o custo-benefício do golpe
“paraguaio” que vem sendo articulado pela direita midiática praticamente
à luz do dia.