Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

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terça-feira, 6 de janeiro de 2015

Azenha: como a Globo reescreve a história Esse Bessinha… E esse Ali Kamel?

Jornalismo fraudulento: incerteza com as eleições gregas e corrida maluca da Rússia e Iraque para compensar queda nos preços do petróleo com aumento da oferta derrubam Bolsas e cotações das petroleiras em todo o mundo; no Brasil isso é veiculado como um' problema da Petrobrás'

As opções ao arrocho: 'uma taxação de 0,8% a 1,2% sobre fortunas acima de R$ 1 milhão renderia uma receita adicional de 1,7% do PIB, mais do que era obtido pela CPMF da saúde' (leia a análise completa do ex-ministro Alexandre Padilha nesta página)

Volks em greve: empresa demite 800 trabalhadores e assembléia na porta da fábrica decide paralisação por tempo indeterminado (leia editorial 'o Arrocho em marcha')8

É preciso rememorar o que foi feito da Caixa Econômica Federal no governo do PSDB para se ter a dimensão dos riscos embutidos no atual projeto de abrir seu capital:o país perderá um banco público estratégico, de tamanho só inferior ao do BB e Itaú (leia a análise do ex-presidente da CEF, Jorge Matoso, nesta pág)
Carta Maior.



Conversa Afiada reproduz excelente artigo-testemunho do Azenha sobre as patranhas da Globo com a História.

De Tim Maia a Ricardo Teixeira e o Golpe (aquele que nasceu em Washington)

CASO TIM MAIA NÃO É O PRIMEIRO EM QUE A GLOBO


 REESCREVE A HISTÓRIA EM SEU BENEFÍCIO OU NO 


DE PARCEIROS



Vi muita gente escandalizada com o fato de a Globo ter cortado, na minissérie que pretendia ser um resumo do filme sobre Tim Maia, os trechos em que Roberto Carlos desprezava o ex-colega de banda. O filme — e, portanto, a minissérie — foram baseados no livro Vale Tudo, de Nelson Motta.

Talvez por não envolver um ídolo tão popular, outros casos muitos parecidos e recentes de tentativas da emissora de reescrever a História não mereceram a mesma atenção.

Quando o Jornal Nacional completou 34 anos, por exemplo, exibiu um clipe registrando a presença do repórter Ernesto Paglia no comício das diretas, em 16 de abril de 1984, em São Paulo. Foi o suficiente para que Ali Kamel, que ainda estava em ascensão na emissora — hoje dirige o Jornalismo — fosse ao Observatório na Imprensa dizer que “uma pequena imagem do repórter Ernesto Paglia pode ter contribuído para rechaçar de vez uma das mais graves acusações que o JN já sofreu: a de que não cobriu o comício das diretas, na Praça da Sé, em São Paulo”.

Mais adiante, depois de contestar versões de outros autores sobre a cobertura da Globo naquele dia e de transcrever o texto da reportagem de Paglia, Kamel tenta justificar — como se a Globo estivesse no campo dos cerceados pela ditadura:

Esquecem-se de que a ditadura ainda estava forte, tão forte que as diretas foram votadas sob a vigência das medidas de emergência, um dispositivo constitucional, decretado nas vésperas da votação, que proibiu manifestações populares em Brasília (lembram-se do general Newton Cardoso, em seu cavalo, dando chicotadas em carros presos num engarrafamento?) e proibiu a transmissão por emissoras de rádio e televisão da sessão do Congresso Nacional que acabaria rejeitando as diretas-já. Não, a Globo não fez uma campanha, mas não deixou de fazer bom jornalismo.

Kamel provavelmente escreveu de ouvir dizer, após consultar arquivos. Eu, não. Eu trabalhei na Globo naquela época. Era da TV Bauru, mas cobria férias dos repórteres em São Paulo. Passava meses e meses hospedado num hotel e trabalhando na redação da Marechal Deodoro. Testemunhei pessoalmente ou ouvi relatos de colegas.

A tática de quem pretende recontar a História com outro viés quase sempre envolve focar no ponto mais positivo para sua narrativa e desconhecer o contexto.

O fato é que naquele período da História aconteceram as grandes greves do ABC, que a Globo praticamente desconhecia, quando não levava ao ar versões que o movimento operário considerava descabidas. Foi então que surgiu o “Fora Rede Globo, o povo não é bobo”, cantado por milhares de pessoas nas assembleias. Carros da emissora foram apedrejados. Lula costumava dizer aos companheiros para não confundir os jornalistas com os patrões e, portanto, aqueles deveriam ser poupados.

Na campanha das diretas, que surgiu antes do comício da Praça da Sé, a Globo simplesmente desconheceu as primeiras manifestações populares, algumas envolvendo milhares de pessoas. Era uma não notícia. A internet ainda não existia. Mesmo assim, era chocante ver as capas de jornais com fotos de manifestações e informações sobre a campanha e o Jornal Nacional absolutamente calado sobre o assunto.

Além disso, foi escancarado o apoio das Organizações Globo à ditadura militar, como porta-voz do regime. Os exemplos abundam. Um editorial escrito por Roberto Marinho em 7 de outubro de 1984, DEPOIS do comício das diretas, em que ele diz que a Revolução — isso mesmo, Revolução, não golpe — foi bem sucedida, é um deles.

É neste contexto que deve ser analisada a “reportagem” da emissora no comício de São Paulo.

A equipe da Globo, sim, esteve lá. Porém, a ênfase da reportagem foi no aniversário de São Paulo. Basta ler a própria transcrição do Ali Kamel. É o equivalente a noticiar primeiro que dois automóveis foram destruídos no centro de São Paulo e em seguida informar que caiu um Boeing sobre eles, matando os 200 ocupantes. Um absurdo que qualquer estudante de jornalismo é ensinado a nunca cometer é definido como “bom jornalismo”.

Para um exemplo mais recente, basta relembrar o Jornal Nacional de 12 de março de 2012, dia em que Ricardo Teixeira renunciou à presidência da CBF.

Patrícia Poeta, num texto que obviamente não foi escrito por ela, na transcrição da CartaCapital: “Ao longo de uma gestão de mais de duas décadas, a seleção tricampeã se tornou penta. Teixeira colecionou vitórias, mas também desafetos. E enfrentou denúncias”. Uma forma nada sutil de tentar atribuir as acusações a Teixeira a rusgas pessoais.

No corpo da reportagem, narrada por um repórter que obviamente não tinha poder de decisão sobre o texto final, 22 segundos foram dedicados às denúncias num tempo total de 3 minutos e 39 segundos:

Ao longo da carreira, Ricardo Teixeira foi alvo de denúncias. Diante de todas elas, Teixeira sempre disse que as acusações eram falsas e tinham caráter político. A denúncia mais contundente foi a de que ele e um grupo ligado à Fifa teriam recebido dinheiro de forma irregular nas negociações de uma empresa de marketing esportivo, em 1999. Viu os processos serem arquivados pela Justiça.

Na Globonews, Merval Pereira foi além:

Esses problemas de denúncias contra o Ricardo Teixeira vêm de longe e ele enfrentou com tranquilidade e sempre conseguiu superar essas denúncias. [...] Então resolveu tirar o time porque viu que não tinha condições de recuperar, como várias vezes se recuperou, o prestígio político.

De novo, a sutileza: os problemas de Ricardo Teixeira foram com adversários pessoais e políticos, nenhuma relação com a corrupção que a Globo tanto gosta de denunciar na Petrobras.

Em primeiro lugar, não é verdade que todos os processos contra Ricardo Teixeira foram “arquivados pela Justiça”. Em O Lado Sujo do Futebol, descrevemos as manobras jurídicas utilizadas por ele para se desfazer de processos no Brasil. Descrevemos detalhadamente a relação histórica e incestuosa da Globo com João Havelange e seu sucessor, Ricardo Teixeira. Era apoio político em troca do monopólio nas transmissões da Copa e do futebol brasileiro. Ponto. O próprio Ricardo Teixeira, em entrevista à revista Piauí, disse que só ficaria preocupado quando as denúncias contra ele saissem no Jornal Nacional.

Nunca de fato sairam. Naquela noite de 12 de março de 2012 a principal omissão do JN foi sobre o fato de que a Justiça da Suiça decidiria em breve se seriam divulgadas ou não as provas obtidas na investigação de João Havelange e Ricardo Teixeira, provas definitivas de que ambos receberam milhões de dólares em propina da empresa de marketing ISL em contas no Exterior. Este, sim, o verdadeiro motivo da renúncia de Teixeira, que a Globo vergonhosamente escondeu.

A Globo pagava à ISL, que pagava escondido a Havelange/Teixeira, que protegiam e eram protegidos da Globo. É o círculo perfeito!

No livro também tratamos das relações da própria Globo com a ISL, empresa da qual a emissora brasileira comprou os direitos de transmissão das Copas de 2002 e 2006 depois de montar uma subsidiária, a Empire, nas ilhas Virgens Britânicas, com isso sonegando milhões de reais de imposto no Brasil, segundo a Receita Federal. A mesma Receita diz que a Empire serviu apenas de fachada, para justificar o falso investimento no Exterior do dinheiro usado para quitar os direitos. Como se vê, não foram apenas a ISL, João Havelange e Ricardo Teixeira que tiraram proveito de negócios obscuros em refúgios fiscais.

Como vimos no caso do comício das Diretas, também no caso Teixeira a Globo tirou proveito da descontextualização: focou nas “vitórias” em campo do cartola.

O que nos leva ao episódio Tim Maia.

Não só o filme sobre o cantor mostra Roberto Carlos numa luz não muito agradável. O livro em que o filme foi baseado também o faz, com menos dramaticidade. Sim, registra que Roberto Carlos, a pedido da mulher Nice, levou Tim Maia para fazer um disco na gravadora CBS. Mas também conta que Tim Maia ofereceu a Roberto Carlos a música Não Vou Ficar, 
que se tornou o primeiro sucesso de Tim, com proveito para ambos.

O livro, pelo menos, deixa claro que houve rusgas e ciumeira entre os dois:

“Ô mermão, o Roberto aprendeu tudo comigo, mas o Roberto é branco, mermão, branco não dá, o que ele tem é que me botar na Jovem Guarda, mas ele tem medo porque sabe que eu entro e acabo logo com a banca dele”. Se era difícil encontrar Roberto, era impossível falar com ele, sempre cercado por um monte de gente, secretários, seguranças e puxa-sacos. Tim achava que Roberto não queria chamá-lo porque a Jovem Guarda era um programa de bons moços e ele era o Tim que puxava cadeia e fumava maconha.

O primeiro problema entre eles, ainda segundo o livro, foi quando Roberto Carlos, integrante da banda Sputniks, de Tim Maia, decidiu cantar sozinho, “por fora”, sem consultar antes os parceiros. Deu briga.

Na minissérie da Globo, além de cortar o trecho do filme em que Roberto Carlos humilha Tim Maia, a emissora deu a seu contratado, segundo a Folha, a oportunidade de dizer que ajudou Tim. Mais que isso, numa cena inédita colocou o ator que encarna Tim Maia no cinema para dizer na minissérie: “E foi assim, rapaziada, que Roberto Carlos lançou o gordo mais querido do Brasil”.

Assim, a Globo transformou uma relação complexa de amor e ódio, ajuda e competição — pelo menos é assim que aparece no livro — numa simplificação que beneficia HOJE a imagem de seu parceiro de negócios. Como aconteceu com Ricardo Teixeira.

O três em um do Lula no Guarujá, 25 anos depois

raridades

por Luiz Carlos Azenha

Se você falar num “três em um” numa rodinha de jovens muitos vão fazer cara de paisagem. É o mesmo que falar em óleo de fígado de bacalhau, DKV ou Olivetti.

Em 1989 ter um “três em um” em casa era símbolo de status. Especialmente aqueles que vinham acompanhados de grandes caixas de som. Vitrola, toca-fitas e rádio, tudo num mesmo aparelho!

Eu morava, então, em Nova York. Era correspondente da TV Manchete.
Testemunhei um momento histórico, via satélite. A Globo colocou ao vivo o sinal do debate presidencial entre Lula e Fernando Collor para ser visto na cidade. Se não me engano, foi num restaurante da rua 46, então a rua dos brasileiros em Manhattan, hoje tomada por comerciantes coreanos.

Durante o debate, Collor “acusou” Lula de um pecado imperdoável para um operário “igualzinho a você” — era o slogan utilizado pela campanha de Lula: ter um “três em um” sofisticado.

O simbolismo era inescapável: o dirigente sindical teria dirigido as grandes greves do ABC em busca de vantagens pessoais. Era um aproveitador. Nos bastidores, dizia-se também que Lula tinha abandonado a cachaça e aderido ao uísque importado, como se isso fosse um crime lesa Pátria.

Na época, ninguém perguntou se Collor também tinha “três em um” em casa. Logo ele, filhinho de papai da oligarquia alagoana! Era o máximo da desfaçatez.
Lembrei-me do episódio ao receber, por e-mail, os links de várias reportagens de O Globo e da Folha sobre o triplex do Lula no Guarujá.

O ex-presidente declarou pagamentos feitos à cooperativa responsável pelo imóvel em 2006. Disse ao imposto de renda ter pago R$ 47.695,38 até então. O valor total foi quitado em 2010.

Em nota, o instituto Lula falou em “suposto apartamento”, já que o ex-presidente nunca ocupou o imóvel e nem assumiu oficialmente a propriedade. Esclareceu que a primeira dama Marisa Letícia comprou uma cota do prédio em 2005, da Bancoop, paga em prestações. O casal não decidiu ainda se fica com o imóvel.

Para turbinar a notícia, a Folha cita corretores não identificados que avaliaram o apartamento em R$ 1,5 milhão. Minha sugestão é que o Otavinho compre o imóvel por este preço. Dinheiro certamente não é problema para o 

dono da Folha. Nem para os bilionários irmãos Marinho, tão interessados no caso.

marinho

Independentemente da “avaliação” da Folha estar ou não correta, é óbvio que o imóvel é compatível com a renda de um presidente que cumpriu oito anos de mandato, pagou em prestações e hoje viaja o mundo dando palestras.

A questão aqui é outra: por que sabemos tudo sobre o apartamento de Lula e absolutamente nada sobre os imóveis de Fernando Henrique Cardoso, Geraldo Alckmin e Aécio Neves? Em nome de quem está o apartamento que Aécio ocupa em Belo Horizonte, por exemplo? FHC tem mesmo um apartamento na avenue Foch, em Paris?

A explicação é simples e repetitiva: dois pesos, duas medidas.

Vinte e cinco anos depois, com a perspectiva de Lula se candidatar em 2018, o “três em um” se tornou “triplex”.
É bala na agulha para enredar o ex-presidente com uma das acusadas na Operação Lava Jato, a empreiteira OAS, que concluiu as obras do edifício no Guarujá.

O ex-presidente deve estar acostumado.

Em 1989, na reta final da campanha, a ex-namorada de Lula, Miriam Cordeiro, apareceu no Jornal Nacional e na campanha de TV de Fernando Collor acusando Lula de ter sugerido a ela que abortasse a filha Lurian, além de falar mal dos negros.

O jornal O Globo chegou a produzir um editorial justificando a baixaria, intitulado O Direito de Saber. Trecho:
Até que anteontem à noite surgiu nas telas, no horário do PRN, a figura da ex-mulher de Lula, Miriam Cordeiro, acusando o candidato de ter tentado induzi-la a abortar uma criança filha de ambos, para isso oferecendo-lhe dinheiro, e também de alimentar preconceitos contra a raça negra.
A primeira reação do público terá sido de choque, a segunda é a discussão do direito de trazer-se a público o que, quase por toda parte, se classificava imediatamente de ‘baixaria’.
É chocante mesmo, lamentável que o confronto desça a esse nível, mas nem por isso deve-se deixar de perguntar se é verdadeiro. E se for verdadeiro, cabe indagar se o eleitor deve ou não receber um testemunho que concorre para aprofundar o seu conhecimento sobre aquela personalidade que lhe pede o voto para eleger-se Presidente da República, o mais alto posto da Nação.
Que ironia!

As mesmas Organizações Globo nunca acreditaram que o eleitor brasileiro tinha o direito de saber que Fernando Henrique Cardoso teve um caso com uma repórter da emissora, ANTES de ser candidato pela primeira vez ao Planalto.

Do caso teria nascido uma criança.

Ambos, mãe e filho, viveram “exilados” na Europa, uma notícia que só foi dada pela revista Caros Amigos no ano 2000! O filho, revelou muito mais tarde um exame de DNA, afinal não era, mas sempre foi tratado como herdeiro.

O brasileiro nunca teve — e provavelmente jamais terá — o direito de saber deste logro histórico! Pelo menos não nas páginas dos jornalões e nos telejornais da Globo.

Leia também:

O plano do governo Dilma para regular a mídia

veja


Durante a cerimônia de posse de Dilma no Palácio do Planalto este blogueiro teve chance de conversar com personalidades da política que confirmaram que, ao menos no discurso, a presidente pode ter se convencido de que regular a mídia pode até não vir a ajudá-la em seu mandato, mas pode dar ao país, no futuro, uma comunicação mais plural e democrática.
Qualquer projeto que consiga avançar nesse sentido, de acordo com os planos do governo, não iria vigorar no mandato da atual presidente. E, mesmo que isso fosse possível, os efeitos dessa regulação ainda iriam demorar anos e anos para se fazer notar.
Por exemplo, a produção regional de conteúdo. Mesmo sendo viabilizada legalmente, ainda dependeria de tempo e investimentos para, um dia, fazer frente à produção dos grandes grupos de mídia.
Em tese, porém, o plano em questão pode funcionar – desde que, é claro, não tenha sido anunciado (extraoficialmente) com vistas, apenas, a acalmar a militância de esquerda, cada vez mais impaciente diante das concessões que um governo de coalizão tem que fazer para conseguir funcionar minimamente, o que é difícil explicar a movimentos sociais, sindicatos e partidos de esquerda que têm sua própria agenda.
E essa impaciência não se resume mais, apenas, a partidos como o PSOL e congêneres, ou ao MST, ou à CUT, entre outros. Altos escalões do próprio PT dizem que já não dá mais para o governo ficar nas cordas desse jeito diante de uma mídia que já provou que pode até não estar conseguindo vencer eleições, mas que consegue travar o governo e até sabotar a economia.
Infelizmente, a perda de paciência da esquerda com a situação e a crença em que Dilma só não regula a mídia porque não quer tem muito mais de wishful thinking do que de visão realista dos fatos.
Para que se entenda o poder da mídia, basta comparar o escândalo dos trens de São Paulo com o da Petrobrás. Basicamente, são iguais. Cartel aqui (em SP), cartel lá (em nível federal). Porém, um escândalo (o de SP) é tratado burocraticamente pela mídia, com matérias esparsas, pouquíssima opinião crítica, enfim, de forma despolitizada, enquanto que o caso Petrobrás é alçado ao ponto que todos têm visto.
A artilharia incessante contra a Petrobrás, que já dura quase meio ano e é disparada 24 horas por dia, 7 dias por semana, bem como o terrorismo econômico, estão afundando a economia. Claro que há problemas nas contas públicas, mas eles decorrem muito mais do bombardeio do que de problemas reais.
As dificuldades nas contas públicas poderiam ser contornadas, mas, aí, a mídia produz um fenômeno conhecido, o da profecia autorrealizável. Qual seja: se se consegue espalhar boato de que um banco vai quebrar ele pode acabar quebrando mesmo, pois os clientes, temerosos, começam a sacar seus recursos, aprofundando uma crise pequena ou até criando uma que não existia antes do boato.
Nesse contexto, falar em regulação da mídia soa um tanto quanto irreal. Porém, o governo tem um plano. Ou diz que tem.
Basicamente, seria envolver a sociedade civil com a proposta de regulação ECONÔMICA da mídia. Note bem, leitor, que não existe plano do governo para regular conteúdo, como acontece na Inglaterra, na França, enfim, em vários países que permitem à sociedade cobrar a mídia através de órgãos governamentais e para-governamentais que captam as queixas da sociedade e cobram e até punem os veículos denunciados.
Os órgãos que regulam conteúdo, nos países desenvolvidos, funcionam como aquelas seções dos jornais que publicam queixas dos consumidores contra empresas. Divulgam essas queixas e as empresas que prejudicam consumidores são obrigadas a responder e até a reparar danos. O que, aliás, funciona, apesar de que para muito pouca gente.
Mas não se pensa em ir tão longe, neste momento. Não somos um país de Primeiro Mundo, a sociedade não tem a dimensão do quanto pode ser maléfico que poucas mãos controlem grupos imensos de mídia, com poder para derrubar ministros etc., e que podem vender suas preferências políticas a partidos ou a caciques políticos.
O que se planeja é uma regulação econômica da mídia, ou seja, tratar a comunicação como qualquer outro setor da economia, impedindo a formação de oligopólios (controle de poucos sobre um segmento de mercado). Nesse aspecto, poderia se estender ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE) a tarefa de impedir oligopólios no setor de comunicação assim como o órgão faz em qualquer outro setor da economia.
Mas como, se metade dos parlamentares do Congresso Nacional detém propriedade de meios de comunicação eletrônicos, sobretudo rádios e tevês? Como conseguir maioria entre políticos que dependem de controlar meios de comunicação em seus Estados para se manterem politicamente fortes?
O plano do governo é simples: discutir a regulação econômica da mídia com a sociedade em fóruns oficiais criados para esse fim.
Todavia, já houve, no fim do governo Lula, uma Conferência Nacional de Comunicação, a Confecom, da qual este blogueiro participou como delegado por São Paulo. Porém, após dias discutindo a regulação da mídia, aquilo tudo deu em nada. Dilma assumiu em 2011 acreditando que poderia se compor com a mídia e deixou os trabalhos da Confecom engavetados.
Agora, com um ministro das Comunicações entusiasta do tema regulação da mídia, acende-se uma esperança de que alguma coisa possa acontecer. Contudo, no Brasil o poder dos ministros de Estado é superestimado. E ainda mais em um governo como o de Dilma, que centraliza decisões nas mãos da titular.
Mas, claro, com aval da presidente o primeiro passo do plano que o governo alega ter para regular a mídia pode vingar, mas teria que haver uma disposição que não se sabe se haverá.
Como fazer o PMDB apoiar um projeto do governo para regular a mídia se a maioria dos parlamentares do partido detém meios de comunicação? Aliás, essa gente anuncia que não vai apoiar essa regulação.
Dá para fazer sem o PMDB? Não dá. E os partidos que apoiariam, em princípio, são pouquíssimos. PT, PC do B, PSOL e olhe lá. Juntos, não representam nem um quinto do Congresso.
O jeito é colocar a sociedade a favor dessa proposta, explicando-lhe os malefícios de uma mídia oligopolizada, informando-a de que os países mais avançados e democráticos do planeta regulam a mídia.
Porém, se a iniciativa for tímida, com pessoas trancadas em auditórios falando para si mesmas, não vai funcionar. Seria preciso uma grande campanha publicitária, que seria tachada pela mídia como ímpeto censor enquanto haveria uma radicalização midiática ainda maior, com “escandalização” de qualquer denúncia frágil – estamos em um país em que um ministro de Estado quase foi demitido por ter comprado uma tapioca com o cartão corporativo do governo.
Terá o governo Dilma força para levar até o fim esse plano (anunciado) de regulação da mídia? Não cederá quando se multiplicar por dez o bombardeio midiático? Será, então, que esse plano de regulação da mídia é real ou é só uma cortina de fumaça para acalmar a militância de esquerda?
São muitas perguntas e, até aqui, nenhuma resposta concreta. Só o que se pode fazer é confiar no espírito de estadista da presidente Dilma. Estará ela disposta a se sacrificar para dotar o país de uma legislação para a Comunicação à altura de um país como este?
Em teoria, é possível. Dilma não buscará a reeleição. Sabe que no dia 1º de janeiro de 2019 estará fora do poder e, assim, pode decidir comprar essa briga. Porém, neste momento, com a economia tão fragilizada, uma ofensiva maior da mídia pode jogar o país em uma crise econômica brutal que fará a popularidade do governo despencar, pavimentando o caminho da direita em 2018.
Um acordo com a mídia é praticamente impossível. Simplesmente porque, no mínimo, empresas como a Globo, com regulação econômica da atividade Comunicação, terão que parar de crescer exponencialmente. Aliás, terão que parar de crescer de qualquer forma, ainda que o ideal fosse reduzir o tamanho desses conglomerados de mídia, inaceitáveis em qualquer sociedade civilizada.
O mundo desenvolvido já entendeu, há muito, que é nefasto para um país colocar nas mãos de uma única família um poder como o da Globo. Ou melhor, que é nefasto colocar em pouquíssimas mãos o controle quase hegemônico da comunicação. Mas o Brasil ainda não é um país suficientemente educado e civilizado para entender isso. O povo nem pensa sobre tais questões.
Não somos ingleses ou franceses, para o bem e para o mal.
Sob o prisma apresentado, portanto, parece distante a possibilidade de dotar o país de uma legislação avançada nas comunicações quando nem conseguimos aprovar direito de resposta para pessoas físicas e jurídicas que se sintam prejudicadas pelo noticiário ou pela publicidade.
Aliás, o Brasil até tem uma legislação para controlar excessos da mídia quanto à política. Tenho dito que se a legislação eleitoral sobre a mídia funcionasse o tempo todo, o problema estaria resolvido.
Vimos o que aconteceu com a famosa capa da Veja, divulgada a 48 horas da eleição presidencial. A Justiça Eleitoral agiu e a revista teve que publicar direito de resposta do PT e isso influiu na percepção do eleitorado, que intuiu que se a Justiça tinha condenado a Veja alguma coisa que ela fez com aquela capa acusando Dilma e Lula, estava errada.
Enfim, essa é a realidade sobre a questão da regulação da mídia. Qualquer coisa que lhe disseram fora do que vai acima, é balela. Não se pode nutrir tantas esperanças, portanto. Mas esperança existe. Há que ver, primeiro, se Dilma está disposta a comprar a terceira guerra mundial e, segundo, se ela vai conseguir lutar essa guerra. Mesmo querendo.