Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

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terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

As prisões da língua e a verdade absolvida



Se um americano comete crimes que, no Paquistão, seriam atribuídos a um "fanático religioso" ou a um islâmico "fundamentalista": por que omitir o conceito a propósito de um jovem branco protestante (ou católico, ou judeu, ou, ou...), que certamente invocará seus princípios "patrióticos" para fazer o que fez?
Elias Canetti escreveu um livro chamado "A língua absolvida" - um dos volumes da sua autobiografia - cujo sentido talvez se preste a algumas reflexões, independentemente do que o escritor pretendia com o título. Somos, de fato, prisioneiros da língua: o jovem americano que alvejou várias pessoas nos Estados Unidos, matando alguns por não aceitar que se discutam as leis sobre a imigração, e sobre a saúde, já está preso e não faltará quem o chame de louco - um adjetivo aceitável, mesmo que os psicólogos ou psiquiatras não afiancem o diagnóstico. Fica a desconfiança, porém, que se não fosse americano e provavelmente cristão, mas árabe, paquistanês ou afegão e, sobretudo, muçulmano - não haveria língua suficientemente absolvida que o livrasse do epíteto de "fanático", bem antes que ocorresse a idéia de que fosse simplesmente um maluco. Não absolvemos a língua - todas elas - das peias dos preconceitos que as informam. Se a língua é a nossa pátria, como dizia Fernando Pessoa, fica por conta do patriotismo a escolha da palavra que nos convém, para não dizermos da Mãe Gentil que ela produz monstros. E que os religiosos só são "fanáticos" quando não professam nossas crenças. Ademais e a propósito, como se sabe, as palavras "louco", "psicopata", e "maluco" são sempre bem-vindas para qualquer lado. 

Trata-se de uma prisão sui generis, essa da língua. Não é por a desconhecerem que os americanos impuseram ao mundo o conceito do "politicamente correto": seria, contudo, próprio da "língua absolvida" que distribuíssemos livremente os juízos pelo que nos induzem certos atos. Se um americano comete crimes que, no Paquistão, seriam atribuídos a um "fanático religioso" ou a um islâmico "fundamentalista": por que omitir o conceito a propósito de um jovem branco protestante ( ou católico, ou judeu, ou, ou...), que certamente invocará seus princípios "patrióticos" para fazer o que fez? Não é bem a "língua absolvida" que nos dará a resposta.

No entanto, vivemos cercados de prisões, principalmente na história, - não a que nos contam os vizinhos, mas a que lemos nos jornais e aprendemos nas universidades. Há exemplos recentes até no grande cinema. O filme "Apocalipse Now", de Francis Copola, hoje um clássico, ostenta a justa fama de ser uma reflexão indômita sobre a Guerra do Vietnã: o filme enfatiza o fanatismo reinante num conflito em que o que mais conta é o desvario generalizado. Mesmo os críticos mais progressistas julgaram-no corajoso, sem meias medidas para o morticínio comum a todas as guerras. 

Mas Francis Copola, no julgamento que fez da guerra, deixou aos espectadores a idéia de uma loucura coletiva. Em nenhum momento o diretor dá aos invasores americanos o peso da responsabilidade que explicaria a sua loucura. Já do outro lado, o dos vietnamitas, a loucura é um dado resolutamente gratuito: eles não seriam malucos por terem o seu país injustamente invadido e a sua população covardemente massacrada. 

Na fita, todos são ensandecidos, o que dilui o juízo sobre as responsabilidades. Ou seja, os americanos enlouqueceram - mas os vietnamitas, quem sabe, não teriam as suas razões de agredidos, por terem também a sua dose de loucura na resposta aos agressores. Mas é assim em quase tudo.

Quando a Inquisição estendeu suas tenazes sobre os hereges, os mouros, os judeus e os "livre-pensadores"pela Europa cristã, parte do mundo emudeceu: que fazer diante de padres dotados de poderes sobre a vida e a morte, inclusive de membros da nobreza? Os assassínios sob as mais torpes torturas, quase 400 anos depois, se contam hoje entre milhares - mas poucos se deram conta das segundas intenções muito bem aceitas pela hierarquia católica: havia riquezas de sobejo a serem seqüestradas. E sempre em nome da fé. Como lembrou o escritor uruguaio Eduardo Galeano, nas perseguições aos espanhóis que viviam na Andaluzia "retomada" pelos cristãos, quase não se contabilizam os pequenos proprietários - mouros ou não - que tiveram suas terras tomadas pelos "Reis Católicos" e seus cruzados, futuros latifundiários que assumiriam as pequenas propriedades, genericamente, dos "infiéis".

Como alerta Galeano, a retomada de Sevilha e Granada, é chamada de "reconquista": depois de quase setecentos anos, eis que os "legítimos herdeiros"(?) das terras invadidas, séculos antes pelos árabes e bérberes, teriam todos os direitos de as retomarem. Os trabalhos de séculos dos pequenos proprietários que as fizeram produtivas e férteis, não lhes valeram para nada perante as armas dos Reis Católicos. Quase não se menciona que na Andaluzia vicejava uma das mais requintadas civilizações, onde muçulmanos, judeus e cristãos viviam em perfeita harmonia, com indiscutível liberdade de culto para todas as religiões. E que foi com a "reconquista" que a Espanha se transformou num dos estados mais intolerantes da história ocidental. No caso, sequer se cogita da "absolvição da língua" para contar a verdade. E assim em tudo mais, inclusive na história contemporânea.

O horror dos horrores seria certamente a possibilidade concreta de que Hitler e suas hordas vencessem a Europa e o resto (entre eles o Brasil, já que também declaramos guerra à Alemanha). Parece não haver dúvida quanto a isso: o morticínio patrocinado pelos nazistas não apenas de judeus, mas de russos ( principalmente desses) além dos ciganos e outras etnias, foram inequívocos atos genocidas. Pouco a contestar. Mas o dirigente inglês da época da Segunda Guerra, Winston Churchill, sem palpos na língua (e ele os tinha muitos, como grande orador que era), prometeu matar quantos alemães pudesse, fossem ou não soldados. Os bombardeios sobre cidades desarmadas, como Leipzig e Dresden, redundaram, assim, em atos puramente vingativos, sem qualquer efeito sobre a guerra em si. O mesmo aconteceria do lado americano. Em quase todos os documentários sobre o desenvolvimento das armas atômicas, os grandes cogumelos coloridos a sobressaírem de Hiroshima e Nagasaki são descritos como "tragédias", e alertam sobre o "terror atômico" -uma lembrança oportuna. 

Parece ser, porém, de uma língua literalmente "condenada" ou "trancada" ou antes, "censurada", a omissão sistemática de que quem governava os Estados Unidos era Harry Truman, um presidente ainda hoje respeitadíssimo em seu país. E que sequer interrompeu seu lauto jantar na noite de 5 de agosto de 1945, quando lhe informaram que Hiroshima não existia mais ( 85 mil mortos nas primeiras horas). É o que também se omite sobre a sua responsabilidade direta na operação seguinte, três dias depois, quando uma segunda bomba atômica foi despejada sobre Nagasaki ( 75 mil mortos quase que instantaneamente). Em ambas as circunstâncias, a palavra genocídio talvez ocorresse a qualquer língua absolvida - mas não é o que se propaga no "National Geographic" ou no "History Channel". Ao que fica sobre o assunto, nos dois mais populares programas de documentários de TV espalhados pelos quatro continentes, os cogumelos atômicos nasceram quase que por "geração espontânea" - uma flor de fogo e de morte que não vingou da ignomínia de alguns celerados, mas, quando muito, das conseqüências "trágicas", de um conflito, o qual - isso também não se diz, - estava no fim: o Japão já tinha se rendido, quando as duas bombas foram usadas.

Elias Canetti era judeu. Em sua trilogia autobiográfica a língua "absolvida" cuida-se de exercer o que é a prerrogativa dos homens de bem: ser isento inclusive com suas próprias pequenas mazelas. Há um episódio de sua infância em que conta, candidamente quase, como um empregado da casa de seus pais - um dos poucos aos quais o escritor reserva a palavra bondade para descrevê-lo - conseguiu arrancar um machado de suas mãos: era com ele que o pequeno Elias pretendia rachar a cabeça de uma priminha com a qual tivera uma briga de criança. Entre suas muitas lembranças, chama a atenção suas desavenças com Alma Mahler, viúva do grande Gustav Mahler. Sem se demorar em adjetivos como "egoísmo", "soberba" ou diagnósticos como "ninfomania", Canetti sugere isso e muito mais ao evocar seus anos em Viena na primeira metade do século XX. São poucos os indícios do livro que conduzem ao clima que favoreceu o nascimento do nazismo, à criminalidade na politica, à leniência com a selvageria assassina do anti-semitismo, mas, sobretudo, do racismo indiscriminado. Ficam em seus livros, no entanto, alguns alertas: ao não criminalizar alguns assassínios cometidos pela ultra-direita austríaca e alemã, entre elas os massacres de operários em greve, os governos dos respectivos países, deixaram à solta muitos marginais que se associariam a Adolf Hitler nas suas aventuras de morte, logo em seguida. 

Escamotear a história, este o grande crime que Elias Canetti parece denunciar mais que tudo. Da sua decepção com o comunista Bertot Brecht, talvez o maior nome da dramaturgia do século XX (um homem a qual não regateia, apesar de tudo, uma admiração quase à reverência), à falta de sensibilidade de certos intelectuais e políticos, o escritor esforça-se em entender o homem. É de uma língua realmente absolvida que fica o melhor de sua experiência. Sobre o Brasil contemporâneo talvez se preocupasse com a desinformação deliberada da grande imprensa. Não lhe pareceria ser de seu repertório - da grande imprensa - justamente a idéia da "língua absolvida" reivindicada pelo grande escritor, mas continuará sendo dela, da grande imprensa, no fim das contas, a aceitação tácita de que o fanatismo religioso só existe no Oriente Médio, entre os muçulmanos. E que o rapaz que matou as pessoas no Arizona é diferente de qualquer coisa que cheire a fanatismo, uma vez que é cristão, americano, branco e sabe-se lá mais o quê.

Poder-se-ia relembrar, sobre o Brasil, o quanto nossa tolerância talvez nos custe, ao não arrolarmos entre os criminosos comuns, os torturadores da Ditadura que ainda ocupam seus escalões não apenas na hierarquia militar. Lembra-se que a palavra terrorismo ainda mobiliza parte da opinião pública que se esquece de quantos políticos tiveram de se exilar, por outrora serem "subversivos". Ou seja, a terminologia de uma língua travada ainda nos domina como nos anos de chumbo. Tomara não termos de pagar qualquer preço por nossa língua ainda não absolvida em nosso próprio País.

Enio Squeff é artista plástico e jornalista.

O fator Fraternidade Muçulmana


A Fraternidade Muçulmana gera medo pânico em todo o ocidente, porque o governo de Mubarak sempre apresentou os “irmãos” como se fossem idênticos à al-Qaeda. Não há sandice maior. A organização opõe-se completamente a qualquer tipo de violência contra civis – o que a põe em campo absolutamente oposto à al-Qaeda. Uma Fraternidade Muçulmana que refute a violência e seja ativa nas políticas civis no Egito pode ser o melhor antídoto contra os fanáticos à moda al-Qaeda. Por outro lado, não parece haver dúvidas de que – com a Fraternidade Muçulmana participando do governo do Egito – o tratado de paz com Israel será renegociado. O artigo é de Pepe Escobar.
Um milhão em marcha pelas ruas do Cairo nessa 3ª-feira, outro milhão em marcha rumo ao palácio presidencial em Heliópolis na próxima “6ª-feira da Partida”. O principal graffiti – escrito também nos tanque Abrams cor caqui, fabricados nos EUA – ainda é “queremos derrubar o sistema”. O exército parece ter escolhido lado, afirmando sempre que “não recorreremos ao uso da força contra nosso grande povo egípcio”. 

Com o preço do barril de óleo ultrapassando a barreira dos US$100 pela primeira vez desde setembro de 2008; o medo cada vez maior de que se interrompa o fluxo de petroleiros pelo Canal de Suez; bancos, escolas e a Bolsa de Valores fechados; comitês populares encarregados da segurança da cidade; policiais queimando os próprios uniformes e unindo-se aos manifestantes; e piquetes de ativistas, manifestantes e blogueiros escrevendo furiosamente em bancadas e bancadas de laptops para distribuir notícias ao mundo (antes de o governo do presidente Hosni Mubarak ter “valentemente” derrubado o último provedor de serviços de internet que ainda funcionava), a revolução egípcia parece aproximar-se do último tempo do jogo. 

A estratégia do Faraó e de seu “sucessor” Omar (o “torturador suave”) Suleiman é usar o exército para intimidar, e depois demonstrar que a rua só conseguirá tingir de sangue o Nilo. Não me parece provável. Mas, sim, essa ditadura militar cruel fará qualquer coisa para manter-se agarrada ao poder. 

Como a rua multiforme do Egito vê a questão, não se trata hoje, como o Wall Street Journal escreve pitorescamente, de “é possível que a fase atual se revele momento feliz para Washington”. As massas da Praça Tahrir (Praça Libertação) que protestam com seus corpos e a própria vida, não poderiam estar menos preocupadas com os EUA – como tampouco estão preocupadas com o tráfego de superpetroleiros para abastecer o ocidente ou com a segurança de Israel. Aqui se trata de Egito, não de EUA. 

No domingo, o presidente dos EUA Barack Obama falou frouxamente de uma “reforma no governo do Egito” – contra a multidão que grita “abaixo o ditador”. Al-Jazeera teve de escrever editorial para lembrar as pessoas de que, por definição, a palavra “reforma” que Obama usara não significa nem jamais significará manter lá o mesmo regime corrupto e repressivo, passado só por rápido banho de loja. 

A situação aqui é de revolução clássica; os poucos que permanecem no topo do governo já não conseguem, como antes, impor sua vontade; os muitos que sempre viveram por baixo recusam-se a continuar dominados como antes. Infinitamente intrigadas, confusas, Washington e capitais européias podem, no máximo, como vocalistas minimalistas, fazer corinho para o som e a fúria que vêm das ruas. As ruas querem vida política e institucional confiável e querem conseguir viver com decência em ambiente menos corrompido. E isso já de provou impossível sob as velhas imutáveis regras do jogo – o sistema do “nosso” ditador apoiado pelo ocidente industrializado. 

Entre outras tolas teorias de conspiração, de que a revolução egípcia seria financiada pelo lobby judeu, pela CIA-EUA, pelo financista George Soros ou por todos os supracitados, a rua egípcia prossegue como se essas entidades sequer existissem, sem querer saber se o Faraó decidirá a favor ou contra “conduzir uma transição ordeira”. A rua só sossegará com passagem só de ida para Mubarak, para talvez abraçar seus amigos da Casa de Saud. Especialmente agora que a rua já viu que, com Suleiman, Mubarak tenta fazer-se de Xá do Irã em 1978 – quando nomeou Shapour Bakhtiar primeiro-ministro (e não funcionou). 

Pergunte à Esfinge 

O complexo caminho à frente aponta para uma aliança civil no Egito, de todos os setores que se opõem ao regime (praticamente todos os habitantes do país) e o componente inevitável, o exército. Enquanto isso, setores do establishment em Washington e a mídia-empresa nos EUA não param de repetir freneticamente que não há condições objetivas para que os radicais islâmicos cheguem ao poder. Bobagens e só bobagens. 

Washington parece estar a um passo de dar luz verde para Mohamed ElBaradei – apoiado pela Fraternidade Muçulmana, esse, sim, fator crucial. Pois nem a Esfinge de Gizé é capaz de adivinhar se tudo isso bastará para satisfazer a rua. 

ElBaradei é elemento de fora, e confiável. Permaneceu fora do país durante os anos mais duros do governo do Faraó. Não é arrivista e defendeu estoicamente suas posições a favor do Irã e contra o governo de George W Bush, na presidência da Agência Internacional de Energia Atômica. ElBaradei, que recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 2005, pode, sim, emergir como uma “ponte”, até que se organizem eleições livres e justas, nova Constituição e nova ordem no Egito. 

Mas nada sugere que ElBaradei venha a implantar política econômica muito diferente da que pregam o Fundo Monetário Internacional/Banco Mundial, a conversa fiada do “ajuste estrutural”, com privatizações as mais ensandecidas, temperadas com o vago mantra de Davos, “a boa governança”. Se a coisa tomar esse rumo, o mais provável é que a rua de enfureça de verdade – outra vez. 

Por enquanto, não há qualquer sinal de que o Egito venha a seguir o caminho do Irã em 1979. No Irã, a esquerda secular encarregou-se do governo pós-revolucionário; no Egito, a esquerda foi dizimada pela repressão. O Irã só se tornou república islâmica meses depois da revolução, depois de um referendo nacional (se houver referendo no Egito, as massas egípcias votarão por república secular). O cenário mais provável e mais positivo é que, para 2012, o Egito aproxime-se mais, em termos políticos, da Turquia. 

Com o quê chegamos à questão mais quente e mais distante de qualquer resposta, que pode incinerar todas as demais questões quentes: qual será o papel pós-revolucionário da Fraternidade Muçulmana [ing. Muslim Brotherhood (MB); em português, também Irmandade Muçulmana]? 

Resgatar os irmãos[1] 

A Fraternidade Muçulmana gera medo pânico em todo o ocidente, porque o governo de Mubarak sempre apresentou os “irmãos” como se fossem idênticos à al-Qaeda. Não há sandice maior. 

A Fraternidade Muçulmana foi fundada por Hasan al-Banna no porto de Ismailia em 1928 – depois se transferiu para o Cairo. A preocupação inicial foi oferecer serviços sociais, construir mesquitas, escolas e hospitais. Ao longo das últimas décadas, a Fraternidade Muçulmana tornou-se a mais importante força política fundamentalista do mundo sunita. É também o maior partido dissidente do Egito, ocupando 88 dos 454 assentos na Câmara baixa do Parlamento. 

A Fraternidade Muçulmana não prega nem apoia a violência – embora tenha-o feito no passado, até os anos 1970s. A aura de violência está relacionada ao legendário Sayyid Qutb, que muitos consideram o pai espiritual da al-Qaeda. Qutb, crítico de literatura que estudou nos EUA, ligou-se à Fraternidade Muçulmana em 1951 e separou-se dela anos depois. 

As ideias de Qutb eram radicalmente diferentes das de al-Banna – sobretudo seu conceito de “vanguarda”, mais próximo das ideias de Lênin que do Corão. Para ele, a democracia parlamentar seria “um fracasso” no mundo islâmico (ao contrário do que pensa a maioria dos egípcios hoje, que lutam por democracia; além disso, a Fraternidade Muçulmana hoje é participante ativa da sociedade civil e política.) Qutb não é sequer considerado pensador islâmico moderno influente; o Islã político hegemônico hoje, personificado na autoridade do imã de al-Azhar no Cairo, refutou impiedosamente o pensamento de Qutb. 

Ao contrário do que diz a propaganda dos neoconservadores dos EUA, a Fraternidade Muçulmana nada tem a ver com os movimentos fascistas dos anos 1930s na Europa, nem com os partidos socialistas (são, de fato, defensores da propriedade privada). Trata-se, sobretudo, de movimento nativista urbano, da classe média baixa, como o define o professor Juan Cole da Universidade de Michigan. Mesmo antes da revolução, a Fraternidade Muçulmana já pregava a derrubada do governo Mubarak, mas por vias políticas pacíficas. 

A Fraternidade Muçulmana no Iraque, fundada nos anos 1930s em Mosul, é hoje o Partido Iraquiano Islâmico, ator político importante que sempre dialogou com Washington. E no Afeganistão, o Partido Jamiat-I Islami nasceu por inspiração da Fraternidade Muçulmana. 

A Fraternidade Muçulmana, é claro, não rejeita nem a tecnologia nem a inovação tecnológica. 

Pode ser vista praticamente por todos os cantos nas ruas da revolução egípcia, mas sempre em atitude cuidadosa e discreta, para evitar o efeito de mostrar-se “na cara deles”. Segundo o porta-voz Gamel Nasser, a Fraternidade Muçulmana vê-se como um setor, dentre vários outros, da revolução egípcia. E a revolução tem a ver com o futuro do Egito – não do Islã. 

Há quem argumente mais uma vez que isso foi o que os mulás disseram em Teerã em 1978/1979. O xá foi deposto, de fato, por virtualmente todos os setores da sociedade, inclusive o Partido Comunista. Depois os teocratas assumiram o controle – com violência. Se se considera a tradição de três décadas, nada autoriza a supor que a Fraternidade Muçulmana possa tentar movimento semelhante àquele. 

É difícil para que viva longe daqui imaginar a brutalidade da máquina de repressão policial/de Estado do governo de Mubarak. O sistema depende de 1,5 milhão de policiais – quatro vezes o número de soldados do exército. Os salários desses policiais são pagos, em grande parte, com o 1,3 bilhão de dólares da “ajuda” que Mubarak recebe dos EUA, e a máquina é usada com extrema brutalidade contra operários e praticamente toda a qualquer organização progressista. 

Esse estado de coisas já existia bem antes de Mubarak. A história terá de interrogar diretamente o fantasma do ex-presidente Anwar Sadat. Sadat construiu uma trifeta, para fazer funcionar suas políticas de intifah: o FMI ajudou-o a construir uma economia exportadora rudimentar; Sadat manipulou a religião, para obter fundos da Arábia Saudita para atacar a Fraternidade Muçulmana; e recebeu bilhões dos EUA para negociar acordos com Israel. A principal consequência inevitável disso tudo foi um estado policial tamanho mamute, dedicado, dentre outras ações repressivas, a destruir totalmente os sindicatos e todas as organizações de trabalhadores. 

Eis o antídoto contra al-Qaeda 

Embora tenha sido violentamente combatida durante as décadas dos governos Sadat/Mubarak, a Fraternidade Muçulmana conseguiu, pelo menos, uma estrutura. Em eleições livres e justas, não há quem duvide que a Fraternidade Muçulmana receberia, no mínimo, 30% dos votos. 

A mídia-empresa global só fez, até agora, visitar a sede da Fraternidade Muçulmana no Cairo, em El Malek El Saleh. O novo presidente da Fraternidade Muçulmana, Mohammed Badie, é homem que se preocupa menos com a arena política e mais com a arena social. Quanto à possibilidade de o Egito vir a transformar-se em Estado islâmico, Badie insiste que, se acontecer, será “pelo desejo do povo”. 

Diferente de Badie, Sherif Abul Magd, engenheiro e professor da Universidade Helwan, e presidente da Fraternidade Muçulmana em Gizé, falou mais, mais eloquentemente, ao jornal italiano La Stampa. Tomou o cuidado de repetir que os manifestantes não devem antagonizar os militares. E enfatizou: “Nosso povo já controla as ruas.” 

De importante, delineou a estratégia da Fraternidade Muçulmana para o estágio seguinte: além de um primeiro-ministro interino, deve haver cinco juízes nomeados para constituir uma comissão presidencial encarregada de revisar a Constituição e, isso feito, convocar eleições para o Parlamento e a Presidência. 

Magd foi claro: “Não há conflito entre Estado islâmico e democracia – mas a decisão é direito do povo”. Washington sabe disso, mas muito a assusta a ideia de que, qualquer que seja a democracia ou o governo, islâmico ou não, no Egito, a Fraternidade Muçulmana não acredita no velho famoso cadáver político conhecido como “processo de paz Israel-palestinos”. Para a Fraternidade Muçulmana, “não há paz possível sem acordo com o Hamás”. 

E sobre a al-Qaeda: “A al-Qaeda, hoje, é invenção da CIA para justificar a guerra ao terror”. Em termos estratégicos, a Fraternidade Muçulmana percebeu que seria contraproducente expor-se agora. Mais adiante, a história será outra.

A rua árabe sabe – e em larga medida aprova – que a Fraternidade Muçulmana sempre se opôs aos acordos de Camp David de 1978; e que não reconhece Israel.

Outro ponto crucial é que a Fraternidade Muçulmana opõe-se absoluta e completamente a qualquer tipo de violência contra civis – o que a põe em campo absolutamente oposto à al-Qaeda. Uma Fraternidade Muçulmana que refute a violência e seja ativa nas políticas civis no Egito de modo algum assustará o ocidente. E, partido político estabelecido do Islã político, a Fraternidade Muçulmana pode ser o melhor antídoto contra os fanáticos à moda al-Qaeda. 

Ao contrário do que cantam as sereias alarmistas da direita, não há nenhum tipo de “fervor islâmico” crescendo no Oriente Médio. A verdade é exatamente o contrário – o que se vê no momento é muita torpeza moral e, para piorar, do lado errado da história. 

A posição de Israel é autoexplicativa – do Jerusalem Post descrevendo a revolução egípcia como “o pior desastre desde a revolução iraniana”, a um colunista do Ha'aretz que protesta contra Obama, que teria “traído um presidente egípcio moderado que sempre foi leal aos EUA e promoveu a estabilidade e a moderação”. 

Quanto ao presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, telefonou a Mubarak para manifestar sua solidariedade e dizer o quanto lamentava a confusão; em seguida mandou seus próprios policiais atacarem palestinos que se reuniam em manifestação de apoio à democracia no Egito. 

Não parece haver dúvidas de que – com a Fraternidade Muçulmana participando do governo do Egito – governo egípcio independente e soberano – o tratado de paz entre Egito e Israel será renegociado. A Fraternidade Muçulmana favorece a solução de decidir por referendo. Com o que, afinal, chegamos ao coração da questão.

Depois da revolução egípcia, os interesses de EUA e Israel deixam de convergir – e não poderão ser apresentados como convergentes nem com algum artifício de ilusão de ótica. 

Mas a revolução egípcia não é revolução anti-EUA: é revolução contra um regime que os EUA apoiam. Um novo governo no Egito, governo legítimo, soberano, pós-Mubarak, não poderá apresentar-se ao mundo e aos egípcios como estado-fantoche, como governo-fantoche, de Washington – com todas as implicações regionais que daí se inferem. Esse é problema maior do que as capacidades da Fraternidade Muçulmana. Aí se ouvem ecos do coração milenar do mundo árabe, à beira, parece, de uma dramática modificação sísmica. 

[1] Orig. Brothers to the Rescue (esp. Hermanos al Rescate) é organização de exilados cubanos anti-Castro, com sede em Miami, fundada em 1991. Descreve-se como ONG de finalidades humanitárias, que ajuda cubanos que queiram deixar a ilha (de http://en.wikipedia.org/wiki/Brothers_to_the_Rescue) [NTs].

Tradução: Vila Vudu

Tragédia no Cairo

Huffingtonpost: Mubarak, pede pra sair !


E não me venham com a desculpa de fundamentalismo islâmico

Vá ao site Huffingtonpost e veja uma seleção de fotos espetacular.

O título é esse mesmo: Mubarak, se manda !

Leia aqui também.

aqui para ver que o Rei da Jordânia, outro Porto Rico do Oriente Médio, demitiu o Ministério todo.

O PiG (*) brasileiro e internacional está em dúvida: ainda não sabe o que o Obama quer.

O Obama também não sabe – esse é o problema.

Clique aqui para ler “Bem que poderia ser a Arábia Saudita, depois do Egito”.


Paulo Henrique Amorim


(*) Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista.

1 MILHÃO NAS RUAS DO CAIRO, CONTRA A DITADURA




Trincas no Exército, que já registra deserções e confraternização entre soldados e manifestantes,  dificultam transição sem mudança, ensaiada por Mubarak. Regime resiste, mas espaço para reverter avanço das ruas se estreitou nas últimas horas. Hoje, oposição promete levar 1 milhão às ruas do Cairo. 

 INTERESSE DOS ACIONISTAS E O DO BRASIL
 
A diretoria da mineradora Vale do Rio Doce, presidida pelo tucano Roger Agnelli, aprovou uma proposta de remuneração mínima aos acionistas -entre eles, alguns fundos de pensão do setor público--  de US$ 4 bilhões para 2011. Segundo a notificação ao mercado, a 'remuneração mínima' de US$ 4 bilhões representa aumento de 60% em relação ao retorno ‘mínimo' anunciado em 2010. O Brasil exportou em 2010 cerca de US$ 28 bi em minérios. A Vale foi responsável por  US$ 24,04 bi desse total, a um preço médio entre US$ 92,98 e US$ 100 a tonelada. O mesmo Brasil que drena seu minério para a China a US$ 90/100 a tonelada vai importar , em boa parte da própria China, 244,6 mil toneladas de trilhos, ao preço médio de US$ 864/t - entre oito e noves vezes o valor do minério bruto embarcado. A montagem de uma fábrica de trilhos requer  investimentos da ordem de US$ 1,5 bilhão. A ‘remuneração mínima' aos acionistas da Vale  prevista  para este ano permitiria erguer uma fábrica de trilhos no país e ainda distribuir US$ 2,5 bi ao mercado. Por que isso não ocorre? Porque o marco regulatório do setor autoriza a espoliação das riquezas nacionais sem contrapartida ao desenvolvimento.  Um novo projeto regulatório deve ser aprovado no governo Dilma. A ver.

(Carta Maior, 3º feira, 01/02/2011)

Dilma desafia direita e veste “saia justa”


Blog Cidadania-Eduardo Guimarães
Saiba, em três atos, como a presidenta Dilma, que cada vez mais vai se mostrando avessa à política discursiva, parece que irá recorrer à política gestual, de maneira a efetivamente exercer a liderança política inerente ao cargo ao qual foi guindada por sólida maioria dos eleitores brasileiros.
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1º ATO
FOLHA DE SÃO PAULO, 25 de janeiro de 2011
ELIANE CANTANHÊDE  ( a entendida em caças para FAB- grifo o apedeuta)
Lenço justo, saia justíssima
BRASÍLIA – Ao desembarcar em Buenos Aires no dia 31 para sua primeira visita internacional depois de eleita, Dilma Rousseff vai enfrentar a maior saia justa -ou melhor, o maior lenço justo.
A Argentina revogou a anistia para permitir que os torturadores da ditadura fossem julgados e punidos. Aqui, diferentemente, o Supremo acaba de ratificar, digamos assim, a Lei da Anistia de 1979.
E se Dilma for chamada a meter na cabeça um daqueles lenços das Mães da Praça de Maio, que desde os anos 1970 cobram justiça e informações sobre o paradeiros de seus filhos e netos? Que interpretação isso terá em Brasília e arredores?
Como mulher, democrata e ex-guerrilheira torturada na juventude, Dilma não pode recusar o lenço, denso de simbologia. Mas, no Brasil, não há consenso para a revisão da Lei da Anistia e a questão não está em pauta neste início de governo, quando Dilma tem outras prioridades. Inclusive não criar turbulências políticas.
O mais provável é um acordão bem costurado entre o Planalto, a Casa Rosada e as duas chancelarias para que Dilma passe ao largo do lenço e do constrangimento. Combinar com “as adversárias” vai ser fácil, porque as Mães da Praça de Maio, líderes da justiça e da luta pelos direitos humanos, foram cooptadas pelo casal Kirchner. Se antes se reuniam na praça, agora tomam chá dentro da Casa Rosada e fazem oposição à oposição.
Mais ou menos como ocorreu no Brasil, onde MST, CUT, UNE e os chamados “movimentos sociais” se recolheram no governo Lula, negligenciando como força de pressão e de cobrança para dizer “amém”.
Ao meter o boné do MST na cabeça, Lula provocou uma discussão infindável -e estéril- no seu primeiro ano de governo. Ao pisar na Argentina, Dilma terá de saber se quer ou não usar o lenço branco e que tipo de consequência pretende provocar internamente.
É bem mais do que só saia justa.
2º ATO
CARTA CAPITAL, 28 de janeiro de 2011
MINO CARTA
O fantasma fardado e outras histórias
A presidenta Dilma Rousseff parte dia 31 para uma visita a Buenos Aires e está previsto seu encontro com as “mães da Plaza de Mayo”, as valentes cidadãs argentinas cujos filhos foram assassinados ou desapareceram durante a ditadura. Hoje elas frequentam a Casa Rosada, recebidas pela presidenta Cristina Kirchner, em um país que puniu os algozes, a começar pelos generais ditadores.
Há quem diga e até escreva que Dilma se expõe ao risco de uma “saia-justa” (não aprecio a enésima frase feita frequentada pelos nossos perdigueiros da informação, mas a leio e reproduzo) ao encontrar as mães da praça. Quem fala, ou escreve, talvez funcione como porta-voz de ambientes fardados. Ocorre, porém, que a reunião foi solicitada pela própria presidenta do Brasil, e ela sabe o que faz.
No discurso de posse, Dilma mostrou-se orgulhosa do seu passado de guerrilheira e homenageou os companheiros mortos na luta. Conta com o aplauso de CartaCapital. Foi o primeiro sinal de um propósito claro do novo governo: aprofundar o debate em torno das gravíssimas ofensas aos Direitos Humanos cometidas ao longo dos nossos anos de chumbo. O encontro de Buenos Aires confirma e sublinha a linha definida pela presidenta, a bem da memória do País.
Cada terra tem suas características, peculiaridades, tradições. O Brasil não é a Argentina. Ambos foram colônias. Nós padecemos, contudo, três séculos de escravidão. A independência não veio com a rebelião contra a metrópole e sim graças aos humores contingentes de um jovem príncipe brigado com a família. A república foi proclamada pelos generais. A resistência e a luta armada na Argentina tiveram uma participação bem maior do que se deu no Brasil, e nem por isso o terror de Estado deixou de ser menos feroz aqui do que no Prata.
Já li mais de uma vez comparações entre o número de mortos e de desaparecidos brasileiros e argentinos, de sorte a justificar que a nossa foi ditabranda. Bastaria um único assassinado. A violência, de todo modo, foi a mesma, sem contar que os nossos torturadores deram aulas aos colegas de todo o Cone Sul, habilitados por sua extraordinária competência. Se a repressão verde-oliva numericamente matou, seviciou e perseguiu menos que a argentina foi porque entendeu poder parar por aí.
Fernando Henrique Cardoso disse na terça-feira 25 ao Estadão ser favorável à abertura dos arquivos da ditadura. Surpresa. Foi ele, antes de deixar a Presidência, quem referendou a proposta do general Alberto Cardoso, que comandava seu gabinete da Segurança Institucional, de manter indevassável a rica documentação por 50 anos. No elegante português que o distingue, FHC agora declara: “Aquilo ocorreu no meu último dia de governo e alguém colocou um papel para eu assinar lá”. Deu para entender que alguém pretendia enganá-lo e que o presidente assinava sem ler. Resta o fato de que, ao chegar ao poder, o príncipe dos sociólogos recomendou: “Esqueçam o que eu disse”. Dilma teve um comportamento de outra dignidade. E não há como duvidar que saberá dar os passos certos na realização da Comissão da Verdade.
Certos significa também cautelosos, sempre que necessário. E sem o receio da “saia-justa”. Adequados a tradições que, infelizmente, ainda nos perseguem. Colonização predatória, escravidão etc. etc. As desgraças do Brasil. E mais, daninha além da conta, o golpe de 64 a provar no País a presença insuportável de um exército de ocupação, pronto a executar os planos dos Estados Unidos com a inestimável colaboração da CIA e a servir às conveniências dos titulares do privilégio e seus aspirantes. Os marchadores com Deus e pela liberdade. Que Deus e que liberdade é simples esclarecer.
O fantasma brasileiro é fardado e não há cidadão graúdo que não o tema, e também muitos miúdos. Todas as desculpas valem, na hora em que se presume seu iminente comparecimento, para, de antemão, cancelar o debate ou descartar as soluções destinadas a provocá-lo. Nada disso é digno de um país em ascensão e de democracia conquistada. Carta-Capital acredita que a presidenta saberá exorcizar o fantasma sem precipitar conflitos. Saias-justas, se quiserem.
3º ATO
PORTAL TERRA, 31 de janeiro de 2011
LARYSSA BORGES
Direto de Buenos Aires
Dilma: Avós da Praça de Maio identificam em mim o que perderam
A presidente Dilma Rousseff afirmou nesta segunda-feira que as Mães e Avós da Praça de Maio, mulheres que cobram o paradeiro dos desaparecidos políticos na ditadura argentina (1976-1983), identificaram nela uma maneira de se lembrarem dos filhos desaparecidos durante os anos de chumbo no país portenho.
Dilma, que em visita de trabalho a Buenos Aires recebeu 23 mulheres que compõem a organização, foi presenteada com dois protótipos de casas populares, similares a trailers, para poder estudar uma eventual aplicação daquele modelo de moradia popular no Brasil.
“Elas fizeram uma manifestação de imenso carinho por mim. De uma certa forma identificando em mim o que elas perderam ao longo dos anos”, disse a presidente na Base Aérea de Buenos Aires, ao deixar o país. Dilma foi uma sobrevivente da tortura durante a ditadura militar brasileira (1964-1985). A mães e avós da Praça de Maio buscam localizar corpos e desaparecidos da ditadura argentina (1976-1983)
“Elas me explicaram que têm uma fundação, a Fundação das Mães da Praça de Maio, e me deram duas casas de um material desenvolvido por uma tecnologia que elas falaram que é delas, misturada com uma tecnologia italiana, de forma que você faz uma casa em muito pouco tempo. Elas me disseram que é bem barato. Se eu me interessar elas me dão o preço”, disse a presidente a respeito do projeto habitacional das mães e avós.
É muito interessante porque é uma casa reta e tem todos os elementos, cozinha, banheiro e quarto. Uma delas disse que o sorriso de uma criança é algo que para ela é impagável e por isso elas passaram a trabalhar na questão da fundação”, afirmou ainda, sobre os protótipos.
Além de manter viva a memória dos desaparecidos políticos, as Mães e Avós da Praça de Maio conseguiram, através de cruzamento de informações e exames de DNA, localizar 102 homens e mulheres arrancados dos pais militantes durante a ditadura.

FHC é o Silvio Santos dos tucanos

Quem quer dinheiro ?
Saiu no blog Amigos do Presidente Lula:

Fernando Henrique vai animar plateia

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso conduzirá o programa do PSDB em cadeia nacional de TV, que irá ao ar na próxima quinta-feira, dentro de uma arena, de onde responderá perguntas feitas por uma plateia, num estilo “programa de auditório”. Depois de ter sido “escondido” na campanha eleitoral para a Presidência da República, FHC foi tratado no filme como a principal estrela do partido pela direção tucana. Nem José Serra, candidato derrotado à Presidência, nem o senador mineiro Aécio Neves falarão no filme.

O programa, gravado neste final de semana numa produtora de São Paulo, tornou-se mais um capítulo do embate interno no PSDB, num momento em que alas do partido disputam o controle da legenda. Os tucanos tiveram dificuldade de chegar a um consenso em torno do tom das críticas do programa em relação ao governo federal e chegaram a discutir o adiamento do filme.

Serra defendia um programa mais crítico à gestão Dilma Rousseff – o tucano tem batido na gestão petista, principalmente pela internet – e que não houvesse depoimentos de lideranças tucanas. Mas venceu a tese dos marqueteiros do partido de propagar o legado da era FHC e fazer um balanço eleitoral de como a legenda se saiu nos Estados depois da campanha de 2010.

O programa foi basicamente feito pelo ex-coordenador de comunicação da campanha de Serra, o jornalista (da Folha) Marcio Aith, que agora trabalha com o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. Assessorou a produção o marqueteiro Eduardo Guedes, que faz esse tipo de comerciais para o PSDB há cerca de três anos – ele esteve envolvido no escândalo do mensalão mineiro.

Aparecem ainda no programa Alckmin, representando os governadores tucanos, e o presidente nacional do partido, Sérgio Guerra. Os líderes na Câmara, Duarte Nogueira (SP), e no Senado, Álvaro Dias (PR), gravaram participação. Durante asgravações, FHC comentou temas variados, citando, inclusive, o compositor e cantor Chico Buarque.Estado

Veja, Globo e cia. temem a revolução do Egito?

Altamiro Borges:
O blogueiro Francisco Bicudo chamou a atenção para um fato curioso nas capas das revistonas desta semana. Nenhuma delas deu manchete para as explosões populares que abalam as ditaduras pró-EUA no mundo árabe. “Quem aguardava análises e relatos de fôlego sobre Tunísia, Egito e afins deu com os burros n'água”.

Por Altamiro Borges
A Veja, que mais se parece como uma sucursal rastaqUera do império, deu na capa o “bom-mocismo” de Luciano Huck e Angélica. É certo que o ator global foi um dos principais cabos eleitorais do demotucano José Serra e que vem sofrendo inúmeras críticas na sociedade – por crimes ambientais e outros. Mas é evidente que este assunto, tipicamente plantado, não tem maior relevância do que a explosão social no Egito.

Já a revista Época, da Editora Globo — que mantém fortes ligações com os EUA desde o sinistro acordo com a Time-Life —, trouxe na capa outro tema momentoso: “O guia essencial dos imóveis”. E a IstoÉ destacou “O novo astro da fé”, sobre o ex-lavrador que comanda a igreja evangélica que mais cresce no país. Apenas a revista CartaCapital, única que faz um jornalismo mais crítico, trouxe na manchete "A convulsão árabe".

As suspeitas razões editoriais

O que explica a opção editorial destas três revistonas? Não dá para dizer que foi falta de tempo para um trabalho jornalístico mais acurado. Afinal, as explosões de revolta nesta região estratégica já ocorrem há duas semanas – tendo resultado na derrubada do presidente da Tunísia e em mega-protestos no Egito.

Não dá para afirmar, também, que o assunto tem pouca relevância. O fim destas ditaduras, fantoches dos EUA e de Israel, pode alterar radicalmente a geopolítica mundial. O possível declínio da hegemonia ianque fortaleceria movimentos de independência nacional e de integração regional. Numa região rica em petróleo e conflagrada, a conquista da democracia resultaria em governos menos submissos aos EUA.

Defesa das ditaduras "pró-ocidente"

O que explica, então, esta comida de bola editorial? No caso da revista Veja, ela não vacila em confessar sua opção. Em matéria nas páginas internas, alerta para o perigo da vitória dos “grupos radicais islâmicos”, num discurso típico do Departamento de Estado dos EUA. Teme o fortalecimento do “eixo do mal”. Na prática, a famiglia Civita prefere as ditaduras árabes “pró-ocidente”, do que as revoltas populares por democracia.

No que se refere às outras duas revistas, as razões não foram explicitadas. Há episódios, no entanto, que devem causar calafrios em toda a mídia hegemônica. Na Tunísia, um dos primeiros alvos dos manifestantes foi o prédio da maior emissora privada de televisão do país, que sempre fez o jogo sujo da ditadura local.

Em toda esta onda de protestos no mundo árabe, as redes sociais superaram a velha mídia na mobilização da sociedade. A “revolução do jasmim” na Tunísia já foi apelidada, erroneamente, de revolução da internet. No Egito, o ditador Mubarak ainda tenta se safar censurando a internet e os celulares. Estes e outros fatores talvez expliquem porque as revistonas preferiram minimizar a explosão popular na região.