'A denúncia contra Aécio Neves (PSDB) saiu junto
com a negativa de que esteja envolvido em alguma coisa graças a uma
suposta rejeição do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, a uma
acusação de um doleiro que só é levado a sério pela mídia, pelo MP, pela
PF e pela oposição quando acusa o PT', constata Eduardo Guimarães, do
blog da Cidadania; 'E mesmo tendo sido “absolvido” na mesma notícia que o
acusou, Aécio não poderia aparecer na mídia como tendo sido acusado
sozinho. Havia que acusar aquela que o derrotou na eleição presidencial
passada', acrescenta
Por Eduardo Guimarães, do Blog da Cidadania
No começo da noite de quarta-feira, o site do jornal O Estado de São
Paulo surpreendeu o país com a informação de que o candidato derrotado à
Presidência da República Aécio Neves fora citado pelo doleiro Alberto
Yousseff “no final do ano passado” no “termo de colaboração número 20”
por supostamente ter recebido propina da estatal do setor elétrico
Furnas.
A revelação de Youssef não chega a ser novidade. Diz respeito à mais
do que conhecida “Lista de Furnas”, que tem até verbete na Wikipedia e
que jamais foi investigada com seriedade. Confira, abaixo, o que diz a
“enciclopédia” eletrônica
“A Lista de Furnas é o nome atribuído ao esquema de corrupção e
lavagem de dinheiro ocorrido nos anos 2000 e que envolve a empresa
estatal Furnas Centrais Elétricas, com sede na cidade do Rio de Janeiro,
para abastecer a campanha de políticos em sua maioria do Partido da
Social Democracia Brasileira e Partido da Frente Liberal nas eleições de
2002. O escândalo foi originalmente divulgado pela revista Carta
Capital em 2006, denunciando políticos, magistrados e empresários de
receberem dinheiro ilegal através do então diretor da empresa Furnas
Centrais Elétricas, Dimas Toledo e do publicitário Marcos Valério (…)”
Provavelmente, Ministério Público e Justiça Federal não têm acesso à Wikipedia.
Seja como for, a denúncia contra Aécio saiu junto com a negativa de
que esteja envolvido em alguma coisa graças a uma suposta rejeição do
procurador-geral da República, Rodrigo Janot, a uma acusação de um
doleiro que só é levado a sério pela mídia, pelo MP, pela PF e pela
oposição quando acusa o PT. Político tucano é outra coisa.
E mesmo tendo sido “absolvido” na mesma notícia que o acusou, Aécio
não poderia aparecer na mídia como tendo sido acusado sozinho. Havia que
acusar aquela que o derrotou na eleição presidencial passada, mesmo ao
custo de requentar uma matéria imoral que foi condenada pela Justiça
Eleitoral e publicada três dias antes da eleição em segundo turno.
A revista Veja antecipou sua edição da última semana de outubro de
2014 para dar tempo de espalhar suposta acusação de Yousseff a Dilma
Rousseff e a Lula. Nunca se soube o número do “termo de colaboração”
assinado pelo doleiro, no qual a presidente e seu antecessor teriam sido
acusados, e muito menos ficou-se sabendo que o então candidato
adversário naquele segundo turno, Aécio, também fora citado pelo mesmo
doleiro.
Porém, para Aécio não aparecer sozinho como tendo sido acusado por
Yousseff, a Folha de São Paulo acaba de requentar a matéria da Veja que
tentou mudar o rumo da eleição presidencial de 2014 – e que quase
conseguiu.
A menção a Dilma na primeira página da Folha baseia-se na reportagem
de Veja, mas omite que Lula, que a revista afirmou, ano passado, que
fora citado pelo doleiro tanto quanto a presidente da República, jamais
foi sequer investigado. E que não pensem que o ex-presidente pode
figurar na lista do procurador-geral da República, pois pode ser
investigado por qualquer promotor público e responder a inquéritos em
primeira instância da Justiça, o que aliás vem acontecendo devido a
denúncias sem provas do réu dos mensalões petista e tucano Marcos
Valério.
Ao fim e ao cabo, descobrimos que a matéria de Veja que tentou mudar o
rumo da eleição presidencial poderia conter, também, o nome de Aécio
Neves. Aquela capa infame da edição de 24 de outubro de 2014 poderia ter
três rostos, o de Dilma, o de Lula e o de Aécio.
Se houvesse um mínimo de seriedade na dita “grande imprensa”
brasileira, ela admitiria que vem publicando vazamentos seletivos.
Denúncias sem provas – e, talvez, até inventadas – que prejudicam
petistas e acobertam tucanos.
Vale comentar que essa manchete da Folha de São Paulo é um escândalo.
Foi buscar, lá atrás, um meio de não citar só Aécio como alvo de
denúncia de Yousseff. E o que é pior, sem ter nem certeza de que a
menção a Dilma de fato foi feita pelo doleiro no ano passado.