Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

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terça-feira, 15 de setembro de 2015

'Crise revela colapso da Nova República'

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A crise de 2008 foi muito grave, mas o governo brasileiro conseguiu evitar que a população sofresse suas consequências por 7 anos. Por todo esse período os salários e o emprego subiram continuamente. Isso foi especialmente difícil porque o governo não quis desobedecer aos princípios macroeconômicos básicos instituídos pelo governo FHC: a autonomia do Banco Central e a hegemonia das finanças sobre as determinações centrais da política econômica através do Tripé: câmbio flutuante, meta de inflação e de superávit primário.
Tripé: a máquina que cria e legitima os juros indecentes
Nenhuma das metas do Tripé está relacionada a emprego e crescimento. Portanto, só por acaso poderia levar a eles. Na prática isso só pode acontecer, quando o dólar está em processo de valorização nominal. Caso contrário, as metas de inflação e superávit primário são tão exigentes, para a situação econômica brasileira, que a única forma de atendê-las é com os juros muito altos e recorrentes arrochos fiscais. O Tripé é assim a justificativa, o instrumento e legitimação para os juros surrealistas brasileiros.
A inflação brasileira é naturalmente mais alta do que nos países desenvolvidos em razão da elevada indexação da economia, especialmente dos serviços públicos privatizados, da renda mal distribuída – que leva à necessidade de reajustes salariais acima da inflação – e da baixa competitividade externa da indústria levar o câmbio a recorrentes desvalorizações.
Assim, a menos que o câmbio nominal esteja em permanente valorização – como no período Lula, por causa do aumento dos preços das commodities – a inflação estará sempre próxima do limite da meta. Por isso os juros estarão sempre em elevação ou altíssimos, mesmo com a economia estagnada ou em recessão. Consequentemente, a arrecadação de impostos crescerá pouco e o governo perderá o poder de fazer política fiscal para estimular a economia.
No gráfico abaixo, as barras verdes mostram a grande diferença entre o governo Lula e Dilma, a valorização cambial no primeiro, representada pelas barras para baixo e a desvalorização na segunda, representada pelas barras para cima.
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Nesse contexto, o governo dependerá apenas dos humores do setor privado para estimular a economia. Chama-se isso de política econômica pró-cíclica, quando o governo não tem capacidade de retirar a economia da recessão ou estagnação.
Market Friendly?
O governo Lula nunca afrontou as altas finanças. Dilma chegou a afrontá-las em alguns momentos, além do conhecido esforço de reduzir as taxas de juros entre 2011 e 2012. E foi só por isso que conseguiu evitar que a crise atingisse os salários e os empregos. Ao menos até dezembro de 2014.
É preciso admitir que foi fundamental a ajuda dos chineses, nos primeiros 4 anos da crise internacional, quando sustentaram o preço das commodities com sua política de investimento em infraestrutura.
Porém, desde 2012, o preço das commodities está caindo e já atingiu os menores valores em 10 anos. Apesar disso, o governo Dilma, com políticas heterodoxas, conseguiu blindar por alguns anos o salário e o emprego das consequências desse processo e, assim, pôde vencer as eleições do ano passado.
A ajuda fundamental do BNDES
Só escapamos de uma crise econômica por causa do BNDES. Sem ele, o Tripé teria colocado a economia brasileira em depressão ainda em 2008, por limitar o governo a fazer política contra cíclica.
A resposta dos EUA, Europa, Japão, China e outros emergentes à crise foi invariavelmente déficit público muito elevado e política monetária heterodoxa radicalmente expansionista. Os EUA para manter a renda e o emprego em níveis socialmente aceitáveis, a Europa para impedir que toda a economia e Estados-membros entrassem em falência financeira. No Brasil, essas duas saídas foram vetadas pelo Tripé. Então, o BNDES cumpriu os dois papéis de política monetária e fiscal.
Para isso, o BNDES foi obrigado a crescer através de um acordo inovador com o Tesouro Nacional, chamado de acordo BNDES-Tesouro. Em pouco tempo passou de R$ 40 bilhões de empréstimos anuais para quase 200 bilhões. Esse modelo foi socialmente mais justo e mais transparente do que os programas de compras de ativos dos países desenvolvidos.
Guerra econômica dos EUA e Europa: sabotagem da recuperação global
A economia mundial não saiu ainda da crise global de 2008, porque as potências ocidentais estão se valendo da crise para justificarem políticas de guerra econômica que desestimulam suas importações e favorecem a criação de excedentes de exportação de manufaturas com o objetivo de barrar a ascensão dos BRICS, mais especificamente da China.
Nos países desenvolvidos, a medida mais imediata contra a crise de 2008 foram políticas monetárias altamente expansionistas para desvalorizar o câmbio e o custo do investimento. O Ministro Guido Mantega, desde o início acusou essas políticas de serem formas deBeggar thy neighbour, empobrecer seu vizinho ou exportar desemprego. Por ser verdade, ele foi muito criticado pela nossa imprensa por essas revelações incômodas às potências ocidentais.
Os EUA iniciaram essa política ao reduzirem a taxa de juros a zero. Foram copiados, por Europa e Japão. Mas a guerra econômica não se restringiu à política monetária. As velhas potências industriais em crise também cortaram direitos trabalhistas e contribuições sociais em folha para baratear o custo do trabalho e aumentaram o cipoal de regras protecionistas para afastar manufaturas vindas dos países emergentes.
Os EUA utilizaram ainda de forma muito eficiente a proibição da exportação de petróleo e gás natural ao mesmo tempo em que ofereceram generosos incentivos financeiros e fiscais para a produção de hidrocarbonetos não-convencionais, a criando a revolução do xisto (folhelho betuminoso). Com isso os preços do petróleo e, especialmente, do gás natural se tornaram substancialmente mais baratos nos EUA do que no resto do mundo, gerando assim um significativo diferencial de custo em favor da indústria americana.
Saída chinesa e dos Brics: cooperação para recuperação global
No auge da crise global, o Ocidente pede ajuda no G20 para que os emergentes estimulem sua demanda e assim ajudem o Mundo a se recuperar. Liderados pela China, os BRICS cumprem seu papel solidário às velhas potências, e são fundamentais para recuperação que se seguiu. Porém as potências ocidentais fizeram o contrário, guerra econômica, sabotando a saída da crise global.
Mantega reage à guerra econômica e à desindustrialização com ganhos para trabalhadores
Em 2011 o mundo ainda estava em crise. A partir de 2012, o preço das commodities começou a cair. Dilma, não é “pé quente” como o Lula. Não pôde contar nem com o câmbio competitivo, como em 2003 a 2006, e nem com preços das commodities crescentes como em 2006 a 2010. Para manter os salários e empregos em crescimento precisou trabalhar no limite das metas. Conteve as tarifas de serviços públicos e reduziu os impostos da cesta básica e outros produtos para barateá-los.
A política de contenção de tarifas e preços foi correta e essencial para que a Dilma pudesse dar continuidade às conquistas do governo Lula. Mas não apenas isso. Essa política permitiu que fosse parcialmente corrigido o maior erro da era Lula, a valorização cambial. Dilma foi o primeiro presidente da Nova República a ter uma política focada em combater a desindustrialização. Isso ocorreu direta e indiretamente, por via da contenção de preços. Ao reduzir a inflação, permitiu-se que o câmbio fosse desvalorizado sem que isso implicasse em rompimento da meta de inflação.
Com isso o governo fez a proeza de desvalorizar o câmbio ao mesmo tempo em que melhorava salários, emprego e serviços públicos e sem romper as metas do Tripé. Graças a isso, Dilma conseguiu estancar o processo de desindustrialização, como se pode ver no gráfico abaixo, sem romper com os compromissos sociais, como muitos sugeriram.
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Uma das políticas mais inovadoras e mal compreendidas do governo foi a desoneração da folha de pagamentos. Ela tem um efeito similar à desvalorização cambial em termos do custo em dólar da geração de empregos industriais, mas sem impacto negativo sobre a inflação. Ao contrário, é positivo. Muitos economistas temem que ela prejudique o financiamento da previdência, apesar de sabermos que, no mundo inteiro, o déficit na previdência é sempre financiado parcialmente pelo Tesouro, e que essa é uma forma de financiamento socialmente mais justo do que a tributação sobre a folha de pagamento, porque a previdência seria, assim, financiada parcialmente por impostos sobre a renda, o patrimônio ou o consumo e, portanto, atinge relativamente menos os trabalhadores do que se fosse sobre a folha de pagamentos. Devemos citar também nessa linha o Reintegra, o Inovar-auto e diversas outras políticas dentro do guarda-chuva do Plano Brasil Maior, que tiveram um impacto importante sobre a competitividade da indústria brasileira. Dilma empreendeu a política industrial mais ativa entre os presidentes eleitos desde JK. Mas ainda foi insuficiente perto do que fazem nossos concorrentes.
Impedindo a recessão
As políticas de reação à guerra econômica foram importantes para combater a desindustrialização e o déficit no balanço de pagamento, porém têm impacto relativamente baixo em estimular a demanda, que estava se desacelerando desde 2011.
O maior erro da política econômica da Dilma foi o exagero no corte de gastos e aumento dos juros nos 1º semestre de 2011. Isso comprometeu todo o mandato, porque não pudemos contar com um cenário externo favorável. Uma vez colocado o crescimento no chão, o Tripé passa a ser uma camisa de força que obriga o governo a ter uma política econômica “pró-cíclica”, e, no caso, estagnacionista, a menos que adote instrumentos considerados “heterodoxos”.
A queda da demanda e a política tributária de estímulo à industrialização reduziram a taxa de crescimento da arrecadação. Porém, ao invés de cortar investimentos e gastos sociais como foi exigido pelo setor financeiro, Mantega e Arno Augustin optaram, sabiamente, por buscar receitas extraordinárias, adiantamentos de receitas e reduções efetivas na meta de superávit. Essas políticas foram indevidamente chamadas de “contabilidade criativa”.
Graças a elas, pudemos continuar avançando nos investimentos sociais e infraestrutura, na geração de empregos, nos salários, nos investimentos e estimular a indústria, resistindo à guerra econômica e à desindustrialização, sem romper com o Tripé.
A aposta do futuro: Pré-Sal + BNDES financiando infraestrutura
A aposta da Dilma até 2012 foi a redução das taxas de juros. Quando percebeu que Tripé inviabilizaria essa aposta, Dilma concentrou suas esperanças de crescimento na maturação dos investimentos da Petrobras e dos programas de concessão de infraestrutura com financiamentos do BNDES. Esses investimentos não sofriam com as limitações do Tripé.
Essas iniciativas, além de gerar demanda para sustentar a economia, tinham outras funções. As concessões melhorariam as condições de custo e qualidade da infraestrutura. A Petrobras pelo volume de investimento, era o principal instrumento público de geração de demanda e, portanto, de emprego. Era também o principal instrumento de política industrial, em razão da política de conteúdo local. O essencial, porém, era a meta de produção de petróleo, que atingiria 5,5 milhões de barris até o final da década. o que seria uma redenção nacional mais significativa do que foi a ascensão da China e das commodities entre 2006 e 2012.
Levy e Lava-Jato
Essas grandes apostas para escapar do Tripé foram desmontadas pela Lava-Jato e pelas limitações aos bancos públicos inventadas pelo Levy. Elas comprometeram o financeiro da Petrobras, das construtoras e dos projetos.
Levy investiu contra os instrumentos que permitiam contornar as limitações do Tripé. Isso – junto ao ajuste fiscal, o aumento dos preços administrados e o grande aumento dos juros – produziu uma recessão muito maior do que o colapso financeiro de 2008 e que está prometendo ser a maior da nossa história.
Tripé e as saídas
Tripé impede o governo de fazer política fiscal e monetária, a menos que o câmbio se valorize. Se não for rompido, ele gerará mais 3 anos de recessão. A alternativa é refazer o acordo BNDES-Tesouro para reerguer as finanças da Petrobras. Sou autor de um projeto de lei com esse objetivo.
Colapso da Nova República
Se Dilma insistir em manter o Tripé e em barrar as alternativas através dos bancos públicos e a Petrobras, em breve a recessão será tão profunda, que só será possível sair da crise da forma óbvia, com um grande déficit público primário, porque a saída pela redução dos juros e pelo financiamento público às estatais tem uma maturação lenta em termos de efeitos sobre o emprego. O problema é saber se a Dilma terá a legitimidade para fazê-lo, depois de muito tempo em recessão e fiando o resto de sua governabilidade no apoio do setor financeiro.
Se Dilma não tiver disposição e nem legitimidade para enfrentar o dogmatismo financista do Tripé, a atual oposição, uma vez no governo enfrentará? Depois de tecer tantas loas ao Tripé, o PSDB vai acabar com ele, uma vez no governo? Se não enfrentarem isso, sofrerão a mesma crise de legitimidade que hoje a Dilma enfrenta.
Depois que o povo sentiu o gosto da prosperidade, nos últimos anos, não vai acreditar que o desemprego e o arrocho salarial sejam inevitáveis. Difícil acreditar que, uma vez no governo, a oposição terá sabedoria ou interesse de manter essa prosperidade.
Além disso, a própria ascensão do PSDB ou do PMDB ao poder por meio da quebra do mandato de Dilma seria um quase insuperável obstáculo à legitimidade. Afinal, esses partidos também são conhecidos pelos graves casos de corrupção. Além disso, está sendo difícil esconder que o processo de tentativa de derrubada da Presidenta tem sido maculado por parcialidade e hipocrisia, não só por parte da imprensa, mas até também por instituições que deveriam zelar pela imparcialidade. Elas próprias tem perdido a legitimidade em razão de terem se tornado órgãos superpoderosos com remunerações que superam a legalidade e não fazem questão de mostrar coerência e prestar contas. PMDB ou PSDB no poder, vão conviver harmoniosamente com essas instituições ou entrarão em conflito com elas?
A direita está claramente questionando a legitimidade das instituições, da democracia e do modelo político da Nova República e para isso estão usando as próprias super entidades de controle, investigação e punição criadas por essa mesma Nova República. Com isso estão finalmente destruindo a legitimidade dessa mesma Nova República frente à esquerda. O povo acabará embarcando em uma versão ou de outra depois que começar a perder emprego e o poder de compra, retirando também a credibilidade que ele ainda deposita na nossa democracia.
Tudo isso porque a Nova República tem se mostrado incapaz de substituir um modelo econômico primário, como o Tripé, para que a economia volte a gerar empregos, e que só existe para justificar juros indecentes. Se nada mudar, essa submissão da nossa democracia às imposições do setor financeiro acabará por destruí-la. E se isso acontecer, certamente o Tripé e os juros indecentes também perecerão…

*Roberto Requião é senador da República, em seu segundo mandato. Foi governador do Paraná três vezes, deputado Estadual e prefeito de Curitiba. É graduado em jornalismo e em direito com especialização em urbanismo.

terça-feira, 14 de julho de 2015

Só restou ao PSDB fazer oposição ao Brasil

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A recente pesquisa Ibope que mostrou perda substancial – ainda que menor do que o esperado – de capital eleitoral de Lula contém elementos que revelam quais são os grupos de eleitores que abandonaram Dilma Rousseff, o ex-presidente e o PT. Juntos, esses grupos representam cerca de um terço do eleitorado total que reelegeu a presidente.
Essa pesquisa foi divulgada no sábado, apesar de ter sido realizada na segunda quinzena de junho, e mostrou que Lula seria derrotado por 48% a 33% dos votos totais em um confronto eleitoral com Aécio Neves, e que empataria tecnicamente se o candidato fosse Geraldo Alckmin (40% para o tucano e 39% para o petista).
A estratificação da pesquisa revela quem é o eleitorado que abandonou não apenas Dilma e o PT, mas, também, o dito “lulismo”.
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O cientista político Marcus Melo, da UFPE, fez uma análise muito boa da pesquisa e dividiu em dois grupos os eleitores que abandonaram o PT, que chamou de “core voters” e “swing voters”.
Os “core voters” são os eleitores ideológicos, de esquerda, que, nas eleições presidenciais anteriores, votaram no PT por maior identificação e para evitar que o novo grande partido de centro-direita, o PSDB, chegasse ao poder.
Esses eleitores são de classe média e ligados a sindicatos, movimentos sociais e até a partidos de esquerda. São informados politicamente e altamente escolarizados. Porém, são bem menos numerosos que os do segundo grupo.
Esse eleitorado foi fortemente afetado pelas críticas que o governo Dilma sofreu “pela esquerda” e, desiludido, integra o segmento que anularia o voto ou votaria em branco se houvesse nova eleição presidencial.
Os “swing voters” compõem a grande maioria dos eleitores que, segundo a mídia, teriam jogado o governo Dilma, Lula e o PT no “volume morto”. São associados à prática de “swing” (sentido figurado de troca de parceiros) porque não têm fidelidade ideológica; guiam-se, basicamente, pelo bolso.
Os “swing voters” têm pouquíssima informação política e não têm ideologia definida. Esse grupo responde, fundamentalmente, a mudanças para melhor ou para pior no seu bem-estar e abriga os mais temerosos pelo futuro, sobretudo em questões como desemprego e inflação.
No passado recente, esse grupo não havia deixado majoritariamente Dilma, Lula e o PT porque, apesar do medo do futuro, não havia sentido piora considerável em seu bem-estar. Com as medidas do ajuste fiscal, já sente piora e, assim, enfureceu-se ao julgar que as críticas que o governo Dilma sofria tinham fundamento.
Devido à ampla campanha midiática de associação de Lula a Dilma, os “swing voters” passaram a enxergá-los como uma coisa só.
No caso de uma ruptura democrática neste momento (impeachment) ou das eleições de 2018, os “core voters” acabariam votando no PT (sobretudo se o candidato for Lula) a contragosto, para evitar o “mal maior” associado à volta da centro-direita tucana (ou similar) ao poder, mas seriam insuficientes para barrar o candidato do PSDB.
Dessa forma, apesar de os “core voters” estarem enfurecidos com o governo, com Lula e com o PT – ironicamente, graças à propaganda negativa inclusive de setores do próprio PT contra o ajuste fiscal – eles reduziriam a vantagem de Aécio em um confronto direto com Lula neste momento. E, muito provavelmente, caso o candidato do PT fosse outro.
No caso dos “swing voters”, porém, a situação seria mais complicada se houvesse golpe “branco” e fosse convocada nova eleição presidencial neste momento, pois a economia ainda estaria com problemas e, desse modo, o eleitorado volúvel votaria em qualquer um que prometesse evitar os problemas econômicos que teme e/ou que já começa a sentir.
Só para registro, vale refletir que, em caso de o PSDB  (ou similar) assumir o poder e não evitar a crise, mesmo atribuindo o problema à “herança maldita do PT” não evitaria o descrédito e o enfurecimento, agora consigo, dos “swing voters”.
Contudo, se o golpe for evitado e a disputa pela Presidência só vier a ocorrer em 2018, a reversão da situação de Lula e do PT é absolutamente factível, dependendo, apenas, de que o Brasil retome um ritmo consistente de crescimento do emprego e da renda a partir de 2017.
O cientista político supracitado considera que é “improvável” que a economia entre nos eixos em um ano e meio. E, apesar de não ter dito, isso se deve ao fato de que, além dos problemas próprios do desequilíbrio entre receita e despesa, há o componente político, que é hoje o tendão de Aquiles da economia.
Os condutores da Operação Lava Jato prometem manter o estardalhaço até a eleição presidencial de 2018. O Congresso, hoje nas mãos da direita, tratará de ir aprovando toda sorte de maluquices – como extensão de reajustes do mínimo para aposentados – de forma a afastar investimentos.
Por outro lado, o governo Dilma trabalha incansavelmente para mostrar aos investidores que fará a “lição de casa” – ou seja, o ajuste fiscal – e que adotará uma política mais receptiva à iniciativa privada.
A postura governamental de aposta no reequilíbrio das contas públicas e de facilitação da vida dos investidores tem grande possibilidade de funcionar, razão pela qual o grupo de Aécio Neves e Eduardo Cunha não quer esperar 2018 e busca derrubar Dilma já, antes que a economia se recupere.
Seja como for, uma coisa é certa: hoje, o PSDB em peso e setores do PMDB fazem oposição ao Brasil. Dependem, basicamente, de que o país não saia da crise para que possam vencer a eleição presidencial de 2018 ou até fazerem o impeachment vingar para realizarem nova eleição enquanto a economia estiver indo mal.

quarta-feira, 20 de maio de 2015

PSDB mentiu para reeleger FHC; não pode acusar o PT de mentir

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Na noite da última terça-feira, um partido político conseguiu a façanha de esbofetear um país inteiro usando meia dúzia de palavras. O autoproclamado partido da “social democracia brasileira” – que hoje se equilibra entre a centro-direita e a extrema-direita – teve a ousadia de acusar o PT e Dilma Rousseff de mentirem para que ela se reelegesse.
Qualquer brasileiro, qualquer entidade, qualquer partido político tem todo o direito de questionar o discurso adotado pela campanha de Dilma Rousseff à reeleição, no sentido de que ela teria “mentido” sobre a situação do país para se reeleger. Ainda que este Blog não concorde com tal premissa, é direito das pessoas entenderem assim o tom da campanha da reeleição da atual presidente da República.
Este texto, portanto, não é uma defesa de Dilma e/ou de seu partido, no sentido de negar que tenham mentido – esta página já publicou textos explicando por que acha que ela não mentiu, já que a presidente disse, durante a campanha, que a crise internacional cobraria seu preço e que, portanto, ajustes teriam que ser feitos.
Mas se você, seja de que posição político-ideológico-partidária for, quiser achar que Dilma e seu partido só não teriam mentido se tivessem exposto, durante a campanha eleitoral, os detalhes das medidas que iriam tomar, é seu direito.
Não apenas porque é liberdade de expressão, mas porque no mundo ideal todos os políticos teriam que dizer seus planos com detalhes ao pedirem voto ao eleitor, ainda que nenhum partido brasileiro já tenha feito isso.
Porém, existe um grupo político e um sujeito político em especial que não podem, de maneira alguma, acusar qualquer político ou partido de mentirem para se reeleger. Esse grupo político e esse sujeito político são, respectivamente, o PSDB e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. No entanto, eles fizeram isso na noite da última ter
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É revoltante. O PSDB não tem a mínima condição moral de dizer uma coisa dessas simplesmente porque fez muito pior.
Não existe um único economista sério que seja capaz de comparar a situação econômica do Brasil de hoje com a de 1998, quando o ex-presidente Fernando Henrique, tal qual Dilma, candidatou-se à reeleição, ou com a de 1999, quando a mentira que contou no ano anterior para se reeleger, desmoronou.
Fernando Henrique mentiu tanto, na campanha de 1998, que se recusou a participar de qualquer debate com outros candidatos, pois não teria respostas aos questionamentos sobre a economia e, mais do que tudo, sobre como faria para cumprir uma promessa que fizera ao país, de que não desvalorizaria o real caso fosse reeleito, apesar de que não havia um só economista, jornalista econômico ou até mesmo instituição financeira, à época, que não soubesse que a desvalorização sobreviria.
Três dias antes de FHC reeleger-se em primeiro turno (1998), o professor de economia do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts) Rudiger Dornbusch declarou, publicamente, que a desvalorização do real, que o então presidente do Brasil negava que ocorreria, iria ocorrer em até três meses após ele se reeleger. E ainda disse que Brasil era um país “malgovernado”.
FHC passou a campanha eleitoral inteira afirmando que seria “desnecessário” desvalorizar o real, que isso não iria ocorrer. E a estratégia que usou para vencer a eleição foi desqualificar os alertas que o principal adversário (Lula) fazia no sentido de que a desvalorização seria inevitável.
Em 30 de janeiro de 1998, em seu discurso no encontro anual do Fórum Econômico Mundial, Fernando Henrique Cardoso atacou os que diziam que ele iria desvalorizar o real acusando-os de terem “obsessão com o pessimismo”. FHC estocou economistas que, na véspera, haviam previsto um colapso do real a curto prazo pelos problemas do Brasil com suas contas externas.
Depois do discurso de FHC, o presidente do Fórum Econômico mundial lhe fez quatro perguntas. A primeira foi sobre desvalorização do real. FHC respondeu com outra pergunta: “Como se pode realmente avaliar o valor de uma moeda?”.
Conforme diz a reportagem da Folha de São Paulo linkada acima, FHC terminou sua participação em Davos, Suíça, “negando enfática, embora previsivelmente”, uma “eventual desvalorização da moeda”.
Os seus auxiliares também eram orientados a negar, de mãos juntas, que haveria desvalorização.
Armínio Fraga, aquele que Aécio Neves queria colocar no comando da economia caso fosse reeleito, ainda não era membro do governo FHC, mas já estava com um pé dentro – três meses depois, seria recrutado para o Banco Central.
Assim, Fraga tratava de referendar a mentira tucana de que não haveria desvalorização. Veja, leitor, como em 18 de janeiro de 1998 ele reagiu a pergunta de um repórter da mesma Folha de São Paulo sobre se o Brasil deveria desvalorizar o real:

— Um alcoólatra monetário reformado como o Brasil não pode se dar ao luxo de tomar um golinho. Acho que a desvalorização seria isso (…)

Bem, o Brasil não tomaria apenas “um golinho” de desvalorização, tomaria um porre.
Mas os auxiliares diretos de FHC também mentiam como o chefe. Segundo a Folha de São Paulo, em novembro de 1998 o então ministro da Fazenda, Pedro Malan, em encontro com banqueiros alemães, negou, peremptoriamente, a desvalorização do real que ocorreria dália a cerca de um mês.
Mas vamos adiante.
Apesar das negativas tucanas, segundo coluna do jornalista Fernando Rodrigues, em 1998, “A desvalorização no Brasil” passara a ser “A principal preocupação dos participantes do mercado”. Segundo o colunista disse à época, “Para 19% dos investidores” a maxidesvalorização aconteceria ainda naquele ano, e para 33% seria “No primeiro semestre de 99”.
Mas o maior vendedor da mentira de que o real não seria desvalorizado era o próprio FHC. E ainda atacava a proposta pública do PT de desvalorizar a moeda antes que o mercado o fizesse, o que seria muito pior, como realmente foi. O PT pregava uma desvalorização controlada, mas o presidente tucano dizia que não era “necessário”.
Em junho de 1998, em plena campanha eleitoral, em uma de suas constantes reuniões com jornalistas amigos (dos veículos que não lhe denunciavam a farsa), FHC repetiu que não concordava com a proposta do PT de desvalorizar o real:

— Não precisa. Tanto não precisa que as exportações estão crescendo!

Enquanto FHC e seu partido mentiam sobre a iminente desvalorização do real e sobre a catastrófica situação da economia com vistas a garantir a reeleição à Presidência da República, o jornal americano Wall Street Journal decretava em manchete: “O Brasil agoniza”.
No centro da tempestade financeira mundial, o país deu uma guinada na sua política econômica. Na mais dramática semana do Real, a perda de credibilidade empurrou o governo a derrubar o grande pilar do plano de estabilidade, a âncora cambial, ou variação controlada da cotação do dólar.
A atrapalhada desvalorização de 8,26% na quarta-feira, 13 de janeiro de 1999, poucas semanas após a última negativa de FHC de que desvalorizaria o real, em vez de acalmar os mercados internacionais gerou uma fuga de capitais sem precedentes – US$ 4 bilhões saíram do País em três dias.
A rigor, na noite da última terça-feira os autores de todas essas peripécias estavam lá – na sua casa, no seu escritório, em sua TV ou rádio –, acusando Dilma Rousseff daquilo que eles mesmos fizeram dezesseis anos antes.
O Fernando Henrique Cardoso que apareceu na terça-feira 19 no programa eleitoral do PSDB é o mesmo que passou a campanha eleitoral de 1998 inteirinha negando medida que adotaria 13 dias após a posse do segundo mandato como presidente da República. E o PSDB é o partido que, ao governar o Brasil, ajudou FHC a mentir.
Qualquer cidadão brasileiro pode, se assim entender, acusar Dilma de ter mentido durante a campanha eleitoral. E essa pessoa não precisa de autorização de ninguém e sua crítica tem que ser respeitada, além de rebatida por quem não concorda. Mas Fernando Henrique Cardoso e seu partido fazerem isso é uma bofetada em cada brasileiro.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

“O Brasil é uma oportunidade excepcional !” Os juros de longo prazo já indicam mais confiança.

 “ O Brasil é uma oportunidade excepcional ! ”

Os juros de longo prazo já indicam mais confiança.


Daniel Rittner, especialista em atrasos de obras de infra-estrutura, e Luciano Máximo, do Valor, entrevistaram Luiz Carlos Trabuco, do Bradesco, em Davos, na Suíça.

Seguem-se algumas considerações do presidente do Bradesco, um pequeno banco do interior de São Paulo, sediado em Marília e cujas opiniões não merecem refletir-se nos colonistas (ver no ABC do C Af) do PiG:

- Alguns investidores aqui (em Davos) já nos disseram que o Brasil tem futuro e é uma possibilidade excepcional para investir;

- O ano de 2015 deverá comemorar o ajuste de dois pilares: o fiscal e o da política monetária;

- Os juros de longo prazo do Tesouro Nacional, NTN-Bs já caíram de 7% para 6%;

- Já é reflexo da mudança de dimensionamento da política econômica;

- Este é um ano de encontro. Atingiremos a competitividade se tivermos uma boa logística;

- Para que o processo de concessões seja mais barato, é preciso haver confiança do (empresario);

- Foi importante aumentar a CIDE (dos combustíveis) porque aumenta a arrecadação e ameniza a crise do setor de etanol;

- A retomada de 2015 se dará com os investimentos em infra-estrutura, que dependem de se virar a pagina do problema da Petrobras e da Lava Jato
(clique aqui para ler “as empreiteiras não podem fechar”.)

(Leia também o que disse o PML sobre a “ideologia” do Dr Moro”; clique aqui para ver que o Dr Moro parece ter saído aos seus, anti-lulistas; e aqui, onde se pergunta se ele leu o Padre Vieira.)

Sobre o apagão do Alckmin, disse Trabuco:

“A solução para a crise hídrica não está em represas construidas há 20, 30 anos, quando a cidade tinha outra densidade populacional. Precisamos ser extremamente arrojados”.

- Já se percebem os reflexos do “choque de credibilidade”.

Ao contrário dos colonistas do PiG, o Conversa Afiada presta muita atenção às serenas palavras do Trabuco.
Lamenta que não tenha sido ele o Ministro – clique aqui para ler ”o Conversa Afiada apoia a preferência por Trabuco”.
O Conversa Afiada acredita que é preciso um ajuste.
Não chamaria de um “choque de credibilidade”, porque o Guido Mantega merece credibilidade e desempenhou seu papel com eficiência e coragem.
Segurou a barra numa situação difícil – especialmente numa eleição em que o Governo ficou sitiado pelo PiG até o início do horário eleitoral: sem poder se defender ou mostrar o que fez.
O Conversa Afiada, porém, leu o Piketty.
Será que a Urubóloga leu ?
E, portanto, tem as suas dúvidas sobre um “ajuste” neolibelês, em que o custo cai no lombo dos mais vulneráveis.
Preferia que o Levy tratasse imediatamente de um imposto sobre grandes fortunas, como sugere o Piketty e repudiam os filhos do Roberto Marinho.
Preferia que o Levy anunciasse um projeto de lei para recriar a CPMF.
E não se contentasse como aumento de impostos que não discriminam ricos de pobres.
Agora, por exemplo, a Presidenta Dilma não corrigiu a tabela do Imposto de Renda, para não perder arrecadação.
Quem mais sofre ?
O coitadinho da classe média, porque os filhos do Roberto Marinho nem se coçarão.



Em tempo: o Trabuco é a única boa notícia no PiG cheiroso (ver no ABC do C Af).

O resto é uma desgraça só.

Imagina, amigo navegante, que a edição impressa do jornal (sic) abre com duas fotografias assustadoras: a do Adriano Pires – ah, quando eu crescer quero ser o Adriano Pires – e do banqueiro Luiz Carlos Mendonça de Barros, que o PiG insiste em tratar como se laureado economista fosse.

É aquele do “se isso der m…”.

Lembram ?

Barros é quem estava do outro lado da linha …

Em tempo2: o Valor não registrou a presença do Aécio Never, que iria a Davos no lugar da Dilma.


Paulo Henrique Amorim



Ao contrário dos colonistas do PiG, o Conversa Afiada presta muita atenção às serenas palavras do Trabuco.
Lamenta que não tenha sido ele o Ministro – clique aqui para ler ”o Conversa Afiada apoia a preferência por Trabuco”.
O Conversa Afiada acredita que é preciso um ajuste.
Não chamaria de um “choque de credibilidade”, porque o Guido Mantega merece credibilidade e desempenhou seu papel com eficiência e coragem.
Segurou a barra numa situação difícil – especialmente numa eleição em que o Governo ficou sitiado pelo PiG até o início do horário eleitoral: sem poder se defender ou mostrar o que fez.
O Conversa Afiada, porém, leu o Piketty.
Será que a Urubóloga leu ?
E, portanto, tem as suas dúvidas sobre um “ajuste” neolibelês, em que o custo cai no lombo dos mais vulneráveis.
Preferia que o Levy tratasse imediatamente de um imposto sobre grandes fortunas, como sugere o Piketty e repudiam os filhos do Roberto Marinho.
Preferia que o Levy anunciasse um projeto de lei para recriar a CPMF.
E não se contentasse como aumento de impostos que não discriminam ricos de pobres.
Agora, por exemplo, a Presidenta Dilma não corrigiu a tabela do Imposto de Renda, para não perder arrecadação.
Quem mais sofre ?
O coitadinho da classe média, porque os filhos do Roberto Marinho nem se coçarão.



Em tempo: o Trabuco é a única boa notícia no PiG cheiroso (ver no ABC do C Af).

O resto é uma desgraça só.

Imagina, amigo navegante, que a edição impressa do jornal (sic) abre com duas fotografias assustadoras: a do Adriano Pires – ah, quando eu crescer quero ser o Adriano Pires – e do banqueiro Luiz Carlos Mendonça de Barros, que o PiG insiste em tratar como se laureado economista fosse.

É aquele do “se isso der m…”.

Lembram ?

Barros é quem estava do outro lado da linha …

Em tempo2: o Valor não registrou a presença do Aécio Never, que iria a Davos no lugar da Dilma.


Paulo Henrique Amorim

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Brasil? Poupe-me...


Dilma defende modelo social brasileiro em Davos: 36 milhões foram tirados da extrema pobreza e 42 milhões que ascenderam à classe média; a renda per capital media cresceu 78% desde 2003


Ainda há um Brasil a desbravar, indicou a Presidenta: apenas 47% dos domicílios têm computador e 55% apenas têm máquina de lavar

Déficit comercial do setor industrial atinge US$ 105 bi em 2013; saldo reflete câmbio fora do lugar que dificulta vendas e incentiva importações

Ajuste cambial em marcha na AL: Venezuela adota câmbio múltiplo, mais caro para o turismo.

Argentina faz forte desvalorização do peso


Foi preciso que o presidente de um dos maiores bancos viajasse 8.940 kms, para encontrar um jornalista disposto a ouvir e reportar uma outra visão do Brasil.


por: Saul Leblon 
Arquivo






















Foi preciso que o presidente de um dos maiores bancos brasileiros viajasse 8.940 kms para fora do país, um estirão aéreo de  11 hs  até Genebra, na Suíça, para encontrar um jornalista, o competente Assis Moreira, correspondente do Valor Econômico, disposto a ouvir e reportar  uma visão  da economia  ausente na pauta  do Brasil aos cacos,  que predomina nas páginas  do seu próprio jornal.

Que isso tenha acontecido na carimbada paisagem de neve e ternos pretos de Davos, onde se realiza o concílio das corporações capitalistas,  diz algo sobre  o belicismo da emissão conservadora em  azedar  as expectativas  contra o Brasil e seu desenvolvimento.

Luiz Carlos Trabuco Cappio, presidente do Bradesco, não dirige uma instituição socialista.

Segundo maior banco do país, o Bradesco  acumulou até o 3º trimestre de 2013 um lucro  da ordem de R$  9 bilhões, em boa parte pastejando tarifas e juros no lombo de seus clientes.

Até aí,  estamos na norma de um setor que  ao primeiro alarme da crise mundial deixou o Brasil falando sozinho.

Recolheu-se ao bunker dos  títulos públicos (juro limpo, risco zero de inadimplência) e deixou o pau quebrar do lado de fora.

Mais de 50% do financiamento da economia brasileira hoje é garantido pelos bancos estatais –  15  pontos acima do padrão de mercado pré-crise.

Não dispusesse  de um  sistema de bancos estatais, o país seria  arrastado à crise pela vocação  pró-cíclica da lógica financeira.

O Bradesco tem 26 milhões de correntistas; está espalhado por todo o Brasil  –sua rede de oito mil agências talvez só perca para a do Banco do Brasil.

Um dos segmentos de maior  expansão do banco  no ano passado  foi a carteira  imobiliária: o financiamento de imóveis  totalizou  R$ 12,5 bi –crescimento de 33% no período, contra 11% do credito em geral.

Talvez essa capilaridade explique a dissonância.

O que disse Trabuco, em Genebra,  destoa da água para o vinho dos clamores emitidos pela república rentista, aferrada a circularidade do lucro que não passa pela produção, nem pelo consumo.

No cassino, a regra de ouro é o descompromisso com a sorte do desenvolvimento e o destino da sociedade  –não raro, o confronto, em modalidades conhecidas.

A saber: arbitragem de juros (leia ‘O governo invisível não quer Dilma’; neste blog), especulação  com papelaria e moedas (bolsas, volatilidade cambial) e imposição de  Selic gorda no financiamento da dívida pública.

Até mesmo pelo maior  entrelaçamento  geográfico  com o país real (se o Brasil der errado isso tem consequências) o dirigente do Bradesco se obriga a um outra visão da economia e do governo.

Excertos da sua entrevista a Assis Moreira soam como mensagens de um marciano  em meio ao alarido do rentismo  local:

(...) ‘O grande desafio que nós temos é fazer o capital produzir no Brasil. É fazer o investimento estrangeiro ou capital privado nacional funcionar para suprir os nossos fossos, principalmente de infraestrutura. O Brasil não é um país pobre, é um país desigual. Não é um país improdutivo. Nós temos problema de competitividade, mas o país é produtivo’.

(...) ‘ninguém quer ficar fora do Brasil. Porque a democracia brasileira, o Judiciário, as instituições, a harmonia social, independente dos problemas que possam existir, tem uma coesão. O Brasil tem um projeto de país’.

(...) ‘Houve uma época na economia brasileira em que tudo estava no curto prazo. Agora, teve um alongamento. E foi positivo, porque o governo soube aproveitar isso, que foi o alongamento da dívida interna. Hoje já temos estoques  importante de títulos de 2045, de 2050’.

(...) ‘O relatório do FMI foi até positivo em alguns aspectos, porque olhou para a economia brasileira e viu um crescimento superior à média da projeção dos economistas brasileiros. Isso é o reconhecimento da capacidade do PIB potencial.
 
Com relação ao movimento de capitais, o FMI falou genericamente, sobre migração [de capital]. O pior dos mundos seria um cenário em que os Estados Unidos, Europa e Ásia mudassem o patamar dos juros, aí teríamos... Acho que a fuga de capital no Brasil não se aplica’.


Isso na 4ª feira. Um dia antes,  o mesmo jornal debruçava-se no colo do mercado financeiro para anunciar a rejeição  do governo invisível  do dinheiro  à reeleição de Dilma.

A dificuldade em pensar o Brasil advém, muito, da inexistência de um espaço ecumênico  de debate em que opiniões como a de um Trabuco,  ou a  de Luiza Trajano  --a dona do  Magazine Luiza, que desancou ao vivo um gabola desinformado do pelotão conservador--   deixem de ser um acorde dissonante no jogral que diuturnamente aterroriza:  de amanhã o Brasil não passa.

Os desafios ao passo seguinte do desenvolvimento brasileiro são reais.

De modo muito grosseiro, trata-se de modular um ciclo de ganhos de produtividade (daí a importância  de resgatar seu principal núcleo irradiador, a indústria)  que financie  novos degraus de acesso  à cidadania plena.

A força e o consentimento necessários para conduzir  esse  novo ciclo requisitam um salto de discernimento e organização social,  indissociável de um amplo debate sobre metas,  ganhos, prazos, sacrifícios  e valores.

 Não se trata apenas de sobreviver  à convalescência do modelo neoliberal.

Trata-se de distinguir  se a crise global é uma ruptura ou o desdobramento  natural de um modelo cuja restauração é defendida  por rentistas, jornalistas e rapazes assertivos, desprovidos do recheio competente.

Antes de classificar como excrescência o que se assiste na Europa  --onde o ajuste neoliberal  produziu  26,5 milhões de desempregados, implodiu pilares da civilização e acumula déficits paralisantes, que a recessão ‘saneadora’ não permite deflacionar--,  talvez fosse mais justo creditar à razia o bônus da coerência.

O que o schumpeterismo ortodoxo  promove  no antigo berço do Estado do Bem- Estar Social é radicalização do processo de ‘destruição criativa’ que por três décadas esganou  o rendimento do trabalho, sacrificou soberanias, instituições e direitos, simultaneamente  a concessão de mimos tributários aos endinheirados.

Para clarear as coisas: não foi a crise que gerou o arrocho e a pobreza em desfile no planeta --mas sim o arrocho e a desigualdade neoliberal que conduziram ao desfecho explosivo, edulcorado agora por  vulgarizadores que, no Brasil,  advogam  dobrar a aposta no veneno.

A ordem dos fatores altera a agenda futuro.

Se a crise não é apenas financeira, controlar as finanças desreguladas é só um pedaço do caminho.

 O percurso inteiro inclui controlar a redistribuição do excedente econômico, ferozmente concentrado nas últimas décadas na base do morde e assopra --arrocho de um lado, crédito e endividamento suicida do outro.

O saldo está exposto no cemitério de ossos da crise mundial.

Genocídio do emprego, classe média em espiral descendente, mercados atrofiados,  plantas industriais carcomidas,  anemia do investimento e colapso dos serviços público e do investimento estatal.

Para quem acha que a coisa começou agora, o insuspeito Wal Street Journal acaba de publicar  reportagem com números pedagógicos sobre o esmagamento da classe média no mundo rico, antes da crise.

Dados compilados por Emmanuel Saez, da Universidade da Califórnia em Berkeley, e Thomas Piketty, da Escola de Economia de Paris’, diz o Wall Street  corroboram o desmonte social em curso nos países ricos.

 Em 2012, os 10% mais ricos da população norte-americana ficaram com metade de toda a renda gerada no país. Trata-se do percentual mais alto desde 1917. 
Mas o ovo regressivo vem sendo chocado bem antes disso.

Estatísticas coligidas por Branko Milanovic, ex-economista do Banco Mundial , adverte  o Wall Street, mostram que, de 1988 a 2008, a renda real dos 50% mais pobres nos EUA cresceu apenas 23%. Enquanto isso, a renda do 1% dos americanos no topo da pirâmide cresceu 113% no período –‘ um percentual que outros estudos consideram subestimado’, lembra o jornal conservador. As famílias dos 50% mais pobres na Alemanha e no Japão tiveram um desempenho ainda pior. A renda real dos 50% mais pobres no Japão caiu 2% em termos reais.

“As desigualdades nacionais em quase todos os lugares, exceto na América Latina, aumentaram", diz Milanovic  ao Wall Street.

Pela ansiedade dos nossos falcões e a animosidade de seus  gabolas no debate das questões nacionais, tudo indica que eles não querem ficar para trás.

Ao ouvirem notícias encorajadoras sobre o potencial do país desabafam enfadados:
‘Brasil? Poupe-me...’

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Superávit alcançado? Não importa, as razões do lobo não têm limites

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Autor: Fernando Brito
O Ministro Guido Mantega anunciou, hoje de manhã, o que a gente já tinha cravado aqui logo depois do Natal.
A meta de superavit primário do governo central foi alcançada e, até, ligeiramente superada: dos R$ 73 bilhões líquidos de economia, atingimos R$ 75 bilhões.
Mantega diz que antecipou o anúncio do resultado para responder à “ansiedade” do mercado.
Fez bem.
Mas não adianta muito.
Fez bem porque isso ajuda a desmoralizar os sabidos que diziam que ele não seria atingido, como Sua Sapiência, o comendador Merval Pereira, que no final de novembro afirmava:
(…) o governo central – composto pelo Tesouro Nacional, Previdência Social e Banco Central – também não está cumprindo a sua meta, que é de R$ 73 bilhões, o superávit primário este ano será bastante abaixo do previsto.
E não adianta muito, porque ele e sua trupe, amanhã, estarão dizendo que cumpriu, mas graças ao Refis e a Libra, como se Fernando Henrique Cardoso não tivesse feito superavits vendendo tudo, menos a alma, que não a tinha para entregar.
As razões do lobo são sempre assim: se não foi você, cordeiro, foi seu pai, seu avô, seu primo….
Os 73 bilhões de reais que o governo poupou para lançar na fogueira dos juros da dívida só não são mais por que o governo retirou, com as desonerações fiscais, o equivalente ao que ganhou com o leilão do campo de Libra, cerca de R$ 15 bilhões.
Mesmo assim, o Brasil poupou mais do que investiu em obras públicas.
Vale dizer, sem a obrigação do “pé do tripé” representado pelo superávit, poderiamos ter investido em serviços e infraestrutura o dobro do que fizemos e, com isso, aumentado a Formação Bruta de Capital Fixo. Com isso, talvez o PIB pudesse crescer em torno de meio por cento.
No quadro político econômico que vivemos, que não é o de ruptura, isso é o suficiente para, ao menos, reduzir o tamanho da dívida pública em relação ao tamanho de nossa economia.
E permite ir alongando prazos e ir administrando a faca no pescoço dos juros.
Mas sempre com o lobo arreganhando os dentes à nossa frente.
E apenas ir adiando a hora de sua refeição, torcendo para que o carneiro possa usar o tempo para crescer, criar chifres e dar, um dia, as necessárias marradas que o lobo merece levar.