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terça-feira, 6 de janeiro de 2015

Azenha: como a Globo reescreve a história Esse Bessinha… E esse Ali Kamel?

Jornalismo fraudulento: incerteza com as eleições gregas e corrida maluca da Rússia e Iraque para compensar queda nos preços do petróleo com aumento da oferta derrubam Bolsas e cotações das petroleiras em todo o mundo; no Brasil isso é veiculado como um' problema da Petrobrás'

As opções ao arrocho: 'uma taxação de 0,8% a 1,2% sobre fortunas acima de R$ 1 milhão renderia uma receita adicional de 1,7% do PIB, mais do que era obtido pela CPMF da saúde' (leia a análise completa do ex-ministro Alexandre Padilha nesta página)

Volks em greve: empresa demite 800 trabalhadores e assembléia na porta da fábrica decide paralisação por tempo indeterminado (leia editorial 'o Arrocho em marcha')8

É preciso rememorar o que foi feito da Caixa Econômica Federal no governo do PSDB para se ter a dimensão dos riscos embutidos no atual projeto de abrir seu capital:o país perderá um banco público estratégico, de tamanho só inferior ao do BB e Itaú (leia a análise do ex-presidente da CEF, Jorge Matoso, nesta pág)
Carta Maior.



Conversa Afiada reproduz excelente artigo-testemunho do Azenha sobre as patranhas da Globo com a História.

De Tim Maia a Ricardo Teixeira e o Golpe (aquele que nasceu em Washington)

CASO TIM MAIA NÃO É O PRIMEIRO EM QUE A GLOBO


 REESCREVE A HISTÓRIA EM SEU BENEFÍCIO OU NO 


DE PARCEIROS



Vi muita gente escandalizada com o fato de a Globo ter cortado, na minissérie que pretendia ser um resumo do filme sobre Tim Maia, os trechos em que Roberto Carlos desprezava o ex-colega de banda. O filme — e, portanto, a minissérie — foram baseados no livro Vale Tudo, de Nelson Motta.

Talvez por não envolver um ídolo tão popular, outros casos muitos parecidos e recentes de tentativas da emissora de reescrever a História não mereceram a mesma atenção.

Quando o Jornal Nacional completou 34 anos, por exemplo, exibiu um clipe registrando a presença do repórter Ernesto Paglia no comício das diretas, em 16 de abril de 1984, em São Paulo. Foi o suficiente para que Ali Kamel, que ainda estava em ascensão na emissora — hoje dirige o Jornalismo — fosse ao Observatório na Imprensa dizer que “uma pequena imagem do repórter Ernesto Paglia pode ter contribuído para rechaçar de vez uma das mais graves acusações que o JN já sofreu: a de que não cobriu o comício das diretas, na Praça da Sé, em São Paulo”.

Mais adiante, depois de contestar versões de outros autores sobre a cobertura da Globo naquele dia e de transcrever o texto da reportagem de Paglia, Kamel tenta justificar — como se a Globo estivesse no campo dos cerceados pela ditadura:

Esquecem-se de que a ditadura ainda estava forte, tão forte que as diretas foram votadas sob a vigência das medidas de emergência, um dispositivo constitucional, decretado nas vésperas da votação, que proibiu manifestações populares em Brasília (lembram-se do general Newton Cardoso, em seu cavalo, dando chicotadas em carros presos num engarrafamento?) e proibiu a transmissão por emissoras de rádio e televisão da sessão do Congresso Nacional que acabaria rejeitando as diretas-já. Não, a Globo não fez uma campanha, mas não deixou de fazer bom jornalismo.

Kamel provavelmente escreveu de ouvir dizer, após consultar arquivos. Eu, não. Eu trabalhei na Globo naquela época. Era da TV Bauru, mas cobria férias dos repórteres em São Paulo. Passava meses e meses hospedado num hotel e trabalhando na redação da Marechal Deodoro. Testemunhei pessoalmente ou ouvi relatos de colegas.

A tática de quem pretende recontar a História com outro viés quase sempre envolve focar no ponto mais positivo para sua narrativa e desconhecer o contexto.

O fato é que naquele período da História aconteceram as grandes greves do ABC, que a Globo praticamente desconhecia, quando não levava ao ar versões que o movimento operário considerava descabidas. Foi então que surgiu o “Fora Rede Globo, o povo não é bobo”, cantado por milhares de pessoas nas assembleias. Carros da emissora foram apedrejados. Lula costumava dizer aos companheiros para não confundir os jornalistas com os patrões e, portanto, aqueles deveriam ser poupados.

Na campanha das diretas, que surgiu antes do comício da Praça da Sé, a Globo simplesmente desconheceu as primeiras manifestações populares, algumas envolvendo milhares de pessoas. Era uma não notícia. A internet ainda não existia. Mesmo assim, era chocante ver as capas de jornais com fotos de manifestações e informações sobre a campanha e o Jornal Nacional absolutamente calado sobre o assunto.

Além disso, foi escancarado o apoio das Organizações Globo à ditadura militar, como porta-voz do regime. Os exemplos abundam. Um editorial escrito por Roberto Marinho em 7 de outubro de 1984, DEPOIS do comício das diretas, em que ele diz que a Revolução — isso mesmo, Revolução, não golpe — foi bem sucedida, é um deles.

É neste contexto que deve ser analisada a “reportagem” da emissora no comício de São Paulo.

A equipe da Globo, sim, esteve lá. Porém, a ênfase da reportagem foi no aniversário de São Paulo. Basta ler a própria transcrição do Ali Kamel. É o equivalente a noticiar primeiro que dois automóveis foram destruídos no centro de São Paulo e em seguida informar que caiu um Boeing sobre eles, matando os 200 ocupantes. Um absurdo que qualquer estudante de jornalismo é ensinado a nunca cometer é definido como “bom jornalismo”.

Para um exemplo mais recente, basta relembrar o Jornal Nacional de 12 de março de 2012, dia em que Ricardo Teixeira renunciou à presidência da CBF.

Patrícia Poeta, num texto que obviamente não foi escrito por ela, na transcrição da CartaCapital: “Ao longo de uma gestão de mais de duas décadas, a seleção tricampeã se tornou penta. Teixeira colecionou vitórias, mas também desafetos. E enfrentou denúncias”. Uma forma nada sutil de tentar atribuir as acusações a Teixeira a rusgas pessoais.

No corpo da reportagem, narrada por um repórter que obviamente não tinha poder de decisão sobre o texto final, 22 segundos foram dedicados às denúncias num tempo total de 3 minutos e 39 segundos:

Ao longo da carreira, Ricardo Teixeira foi alvo de denúncias. Diante de todas elas, Teixeira sempre disse que as acusações eram falsas e tinham caráter político. A denúncia mais contundente foi a de que ele e um grupo ligado à Fifa teriam recebido dinheiro de forma irregular nas negociações de uma empresa de marketing esportivo, em 1999. Viu os processos serem arquivados pela Justiça.

Na Globonews, Merval Pereira foi além:

Esses problemas de denúncias contra o Ricardo Teixeira vêm de longe e ele enfrentou com tranquilidade e sempre conseguiu superar essas denúncias. [...] Então resolveu tirar o time porque viu que não tinha condições de recuperar, como várias vezes se recuperou, o prestígio político.

De novo, a sutileza: os problemas de Ricardo Teixeira foram com adversários pessoais e políticos, nenhuma relação com a corrupção que a Globo tanto gosta de denunciar na Petrobras.

Em primeiro lugar, não é verdade que todos os processos contra Ricardo Teixeira foram “arquivados pela Justiça”. Em O Lado Sujo do Futebol, descrevemos as manobras jurídicas utilizadas por ele para se desfazer de processos no Brasil. Descrevemos detalhadamente a relação histórica e incestuosa da Globo com João Havelange e seu sucessor, Ricardo Teixeira. Era apoio político em troca do monopólio nas transmissões da Copa e do futebol brasileiro. Ponto. O próprio Ricardo Teixeira, em entrevista à revista Piauí, disse que só ficaria preocupado quando as denúncias contra ele saissem no Jornal Nacional.

Nunca de fato sairam. Naquela noite de 12 de março de 2012 a principal omissão do JN foi sobre o fato de que a Justiça da Suiça decidiria em breve se seriam divulgadas ou não as provas obtidas na investigação de João Havelange e Ricardo Teixeira, provas definitivas de que ambos receberam milhões de dólares em propina da empresa de marketing ISL em contas no Exterior. Este, sim, o verdadeiro motivo da renúncia de Teixeira, que a Globo vergonhosamente escondeu.

A Globo pagava à ISL, que pagava escondido a Havelange/Teixeira, que protegiam e eram protegidos da Globo. É o círculo perfeito!

No livro também tratamos das relações da própria Globo com a ISL, empresa da qual a emissora brasileira comprou os direitos de transmissão das Copas de 2002 e 2006 depois de montar uma subsidiária, a Empire, nas ilhas Virgens Britânicas, com isso sonegando milhões de reais de imposto no Brasil, segundo a Receita Federal. A mesma Receita diz que a Empire serviu apenas de fachada, para justificar o falso investimento no Exterior do dinheiro usado para quitar os direitos. Como se vê, não foram apenas a ISL, João Havelange e Ricardo Teixeira que tiraram proveito de negócios obscuros em refúgios fiscais.

Como vimos no caso do comício das Diretas, também no caso Teixeira a Globo tirou proveito da descontextualização: focou nas “vitórias” em campo do cartola.

O que nos leva ao episódio Tim Maia.

Não só o filme sobre o cantor mostra Roberto Carlos numa luz não muito agradável. O livro em que o filme foi baseado também o faz, com menos dramaticidade. Sim, registra que Roberto Carlos, a pedido da mulher Nice, levou Tim Maia para fazer um disco na gravadora CBS. Mas também conta que Tim Maia ofereceu a Roberto Carlos a música Não Vou Ficar, 
que se tornou o primeiro sucesso de Tim, com proveito para ambos.

O livro, pelo menos, deixa claro que houve rusgas e ciumeira entre os dois:

“Ô mermão, o Roberto aprendeu tudo comigo, mas o Roberto é branco, mermão, branco não dá, o que ele tem é que me botar na Jovem Guarda, mas ele tem medo porque sabe que eu entro e acabo logo com a banca dele”. Se era difícil encontrar Roberto, era impossível falar com ele, sempre cercado por um monte de gente, secretários, seguranças e puxa-sacos. Tim achava que Roberto não queria chamá-lo porque a Jovem Guarda era um programa de bons moços e ele era o Tim que puxava cadeia e fumava maconha.

O primeiro problema entre eles, ainda segundo o livro, foi quando Roberto Carlos, integrante da banda Sputniks, de Tim Maia, decidiu cantar sozinho, “por fora”, sem consultar antes os parceiros. Deu briga.

Na minissérie da Globo, além de cortar o trecho do filme em que Roberto Carlos humilha Tim Maia, a emissora deu a seu contratado, segundo a Folha, a oportunidade de dizer que ajudou Tim. Mais que isso, numa cena inédita colocou o ator que encarna Tim Maia no cinema para dizer na minissérie: “E foi assim, rapaziada, que Roberto Carlos lançou o gordo mais querido do Brasil”.

Assim, a Globo transformou uma relação complexa de amor e ódio, ajuda e competição — pelo menos é assim que aparece no livro — numa simplificação que beneficia HOJE a imagem de seu parceiro de negócios. Como aconteceu com Ricardo Teixeira.

quinta-feira, 29 de maio de 2014

Padrão FIFA? Privataria, lavagem de dinheiro e propinodutos


Padrão FIFA = Máfia

Se tivesse ‘padrão Fifa’, o Brasil seria muito pior

Mário Magalhães 27/05/2014 06:50, em seu blog

A palavra de ordem se disseminou com intenção generosa: o Brasil padrão Fifa seria melhor.
No Google, aparecem 460 mil registros quando se digita “padrão Fifa” entre aspas.
Os serviços públicos, a começar por educação e saúde, teriam mais qualidade, se mimetizassem o alto nível da dona do futebol  – é a ladainha que ouvimos desde junho de 2013.
Com o perdão dos que adotaram a divisa, eu acho que o padrão Fifa é uma balela ou significa o avesso do lugar-comum que se fixou no imaginário nacional.
O país seria muitíssimo pior caso se espelhasse nos valores, métodos e obra de Sepp Blatter e seus bons companheiros.
Na saúde, o padrão Fifa seria o contrário de cuidar da vida dos brasileiros, o que se faz (ou deveria ser feito) com bons hospitais e pronto-socorros, profissionais qualificados e bem remunerados, prevenção acurada, saneamento para todos, alimentação decente e outras providências.
Seria o contrário porque a Fifa secundariza a saúde dos jogadores de futebol e prioriza o caixa.
Na Copa de 94, a entidade, ainda conduzida por João Havelange, impôs jogos ao meio-dia no escaldante verão californiano.
Já na gestão de Joseph Blatter, entregou de modo suspeito o Mundial de 2022 ao Catar, onde o calor torturante ataca na época do ano que a tradição reserva ao torneio.
Isso é se preocupar com a saúde?
A educação inspirada no padrão Fifa não seria dos sonhos, e sim o oposto.
Ao abordar o racismo, em vez de ensinar a repulsa, os professores pregariam tolerância com a segregação.
Por todo o planeta, acumulam-se episódios de preconceito. Em vez de punir as agremiações que acolhem torcedores racistas, a Fifa somente obriga seleções a entrarem em campo com faixas cujos dizeres, embora justos, estão longe de proporcionar o efeito de castigos exemplares.
E as lições de democracia?
O que há de se aprender com a política elitista de preços escorchantes dos ingressos?
Mesmo dentro das ditas arenas, camarotes chiquérrimos documentam e celebram a desigualdade obscena.
Uma federação que interdita a alternância de governo e eterniza seus capi sugere democracia? Por mais de 20 anos, Havelange não largou o osso. Seu sucessor mantém idêntico apetite.
De acordo com o padrão Fifa, ditaduras não são ruins e ditadores são todos boa gente, desde que se prestem aos propósitos dos poderosos chefões encastelados na Suíça. Já havia sido assim na Copa de 78, na Argentina do genocida Videla, e continua hoje, quando os tiranos mais sinistros são bem-vindos na entidade.
O que a Fifa diria sobre controle rigoroso de negócios em geral e operações financeiras em particular?
Dificilmente apresentaria como case o esquema que resultou na escolha do Catar.
Muito menos o que permite que amigos da cartolagem lucrem com ingressos da Copa, fazendo decolar a preços ainda mais exorbitantes pacotes que já são para poucos.
É essa a gestão que queremos como padrão?
O padrão Fifa subverte o ensinamento franciscano do “é dando que se recebe”, a considerar tantas denúncias de propinas.
O que o padrão Fifa propõe para quem é flagrado em impedimento, senão a impunidade? Que punição houve para Havelange e Ricardo Teixeira?
É essa a Justiça ideal, o padrão Fifa de combate à corrupção?
Em que o Brasil prosperaria se imitasse o comportamento do secretário-geral Jérôme Valcke?
Ele é o mesmo executivo que embolsou, na condição de lobista, dinheiro da candidatura brasileira ao Mundial e mais tarde, na pele de cartola, sugeriu um pontapé no nosso traseiro.
Do seu papel no lobby só se soube graças a furo do repórter Sérgio Rangel.
Almejamos a transparência padrão Fifa, que escondia o frila do francês?
Em matéria de inovação e evolução, será que o caminho é o da Fifa, que resiste até ao controle eletrônico para saber se a bola entrou no gol?
De todas as expressões do farisaísmo do padrão Fifa, duas se destacam.
A primeira, quando a entidade fala em legado disso e daquilo para o Brasil. Ela está interessada em multiplicar sua fortuna. E só.
E quando alardeia sua devoção pelo futebol. A Fifa mercantilizou a níveis jamais vistos a mais genuína paixão dos brasileiros. Apropriou-se até de nomes consagrados, como “Copa do Mundo”.
Por sorte, pelo menos isso não conseguiram nos roubar, a paixão que constitui a essência do futebol.
A despeito de todas as mazelas que vigoram no país que figura entre os campeões da desigualdade, o Brasil no padrão Fifa seria ainda mais egoísta, hipócrita, inescrupuloso, obscuro e desigual.
Padrão Fifa é exigir do outro o que não se faz — faça o que eu digo, e não o que eu faço.
A Fifa já nos fez muito mal. Fará mais ainda se o seu famigerado padrão se tornar o nosso modelo.

Leia também:

O primeiro capítulo de O Lado Sujo do Futebol

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Blatter pedirá divulgação de documentos sobre caso de propina na Fifa

David Bond
Atualizado em  18 de outubro, 2011 - 15:06 (Brasília) 17:06 GMT
Da esquerda para a direita: Blatter, Dilma, Pelé e  Ricardo Teixeira
Polícia Federal confirmou abertura de inquérito sobre transações envolvendo Ricardo Teixeira
O presidente da Fifa, Joseph Blatter, se prepara para realizar uma manobra surpreendente e pedir a divulgação de documentos judiciais que podem revelar que importantes dirigentes da entidade receberam propinas.
Os documentos fazem parte de uma investigação criminal sobre a falência da empresa de marketing esportivo ISL (International Sport and Leisure), parceira da Fifa, e indicam que dirigentes da entidade receberam pagamentos para garantir à ISL a lucrativa comercialização de direitos de transmissão e anúncios publicitários da Copa do Mundo durante os anos 1990.
Por repetidas vezes, a Fifa bloqueou as tentativas de jornalistas que buscavam a divulgação dos documentos. Mas, agora, a BBC apurou que Blatter pretende defender a publicação dessas informações durante o encontro de dois dias do comitê executivo da Fifa, que será realizado na próxima quinta-feira em Zurique, na Suíça.
No ano passado, advogados que atuavam em nome da Fifa e dos dirigentes citados pagaram 5,5 milhões de francos suíços (cerca de R$ 10,7 milhões) para encerrar o caso e manter suas identidades em segredo.
De acordo com o Panorama, Teixeira recebeu cerca de US$ 9,5 milhões por meio de uma empresa de fachada chamada Sanud, criada no paraíso fiscal de Liechtenstein.
Na segunda-feira, a Superintendência da Polícia Federal do Rio confirmou a abertura de um novo inquérito sobre as transações envolvendo Teixeira.
A expectativa é de que as autoridades brasileiras peçam acesso aos documentos da Justiça suíça como parte da investigação.

Proposta de reforma

Em maio deste ano, a Fifa entrou pela segunda vez com um recurso contra uma decisão de promotores suíços pela divulgação dos documentos. O caso deve ir a julgamento no final deste mês em um tribunal na cidade de Zug, na Suíça.
Mas, diante da forte pressão por reformas que a Fifa enfrenta após sofrer duras acusações de corrupção contra seus dirigentes, Blatter decidiu que os documentos devem ser divulgados pela Justiça suíça e, se a sua decisão for aprovada pelo comitê executivo, vai pedir às autoridades suíças que isso aconteça.
Fontes ouvidas pela BBC dizem que a proposta faz parte de um pacote de mudanças que será apresentado pelo presidente da Fifa. Depois de prometer "tolerância zero" com os casos de corrupção na entidade, Blatter foi convencido de que precisa demonstrar compromisso com a transparência na Fifa.
Entre as mudanças que Blatter deve propor estão as seguintes medidas:
  • uma mudança no comitê executivo para incluir representantes de clubes e ligas; os membros seriam indicados pelas confederações continentais, como acontece hoje, mas teriam que ser aprovados pelas 208 associações que formam o congresso da Fifa;
  • todos os integrantes do comitê executivo passarão a ter de revelar se tiveram algum envolvimento no passado com alguma investigação criminal, se já foram condenados e se têm algum conflito de interesses;
  • o comitê de ética também sofrerá mudanças para se tornar totalmente independente da Fifa e composto por três novas partes (um promotor, uma unidade de investigações e um tribunal)
  • um comitê de soluções formado por importantes personalidades de fora do esporte vai examinar assuntos delicados relacionados ao futebol
  • a maneira como o país-sede da Copa do Mundo é escolhido também será modificada, com a escolha final cabendo ao congresso da Fifa, e não mais ao Comitê Executivo

Estratégia de risco

Sepp Blatter/AFP (imagem de arquivo)
Blatter precisará do apoio da maioria do comitê executivo para conseguir aprovar novas propostas
O pedido de divulgação dos documentos da Fifa deve ser a mais impactante das propostas. Mas trata-se de uma estratégia de alto risco.
Ricardo Teixeira é a principal figura à frente da Copa do Mundo de 2014 e deve ter um papel de destaque no anúncio, na próxima quinta-feira, do calendário e dos locais dos jogos do Mundial de 2014 e da Copa das Confederações de 2013.
Teixeira também é apontado como um possível candidato para suceder Blatter como presidente da Fifa em 2015.
A divulgação dos documentos também pode aumentar a pressão sobre outros membros do comitê executivo da Fifa. No ano passado, o Panorama apontou que um documento confidencial da ISL listava 175 pagamentos para indivíduos e empresas em um total de cerca de US$ 100 milhões.
Segundo o programa da BBC, a lista indicava que o paraguaio Nicolas Leoz, presidente da Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol), recebeu mais de US$ 700 mil da ISL. A investigação também apontava que Issa Hayatou, presidente da Confederação Africana de Futebol (CAF), recebeu cerca de US$ 20 mil. Hayatou, Leoz e Teixeira negam as acusações.
Como parte da promessa de mais transparência na Fifa, Blatter e o secretário-geral da entidade, Jerome Valcke, têm trabalhado em conjunto com a ONG de combate à corrupção Transparência Internacional.
Um relatório sobre a Fifa produzido pela Transparência em agosto pedia que Blatter adotasse uma série de medidas para combater a corrupção na entidade.
Boa parte das reformas vai precisar do apoio da maioria dos 23 integrantes do comitê executivo e, por isso, há dúvidas sobre a sua aprovação. Se enfrentar uma oposição mais forte, Blatter pode ter de esperar até o próximo congresso da Fifa, em maio, em Budapeste, para tentar adotar as mudanças.