Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

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segunda-feira, 15 de agosto de 2011

O CANDIDATO A PORTEIRO QUE VIROU ECONOMISTA


Smith: o ajuste fiscal ! o ajuste fiscal !!!

Julien Brierre é produtor da TV Record em Londres.

E contou uma história muito interessante sobre a fraude em que se transformaram os “especialistas”, especialmente os economistas.

Um dia, um cavalheiro se apresentou a uma unidade da BBC (a BBC, amigo navegante ! a BBC !) como candidato a uma vaga de porteiro.

Tem um nome comum, digamos, John Smith.

Fica no hall de entrada à espera da entrevista admissional.

Aí, sai do elevador, esbaforido, um produtor em busca de um entrevistado, que estava para entrar no ar naquele minuto.

Seria um “especialista” em internet, um economista que entende das implicações da “online music” para o B-to-B, ou, se for o caso, para o B-to-C: ou seja, business para business, ou business para consumidor.

Questão de alta complexidade, como se vê.

Algo como “ajuste fiscal”, por exemplo.

E pergunta ao candidato a porteiro: é o senhor o John Smith ?

Sim, sou eu, ele respondeu, sem entender por que tanta aflição.

Foi imediatamente arremessado para dentro do elevador e, num golpe só, para um estúdio.

Imediatamente, a entrevistadora lhe pergunta o que achava daquela fantástica inovação.

O candidato a porteiro pensou que já estava em plena entrevista admissional.

Nunca imaginou que fosse assim, tão extravagante.

Mas, tudo bem.

Sem pestenejar, respondeu: muito importante.

Mais duas perguntas e ele, seguro, preciso e breve – como se exige na televisão – discorreu sobre a inovação de forma impecável.

E lá foi ele embora.

O Julien não sabe se o candidato foi aceito na função que efetivamente pretendia.

Mas, a história veio à cabeça deste ansioso blogueiro depois de ler uma fluvial entrevista no Valor, de André Lara Resende, e de outro igualmente notável economista, de renomada obra acadêmica, que ilustra o programa “Manhattan Connection”, da GloboNews (como se não bastasse a urubóloga …).

A palavra de ordem agora é “ajuste fiscal”.

Já foi “câmbio”, na campanha presidencial.

Hoje, com o resultado fulgurante da balança comercial, “câmbio” será provisoriamente esquecida.

Mas, tem o “ajuste fiscal”.

E os especialistas – os John Smiths – dizem que vai tudo muito bem no Brasil, o Brasil pode enfrentar a mega-marola, mas só e só fizer o “ajuste fiscal”.

Como se a Presidenta não fizesse.

E não tivesse sancionado nesta segunda-feira o Orçamento da União com mais de vinte vetos, inclusive um que se refere à remuneração dos aposentados.

Aqui no Brasil é assim.

Pega-se o John Smith, candidato a porteiro e se pergunta:

O Brasil vai enfrentar o tsunami da urobóloga ?

Se o especialista disser que só e só fizer o ajuste fiscal, sairá do estúdio sob aplausos.

Embora, que pena !, não consiga o emprego de porteiro.

Mas, o de economista …

Sobre a farsa dos economistas brasileiros de linhagem neoliberal, sempre cabe ler o Delfim Netto, que, adormecido, é melhor do que todos os neoliberais despertos.

Delfim, outro dia, na Folha (*), mostrou que uma economista americana comprovou cientificamente que havia uma relação inquestionável entre o tamanho do pênis e a distribuição de renda.

Uma beleza !

Uma economista e tanto !

Ciência Pura.

Alta Matemática !

De fazer Descartes morrer de inveja !

A Ciência-Teologia dos neoliberais prova qualquer coisa.

Porque não é Ciência.

É Teologia.

O John Smith que o diga (o candidato a porteiro).

Ou o Delfim.




Paulo Henrique Amorim


(*) Folha é um jornal que não se deve deixar a avó ler, porque publica palavrões. Além disso, Folha é aquele jornal que entrevista Daniel Dantas DEPOIS de condenado e pergunta o que ele achou da investigação; da “ditabranda”; da ficha falsa da Dilma; que veste FHC com o manto de “bom caráter”, porque, depois de 18 anos, reconheceu um filho; que matou o Tuma e depois o ressuscitou; e que é o que é, porque o dono é o que é; nos anos militares, a Folha emprestava carros de reportagem aos torturadores.

Um novo proletariado, feito de trabalhadores precários e de desempregados, que se une à classe média em crise.



Judith Revel

12 /8/2011, Judith Revel e Toni Negri, Uninomade
(dica do Bruno Cava)
Traduzido, do inglês, pelo Coletivo da Vila Vudu


Não era preciso muita imaginação, depois que a análise da atual crise econômica foi trazida de volta às suas causas e efeitos sociais, prever revoltas populares semelhantes a jacqueries[1]. Commonwealth [2], em 2009, já previra. O que não se esperava, ao contrário, é que na Itália a previsão fosse rejeitada no movimento. Seria previsão, como nos disseram, velha. Em vez disso, disseram, “é hora de reconstruir frentes amplas contra a crise e estabelecer, dentro dos movimentos, formas de organização-comunicação-reconhecimento para tratar da representação política”.
Ora, mesmo assim estamos aí, face a face com movimentos que se expressam, eles mesmos, em formas insurrecionais mais ou menos clássicas e estão por toda parte, detonando a velha gramática geopolítica por cujos termos ainda há quem teime em continuar pensando. O que temos, pois, é o seguinte:
Toni Negri

1) Um novo proletariado, feito de trabalhadores precários e de desempregados, que se une à classe média em crise. São sujeitos diversos que se unem na luta, por vias não usuais, exigindo, como nos países do sul mediterrâneo, formas de governo novas, mais democráticas. As ditaduras políticas dos Ben Alis e a ditadura político-econômica das farsas democráticas em que vivemos podem não ser equivalentes – apesar de, durante décadas, as segundas terem acuradamente construído, apoiado e protegido as primeiras –, mas agora a urgência de democracia radical aparece por todos os lados, e marca um comum de lutas que emerge de diferentes pontos, misturando-se e se entretecendo, umas lutas alimentando as exigências das outras
2) As mesmíssimas forças sociais, os que sofrem com as crises em sociedades com relacionamentos de classes hoje já definitivamente controlados por regimes financeiros dentro de economias manufatureiras e/ou cognitivas, movem-se em diferentes territórios (primeiro, movimentos de trabalhadores, estudantes e do precariato em termos mais gerais; agora já complexos movimentos sociais do tipo dos “acampados”) com igual determinação.
3)O ressurgimento de movimentos de pura recusa é atravessado por uma composição societal tão complexa como sempre, estratificada verticalmente (i.e. as classes médias deslizando para o proletariado excluído) e horizontalmente (i.e. em relação a diferentes setores das metrópoles, divididas entre a gentrificação e – como noticia Saskia Sassen – zonas “brasileirizadas”[3], onde as disputas entre gangues já começa a deixar marcas de balas de metralhadoras AK-47 em paredes de áreas nas quais a única – dramática, entrópica – modalidade de luta organizada é o crime organizado).

As atuais revoltas na Inglaterra incluem-se nesse terceiro tipo e são bastante semelhantes às que, há algum tempo, afetaram os banlieues (subúrbios) de Paris: uma mistura de raiva e desespero, fragmentos de auto organização e cristalizações de outros tipos (associações de vizinhos, redes de solidariedade, torcidas de clubes de futebol etc.) expressando agora a insuportabilidade de vidas em ruínas. As ruínas, com certeza desestabilizadoras, que essas revoltas deixam atrás de si não são, afinal, muito diferentes das ruínas de que são feitas as vidas diárias de tantos homens e mulheres: são retalhos e restos de vida, de um modo ou de outro.
Como se pode abrir uma discussão desses complexos fenômenos, do ponto de vista que pensa o comum? O que adiante se lê é apenas registro de uma intenção de abrir um espaço para discutir.
Em primeiro lugar e antes de tudo, parece-nos que temos de deslocar algumas interpretações que a imprensa de massa das classes governantes jogou em campo.
Aquela imprensa diz, para começar, que os movimentos que estamos discutindo têm de ser considerados, de um ponto de vista político, em sua “radical” diversidade. Ora, é óbvio que esses movimentos são politicamente diversos. Mas insistir em que sejam “radicalmente” diversos é, simplesmente, tolice.
Esses movimentos absolutamente não são ditos “radicais” por se oporem a Ben Ali ou outros ditadores, seja qual for, ou porque denunciem a traição política de Zapatero ou Papandreou, ou porque odeiem Cameron ou não aceitem as imposições do Banco Central Europeu. Os movimentos são ditos “radicais”, na imprensa, isso sim, porque todos eles recusam-se a pagar pelas consequências da economia e da crise (Nada poderia haver, de mais errado, que considerar a crise uma catástrofe que acometeu um sistema econômico fundamentalmente sadio; nada mais terrível que a nostalgia da economia capitalista de antes da crise!), o que é o mesmo que dizer que os movimentos são ditos “radicais” porque se opõem ao vasto movimento de riquezas que ocorre hoje em benefício dos poderosos, organizados como estão sob as formas políticas dos regimes ocidentais (democráticos ou ditatoriais, conservadores ou reformistas, pouco muda...).
São revoltas nascidas, no Egito, na Espanha ou na Inglaterra, da recusa à sujeição, à exploração e ao saque que essa economia preparou para a vida de vastas populações em todo o mundo, e, simultaneamente, é recusa às formas políticas mediante as quais a crise dessa expropriação biopolítica vinha sendo gerenciada.
Isso vale também para os regimes chamados “democráticos”. Essa forma de governo só parece preferível pela aparente “civilidade” com que mascara o ataque à dignidade e à humanidade das vidas que esmaga. Mas o ‘ponto de fuga’ da representação política também já está à beira do colapso.
Argumentar que haveria – pelos critérios da democracia ocidental – diferenças radicais entre a representatividade na Tunísia de Ben Ali e na Tottenham ou Brixton de Cameron é, simplesmente, não ver as evidências: a vida foi tão violada e depauperada nos dois casos, que a única via que restou foi a explosão num movimento de revolta. Para nem falar dos mecanismos de repressão, que estão arrastando a Inglaterra de volta aos tempos da acumulação primitiva, às prisões de Moll Flanders e às fábricas de Oliver Twist.
Ao lado dos cartazes com fotos dos jovens rebelados colados nas paredes e postes e exibidos em telões nas cidades inglesas, é preciso colar também fotos em tamanho gigante das carrancas suínas (variante dos PIGS – Portugal, Itália, Grécia e Espanha, economias do sul da Europa devastadas pela crise?) dos banqueiros e chefões das corporações financeiras que converteram comunidades inteiras em “bandidos procurados” e, simultaneamente, viram seus lucros engordarem ainda mais com a crise.
Voltemos aos jornais. Os jornais também dizem que essas revoltas são diferentes, de um ponto de vista ético-político. Haveria revoltas legítimas, como nos países do Maghreb, porque ali a corrupção de ditaduras gerou as condições de miséria. Os protestos de estudantes italianos ou dos “indignados” espanhóis ainda seriam compreensíveis, porque “é ruim ser precário”. Mas as revoltas do proletariado inglês ou francês, essas, seriam “criminosas” porque supostamente definidas por saqueio de propriedade alheia, vandalismo e ódio racial.
Tudo isso é falso, porque essas revoltas – apesar de todas as diferenças que há entre elas, que não negamos – têm uma natureza comum. Não são revoltas “de jovens”, mas revoltas que entendem as condições políticas e sociais que, cada dia mais, vastas camadas da população consideram absolutamente insuportáveis. A degradação do salário social e do trabalho foi além do limite que economistas clássicos e Marx identificaram como o mínimo necessário para a reprodução dos trabalhadores, que chamavam “salário de necessidade”. Os jornalistas, agora, se puderem, que digam que aquelas lutas foram geradas por excessos e desmandos do desejo de consumir!
Já temos aqui uma primeira conclusão. Esses movimentos podem ser definidos como “recomposicionais”. Eles realmente penetram nas populações – sejam de trabalhadores “com carteira assinada” pelo menos até hoje, sejam trabalhadores precários, desempregados ou os que até hoje só encontraram empregos irregulares, improvisações e atividades “não contabilizáveis” – exaltando seus momentos de solidariedade nas suas lutas contra a destituição.
Classes médias em declínio e o proletariado, migrantes e não migrantes, trabalhadores manuais e cognitivos, aposentados, donas de casa e jovens estão unidos na miséria e na luta contra ela. Afinal encontraram condições para uma luta em que se apresentam unidos.
Em segundo lugar, é imediatamente visível (e é o que mais aterroriza os que veem características de consumismo nesses movimentos) que não são movimentos nem caóticos nem niilistas, que não queimam e saqueiam “porque-sim”, que não querem simplesmente reforçar a potência destrutiva de algum tipo de “futuro zero”. 40 anos depois do movimentopunk (que, por sua vez, apesar dos estereótipos, foi apaixonadamente produtivo), as revoltas de hoje não declaram o fim, registrado e internalizado, de todos os futuros: as revoltas de hoje querem construir o futuro.
Eles sabem que a crise que hoje os afeta não se deve ao fato de o proletariado não produzir – seja em condições de emprego e patrão, seja na condição geral de cooperação social por processos transversais de captura de valores – ou de não produzir em quantidade suficiente; eles sabem que o que está acontecendo acontece porque o fruto de sua produtividade lhes está sendo roubado; o que é o mesmo que dizer que sabem que são forçados a pagar por uma crise que não é deles; que já pagaram pela assistência médica, aposentadorias e sistemas de ordem pública... Enquanto a burguesia acumulava para a guerra e para a expropriação, aumentando seus lucros. Mas, sobretudo, eles sabem que não há caminho para sair dessa crise, até que eles mesmos, os revoltosos e rebeldes, assumam o comando dos mecanismos de poder e das relações sociais que regulam aqueles mecanismos.
Mas, dirá alguém, esses movimentos não são políticos. Mesmo que – os críticos acrescentam – expressem posições politicamente corretas (como aconteceu em movimentos no norte da África ou nos “indignados” espanhóis), esses movimentos são preconceituosos ou rebeldes contra a ordem democrática.
Claro, diremos nós: é difícil, senão impossível, encontrar, na ordem política atual, passagens e vias pelas quais possa passar algum projeto que ataque as políticas atuais e supere a crise. Direita e esquerda são, quase sempre, idênticas. Para a direita, o imposto sobre a riqueza deve atingir ganhos de 40-50 mil euros; para a esquerda, de 60-70 mil euros: será essa a diferença? Defender a propriedade privada, ampliar as privatizações e a liberalização são itens das agendas dos dois lados. Os sistemas eleitorais estão hoje reduzidos a pura e simples seleção de delegados dos estratos privilegiados e tal e tal e tal e tal.
As revoltas hoje atacam tudo isso: são ou não são revoltas políticas?
São movimentos, sim, políticos, porque se posicionam em terreno constituinte, não em terreno de ‘reivindicar’. Atacam a propriedade privada porque a reconhecem como a forma do que os oprime; e insistem em constituir e autogerir a solidariedade, o bem-estar social, a educação – numa palavra, o comum, porque esse é, hoje, o horizonte para novas e velhas potências.
Evidentemente não somos estúpidos o suficiente para supor que essas revoltas produzam automaticamente novas formas de governo. O que, contudo, essas revoltas ensinam é que “o uno está cindido em dois”, que a aparente solidez compacta do capitalismo já não passa de velha fantasmagoria, que de modo algum será reunificada, que o capital é sempre esquizofrênico e que a política dos movimentos só pode localizar-se nessa fratura.
Esperamos que os camaradas que acreditavam que as insurreições fossem ferramenta fora de moda da política autonomista consigam refletir sobre o que está acontecendo. Não será por nos consumir à espera de prazos parlamentares e regimentais, mas por inventar instituições constituintes para o comum em revolta, que poderemos compreender juntos o que está por vir.


Notas dos tradutores
[1] Jacqueries ou revolta dos Jacques, foram insurreições camponesas que houve no norte da França, entre 28 de Maio e 9 de Janeiro de 1358, durante a Guerra dos Cem Anos. A designação deriva de Jacques Bonhomme, expressão idiomática francesa, de conotação paternalista, que designava genericamente um camponês e que posteriormente foi usada pejorativamente, equivalendo a "joão-ninguém". A revolta iniciou-se de forma espontânea, reflectindo a sensação de desespero em que viviam as camadas mais pobres da sociedade, depois da Peste Negra, numa altura em que a França se encontrava num vazio de poder e à mercê das companhias livres, bandos de mercenários renegados que vagueavam pelo país”.
[2] Hardt, Michael and Antonio Negri. 2009. Commonwealth. Cambridge, MA: Harvard University Press.
[3] SASSEN, Saskia (1998). Globalization and its Discontents. New York: The New Press.
http://redecastorphoto.blogspot.com/2011/08/o-comum-em-revolta.html

http://goo.gl/Kqui7 /twitter

Clipe em homenagem a juventude rebelde da Inglaterra

Os Jornais e o Povo



Esta semana foi marcada por mais denúncias envolvendo um dos ministérios do governo Dilma. E também pela ação "republicana" da Polícia Federal, interessada em constranger acusados, ou seria constranger o próprio governo a que serve? Aí na internet encontrei os velhos críticos da grande imprensa chamando os progressistas e alternativos para novo embate. A pergunta era: por que eles não falam nada? Por que pararam de criticar "seu" governo?

Estamos diante, mais uma vez, de um fenômeno que temos visto se repetir com uma frequência assustadora. Em vez de jornalismo crítico, jornalismo de oposição. Não basta apontar os erros, a corrupção e as irregularidades. Precisam servir para fundamentar um discurso catastrófico, de profunda crise, anti-nacionalista, privatista e mercadista. Claro que quem tem bom senso não cai nessa cilada armada por jornalistas engajados politicamente.

É fácil dizer: a relação do governo com a base é clientelista. Mas quando o governo age e põe o dedo na ferida, os jornalistas-opositores se aliam aos "bandidos" para fazer o jogo sujo do desgaste político. Como se não fosse possível separar a crítica de princípios. O governo tem falhas? Claro, todo governo tem. Mas uma coisa é apurar, corrigir e transformar. Outra, bem diferente é acusar e, quando o governo age, ele é que é inábil politicamente.


Nas conversas que tive com colegas esta semana, ouvi uma análise muito interessante sobre como, a exemplo da oposição, a grande imprensa está perdida. Ela não pode bater muito na Dilma, porque se a Dilma se enfraquece o caminho natural é volta de Lula. E como se sabe, Dilma tem desprendimento suficiente para deixar o poder, se for esse o caso.

Mas também não dá para a Dilma ficar muito forte, porque se ela ficar muito forte pode tentar a reeleição e aí, o projeto político do PT de ficar 20 anos no poder se fortalece. Portanto, é necessário sangrar o governo enquanto seduz sua presidente. Quem sabe não venha daí um rompimento dela com o barbudo, criador versus criatura, o que abriria caminho para uma ruptura e, consequentemente, a abertura de uma terceira via, oposicionista.

É uma equação muito difícil. Para isso, a grande imprensa está flexibilizando ao máximo. Por enquanto, quem está ganhando é governo Dilma e seu maior avalista, Lula. Basta andar nas ruas e conversar com aqueles que, em vez de ficar lendo os jornais que estes colegas escrevem, fazem parte da dura realidade chamada povo.
 

PSDB - Pior Salário Do Brasil

Depois de uma campanha midiática em que o governador Antonio Anastasia sugeriu que os professores em greve estavam mentindo sobre os salários pagos a eles pelo governo de Minas Gerais, os profissionais de Educação do estado decidiram publicar os contracheques e encaminhar um kit-salário para os jornais e outros meios de comunicação do estado.
Conversei com Beatriz Silva Cerqueira, a Bia, do Sindicato Único dos Trabalhadores de Educação em Minas Gerais, o SINDUTE. E, pelo que ela contou, existe um tremendo esqueleto no armário do atual senador e provável candidato ao Planalto, Aécio Neves, esqueleto agora administrado por Anastasia: o choque de gestão.
Mas, antes do esqueleto, a greve: a paralisação atinge, por decisão da Justiça, apenas 50% dos 380 mil trabalhadores em educação de Minas, em todas as regiões do estado. Ela foi deflagrada, como a greve de Santa Catarina (onde os professores acreditam ter obtido uma importante vitória política), para garantir a implementação do Piso Salarial do Magistério, que é federal e foi considerado constitucional pelo Supremo Tribunal Federal em abril deste ano (valor atual de R$ 1.187,00).
Hoje, em Minas, o professor que tem ensino médio ganha R$ 369,00 mensais de salário inicial; o professor com licenciatura plena, R$ 550,00.
Segundo Bia Cerqueira, este ano o governo Anastasia, a partir de uma lei estadual, decidiu aglutinar todas as parcelas que compõem o contracheque dos servidores em um subsídio, que os professores rejeitam considerar como piso salarial, mas sim o total da remuneração.
A adoção do subsídio, segundo Bia, provoca — entre outras coisas — o nivelamento da categoria entre os professores que tem 20 anos de carreira e os que estão começando agora. Uma situação parecida aconteceu em Santa Catarina.
A greve é por um piso salarial de R$ 1.597,00 para os professores de nível médio com jornada de 24 horas.
Bia Cerqueira diz que a política salarial de Minas Gerais em relação aos professores é de “controle” da remuneração, o que seria um dos princípios do “choque de gestão”, que começou a ser implantado pelo ex-governador Aécio Neves. “Você pode demorar 8 anos para começar a receber por uma pós-graduação que tenha feito, você pode demorar de 20 a 25 anos para receber por um mestrado”, ela exemplifica.
“O governo controla a remuneração [dos servidores] para que possa investir em outras áreas que dão retorno melhor para ele”, disse ela, provavelmente se referindo a retorno eleitoral.
Bia inicialmente não entendeu a minha piada: o choque de gestão, disse eu, teria sido de 220 volts, bem na veia do professorado!
Aliás, ela acredita que o tal choque fracassou redondamente. Três exemplos:
* Faltam 1,5 milhão de vagas no ensino básico em Minas Gerais;
* A média de escolaridade do mineiro é de 7,2 anos;
* No vale do Jequitinhonha, a média de escolaridade é de apenas 6,2 anos.
Além disso, o programa que é orgulho do atual governador, Antonio Anastasia, o Professor da Família, para dar apoio a alunos do ensino médio, é bastante precário.
* Por enquanto, atinge 9 dos 853 municípios de Minas Gerais, ou apenas 22 das 4 mil (eu disse quatro mil) escolas;
* Os professores contratados para implementar o programa, que visa dar aulas de reforço para alunos do ensino médio, têm formação de ensino médio, o que contraria a Lei de Diretrizes Básicas da Educação Nacional, que exige licenciatura plena.
“Os projetos não correspondem à realidade do estado de Minas Gerais”, diz ela.
Duas grandes dificuldades enfrentadas neste momento pelos grevistas: boicote ativo ou desprezo da mídia local e a postura do Poder Judiciário de Minas Gerais que, segundo a Bia, nunca decide em favor dos educadores.
PS do Viomundo: Diante da denúncia dos professores em greve de que são muitas vezes desconhecidos pela mídia mineira, pedimos a nossos leitores que nos ajudem a disseminar este post e outras informações sobre a greve no twitter e nas mídias sociais. Agradecemos.
Poderá também gostar de:

PALESTRAS DE LULA VALEM O DOBRO DAS DE FHC

Commodities: preço alto veio para ficar. Pobre Urubóloga !


Conversa Afiada
Viajar para fora do Brasil é voltar a ler boas notícias sobre o Brasil.

Aqui, o Brasil afunda com a circulação do PiG (*) e a credibilidade da Globo.

Recomenda-se esta semana, por exemplo, ler a respeitada revista conservadora inglesa, The Economist, pág. 37.

Ali, as economias da América Latina – o Brasil à frente – “se vira ” – “balancing act” – em plena crise mundial.

A região vai enfrentar um crescimento menor, mas, não, o desastre anunciado pela urubóloga três vezes ao dia.

O que reforça a posição da América Latina, segundo a Economist, são os preços altos das commodities, a política economia austera, a expansão do crédito doméstico e, claro, o influxo de capital estrangeiro.

A Economist lembra que, desde a crise de 2008, que, segundo a urubóloga ia afundar o Nunca Dantes, desde então as reservas brasileiras passaram de US$ 200 bilhoes para US $ 350 bilhões.

Um horror !

Outra leitura horrorosa é o artigo do excelente Rogério Cohen, no International Heráld. Tribune, na pág. 6 deste fim de semana.

Cohen lembra que o desemprego na Espanha é de 45%; 38% na Grécia.

Um em cada cinco jovens inglês ou americano não tem emprego.

Só quem se deu bem com a crise – segundo Cohen – são os que provocaram a crise : os banqueiros e os pilantras que administram os fundos de derivativos.

A ausência de Justiça e punição os inflama, diz o articulista do New York Times.

Tem saída ?

Tem, ele diz: vá para o Sul !

O crescimento, emprego, expansão, entusiasmo – e, sim, a expectativa de progredir – estão no grande arco não-ocidental que vai da China, através da Índia, em direção à África do Sul e ao Brasil  – diz Cohen.

(Onde os urubólogos  do neoliberalismo brasileiro vão beber sabedoria nesse novo arco não-ocidental ? Oh, Chicago Boys, onde estão que não respondem ?)

Este ansioso blogueiro se divertiu  muito ao ler as profecias apocalíticas de Jeremy Grantham, o inglês que dirige um fundo de investimentos em Boston, nos Estados Unidos.

Em reportagem no Int’l Herald Tribune deste fim de semana – “Ele não é um profeta da catástrofe como os outros” -, Grantham informa que ainda há tempo para evitar a catástrofe da escassez de recursos.

Ele é um militante do ambientalismo e prevê um acelerado esgotamento dos recursos, com a explosão da natalidade.

Malthus não errou, ele diz.

Apenas, foi um profeta antes da hora.

Só que ao contrário dos verdes bláblaristas brasileiros, ele não acredita que o capitalismo seja capaz de proteger o meio ambiente.

Sem a mão forte do Estado, o meio ambiente vai para o beleleu.

(A urubóloga não concorda !)

Grantham previu que a bolha da internet ia explodir e que a bolha das hipotecas e derivativos também ia explodir.

Agora, ele diz que, como o petróleo, que, desde 1974, mudou definitivamente de patamar, as commodities também mudaram.

Subiram e vai ficar lá em cima.

Porque aumentou a demanda irreversivelmente.

O preço das matérias primas mudou de paradigma, ele diz.

Assim, o preço da soja, do milho, do algodão, do açúcar – tudo isso vai ficar mais caro.

Por muito e muito tempo.

Como se sabe, para a  urubóloga, tudo o que é bom para o Brasil é uma bolha que vai explodir em breve.

Em matéria de profeta da catástrofe, ela prefere o Nouriel Roubini, para quem não há salvação.

Lamentavelmente, existe a possibilidade de a profecia de Grantham se confirmar.

A menos que a China e a Índia parem de comer.

Que horror !

Paulo Henrique Amorim
*Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista.

A CRISE DE ABSTINÊNCIA E O ALAMBIQUE MIDIÁTICO


É notório o esforço conservador para circunscrever  os distúrbios registrados em Londres, os mais violentos da onda de manifestações iniciada nos países árabes, à sua dimensão policial. Comprimi-los  ao prontuário das delegacias é uma questão de coerência, especialmente  para a mídia que durante décadas destilou o veneno que está por trás dessas e de outras rebeliões que faíscam do longo crepúsculo neoliberal no  planeta. Exumar esse material narrativo é importante não apenas como documentação do passado. Trata-se de uma vacina para o futuro, num momento em que muitas de suas premissas e promessas revelam-se uma falácia, desdobrando-se em explosiva crise social de abstinência material e subjetiva. No caso brasileiro, um dos alambiques responsáveis por ministrar doses tóxicas de mercadismo & individualismo da selva à classe média, anos a fio  -sem prejuízo de outros provedores de efeito letal semelhante-  é a revista Veja. Em setembro de 2003, por exemplo, a semanal da  Abril - editora que inclui a educação entre as prioridades de negócios atualmente, com a venda maciça de ‘conteúdo' apostilado  à rede pública de ensino de SP-- dedicou-se a um balanço daquilo que anunciou como sendo: " ... 35 anos da história do Brasil e do mundo contado a Veja por quem a fez". E quem a fez? No quesito ícones da economia, Veja consagrou então, respectivamente, Margareth Thatcher, a Dama de Ferro, autora da pérola "isso a que chamam sociedade não existe; que existe são os indivíduos"; e o não menos preclaro militante do individualismo exacerbado, Friedrich von Hayek, para quem o vale-tudo dos mercados era o requisito da liberdade humana. Os acontecimentos em Londres dão uma pequena idéia do esgarçamento social produzido por esse ‘experimento' de interesses lucrativamente reverberados  pelos Civita, Marinhos e Murdochs. Não por acaso os mesmos que agora mobilizam desesperado esforço reinterpretativo para legitimar uma terapia da crise feita de doses adicionais do veneno que a gerou. (Leia mais no especial ‘O berço neoliberal: a Inglaterra de Tatcher a Tottenham)
(Carta Maior; Domingo, 14/08/ 2011)