A revista The Economist reserva os pedidos de mudança de ministérios da Fazenda para os ministros "intervencionistas" da América Latina. No início do ano, a previsão era de um crescimento de 0,7% para a Inglaterra em 2010. Agora, a constatação é de que a economia vai se contrar 0,12% este ano. Por ocaso a revista pediu a cabeça do ministro da Fazenda britânico, George Osborne? Para o Brasil, a receita é "deixar de se meter na economia, desregulamentar o mercado de trabalho e deixar que o espírito animal do setor privado possa expressar-se livremente". O artigo é de Marcelo Justo, direto de Londres.
Marcelo Justo - Londres
Londres - Em seu último número, a revista The Economist disse que o ministro da fazenda Guido Mantega deveria sair, porque todas as suas previsões de recuperação econômica não tinham se confirmado. “O governo tinha convencido os economistas independentes de que, com uma moeda mais competitiva, com taxas de juros mais baixas e uma redução de impostos da indústria automobilística, a economia iria se recuperar”. As estatísticas foram – segundo a The Economist – “decepcionantes”, um “choque”.
O editorial e o texto sobre o Brasil foram publicados dois dias depois de o ministro da Fazenda do Reino Unido, o conservador George Osborne, reconhecer que o plano de consolidação fiscal que anunciou que o período 2010-2015 terá de estender a austeridade até 2018, para cumprir com o seu objetivo, sempre e quando se puder acreditar nas projeções quem os governos se baseam.
Não há nenhuma garantia. O Escritório para Responsabilidade Orçamentária, uma organização criada pela Coalizão Conservadora-liberal democrata para medir a marcha da economia, previu no começo do ano um crescimento de 0,7% para 2012. Agora disse que, na realidade, a economia vai se contrarir 0,1% este ano. O rombo fiscal é o dobro do projetado há uns dias.
Como se vê, nesse terreno minado das previsões econômicas, não há mais precisão no Reino Unido do que no Brasil. Por acaso a “The Economist” pediu a cabeça de Osborne?
Não é de surpreender. O semanário apoiou os conservadores nas eleições de 2010 e o programa de Austeridade da Coalizão. Em maio deste ano, mês das eleições, a economia estava se recuperando do estouro financeiro de 2008. Crescimento era anêmico - 1,7% -, mas começava lentamente a recuperar o alento, graças a um massivo programa de investimento público do governo trabalhista.
A austeridade da coalizão afogou este impulso. O programa previa cortes de 80 bilhões de libras (em torno de 140 bilhões de dólares) para o período 2010-2015, por meio de uma forte redução da estrutura estatal, com mais de meio milhão de desempregados. A esse golpe, o governo agregou outro: um aumento massivo de impostos.
Os despedidos começaram a engrossar as filas de desempregados que cobram o seguro-desemprego e que não contribuem, aumentando o gasto do Estado e diminuindo a arrecadação. Os consumidores em geral, mesmo os que conservam seus empregos, adotaram uma atitude mais cautelosa para diminuir o seu endividamento pessoal e se preservar, caso a enfermidade econômica acabasse os afetando.
O resultado macroeconômico está à vista. Em 2011, a economia foi se desacelerando trimestre após trimestre (de 0,4% entre julho e outubro, a 0,3% no último trimestre). Nos dois primeiros trimestres deste ano o crescimento foi diretamente negativo, uma medida convencional que os economistas usam para definir uma recessão (dois trimestres consecutivos). É a segunda queda que o Reino Unido experimenta em 3 anos.
As Olimpíadas de Londres deram um impulso econômico transitório que permitiu ao Reino Unido sair do crescimento negativo, mas a essas alturas o plano da Coalizão já estava em marcha. A queda na arrecadação devido à falta de crescimento é hoje tão pronunciada que, segundo as previsões que o governo anunciou na Câmara dos Comuns na última quarta-feira, será necessário mais três anos de ajustes para se alcançar o equilíbrio fiscal que se havia prometido para 2015.
Em sua nota sobre a situação econômica do Reino Unido, a “The Economist” faz uma análise fática, com números e gráficos, mas em momento algum fala da necessidade de mudança de estratégia. À diferença do editorial e da matéria sobre o Brasil, que deslizam rapidamente para o campo da opinião (“o que o governo Dilma Rousseff teria de fazer é deixar de se meter na economia, liberalizar o mercado de trabalho e deixar que o espírito animal do setor privado possa expressar-se livremente, para gerar o crescimento de que o Brasil precisa”), o artigo sobre a economia britânica se atém aos fatos, que termina usando como uma justificação do erro de cálculo de Osborne.
Sem explicitá-lo, o final da nota da revista sugere que não é necessária uma mudança de estratégia, no Reino Unido, porque a origem da crise não é o programa governamental, mas a situação econômica do mundo. “A miséria da zona do euro não vai terminar tão cedo, mas tampouco piorará. A desaceleração chinesa parece próxima do fim. Os Estados Unidos podem voltar a crescer com vigor na primavera e evitar o abismo fiscal. Um panorama global mais otimista pode evitar as más notícias para Osborne”.
Há que se aguardar para ver. Por ora, as notícias sobre a produção industrial, anunciadas na sexta-feira – a revista é publicada pela manhã – falam de uma queda de 1,3%, o nível mais baixo em duas décadas. “Esta queda aumenta as possibilidades de uma nova recessão, a terceira queda que a nossa economia experimentaria”, assinalou ao “The Guardian” Samuel Tombs, da consultoria Capital Economics. Caso esse prognóstico se cumpra, haverá uma mudança de perspectiva da “The Economist”? Calculo que não. Os pedidos de mudança de ministérios da Fazenda o semanário reserva para os ministros “intervencionistas” da América Latina.
Tradução: Katarina Peixoto
O editorial e o texto sobre o Brasil foram publicados dois dias depois de o ministro da Fazenda do Reino Unido, o conservador George Osborne, reconhecer que o plano de consolidação fiscal que anunciou que o período 2010-2015 terá de estender a austeridade até 2018, para cumprir com o seu objetivo, sempre e quando se puder acreditar nas projeções quem os governos se baseam.
Não há nenhuma garantia. O Escritório para Responsabilidade Orçamentária, uma organização criada pela Coalizão Conservadora-liberal democrata para medir a marcha da economia, previu no começo do ano um crescimento de 0,7% para 2012. Agora disse que, na realidade, a economia vai se contrarir 0,1% este ano. O rombo fiscal é o dobro do projetado há uns dias.
Como se vê, nesse terreno minado das previsões econômicas, não há mais precisão no Reino Unido do que no Brasil. Por acaso a “The Economist” pediu a cabeça de Osborne?
Não é de surpreender. O semanário apoiou os conservadores nas eleições de 2010 e o programa de Austeridade da Coalizão. Em maio deste ano, mês das eleições, a economia estava se recuperando do estouro financeiro de 2008. Crescimento era anêmico - 1,7% -, mas começava lentamente a recuperar o alento, graças a um massivo programa de investimento público do governo trabalhista.
A austeridade da coalizão afogou este impulso. O programa previa cortes de 80 bilhões de libras (em torno de 140 bilhões de dólares) para o período 2010-2015, por meio de uma forte redução da estrutura estatal, com mais de meio milhão de desempregados. A esse golpe, o governo agregou outro: um aumento massivo de impostos.
Os despedidos começaram a engrossar as filas de desempregados que cobram o seguro-desemprego e que não contribuem, aumentando o gasto do Estado e diminuindo a arrecadação. Os consumidores em geral, mesmo os que conservam seus empregos, adotaram uma atitude mais cautelosa para diminuir o seu endividamento pessoal e se preservar, caso a enfermidade econômica acabasse os afetando.
O resultado macroeconômico está à vista. Em 2011, a economia foi se desacelerando trimestre após trimestre (de 0,4% entre julho e outubro, a 0,3% no último trimestre). Nos dois primeiros trimestres deste ano o crescimento foi diretamente negativo, uma medida convencional que os economistas usam para definir uma recessão (dois trimestres consecutivos). É a segunda queda que o Reino Unido experimenta em 3 anos.
As Olimpíadas de Londres deram um impulso econômico transitório que permitiu ao Reino Unido sair do crescimento negativo, mas a essas alturas o plano da Coalizão já estava em marcha. A queda na arrecadação devido à falta de crescimento é hoje tão pronunciada que, segundo as previsões que o governo anunciou na Câmara dos Comuns na última quarta-feira, será necessário mais três anos de ajustes para se alcançar o equilíbrio fiscal que se havia prometido para 2015.
Em sua nota sobre a situação econômica do Reino Unido, a “The Economist” faz uma análise fática, com números e gráficos, mas em momento algum fala da necessidade de mudança de estratégia. À diferença do editorial e da matéria sobre o Brasil, que deslizam rapidamente para o campo da opinião (“o que o governo Dilma Rousseff teria de fazer é deixar de se meter na economia, liberalizar o mercado de trabalho e deixar que o espírito animal do setor privado possa expressar-se livremente, para gerar o crescimento de que o Brasil precisa”), o artigo sobre a economia britânica se atém aos fatos, que termina usando como uma justificação do erro de cálculo de Osborne.
Sem explicitá-lo, o final da nota da revista sugere que não é necessária uma mudança de estratégia, no Reino Unido, porque a origem da crise não é o programa governamental, mas a situação econômica do mundo. “A miséria da zona do euro não vai terminar tão cedo, mas tampouco piorará. A desaceleração chinesa parece próxima do fim. Os Estados Unidos podem voltar a crescer com vigor na primavera e evitar o abismo fiscal. Um panorama global mais otimista pode evitar as más notícias para Osborne”.
Há que se aguardar para ver. Por ora, as notícias sobre a produção industrial, anunciadas na sexta-feira – a revista é publicada pela manhã – falam de uma queda de 1,3%, o nível mais baixo em duas décadas. “Esta queda aumenta as possibilidades de uma nova recessão, a terceira queda que a nossa economia experimentaria”, assinalou ao “The Guardian” Samuel Tombs, da consultoria Capital Economics. Caso esse prognóstico se cumpra, haverá uma mudança de perspectiva da “The Economist”? Calculo que não. Os pedidos de mudança de ministérios da Fazenda o semanário reserva para os ministros “intervencionistas” da América Latina.
Tradução: Katarina Peixoto