Se um americano comete crimes que, no Paquistão, seriam atribuídos a um "fanático religioso" ou a um islâmico "fundamentalista": por que omitir o conceito a propósito de um jovem branco protestante (ou católico, ou judeu, ou, ou...), que certamente invocará seus princípios "patrióticos" para fazer o que fez?
Enio Squeff
Elias Canetti escreveu um livro chamado "A língua absolvida" - um dos volumes da sua autobiografia - cujo sentido talvez se preste a algumas reflexões, independentemente do que o escritor pretendia com o título. Somos, de fato, prisioneiros da língua: o jovem americano que alvejou várias pessoas nos Estados Unidos, matando alguns por não aceitar que se discutam as leis sobre a imigração, e sobre a saúde, já está preso e não faltará quem o chame de louco - um adjetivo aceitável, mesmo que os psicólogos ou psiquiatras não afiancem o diagnóstico. Fica a desconfiança, porém, que se não fosse americano e provavelmente cristão, mas árabe, paquistanês ou afegão e, sobretudo, muçulmano - não haveria língua suficientemente absolvida que o livrasse do epíteto de "fanático", bem antes que ocorresse a idéia de que fosse simplesmente um maluco. Não absolvemos a língua - todas elas - das peias dos preconceitos que as informam. Se a língua é a nossa pátria, como dizia Fernando Pessoa, fica por conta do patriotismo a escolha da palavra que nos convém, para não dizermos da Mãe Gentil que ela produz monstros. E que os religiosos só são "fanáticos" quando não professam nossas crenças. Ademais e a propósito, como se sabe, as palavras "louco", "psicopata", e "maluco" são sempre bem-vindas para qualquer lado.
Trata-se de uma prisão sui generis, essa da língua. Não é por a desconhecerem que os americanos impuseram ao mundo o conceito do "politicamente correto": seria, contudo, próprio da "língua absolvida" que distribuíssemos livremente os juízos pelo que nos induzem certos atos. Se um americano comete crimes que, no Paquistão, seriam atribuídos a um "fanático religioso" ou a um islâmico "fundamentalista": por que omitir o conceito a propósito de um jovem branco protestante ( ou católico, ou judeu, ou, ou...), que certamente invocará seus princípios "patrióticos" para fazer o que fez? Não é bem a "língua absolvida" que nos dará a resposta.
No entanto, vivemos cercados de prisões, principalmente na história, - não a que nos contam os vizinhos, mas a que lemos nos jornais e aprendemos nas universidades. Há exemplos recentes até no grande cinema. O filme "Apocalipse Now", de Francis Copola, hoje um clássico, ostenta a justa fama de ser uma reflexão indômita sobre a Guerra do Vietnã: o filme enfatiza o fanatismo reinante num conflito em que o que mais conta é o desvario generalizado. Mesmo os críticos mais progressistas julgaram-no corajoso, sem meias medidas para o morticínio comum a todas as guerras.
Mas Francis Copola, no julgamento que fez da guerra, deixou aos espectadores a idéia de uma loucura coletiva. Em nenhum momento o diretor dá aos invasores americanos o peso da responsabilidade que explicaria a sua loucura. Já do outro lado, o dos vietnamitas, a loucura é um dado resolutamente gratuito: eles não seriam malucos por terem o seu país injustamente invadido e a sua população covardemente massacrada.
Na fita, todos são ensandecidos, o que dilui o juízo sobre as responsabilidades. Ou seja, os americanos enlouqueceram - mas os vietnamitas, quem sabe, não teriam as suas razões de agredidos, por terem também a sua dose de loucura na resposta aos agressores. Mas é assim em quase tudo.
Quando a Inquisição estendeu suas tenazes sobre os hereges, os mouros, os judeus e os "livre-pensadores"pela Europa cristã, parte do mundo emudeceu: que fazer diante de padres dotados de poderes sobre a vida e a morte, inclusive de membros da nobreza? Os assassínios sob as mais torpes torturas, quase 400 anos depois, se contam hoje entre milhares - mas poucos se deram conta das segundas intenções muito bem aceitas pela hierarquia católica: havia riquezas de sobejo a serem seqüestradas. E sempre em nome da fé. Como lembrou o escritor uruguaio Eduardo Galeano, nas perseguições aos espanhóis que viviam na Andaluzia "retomada" pelos cristãos, quase não se contabilizam os pequenos proprietários - mouros ou não - que tiveram suas terras tomadas pelos "Reis Católicos" e seus cruzados, futuros latifundiários que assumiriam as pequenas propriedades, genericamente, dos "infiéis".
Como alerta Galeano, a retomada de Sevilha e Granada, é chamada de "reconquista": depois de quase setecentos anos, eis que os "legítimos herdeiros"(?) das terras invadidas, séculos antes pelos árabes e bérberes, teriam todos os direitos de as retomarem. Os trabalhos de séculos dos pequenos proprietários que as fizeram produtivas e férteis, não lhes valeram para nada perante as armas dos Reis Católicos. Quase não se menciona que na Andaluzia vicejava uma das mais requintadas civilizações, onde muçulmanos, judeus e cristãos viviam em perfeita harmonia, com indiscutível liberdade de culto para todas as religiões. E que foi com a "reconquista" que a Espanha se transformou num dos estados mais intolerantes da história ocidental. No caso, sequer se cogita da "absolvição da língua" para contar a verdade. E assim em tudo mais, inclusive na história contemporânea.
O horror dos horrores seria certamente a possibilidade concreta de que Hitler e suas hordas vencessem a Europa e o resto (entre eles o Brasil, já que também declaramos guerra à Alemanha). Parece não haver dúvida quanto a isso: o morticínio patrocinado pelos nazistas não apenas de judeus, mas de russos ( principalmente desses) além dos ciganos e outras etnias, foram inequívocos atos genocidas. Pouco a contestar. Mas o dirigente inglês da época da Segunda Guerra, Winston Churchill, sem palpos na língua (e ele os tinha muitos, como grande orador que era), prometeu matar quantos alemães pudesse, fossem ou não soldados. Os bombardeios sobre cidades desarmadas, como Leipzig e Dresden, redundaram, assim, em atos puramente vingativos, sem qualquer efeito sobre a guerra em si. O mesmo aconteceria do lado americano. Em quase todos os documentários sobre o desenvolvimento das armas atômicas, os grandes cogumelos coloridos a sobressaírem de Hiroshima e Nagasaki são descritos como "tragédias", e alertam sobre o "terror atômico" -uma lembrança oportuna.
Parece ser, porém, de uma língua literalmente "condenada" ou "trancada" ou antes, "censurada", a omissão sistemática de que quem governava os Estados Unidos era Harry Truman, um presidente ainda hoje respeitadíssimo em seu país. E que sequer interrompeu seu lauto jantar na noite de 5 de agosto de 1945, quando lhe informaram que Hiroshima não existia mais ( 85 mil mortos nas primeiras horas). É o que também se omite sobre a sua responsabilidade direta na operação seguinte, três dias depois, quando uma segunda bomba atômica foi despejada sobre Nagasaki ( 75 mil mortos quase que instantaneamente). Em ambas as circunstâncias, a palavra genocídio talvez ocorresse a qualquer língua absolvida - mas não é o que se propaga no "National Geographic" ou no "History Channel". Ao que fica sobre o assunto, nos dois mais populares programas de documentários de TV espalhados pelos quatro continentes, os cogumelos atômicos nasceram quase que por "geração espontânea" - uma flor de fogo e de morte que não vingou da ignomínia de alguns celerados, mas, quando muito, das conseqüências "trágicas", de um conflito, o qual - isso também não se diz, - estava no fim: o Japão já tinha se rendido, quando as duas bombas foram usadas.
Elias Canetti era judeu. Em sua trilogia autobiográfica a língua "absolvida" cuida-se de exercer o que é a prerrogativa dos homens de bem: ser isento inclusive com suas próprias pequenas mazelas. Há um episódio de sua infância em que conta, candidamente quase, como um empregado da casa de seus pais - um dos poucos aos quais o escritor reserva a palavra bondade para descrevê-lo - conseguiu arrancar um machado de suas mãos: era com ele que o pequeno Elias pretendia rachar a cabeça de uma priminha com a qual tivera uma briga de criança. Entre suas muitas lembranças, chama a atenção suas desavenças com Alma Mahler, viúva do grande Gustav Mahler. Sem se demorar em adjetivos como "egoísmo", "soberba" ou diagnósticos como "ninfomania", Canetti sugere isso e muito mais ao evocar seus anos em Viena na primeira metade do século XX. São poucos os indícios do livro que conduzem ao clima que favoreceu o nascimento do nazismo, à criminalidade na politica, à leniência com a selvageria assassina do anti-semitismo, mas, sobretudo, do racismo indiscriminado. Ficam em seus livros, no entanto, alguns alertas: ao não criminalizar alguns assassínios cometidos pela ultra-direita austríaca e alemã, entre elas os massacres de operários em greve, os governos dos respectivos países, deixaram à solta muitos marginais que se associariam a Adolf Hitler nas suas aventuras de morte, logo em seguida.
Escamotear a história, este o grande crime que Elias Canetti parece denunciar mais que tudo. Da sua decepção com o comunista Bertot Brecht, talvez o maior nome da dramaturgia do século XX (um homem a qual não regateia, apesar de tudo, uma admiração quase à reverência), à falta de sensibilidade de certos intelectuais e políticos, o escritor esforça-se em entender o homem. É de uma língua realmente absolvida que fica o melhor de sua experiência. Sobre o Brasil contemporâneo talvez se preocupasse com a desinformação deliberada da grande imprensa. Não lhe pareceria ser de seu repertório - da grande imprensa - justamente a idéia da "língua absolvida" reivindicada pelo grande escritor, mas continuará sendo dela, da grande imprensa, no fim das contas, a aceitação tácita de que o fanatismo religioso só existe no Oriente Médio, entre os muçulmanos. E que o rapaz que matou as pessoas no Arizona é diferente de qualquer coisa que cheire a fanatismo, uma vez que é cristão, americano, branco e sabe-se lá mais o quê.
Poder-se-ia relembrar, sobre o Brasil, o quanto nossa tolerância talvez nos custe, ao não arrolarmos entre os criminosos comuns, os torturadores da Ditadura que ainda ocupam seus escalões não apenas na hierarquia militar. Lembra-se que a palavra terrorismo ainda mobiliza parte da opinião pública que se esquece de quantos políticos tiveram de se exilar, por outrora serem "subversivos". Ou seja, a terminologia de uma língua travada ainda nos domina como nos anos de chumbo. Tomara não termos de pagar qualquer preço por nossa língua ainda não absolvida em nosso próprio País.
Trata-se de uma prisão sui generis, essa da língua. Não é por a desconhecerem que os americanos impuseram ao mundo o conceito do "politicamente correto": seria, contudo, próprio da "língua absolvida" que distribuíssemos livremente os juízos pelo que nos induzem certos atos. Se um americano comete crimes que, no Paquistão, seriam atribuídos a um "fanático religioso" ou a um islâmico "fundamentalista": por que omitir o conceito a propósito de um jovem branco protestante ( ou católico, ou judeu, ou, ou...), que certamente invocará seus princípios "patrióticos" para fazer o que fez? Não é bem a "língua absolvida" que nos dará a resposta.
No entanto, vivemos cercados de prisões, principalmente na história, - não a que nos contam os vizinhos, mas a que lemos nos jornais e aprendemos nas universidades. Há exemplos recentes até no grande cinema. O filme "Apocalipse Now", de Francis Copola, hoje um clássico, ostenta a justa fama de ser uma reflexão indômita sobre a Guerra do Vietnã: o filme enfatiza o fanatismo reinante num conflito em que o que mais conta é o desvario generalizado. Mesmo os críticos mais progressistas julgaram-no corajoso, sem meias medidas para o morticínio comum a todas as guerras.
Mas Francis Copola, no julgamento que fez da guerra, deixou aos espectadores a idéia de uma loucura coletiva. Em nenhum momento o diretor dá aos invasores americanos o peso da responsabilidade que explicaria a sua loucura. Já do outro lado, o dos vietnamitas, a loucura é um dado resolutamente gratuito: eles não seriam malucos por terem o seu país injustamente invadido e a sua população covardemente massacrada.
Na fita, todos são ensandecidos, o que dilui o juízo sobre as responsabilidades. Ou seja, os americanos enlouqueceram - mas os vietnamitas, quem sabe, não teriam as suas razões de agredidos, por terem também a sua dose de loucura na resposta aos agressores. Mas é assim em quase tudo.
Quando a Inquisição estendeu suas tenazes sobre os hereges, os mouros, os judeus e os "livre-pensadores"pela Europa cristã, parte do mundo emudeceu: que fazer diante de padres dotados de poderes sobre a vida e a morte, inclusive de membros da nobreza? Os assassínios sob as mais torpes torturas, quase 400 anos depois, se contam hoje entre milhares - mas poucos se deram conta das segundas intenções muito bem aceitas pela hierarquia católica: havia riquezas de sobejo a serem seqüestradas. E sempre em nome da fé. Como lembrou o escritor uruguaio Eduardo Galeano, nas perseguições aos espanhóis que viviam na Andaluzia "retomada" pelos cristãos, quase não se contabilizam os pequenos proprietários - mouros ou não - que tiveram suas terras tomadas pelos "Reis Católicos" e seus cruzados, futuros latifundiários que assumiriam as pequenas propriedades, genericamente, dos "infiéis".
Como alerta Galeano, a retomada de Sevilha e Granada, é chamada de "reconquista": depois de quase setecentos anos, eis que os "legítimos herdeiros"(?) das terras invadidas, séculos antes pelos árabes e bérberes, teriam todos os direitos de as retomarem. Os trabalhos de séculos dos pequenos proprietários que as fizeram produtivas e férteis, não lhes valeram para nada perante as armas dos Reis Católicos. Quase não se menciona que na Andaluzia vicejava uma das mais requintadas civilizações, onde muçulmanos, judeus e cristãos viviam em perfeita harmonia, com indiscutível liberdade de culto para todas as religiões. E que foi com a "reconquista" que a Espanha se transformou num dos estados mais intolerantes da história ocidental. No caso, sequer se cogita da "absolvição da língua" para contar a verdade. E assim em tudo mais, inclusive na história contemporânea.
O horror dos horrores seria certamente a possibilidade concreta de que Hitler e suas hordas vencessem a Europa e o resto (entre eles o Brasil, já que também declaramos guerra à Alemanha). Parece não haver dúvida quanto a isso: o morticínio patrocinado pelos nazistas não apenas de judeus, mas de russos ( principalmente desses) além dos ciganos e outras etnias, foram inequívocos atos genocidas. Pouco a contestar. Mas o dirigente inglês da época da Segunda Guerra, Winston Churchill, sem palpos na língua (e ele os tinha muitos, como grande orador que era), prometeu matar quantos alemães pudesse, fossem ou não soldados. Os bombardeios sobre cidades desarmadas, como Leipzig e Dresden, redundaram, assim, em atos puramente vingativos, sem qualquer efeito sobre a guerra em si. O mesmo aconteceria do lado americano. Em quase todos os documentários sobre o desenvolvimento das armas atômicas, os grandes cogumelos coloridos a sobressaírem de Hiroshima e Nagasaki são descritos como "tragédias", e alertam sobre o "terror atômico" -uma lembrança oportuna.
Parece ser, porém, de uma língua literalmente "condenada" ou "trancada" ou antes, "censurada", a omissão sistemática de que quem governava os Estados Unidos era Harry Truman, um presidente ainda hoje respeitadíssimo em seu país. E que sequer interrompeu seu lauto jantar na noite de 5 de agosto de 1945, quando lhe informaram que Hiroshima não existia mais ( 85 mil mortos nas primeiras horas). É o que também se omite sobre a sua responsabilidade direta na operação seguinte, três dias depois, quando uma segunda bomba atômica foi despejada sobre Nagasaki ( 75 mil mortos quase que instantaneamente). Em ambas as circunstâncias, a palavra genocídio talvez ocorresse a qualquer língua absolvida - mas não é o que se propaga no "National Geographic" ou no "History Channel". Ao que fica sobre o assunto, nos dois mais populares programas de documentários de TV espalhados pelos quatro continentes, os cogumelos atômicos nasceram quase que por "geração espontânea" - uma flor de fogo e de morte que não vingou da ignomínia de alguns celerados, mas, quando muito, das conseqüências "trágicas", de um conflito, o qual - isso também não se diz, - estava no fim: o Japão já tinha se rendido, quando as duas bombas foram usadas.
Elias Canetti era judeu. Em sua trilogia autobiográfica a língua "absolvida" cuida-se de exercer o que é a prerrogativa dos homens de bem: ser isento inclusive com suas próprias pequenas mazelas. Há um episódio de sua infância em que conta, candidamente quase, como um empregado da casa de seus pais - um dos poucos aos quais o escritor reserva a palavra bondade para descrevê-lo - conseguiu arrancar um machado de suas mãos: era com ele que o pequeno Elias pretendia rachar a cabeça de uma priminha com a qual tivera uma briga de criança. Entre suas muitas lembranças, chama a atenção suas desavenças com Alma Mahler, viúva do grande Gustav Mahler. Sem se demorar em adjetivos como "egoísmo", "soberba" ou diagnósticos como "ninfomania", Canetti sugere isso e muito mais ao evocar seus anos em Viena na primeira metade do século XX. São poucos os indícios do livro que conduzem ao clima que favoreceu o nascimento do nazismo, à criminalidade na politica, à leniência com a selvageria assassina do anti-semitismo, mas, sobretudo, do racismo indiscriminado. Ficam em seus livros, no entanto, alguns alertas: ao não criminalizar alguns assassínios cometidos pela ultra-direita austríaca e alemã, entre elas os massacres de operários em greve, os governos dos respectivos países, deixaram à solta muitos marginais que se associariam a Adolf Hitler nas suas aventuras de morte, logo em seguida.
Escamotear a história, este o grande crime que Elias Canetti parece denunciar mais que tudo. Da sua decepção com o comunista Bertot Brecht, talvez o maior nome da dramaturgia do século XX (um homem a qual não regateia, apesar de tudo, uma admiração quase à reverência), à falta de sensibilidade de certos intelectuais e políticos, o escritor esforça-se em entender o homem. É de uma língua realmente absolvida que fica o melhor de sua experiência. Sobre o Brasil contemporâneo talvez se preocupasse com a desinformação deliberada da grande imprensa. Não lhe pareceria ser de seu repertório - da grande imprensa - justamente a idéia da "língua absolvida" reivindicada pelo grande escritor, mas continuará sendo dela, da grande imprensa, no fim das contas, a aceitação tácita de que o fanatismo religioso só existe no Oriente Médio, entre os muçulmanos. E que o rapaz que matou as pessoas no Arizona é diferente de qualquer coisa que cheire a fanatismo, uma vez que é cristão, americano, branco e sabe-se lá mais o quê.
Poder-se-ia relembrar, sobre o Brasil, o quanto nossa tolerância talvez nos custe, ao não arrolarmos entre os criminosos comuns, os torturadores da Ditadura que ainda ocupam seus escalões não apenas na hierarquia militar. Lembra-se que a palavra terrorismo ainda mobiliza parte da opinião pública que se esquece de quantos políticos tiveram de se exilar, por outrora serem "subversivos". Ou seja, a terminologia de uma língua travada ainda nos domina como nos anos de chumbo. Tomara não termos de pagar qualquer preço por nossa língua ainda não absolvida em nosso próprio País.
Enio Squeff é artista plástico e jornalista.