Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

O canto de sereia da direita é em vão

Esta é a boa foto: Dilma com a familia do Uanderson, que agora tem casa. Melhor que a de ontem, com quem não dava futuro aos Uandersons
Hoje, nos jornais, a direita se lambuza em festa.

“Em crise com base aliada, Dilma flerta com oposição”, diz a Folha.PT não gosta da faxina de Dilma…”, afirma O Globo, enquanto o Estadão diz que “Petistas temem que “faxina” de Dilma carimbe gestão de Lula como “corrupta”.
Esse é o assunto dominante na mídia, não a crise, as ameaças e os desafios que ela nos traz.
A gente vem dizendo aqui que o Governo Dilma está sendo puxado para uma pauta que só o desgasta, porque o imobiliza.
Acho que vale a pena controlar o estômago e ler o que escreve hoje Merval Pereira.
“Não é nem preciso ser bom entendedor para compreender a razão da presença do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso na solenidade de lançamento da campanha Brasil Sem Miséria ontem, no Palácio Bandeirantes, em reunião da presidente Dilma com os governadores do Sudeste.E também basta não ser ingênuo para entender o sentido do apoio que senadores independentes de diversos partidos deram à sua ação saneadora na semana passada.
“A “faxina ética” tomou uma dinâmica própria que não é possível controlar, e ficou maior do que sua própria impulsionadora. (…)
“Quanto à imprensa, aí nem se discute. O Palácio do Planalto não tem condições de interferir, e nem quer fazê-lo, e já deixou de lado a tentativa anterior de controle dos órgãos de comunicação.”
Não se pode, infelizmente, deixar de reconhecer que, de fato, é esta a mecânica que está por trás das ações da mídia e do comportamento da comunicação do governo em relação à mídia. Ficamos dóceis.
Estamos permitindo que pareça ao povo brasileiro que o problema do país é o da corrupção no Governo. Corrupção é um problema, e sério, para qualquer governo e tem que ser enfrentado como uma questão permanente.
As “ondas” moralistas nada tem a ver com combate à corrupção, mas tem tudo a ver com uma tentativa de paralisar e desviar o governo Dilma daquilo que é seu rumo legítimo, em nome do qual recebeu a maioria dos votos do povo brasileiro: fazer o país continuar se desenvolvendo, tornando-se independente, elevando o emprego e a renda dos brasileiros, nos livrando da miséria e do atraso.
A legitimidade e o apoio do Governo Dilma vem daí, do Governo Lula, do papel que ela teve nele e de seu compromisso, garantido por uma história de vida combativa, de que o Brasil vai seguir mudando.
Dilma sabe disso, tanto que disse hoje queonde houver problema de corrupção, somos obrigados a tomar posição. Não faço disso o objetivo central do meu governo, o objetivo central é buscar a inclusão social.”
Mas isso fica de lado na percepção construída pela mídia. Nessa, valem mais a as imagens com a “turma da roda- presa”, que praticou a maior lesão já sofrida pelo patrimônio público brasileiro: a privatização.
Gente, portanto, que não tem estatura moral para falar em combate à corrupção, e que só o fazem para fazer cantos de sereia que à longa experiência da presidenta não vão encantar. Embora seduzam alguns aprendizes de feiticeiro.

Golpe de Estado nos Estados Unidos



“O que às vezes se passa por alto em nossa situação é o fator propósito: a democracia norte-americana sofreu um golpe de Estado encoberto. Seus autores ocupam os postos mais altos dos negócios e das finanças, seus leais servidores dirigem as universidades, os meios de comunicação e grande parte da cultura, e igualmente monopolizam o conhecimento profissional científico e técnico”, escreve Norman Birnbaum em artigo publicado no jornal espanhol El País.

Publicado em português na página do IHU Online/Unisinos. A tradução é do Cepat.

Já se escreveu muito sobre a crise dos Estados Unidos. Aludiu-se à complacência e ao fracasso de nossas elites, à ignorante fúria de um segmento de cidadãos espiritualmente plebeus, à importância intelectual e política de boa parte do resto, à ausência de uma conexão entre uma intelligentsia crítica e os movimentos sociais que no passado deram suas ideias à esfera pública, à fragilização da própria esfera pública e à consequente atomização do país. Esses diagnósticos são corretos. O que às vezes se passa por alto em nossa situação é o fator propósito: a democracia norte-americana sofreu um golpe de Estado encoberto. Seus autores ocupam os postos mais altos dos negócios e das finanças, seus leais servidores dirigem as universidades, os meios de comunicação e grande parte da cultura, e igualmente monopolizam o conhecimento profissional científico e técnico.

Seus dispostos seguidores se encontram em toda parte, especialmente entre aqueles que sentem que são ignorados, inclusive desprezados, e experimentam uma desesperada necessidade de compensação íntima. Incapazes de atuar de forma autônoma, negam em voz alta que sejam dominados e explorados. Identificam como inimigos os grupos sociais a serviço do bem público, cuja existência rechaçam como princípio. Sua hostilidade ao Governo é tão grande quanto sua falta de conhecimento de como este realmente funciona, ou a história de seu próprio país.

Evidentemente, há uma substancial coincidência entre aqueles que deram sua aquiescência ao golpe de Estado e os muitos que pretendem a recristianização do país, que acreditam que o aborto e a homossexualidade são ao mesmo tempo crimes civis e pecados religiosos, que respondem à imigração com xenofobia. Esses são os brancos, principalmente no sul e no oeste, e nas cidades menores, que ficaram escandalizados pela eleição de um presidente afro-americano e que se criaram (e ainda se criam) muitas das falsidades sobre sua pessoa, desde o seu nascimento no Quênia até sua adesão ao islamismo.

Os iniciadores do golpe de Estado são, geralmente, muito sofisticados para essas vulgaridades, embora indubitavelmente não sejam muito escrupulosos na hora de utilizá-las para conseguir o apoio para os seus objetivos primários. Que não são outros senão reduzir as funções e poderes redistributivos e reguladores do Estado norte-americano, revogando, privatizando ou, ao menos, limitando importantes componentes do nosso Estado de bem-estar: Seguridade Social (pensões universais), Medicare (seguro público de saúde para os maiores de 65) e todo um espectro de benefícios e serviços nos campos da educação, emprego, saúde e na manutenção de ingressos. A possibilidade de uma regulação ambiental em grande escala, ou de um projeto para reconstruir toda a infra-estrutura de modo que seja mais compatível com um futuro benévolo com o meio ambiente, provoca igualmente sua sistemática oposição. Os obstáculos administrativos e legais à atividade sindical são outra parte do programa.

Os esforços do capital politicamente organizado para manter o controle do sistema político são tão velhos quanto a república norte-americana. De modo algum excluíram a utilização do Governo em muitas ocasiões em todas as épocas da nossa história. O que distingue a recente situação é a propagação explícita e resoluta de uma ideologia que declara o mercado como superior ao Estado, que busca transferir para o setor privado funções governamentais até agora reservadas ao Estado, e que não permite que a consideração de um maior interesse nacional (como no comércio com outros países) interfira nos interesses imediatos do capital.

A obra de inumeráveis economistas, as simplificações de um grande número de comentaristas e jornalistas, a intromissão nos sistemas escolares e sua manipulação, e, sobretudo, o fato de que os meios de comunicação e o que temos de discurso público fiquem excluídos da discussão séria de alternativas, culminaram na fervorosa obsessão com que os congressistas republicanos fizeram sua a crença de que os déficits orçamentários são uma ameaça para o país.

Em 1952, John Kenneth Galbraith publicou sua primeira obra-prima Capitalismo americano: o conceito do poder compensatório (Novo Século Editora). Nela sustentava que a busca do benefício sem limite, a cegueira de curto prazo do capitalismo, havia sido corrigida pelo Governo, apoiado por uma cidadania consciente de seus diferentes interesses, por grupos de interesse público, por sindicatos e por um Congresso (e Governos estatais) com um grau notável de independência política.

Em 1961, Galbraith pediu ao presidente Kennedy que não o nomeasse chefe do Conselho de Assessores Econômicos: era um alvo muito visível. Durante alguns anos o ponto de vista de Galbraith seguiu sendo convincente. No entanto, também foi se produzindo um gradual enfraquecimento das forças compensatórias com as quais Galbraith contava para tornar permanente o new deal; e um enfraquecimento, assim mesmo, das elites capitalistas com maior formação e visão de longo prazo, dispostas a aceitar um contrato social.

As razões deste duplo declive seguem sendo objeto de discussão para os historiadores. A absorção dos recursos materiais e morais do país pela guerra fria, que se converteu em um fim em si mesma, desempenhou certamente um papel. Tornou-se muito mais difícil desenvolver programas de reconstrução social em grande escala pela composição racial dos pobres nos Estados Unidos, embora os brancos – de modo geral, brancos do sul – fossem uma maioria entre eles. A própria prosperidade proporcionada pelo contrato social do pós-guerra socavou a combatividade e a militância da força de trabalho sindicalizada, que ficou relativamente indefesa diante da competição da indústria estrangeira e da fuga do capital norte-americano para outros países.

Os efeitos que essas mudanças estruturais tiveram foram magnificados à medida que o capital financeiro (o reino da pilhagem e a liquidação de empresas produtivas, dos derivados, dos hedge funds e da especulação arcana) se fez quantitativa e qualitativamente dominante.

Este tipo de capitalismo, especialmente, requeria a abstinência política do Estado, que somente se poderia obter se pouco a pouco se comprasse o Estado. O novo capitalismo fez sérios avanços no Partido Democrata, reduzindo a uma insistente atitude defensiva os herdeiros do new deal que havia em seu interior. Quando, em 2008, o presidente Obama mobilizou milhões de afro-americanos, latinos, jovens e velhos, mulheres e os restos do movimento sindical, não foi menos solícito com o novo capitalismo, que tinha muito menos votos, mas muito mais dinheiro. A singular insignificância das iniciativas da Casa Branca em 2009, 2010 e este ano em matéria de estímulo econômico, emprego e reconstrução nacional poderiam ser explicadas como um reflexo do real equilíbrio de forças políticas do país.

Deixando de lado o furor provocado pelo Tea Party e pelo limite da dívida, a explicação também poderia estar nessa quinta coluna constituída pelos agentes ideológicos e políticos do novo capitalismo, que está ocupando a própria Casa Branca. Deste ponto de vista, a extraordinária boa disposição do presidente ao acordo mútuo não é o resultado de um novo alinhamento da política norte-americana, mas uma parte previsível do mesmo

(*) Norman Birnbaum é professor emérito na Faculdade de Direito da Universidade de Georgetown.


Fotos: The Mad Tea Party (2005) Ilustração de Mark Bryan (EUA)

A hipocrisia judicial. Pobres algemadas e identificadas

Publicado em 19/08/2011
Criminoso pobre tem nome e sobrenome

Os telejornais vespertinos desta quinta-feira levaram a todo o país as imagens de mulheres gaúchas presas em Canoas sob a suspeita de operar uma rede de tráfico de drogas em lugar de marido encarcerado.

Clique aqui para ver.

Os rostos das jovens apareciam em primeiro plano.

Todas identificadas com nome e sobrenome.

À medida em que passavam pelas câmeras, apareciam devidamente algemadas, sem que aparentassem qualquer ameaça à autoridade policial ou a si próprias.

Depois, foram levadas à parede que tinha o painel da delegacia ao fundo, submetidas à execração pública – com o testemunho Implacável das câmeras de alcance nacional.

Na véspera, os criminosos responsáveis pela maior evasão fiscal de que se tem notícia, apanhados na Operação Alquimia, eram protegidos de forma impermeável.

Não há sequer a identidade dos suspeitos.

Tudo em nome de um suposto “segredo de Justiça”.

Foi a espetacularizacao sob medida para dois ministros da Suprema Corte: um, Gilmar Dantas (*) que viu na Operação Satiagraha uma tentativa de Golpe de Estado: o “espetáculo” de brancos de olhos azuis serem encarcerados devidamente algemados; outro, o Ministro Mello, o guardião da Constituição que, na prática, aboliu as algemas em ricos.

Depois, o STJ baixou uma “súmula vinculante”: rico não pode, sequer, ser investigado.

Agora, as pobres traficantes de meia tijela de Canoas, essas, coitadas, que ofereçam o grátis espetáculo do pão e do circo.

Viva o Brasil !


Paulo Henrique Amorim


(*) Clique aqui para ver como um eminente colonista do Globo se referiu a Ele. E aqui para ver como outra eminente colonista da GloboNews e da CBN se refere a Ele.

Santayana: não subestimem a Direita.A sombra dos anos 30

    Publicado em 19/08/2011
O Conversa Afiada reproduz texto de Mauro Santayana, extraído do JB:
por Mauro Santayana

O século passado teve como eixo a década de 30. Ela se iniciou com a crise econômica mundial, que estas últimas horas de angústia nos mercados financeiros fazem lembrar, e se fechou com a conseqüência prevista pelos céticos: o início da Segunda Guerra Mundial. Foram os anos do grande confronto entre a esquerda e a direita, com contradições, idas e vindas, ilusões e tragédias, que os livros registram. Em suma, sinistras lições aos homens, que devem ser meditadas, para que o mundo não volte a ser encharcado de sangue.


Muitas são as teorias que tentam explicar aquela amostra do apocalipse. A mais conhecida é a de que, derrotada e humilhada em 1918, a Alemanha buscava a revanche com Hitler. Para isso, seu líder, encarnando o velho orgulho prussiano, obtivera o apoio da Nação a fim de vingar-se de seus inimigos e expandir o  espaço vital, que consideravam necessário à plena realização de seu destino de povo de senhores.


Naqueles anos e meses da República de Weimar, mais do que em outras épocas históricas, as distorções da linguagem serviram para confundir e desorientar os homens. A esquerda buscava construir, na antiga Rússia, uma sociedade socialista. Hitler começou filiando-se a um pequeno partido de trabalhadores, que ele dominaria e o ampliaria no Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães. Os comunistas e socialistas alemães menosprezaram aquele grupo de bêbados, que se vestiam militarmente e brandiam slogans primários. A Alemanha não é a Itália, declarou, confiante,  aos que temiam o totalitarismo no país, Ernst Thälmann, o lendário dirigente do Partido Comunista Alemão, depois de ter sido derrotado nas eleições presidenciais de 1932, por Hindemburg, e da ascensão de Hitler à chefia do governo, à frente da coligação de direita, graças ao apoio dos católicos. Em março de 33, poucas semanas depois, Thälmann seria metido no campo de concentração de Buchenwald, onde foi executado em agosto de 1944.


Os democratas e as organizações de esquerda não souberam unir-se, ali, para a resistência – o que reclamava a construção de uma idéia forte de centro político, a fim de impedir, a tempo, a ascensão dos nazistas. Não souberam unir-se ali, nem em outras nações. O caso mais dramático, fora da Alemanha, foi o da Espanha. Como anotou Salvador de Madariaga, de resto um homem rigorosamente de centro, o malogro da República Espanhola foi o malogro do centro político. Ao crescer o radicalismo tanto na direita quanto na esquerda, não houve espaço para a moderação do centro. Mais poderosa – com a ajuda dos fascistas italianos e dos nazistas, e a total adesão da hierarquia da Igreja Católica – a direita esmagou a República, depois de quase três anos de conflito. De nada valeu a pouca ajuda soviética que conseguia chegar ao país – nem a presença simbólica dos corajosos intelectuais que formaram as Brigadas Internacionais.  Madariaga tinha razão: se tivesse havido o entendimento entre os partidos de esquerda, que mal se acomodavam na Frente Popular, e, depois, com as forças de centro, não haveria clima para a insurreição dos generais Sanjurjo, Mola, Queipo de Llano e Francisco Franco. Madariaga foi rigorosamente de centro no eclodir do conflito: como embaixador da República,  não tomou partido na guerra, mas se tornou vigoroso opositor da ditadura franquista, e só voltou à Espanha em 1976, depois da morte do ditador.


Menosprezar a direita tem sido, mais do que  erro de percepção política,  ilusão criminosa. Na mesma Espanha, quando o governo dispunha de informes seguros da conspiração em marcha, o então chefe do governo, Casares Quiroga, recebeu a advertência do serviço secreto republicano com um muxoxo: se eles se levantam, eu vou me deitar. Em 1964 – recordam-se? – as esquerdas, também divididas em nosso país,  percorreram as mesmas sendas da ilusão. Não só é vezo da esquerda subestimar as forças adversárias, mas também assusta-las, com os espantalhos da insurreição. Em seu favor milita realmente a ilusão. As Ligas Camponesas, armadas de fé e de espingardas cartucheiras, cresciam seu ilusório poder, diante da classe média em pânico. O mito de Che Guevara empolgava os jovens, da mesma maneira que a invencibilidade cubana, na Bahia dos Porcos, atiçava os ânimos bélicos de muitos de nós, os que vivemos aquele tempo.


Esse excurso ao passado não é por acaso. Estamos em tempo muito parecido aos anos 30. Nos Estados Unidos, um governo que tenta chegar ao centro, o de Obama, é acossado pelo Tea Party e pelos velhos texanos, que sempre estiveram na linha de frente do obscurantismo. Basta recordar que foi em Dallas que a direita eliminou Kennedy, ainda que o jovem presidente, como a história nos mostra, não fosse exatamente um liberal de esquerda. Do Texas vieram Bush pai e Bush filho, e os republicanos agora ameaçam buscar em Rick Perry, seu atual governador, e raivoso direitista,  o oponente a Obama nas eleições vindouras.


A Europa caminha rapidamente para a direita, e os governantes buscam justificar a repressão policial como necessária, diante das crescentes manifestações populares contra  o desemprego, a redução das pensões, a falta de moradias e de perspectivas para o povo -  também comuns nos anos 30. A Espanha recebeu ontem a visita do papa Bento 16, cuja simpatia pela direita é notória. Os espanhóis foram às ruas, protestar contra os gastos governamentais com a recepção ao pontífice, em momento de gravíssima crise econômica interna. Ainda que o papa se tenha declarado contra a lógica do “lucro acima do direito das pessoas”, seus atos não confirmam a retórica.  A posição do papa, diante das dificuldades da Península, foi bem exposta em visita anterior a Santiago de Compostela, quando Ratzinger expressou  preocupação contra a crescente laicidade dos espanhóis e o seu anticlericalismo, “que lembra os anos 30”, e pediu “nova evangelização” na península. A “evangelização” franquista dos anos 30, apoiada na Opus Dei e no garrote vil, nós já conhecemos. Que outra “evangelização” pretende agora o papa, quando se queixa da liberdade de pensamento na Espanha atual?


A presidente Dilma Roussef atribuiu-se duas missões em seu governo: a de combater a corrupção e a de eliminar a miséria que ainda assola grande parte de nosso povo. E a direita nacional, ainda que com certa dissimulação, começa a articular-se. Isso vai exigir da esquerda, no diálogo  com o centro, grande esforço, para a   criação de força política  de centro, organizada e articulada, firme em sua ação, a fim de dar o suporte da nação, para que possa enfrentar o vendaval internacional – com a crise econômica, o renascimento brutal do racismo na Europa e a reorganização dos nazistas e fascistas.


A Alemanha, contra o otimismo dos comunistas e socialistas,  repetiu, em 30,  com mais tragédias, o fascismo italiano. Por pouco, os integralistas não se apossaram do Brasil, nos anos 30. Sofremos o que sofremos sob a direita nacional, a partir de 1964. Essas lições dos anos 30 nos exigem acurada vigilância e a visão real do processo histórico. A direita está aí, firme, construindo sua vez e sua hora.

Alckmin adere ao Bolsa Família. O meu adversário detona os programas do antecessor

Saiu no Estado online editorial assinado por uma repórter, que, após emitir um sem-número de opiniões (inúteis), informa que a Presidenta Dilma, numa cerimônia no Palácio dos Bandeirantes, em São Paulo, afirmou : a faxina é a faxina da miséria.

Foi na solenidade em que os governadores do Sudeste se comprometeram a aderir ao programa Brasil sem Miséria, através da ampliação do Bolsa Família.

O Governador de São Paulo referiu-se à Presidenta (com “a”) e incorporou o programa estadual do Bolsa Cidadã ao Bolsa Família.

Os estados do Rio, do Espírito Santo e, futuramente, Minas farão mesmo.

Há no Sudeste dois milhões de brasileiros abaixo da linha da pobreza.


O Padim Pade Cerra jamais faria isso, fosse ainda Governador de São Paulo.
(Por falar nisso, amigo navegante, diga aí alguma coisa que o Cerra tenha feito no Governo, além daquela ponte cuja maquete ele gloriosamente inaugurou.)

Um dos traços de Cerra como “administrador” é repudiar a obra do antecessor.

Na campanha em que perdeu pela segunda vez, a Presidenta lembrou ao eleitor que, ao chegar ao Governo de São Paulo, Cerra detonou as obras do antecessor, Alckmin.

(Outra característica do “administrador” Cerra é apropriar-se de programas alheios: foi o que fez com o trabalho para combater a Aids e os remédios genéricos.)

O gesto de Alckmin aplica ao Brasil sem Miséria um selo supra-partidário.

Será da Dilma, do Alckmin, do Cabral, do Casagrande – de todos.

Lamentavelmente, Cerra e a mulher jogaram o Bolsa Família na lata de lixo da batalha eleitoral.

Primeiro, Cerra aderiu ao Lula e elogiou o Bolsa Família, a ponto de prometer mundos e fundos – só faltaram bônus de Wall Street aos beneficiários do Nordeste.

Depois, a mulher, a grande estadista chilena, peça central da campanha do marido, foi para a Baixada Fluminense dizer que a Dilma era favorável ao aborto clandestino e que o Bolsa Família estimulava a malandragem.

(Até que uma aluna revelasse que a mulher do candidato da TFP tinha feito aborto no Chile.)

Alckmin tira o Bolsa Miséria da sarjeta em que se trava muitas vezes a política de São Paulo.

Ou o Cerra não é mais suspeito de detonar o Rossi ?

Em tempo: o Farol de Alexandria foi receber a Presidenta no Palácio Bandeirantes. O que indica que ele está muito mais preocupado com as honrarias do ócio do que com o futuro do Padim.

Paulo Henrique Amorim


O nome da doença que assola o Brasil é Reinaldo Azevedo

Nesta manhã, o articulista que incita ódio na política brasileira se superou. Disse, com todas as letras, que o eleitor de Lula é sem-vergonha. Se a culpa é do brasileiro, isso significa que ele já admitiu sua própria derrota
É triste ver uma pá de inteligência ser desperdiçada inutilmente. O articulista Reinaldo Azevedo, da revista Veja, tem cérebro, domina o vernáculo como poucos no Brasil e empresta boas quantidades de lógica ao que escreve. Mas, lamentavelmente, conseguiu se converter no porta-voz do que há de mais atrasado na política brasileira atual: a hipocrisia da moralidade. Reinaldo é o “cheerleader” do serrismo, a força derrotada nas últimas eleições presidenciais, de onde brota boa parte dos escândalos atuais.
Num longo artigo publicado na manhã de hoje, ele escreve que “o nome da doença que assola o Brasil é Luiz Inácio Lula da Silva”. É talvez seu texto mais ousado – e que representa quase uma confissão de derrota política. “Enquanto Lula for uma figura relevante da política brasileira, estaremos condenados ao atraso”, escreve Reinaldo. Então esqueça, meu caro: enquanto Lula estiver vivo, terá papel central na política nacional. E possivelmente preservará sua influência mesmo depois de morto, tal qual Getúlio, que os inimigos – porta-vozes do discurso do “mar de lama” – levaram ao suicídio.
Reinaldo joga de vez a toalha quando transfere a culpa pelo que enxerga como atraso ao cidadão brasileiro. “Há diversas razões que explicam o fenômeno, muitas delas já conhecidas. O apoio do Congresso foi vital – além da sem-vergonhice docemente compartilhada por quem votou nele. Não dá para livrar os eleitores de suas responsabilidades.” Atenção, eleitor de Lula e leitor de Veja: o mestre-sala da publicação lhe considera um meliante, um malandro, um picareta, um desonesto. Um sem-vergonha.
Ora, Reinaldo, se a culpa é do brasileiro, a conclusão é uma só: o país não tem jeito mesmo. E talvez a única solução seja o aeroporto. Não importa se 35 milhões de brasileiros cruzaram a linha da miséria na última década, se o Brasil se tornou a Meca dos investidores internacionais e se o desemprego é o mais baixo desde o início da série histórica do IBGE. O eleitor, além de mau caráter, deve ser burro, mesmo. Pior, é masoquista.
Qual seria a grande doença representada pela figura de Lula? Ah, o fisiologismo levado ao extremo, simbolizado pela aliança entre PT e PMDB, que gera tantos escândalos de corrupção. Mas será que isso foi inventado por Lula? Bom, o peemedebista Geddel Vieira Lima foi ministro da Integração Nacional de Fernando Henrique Cardoso. Mas naquele tempo ele era honesto. Lula o corrompeu. Renan Calheiros – sim, o mesmo Renan que Veja tentou derrubar em 12 capas consecutivas antes das eleições presidenciais de 2010 – foi ministro da Justiça de FHC. Mas ele também era honesto naquele tempo. Lula o corrompeu. E tem também o Eliseu Padilha, dos Transportes – como era o apelido do Padilha mesmo, Reinaldo?
Bom, e no PFL (atual DEM), é claro, só tinha gente honestíssima.
No seu artigo de hoje, Reinaldo até admite que FHC teve que sujar as mãos ao governar com alguns aliados do PMDB. “Mas era uma gestão com alguns propósitos”, diz ele. Cuidado, Reinaldo, para não cair na mesma lógica do discurso delubiano que você tanto condena – o de que, em nome do projeto, tudo é permitido. Sua ética é absoluta, pura, kantiana ou é adaptável às circunstâncias?
Reinaldo diz que muitos intelectuais apontaram na política de alianças de FHC uma rendição ao velho patrimonialismo brasileiro, tão bem diagnosticado por Raymundo Faoro. Mas o articulista indaga como é possível, ao mesmo tempo, ser patrimonialista e também reduzir o tamanho do Estado, privatizando estatais? Muito simples, Reinaldo. Basta ver como foram privatizadas as estatais. Quer um exemplo? Antes das privatizações, Benjamin Steinbruch era apenas o herdeiro de um grupo têxtil em dificuldades financeiras, a Vicunha. Mas como era também amigo de Paulo Henrique Cardoso, filho de FHC, comprou primeiro a CSN e depois a Vale. No leilão da mineradora, Antônio Ermírio de Moraes, à época o empresário mais rico do Brasil, desistiu quando percebeu que os fundos de pensão estatais, colados em Steinbruch, dariam sempre um lance maior. Detalhe: apesar de tudo isso, FHC foi, sim, um grande presidente.
Reinaldo deve ter acordado hoje inconsolável porque, apesar da queda de Wagner Rossi, a aliança entre PT e PMDB não foi abalada. Parece inquebrantável, apesar de todos os tremores. Um deputado peemedebista, Mendes Ribeiro Filho, já está sendo indicado para o Ministério da Agricultura com apoio de toda a bancada e do vice Michel Temer. E o resultado dessa aliança é um só: desloca o eixo do poder do bloco tucano para o lado petista. Os tais vinte anos de poder sonhados por Sérgio Motta têm tudo para ser alcançados por seus adversários – ou será que alguém enxerga alguma oposição viável em 2014? Aécio? Serra? Esse é o ponto central de uma discussão que não tem nada que ver com ética, moralidade ou republicanismo – diz respeito apenas à disputa pelo poder.
Significa então que a corrupção e o fisiologismo não devem ser combatidos? Evidente que devem ser atacados. Mas enquanto essa discussão não for levada a sério, no âmbito de uma reforma política, que discuta até o financiamento público das campanhas eleitorais, estaremos presos ao terreno da ética seletiva, com falsos moralistas vendendo a ideia do “mar de lama” e sugerindo a morte – real ou concreta – do “lulismo”. Esta hipocrisia, representada por você, Reinaldo, é a verdadeira doença que assola o Brasil.
Leonardo Attuch
Brasil - 247