Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

terça-feira, 19 de março de 2013

Dilma cresce; mídia busca um ‘Capriles Nieto’ brasileiro


*CNI/Ibope: conservadorismo uiva**Governo Dilma tem recorde de 63% de aprovação no país, com destaque para os 72% obtidos no Nordeste, do sorridente Eduardo Campo

** Inglaterra aprova regulação da mídia (leia reportagem de Marcelo Justo, de Londres; nesta pág)

A restauração conservadora fareja frestas e flancos para romper o colar de governos de centro-esquerda que, nos últimos dez anos, estendeu suas contas formando um cinturão de políticas progressistas no interior da América Latina. 

Vive-se, grosso modo, um interregno entre dois ciclos. 

Um, que parece ter se completado com a consolidação de políticas sociais e salariais, que remodelaram a dinâmica da cidadania e do consumo em largas fronteiras da América Latina. 

Em graus distintos, esse estirão foi favorecido pelo afrouxamento do gargalo externo, marcado por uma década de preços altos das commodities. 

Não há automatismos na história.

Políticas deliberadas destinaram esse impulso ao resgate parcial de uma exclusão secular, aprofundada pela hegemonia livre mercadista dos anos 90.

A história regional registra outros ciclos de valorização de produtos primários sem contrapartida social equivalente. 

O fôlego externo enfrenta agora o ar rarefeito da estagnação planetária escavada pela desordem neoliberal. 

Abre-se um descompasso entre o fluxo da história e o das receitas.

A América Latina depende de investimentos pesados, que liguem o impulso original do consumo a uma inadiável adequação da oferta e da logística à escala ampliada da demanda e dos direitos. 

O cinturão de governos progressistas debate-se para erguer os pilares dessa transição num ambiente internacional que deixou de favorecê-lo. 

A queda de braço para destravar o novo ciclo é a linguagem cifrada através da qual o aparato conservador põe a campanha na rua, enquanto busca o porta-estandarte capaz de representá-la.

Nessa corrida contra o tempo afloram os Enriques Peña Nieto, os Henrique Capriles, os Aécios e Eduardos Campos. 

Não são feitos da mesma argila, sublinhe-se. 

Mas se prestam como gargantas do mesmo sopro, sendo notável a semelhança entre o que dizem e o prometem. 

A saber:

a)‘Manter o que deu certo’: ninguém, nem Capriles, nega os avanços sociais da última década; explicitamente não se vocaliza a intenção de revogar políticas e programas que resgataram milhões de pessoas da pobreza e da miséria na região;

b) ‘Dá para fazer mais’: a platitude, aparentemente ingênua, interliga Capriles a Campos, por exemplo. Repita-se, não são argila do mesmo rio. Emparedados pelos inegáveis trunfos dos que pretendem substituir, porém, apresentam-se como capazes de superá-los, sem contradizê-los naquilo que se tornou quase irreversível;

c) Mais liberdade para o mercado agir: Enrique Peña Nieto, presidente mexicano recém-eleito, um misto de Collor com Aécio, com sorriso fixo dirigido permanentemente à plutocracia, como Campos, é o que explicita de forma mais assumida o projeto conservador em gestação. 

d) ‘Retomar as reformas’ : num ambiente desgastado pela incapacidade progressista de se unir em um projeto convincente para a sociedade, o engomadinho mexicano – jovem na aparência—ganha espaço para resgatar velhas bandeiras. O óbvio reiterado mais uma vez na sua ascensão: o neoliberalismo colapsado extrai sobrevida da ausência de projeto e lideranças críveis, à esquerda. 

e) ‘Um novo acordo político’: nesse interregno em que o velho nada tem a inovar, mas o novo se mostra desprovido de liderança consistente, Peña Nieto transita com desenvoltura mórbida. Empurra uma a uma as reformas regressivas na goela de uma sociedade exausta, cujo sistema político desmoralizado lhe deu carta branca para agir. 

Em que direção?

A reforma trabalhista mexicana flexibiliza direitos, legaliza contratos temporários, barateia demissões. 

A da energia tem abrangência pomposa, mas objetivo específico: privatizar a Pemex, a Petrobras mexicana. Tudo em nome da pátria –a exemplo do nacionalismo tardio de Aécio. 

O idioma dominante é a língua dos acionistas. Bolsas e bolsos estão sequiosos por um desmonte que reduza investimentos e engorde a rubrica dos lucros nos balancetes; loteie reservas de petróleo; gere mais sobras a serem distribuídas. 

Os pregões borbulham em sinal de gratidão. A mídia 'especializada' urbi et orbi sanciona a receita e com ela açoita os governantes infiéis.

O México se oferece como a meca da restauração neoliberal.

Já tivemos paradigmas em melhor situação.

Cerca de 2/3 dos 2.500 municípios mexicanos estão dominados por gangues sanguinárias do circuito drogas/crimes.

É a herança mais ilustrativa de décadas de governantes e políticas das quais Peña Nieto é um protagonista agressivo, mas equipado com sorriso 24 horas e cabelos impecavelmente lustrados à mousse.

O golpe mais flamejante desse manequim do neoliberalismo recosturado reúne ingredientes ao gosto dos savonarolas . 

A prisão de uma liderança sindical corrupta, decana do professorado mexicano, franqueou-lhe os atabaques da mídia para sapatear sobre as organizações dos trabalhadores. Leia-se: afastar a influência sindical e dos movimentos populares na formulação das políticas setoriais.

A desfrutável sofreguidão com que protagonistas desse mesmo enredo se oferecem à mídia e à plutocracia no caso brasileiro não deve levar a erros de avaliação.

A temporada de caça à Dilma, insista-se, não reflete apenas apetites menores.

As respostas às arremetidas conservadoras terão pouca eficácia se ficarem restritas a aspectos do caráter de seus portadores. 

Um ciclo econômico envia sinais de exaustão. 

O novo que pede para nascer dificilmente vingará se depender exclusivamente da compreensão dos mercados e da grandeza patriótica dos investidores privados.

Cortejado, o dinheiro graúdo inaugurou a temporada do 'vamos ver quem dá mais'. 

A campanha sucessório instalou seu pé de palanque ostensivo no noticiário econômico.

Dia sim, dia não, ele avança um sinal de que o capital privado "não sente mais segurança" para investir no país , tantas são as medidas do governo (a maioria de incentivo ao próprio, diga-se).

Pesquisas divulgadas nesta 3ª feira mostram recorde de aprovação ao governo. A leitura do aparato conservador será apertar ainda mais as turquesas.

Não cabe ilusão: cozinha-se o governo Dilma no banho-maria do desgaste capcioso.

Ademais dos esforços para atrair investidores aos projetos prioritários, o governo e seu lastro de forças progressistas só renovarão a confiança da sociedade na sua liderança em 2014 se, de fato, se mostrarem capazes de exercê-la.

O dinheiro de que o país necessita para investir existe. Fundos de investimentos estocam mais de R$ 500 bilhões, para citar um baú.

Essa poupança deve servir à sociedade.

Cabe ao Estado assegurar que a migração aconteça, com uma estratégia firme, ancorada no indispensável lastro político que a viabilize.

Se hesitar ou se acanhar, se renunciar, enfim, ao papel indutor, deixará aberto o espaço para aqueles que deveriam ser conduzidos conduzirem. E escolherem um porta-voz.

Diferentes versões de ‘Capriles Nietos’ já se posicionam sorridentes na gondola pré-eleitoral. Ofertam-se à degustação de um 'Brasil melhor' 

É só escolher e colocar no carrinho. 

--------------
*Obs: nota atualizada dia 19/03, às 13h30.
Postado por Saul Leblon às 20:58

Petista afirma que Comissão da Verdade investigará imprensa


Eduguim.
Nas últimas semanas, a imprensa tem veiculado que a Comissão da Verdade, que apura o colaboracionismo de agente públicos e privados com a ditadura militar que vigeu no Brasil entre 1964 e 1985 a fim de produzir um relatório histórico, está investigando a participação de empresários e até de entidades dirigentes do futebol com aquele regime.
Todavia, até o momento a Comissão da Verdade não divulgou se irá apurar a atuação de certos agentes privados que tiveram participação preponderante para a efetivação do golpe de 1964 e para sua sustentação nos anos seguintes, até que a repressão aumentasse ao ponto de que aqueles que pediram e sustentaram a ditadura entendessem que em ditaduras só quem ganha é o ditador.
Para entender como é possível que uma Comissão que pretende apurar a verdade esteja, aparentemente, deixando de fora justamente o setor da sociedade que trabalhou com maior êxito e mais ostensivamente para a implantação do regime autoritário no Brasil dos anos 1960, o Blog da Cidadania recorreu ao presidente da Comissão Estadual da Verdade do Estado de São Paulo e da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa paulista, o deputado Adriano Diogo (PT-SP).
Leia abaixo, portanto, a entrevista que o deputado estadual em questão deu ao Blog da Cidadania nesta terça-feira, 19 de março de 2013.
—–
BLOG DA CIDADANIA – Deputado Adriano Diogo, bom dia. O senhor preside a Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de São Paulo e a Comissão Estadual da Verdade que funciona naquela Casa, correto?
ADRIANO DIOGO – Sim, mas tenho que explicar que a Comissão Estadual da Verdade não é uma Comissão de Estado, é uma Comissão criada no âmbito da Assembleia Legislativa. Então, a partir da Assembleia Legislativa nós criamos a Comissão da Verdade do Estado de São Paulo.
Não é um projeto de lei, é um projeto de resolução. É que a Comissão adquiriu tal dimensão que as pessoas acham que é do Estado de São Paulo, mas ela não teve apoio nenhum do governo do Estado. Nós trabalhamos, só os deputados, no âmbito da Assembleia Legislativa.
BLOG DA CIDADANIA – Deputado, a imprensa tem veiculado que a Comissão Nacional da Verdade está investigando a atuação de vários setores da sociedade durante a ditadura de uma forma colaborativa.
Haveria empresariado envolvido. Fala-se claramente na Folha, hoje, sobre a FIESP e há pouco [em off] o senhor me falou da relação de entidades e pessoas do futebol com a mesma ditadura, sobretudo do futebol paulista.
Mas há um setor, deputado, que teve uma intensa correlação com a ditadura e sobre o qual, até agora, não se falou nada.
Então, muito sucintamente, gostaria que o senhor dissesse como é que fica a atuação da imprensa, da grande imprensa no âmbito do golpe, naquele momento do golpe, e na posterior sustentação daquele golpe que grande parte da imprensa, da grande imprensa teve durante a ditadura e com a ditadura.
A gente sabe que vários meios de comunicação – imprensa escrita, imprensa eletrônica – tiveram relações com a ditadura e, até agora, não se falou nada disso na Comissão da Verdade. Isso não vai ser apurado?
ADRIANO DIOGO – O golpe foi dado com apoio total da imprensa. Total. O único jornal de grande circulação que ficou contra o golpe foi o jornal Última Hora. É claro que os Bloch [revista Manchete] foram muito cautelosos… Mas, na grande imprensa, o golpe foi alardeado e bancado, principalmente nos primeiros anos [da ditadura], por muitos setores da imprensa.
O Estadão e o Jornal da Tarde,  de apoiadores da ditadura, do golpe, de apoiadores do Ademar de Barros e daMarcha da Família com Deus pela Liberdade – que era um absurdo, era o golpe –,  acabaram atingidos pela censura.
O Estadão e O Globo foram jornais importantíssimos para a decretação do golpe e a sua sustentação, o que não significa que os jornalistas dessas empresas fossem golpistas. Foram os patrões deles.
Aquele jornal Shopping News ou City News, tinha um jornalista que escrevia artigos contra o Wladimir Herzog, contra o Sindicato dos Jornalistas e contra a TV Cultura. Pedia a cabeça do Wlado e de seus companheiros todo fim de semana em São Paulo. Pedia a prisão do Wlado.
Então, a atuação da imprensa [durante a ditadura] foi uma coisa cruel.
BLOG DA CIDADANIA – Então, deputado, mas o senhor me relata a atuação da imprensa nesse período que é, mais ou menos, uma coisa que todos conhecem. Mas na Comissão da Verdade, ao menos pelo que tem noticiado a imprensa, não se fala nada sobre apurar essa atuação da imprensa.
ADRIANO DIOGO – Bom, a atuação da Comissão Nacional da Verdade agora mudou de coordenador. Agora, assumiu a Comissão Nacional o diplomata Paulo Sergio Pinheiro.  Antes, era o ex-procurador-geral da República doutor Claudio Fonteles.
Possivelmente, agora eles vão mudar a técnica de abordagem. E eu acho que, uma hora, esse capítulo terá que ser abordado – sempre lembrando que uma coisa foi a imprensa, outra coisa foram certas empresas jornalísticas que emprestaram veículos [para a ditadura transportar presos políticos], [que estimularam] a repressão e tiveram um papel direto [na ditadura]. Um papel direto!
É evidente que essas questões vão ter que ser abordadas. Senão, a verdade nã será completa. Vai ser uma comissão de meia verdade. E não existe meia verdade.
Agora, tudo é um processo. Neste ano, no dia 31 de março, o golpe vai fazer 49 anos e nada – ou muito pouco – se sabe do golpe de 64. É um assunto proibido. É muito difícil dizer a verdade no país da mentira.
BLOG DA CIDADANIA – Então, deputado: é muito difícil dizer a verdade no país da mentira. Essa é a grande questão porque, neste momento, a gente vê a grande imprensa dizer que o seu partido, o PT, estaria querendo instalar a censura no Brasil através de posições do partido favoráveis à regulamentação dos meios de comunicação eletrônicos via um novo marco regulatório.
Nesse momento, não seria muito bom que uma Comissão que diz – ao menos diz – que procura a verdade mostrasse ao país qual foi o comportamento dessas empresas de comunicação que hoje estão falando em censura e acusando o seu partido de ser um partido de censores?
Minha pergunta, portanto, é se o senhor não tem nenhuma notícia de uma intenção sequer cogitada no âmbito da Comissão da Verdade sobre uma investigação da atuação da imprensa – ou de uma parte da imprensa – durante a ditadura.
ADRIANO DIOGO – Eu não disse isso. Eu disse que, até o presente momento, não foi abordado o papel da imprensa e das empresas jornalísticas. Eu não estou dizendo, com isso, que não vai ser abordado. Eu não falei isso.
BLOG DA CIDADANIA – Mas, até o momento, não foi?
ADRIANO DIOGO – Até o momento, pelo menos, [acho que] não foi. Mas a Comissão Nacional não divulga o conteúdo do material, dos depoimentos. Isso só vai ser feito através de relatório a ser publicado [ao fim dos trabalhos da Comissão da Verdade]. Até lá, nós [da Comissão Estadual] não temos acesso.
Mas eu garanto ao senhor o seguinte: na Comissão de São Paulo, tudo que estiver ao alcance, tudo que estiver documentado será apurado e divulgado.
Comento que até hoje não se sabe se o dia 1º de abril foi um dia depois do golpe ou o dia do golpe porque até isso os militares mudaram para não caracterizar o golpe como o golpe da mentira, porque o dia 1º de abril é o Dia da Mentira.
Tudo isso vai ser esclarecido porque vão ser abertos ao público todos os arquivos do Estado de São Paulo, o que será uma contribuição nossa – da nossa Comissão, de São Paulo. Faremos com que todos os arquivos do DOPS [Departamento de Ordem Política e Social, órgão repressor da ditadura], de todos os órgãos da repressão do Estado de São Paulo, sejam  abertos ao público no [próximo] dia 1º no Arquivo do Estado.
Assim, é evidente que o papel da imprensa, que passa por certas empresas jornalísticas, vai ser apurado.
O que eu estou tentando explicar é que a Comissão da Verdade não é uma Comissão Técnica, ela é uma Comissão do povo brasileiro. (…) Ela não pertence a um grupo de especialistas.
O que estou tentando dizer, portanto, é que a Comissão da verdade é como o movimento brasileiro de Anistia. Um grande movimento popular, em todo o Brasil, nas universidades, nos sindicatos, nos órgãos associativos dos arquitetos, dos engenheiros, dos advogados – como a OAB de São Paulo – para contar essa verdade.
Esse relatório não vai ser um documento que vai ficar numa prateleira. Terá que ser divulgada a participação de todos. Da Fiesp, das empresas jornalísticas, das empresas automobilísticas… Todo aquele que contribuiu com o golpe, como aconteceu na Alemanha nazista, terá que aparecer. O nosso holocausto não pode ser contado pela metade.
BLOG DA CIDADANIA – Pelo que entendo, então, deputado, o senhor não acredita que será possível excluir a imprensa dessa investigação. É isso?
ADRIANO DIOGO – Ninguém poderá ser excluído.