EDUGUIM
As matérias contra Lula publicadas no núcleo duro da imprensa antipetista (Globo, Folha, Estadão e Veja) não cessam um só dia. De segunda a segunda há algum factoide contra ele sendo divulgado. Um dos investigadores opinou contra o ex-presidente? Vira manchete de primeira página e “prova definitiva e incontrastável” de que ele é “culpado”.
A rigor, porém, o que pesa contra Lula é muito, muito, mas muito menos do que pesa contra tucanos e peemedebês de alto escalão – leia-se Aécio Neves, José Serra ou Michel Temer.
Lula é investigado porque suspeitam que obra que a construtora OAS fez em um tríplex no Guarujá foi feita para beneficiá-lo, porque o imóvel seria seu, e porque suspeitam, sem nenhuma prova para amparar a suspeita, que um sítio em Atibaia (SP) teria sido reformado pelas construtoras OAS e Odebrecht também para beneficiar o ex-presidente.
Lula também é investigado porque empreiteiras teriam contratado suas palestras e feito doações para o instituto que leva seu nome, assim como contrataram palestras e fizeram doações ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, quem, no entanto, não é investigado, apesar de que, desde o finzinho de seu governo (2002), começou a receber enormes doações de empreiteiras e bancos, sem jamais ter sido incomodado.
Matéria abaixo, publicada em 2004 pela Folha de São Paulo, mostra como o candidato a prefeito de São Paulo João Dória Jr. liderava esquema de doações para o ex-presidente pouco tempo após ele ter deixado o cargo.
O que pesa contra Lula, porém, são meras suposições. Procuradores do Ministério Público e delegados da Polícia Federal encasquetaram que o sítio em Atibaia e o apartamento no Guarujá devem ser dele e isso, sob meros indícios, passou a ser tratado como prova inquestionável pela mídia, que trata o ex-presidente como condenado com culpa provada.
Neste domingo, porém, a Folha de São Paulo publicou com grande destaque denúncia contra um dos políticos mais blindados do país pela mídia – talvez mais até do que Fernando Henrique Cardoso.
Em primeiro lugar, é bom comentar que nenhum outro grande jornal divulgou esse fato e que é mais fácil Lula ser defendido pela Veja do que o Jornal Nacional divulgar que o “honestíssimo” Serra foi NOVAMENTE denunciado por corrupção – sim, novamente, porque não é a primeira vez.
Antes de prosseguir, porém, vamos combinar que chega a ser ridícula a teoria da mídia e da militância antipetistas de que os dinheiros que petistas receberam de empreiteiras são sujos e os dinheiros que tucanos receberam das mesmas empreiteiras são limpinhos e cheirosos.
Peguemos só o caso da denúncia da Odebrecht contra Serra. O antipetismo fanático afirma que é verossímil que ela tenha doado a Lula ilegalmente porque tinha negócios com a Petrobrás, investigada por corrupção de seus gestores. Ora, mas a mesma Odebrecht também doou a Serra, entre outros tucanos, e tinha negócios com o metrô ou com o Rodoanel de São Paulo, igualmente investigados por corrupção de seus gestores.
Por que, então, você não vê um massacre de um Aécio Neves, de um José Serra ou de um Michel Temer, todos acusados por delatores da Lava Jato? Simples: trata-se de escolha jornalística – ou melhor, “jornalística”.
Aécio Neves, por exemplo, foi citado CINCO vezes por delatores da Lava Jato, como tendo recebido propina. O Senador foi acusado de receber propina em Furnas e de manipular dados do Banco Rural para esconder o mensalão do PSDB.
O doleiro Alberto Youssef disse ter ouvido do ex-deputado José Janene (PP) que Aécio dividiria uma diretoria de Furnas com o PP e que sua irmã faria uma arrecadação de recursos junto à estatal. Isso teria acontecido entre 1996 e 2000.
Em 3 de fevereiro de 2015, o lobista Fernando Moura também disse que Aécio recebia propina de Furnas. E apresentou documentos.
Em julho de 2015, o entregador de valores Carlos Alexandre de Souza Rocha relatou ter ouvido que Aécio era “o mais chato” na cobrança de propina junto à empreiteira UTC.
O ex-senador Delcídio do Amaral também afirmou que Aécio recebia “pagamentos ilícitos” de Furnas e o ex-diretor da estatal Dimas Toledo foi o grande delator do esquema que pilotava e que envolvia o tucano.
É bem mais do que há contra Lula, que é suspeito simplesmente porque investigadores do MP e da PF ACHAM que os imóveis em questão seriam dele.
No caso de Serra, aliás, a denúncia divulgada pela Folha neste domingo nem é nova. No começo do mês passado, um colunista de O Globo já antecipara que Serra é suspeito de ter recebido propinas de empreiteiras
Em junho, outro dono de empreiteira, além da Odebrechet, citou Serra por receber doações eleitorais via caixa 2 e por ter recebido propinas referente à interminável obra do Rodoanel, quando o tucano governava o Estado de São Paulo: Leo Pinheiro, da OAS.
Os indícios mais fortes contra Serra, na verdade, começaram a surgir no ano passado. Um relatório da Polícia Federal sobre supostos beneficiários de propinas identificou as iniciais do então vice-presidente, Michel Temer, do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, mas colocou uma tarja preta na identificação da sigla JS (José Serra). Depois ficou o dito pelo não dito.
Os indícios contra Serra e Aécio, portanto, são muito mais impactantes e concretos do que os que existem contra Lula, mas, curiosamente, nenhum dos dois está sendo investigado da mesma forma, com o mesmo espalhafato.
A denúncia que a Folha dominical divulgou na primeira página poderia ter sido dada por todos os jornais muito antes e com igual destaque devido à importância do acusado (Serra).
Não é novidade que Marcelo Odebrecht incriminou Serra. A Folha divulgou essa denúncia com destaque só agora apenas porque sabe que, nas próximas semanas, a coisa pode esquentar para o tucano, de modo que o jornal sai na frente diante do inevitável, enquanto que a concorrência (Estadão, Globo e Veja) pretende segurar as informações enquanto for humanamente possível.
Se pesasse contra Lula a quantidade de indícios e até provas documentadas que pesam contra Serra e Aécio, a mídia estaria pedindo o linchamento físico do ex-presidente em editoriais de primeira página. É por isso que todas essas acusações contra tucanos vão terminar sendo abafadas como tantas outras. É é por isso que as acusações contra petistas não podem ser levadas a sério.