eduguim
Mais um que resolveu tirar uma lasquinha do pobre blogueiro por ter
divulgado que recebeu informação de que Lula poderia ser preso por estes
dias, aproveitando o momento desfavorável para o PT por conta das
últimas eleições e no embalo dos indiciamentos sequenciais do
ex-presidente na Justiça.
Merval Pereira é um velho conhecido dos blogueiros de esquerda. Em
2014, por exemplo, em programa na rádio CBN, ao lado de Carlos Alberto
Sardemberg,
acusou blogueiros que entrevistaram Lula de ser “pagos pelo governo” para dizer o que dizem.
Os blogueiros atingidos cogitaram processar Merval em grupo pela
calúnia, mas não chegaram a um acordo sobre os custos da ação e acabou
ficando tudo por isso mesmo.
Poucos dias depois, o jornal O Globo publica uma incrível matéria
sobre quem eram os jornalistas que haviam entrevistado Lula. Publicou
matéria de página inteira no primeiro caderno do jornal e uma matéria
ainda mais ampla em um encarte especial (vide foto no alto da página).
E o tom que seria impresso à matéria se revelava na pergunta da
repórter do Globo que me entrevistou: quis saber se eu não achava que os
blogueiros haviam sido muito brandos com Lula e se não deveriam ter
sido mais imparciais fazendo perguntas incômodas a ele, o que já é uma
contradição porque fustigar um entrevistado é uma decisão pra lá de
parcial.
Nesta quarta-feira 19, Merval volta à carga, agora contra este
blogueiro. O que mais me chamou atenção na matéria foi ataque do
colunista ao direito de defesa de Lula – ele diz que o ex-presidente se
defender e criticar os processos contra si é tentativa de “desacreditar a
Justiça”.
Claro
que Lula poderia ser mais colaborativo com os anseios políticos do
colunista “imparcial” de O Globo. Não precisava ficar se defendendo com
tanto empenho. Afinal, a Globo quer a prisão do Lula, o PSDB quer, a
Fiesp quer, de modo que é “absurdo” Lula ficar lutando para não perder a
liberdade e morrer na cadeia, pois está com quase 70 anos.
O mais engraçado, porém, é o ataque que Merval me faz. Como evidência
de que dei “notícia falsa”, ele cita que tive 1300 votos na eleição
deste ano. Ou seja, se eu tivesse tido uma votação 10 vezes maior, por
exemplo, na avaliação do colunista estaria comprovada a minha “notícia”.
Desde o primeiro momento eu disse que não tinha como comprovar o que
estava dizendo, mas que acreditei em uma notícia que ouvi de uma fonte
confiável. Pareceu-me lícito acreditar que havia a possibilidade de
Lula ser preso sob alguma desculpa em um país em que um juiz de primeira
instância grampeia a presidente da República e depois pede desculpas ao
STF.
Cada um pode julgar o que quiser sobre a informação que divulguei. É
uma questão de fé ou falta de fé. A pessoa acredita se quiser. Como
todos sabem, oito meses atrás eu acertei. Agora, não se sabe. Posso ter
errado ou pode ser que minha denúncia tenha atrapalhado os planos da
Lava Jato de prender Lula de surpresa sob uma desculpa qualquer e criar
um fato consumado.
Dizem que não há elementos para prender Lula. Eu concordo. Ele tem
bons antecedentes, residência fixa etc. Porém, estamos em um país em que
há dúzias de pessoas cumprindo pena de prisão há muito tempo sem que
sequer tenham sido julgadas.
É nesse país que vou duvidar de que podem inventar uma desculpa para prender Lula?
Por fim, Merval Pereira mostrou, mais uma vez, a má qualidade do seu jornalismo. No
post anterior,
reproduzi comentário da jornalista Monica Bergamo na Band News no qual
ela contextualiza a razão pela qual o mordomo de tucanos comentou meu
trabalho – Monica lembra que como acertei em fevereiro/março sobre a
condução coercitiva do Lula, isso me deu credibilidade para fazer as
pessoas coçarem a cabeça desta vez.
Merval não achou importante informar aos seus leitores que quem ele
desmerecia tinha um histórico de acertos. Preferiu dizer que não merecia
a credibilidade que conquistei porque só tive 1300 votos na eleição
deste ano.
Se eu tivesse tido muitos votos, então ele acreditaria na minha denúncia ou me enxergaria como alguém confiável?
Você, leitor, acha que ter 1300 ou 13.000 ou 130.000 votos desmerece
ou enaltece alguém? Quantos votos teve Eduardo Cunha? Ele se tornou um
homem decente por conta da sua votação? E Bolsonaro? Campeão de votos no
Rio e campeão de falta de caráter e humanidade.
Eu digo que os votos que recebi são de qualidade, porque quem votou
em mim sabia em quem estava votando e por que estava votando, o que é
muito mais do que se pode dizer da maioria dos eleitores de candidatos
que foram eleitos. Além disso, só fiz campanha na internet. Nem
entreguei o monte de panfletos que o meu partido me doou e não fiz um
único evento de campanha.
Com minha candidatura, quis aprender como funciona o sistema e fazer um ato simbólico de resistência.
Mas o que revolta mesmo é a conclusão da arenga de Merval. Ele
insinua que Lula pode pedir asilo político a outro país e, por isso,
estaria tentando desacreditar a Justiça. Fica mais do que claro, no
artigo de Merval, que ele tenta voltar a reação de Lula contra ele
mesmo, sugerindo que ele seja preso por estar se defendendo acusando a
Lava Jato de parcialidade.
Bem, Lula não está sozinho. O jornalista italiano Gianni Barbacetto
(dir.), autor do livro “Operação Mãos Limpas”, que inspirou Sergio Moro,
pensa a mesma coisa que o presidente.
Na Foto abaixo, reunião recente dele com o juiz antipetista.
Em entrevista concedida há poucos dias ao jornal brasileiro Zero
Hora, Barbacetto fez fortes críticas ao seu admirador; disse que Moro
age com “seletividade” só contra o PT.
Se o juiz brasileiro não engoliu uma coluna de jornal, não é difícil
imaginar como deve estar encarando as observações do autor de uma obra
para a qual ele, Moro, contribuiu com um texto.
Reproduzo um trecho da
fala de Barbacetto ao jornal Zero Hora:
“(…) Na Itália, após a Mãos Limpas,
desapareceram cinco partidos do governo, e um partido de oposição mudou
de nome e de programa. Isso aconteceu porque os cidadãos, depois que
souberam da corrupção através das investigações conduzidas pelos
magistrados, não quiseram mais votar nesses partidos. Isso levou ao
surgimento de novos partidos e mudou todo o sistema político, nasceu
naquele momento na Itália o que se denomina a “Segunda República”. Na
realidade, em seguida, descobrimos que os novos partidos nada mais eram
do que os velhos reciclados. Apesar de saber pouco sobre a situação
brasileira, estou surpreso que apareçam acusações só contra o PT e seu
líder Lula, porque parece-me que todo o sistema está envolvido pela
corrupção (…)”
Pois é, Merval. Pelo visto, Lula tem boas razões para dizer o que
está dizendo sobre a Justiça brasileira. E eu tive boas razões para
acreditar na hipótese de que venham a inventar alguma razão para
encarcerá-lo no momento que todos reconhecem ser favorável ao
antipetismo.
***
PS: essa prisão de Eduardo Cunha veio cheia de simbolismo, não?