Operação Lava Jato, dentro de um contexto social e político honesto, teria sido um presente para o Brasil. Acho que ninguém discorda de que, um dia, seria necessário acabar com a cultura da corrupção que sempre ligou empreiteiros e políticos brasileiros.
O fato é que, em pouco tempo, foi fácil perceber que as decisões e ações demandadas pelo juiz Sérgio Fernando Moro estavam eivadas de seletividade. Tinham como objetivo tirar o PT do poder, desmoralizar o discurso da esquerda e privilegiar aqueles que, no rastro da devastação moral levada a cabo pelo magistrado, promoveram a deposição da presidenta Dilma Rousseff.
Hoje, graças à Lava Jato, a economia nacional está devastada, o Estado de Direito, ameaçado, e o poder tomado por uma quadrilha que fez do Palácio do Planalto uma pocilga digna de uma republiqueta de bananas de anedota.
Agora, quando os grupos golpistas ligados ao PSDB e PMDB começam a ser atingidos pela mesma lama que a Lava Jato pensou em represar apenas para o PT, o juiz Moro pensa em tirar um ano sabático, nos Estados Unidos.
Isso, obviamente, não pode ser uma coisa séria.
Um juiz de primeira instância destrói a economia e o sistema político de um país, deixa em ruínas 13 anos de avanços sociais, estimula o fascismo, divide a nação e, simplesmente, avisa que vai tirar férias de um ano?
Não se enganem: o que está havendo é uma fuga planejada.
A tentativa de instaurar, mediante um golpe, um governo que pretendia recuperar a unidade nacional, retomar o crescimento econômico e resgatar a confiança, fracassou estrepitosamente. Não ha ninguém mais que aposte no seu sucesso.
Nenhum índice econômico positivo pode ser apresentado pelo governo, os anúncios ilusórios de melhoria econômica agora são projetados para o segundo semestre de 2017, sem nenhum indicio que tenha base na realidade. O ajuste fiscal leva o pais da recessão à depressão econômica, com níveis alarmantes de retração, produzindo a pior crise social, desde o final do governo FHC.
Politicamente, depois da queda de 6 ministros em 6 meses, a delação da Odebrecht promete ser devastadora, chegando ao próprio presidente. Este, ficha suja, com riscos de acusações diretas com essas delações, tem na linha de sucessão o presidente do Senado, réu por acusações de corrupção.
23 governos estaduais estão em estado de calamidade publica, com salários atrasados e poucas possibilidades de pagar o 13. salario. O governo empurra o ajuste fiscal goela abaixo dos estados e dos municípios, generalizando o caos econômico e ingovernabilidade.
O presidente instalado pelo golpe não goza mais de nenhum prestígio e credibilidade. A mídia não o poupa mais em nada. Os políticos não acreditam nele, sua imagem internacional é pavorosa. Sua incapacidade para governar tornou-se patente. Seu governo contem, por enquanto, 15 dos seus membros envolvidos na Lava Jato.
A operação de eventual substituição de Temer por um presidente designado pelo Congresso encontra, entre outros obstáculos, aquele corretamente observador por FHC: como um Congresso com mais de 200 parlamentares acusados de corrupção, pode indicar o presidente do Brasil. Alem de que a operação de fritura de Temer traria fraturas no bloco golpista e riscos graves na sua implementação.
Por outro lado, a operação de tentar inviabilizar eleitoralmente o Lula, se esvai estrepitosamente, com mais de 11 testemunhas de acusação absolvendo-o, desembocando assim num anti-clímax a opera bufa montada em Curitiba.
O pais está mais do que preparado para recuperar o direito do povo de eleger democraticamente quem deve dirigi-lo. A adesão de FHC completa o arco de reconhecimento de que somente um governo legitimado pelo apoio popular pode enfrentar a crise e supera-la.
Se esgotaram as possibilidades de solução da crise por cima, mediante manobras golpistas, engendradas pela mídia, com o silencio cúmplice do STF. O governo Temer termina pateticamente, sem cumprir nenhuma das suas promessas. A mídia se distancia cada vez mais dele. A base parlamentar desse governo sofrera' golpes devastadores com a as delações premiadas da Odebrecht.
O pais está pronto para recuperar o direito do povo, mediante eleições diretas, de eleger seus governantes. E' a única atitude que o Congresso pode tomar, se não quiser naufragar conjuntamente com o governo e, ele também, ser renovado por novas eleições parlamentares já.
Só um governo com legitimidade democrática outorgada pelo povo, pode enfrentar a crise e dar-lhe uma solução que, ao mesmo tempo que supera a recessão, o faça com fortalecimento dos mecanismos de distribuição de renda e resgate da capacidade de investimento e de abertura generalizada de crétido da parte do governo. O Brasil está pronto para voltar a trilhar o caminho da democracia.