Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Escândalo em Realengo: embaixada americana pauta o PiG


A voz da Colônia
Conversa Afiada reproduz documento vergonhoso organizado pelo insuperável Stanley Burburinho, o reparador de iniquidades:

Telegrama de 2009 da embaixada dos EUA no Brasil e vazado pelo WikiLeaks e as manchetes de alguns dos princiáis veículos da velha mídia brasileira. Veja só que coincidência:


“WikiLeaks: a difamação de religiões como estratégia diplomática


Enviado por luisnassif, dom, 03/04/2011 – 19:07


Do Vila Vudu


Estratégia dos EUA para engajar o Brasil na difamação de religiões


Viewing cable 09BRASILIA1435 –http://213.251.145.96/cable/2009/12/09BRASILIA1435.html


CONFIDENTIAL – Embassy Brasilia


Excerto do item CONFIDENCIAL do telegrama 09BRASILIA1435


A íntegra do telegrama não está disponível.


Tradução de trabalho, não oficial, para finalidades didáticas.


ASSUNTO:


Estratégia para Engajar o Brasil na “Difamação de Religiões”[1]


1. (C) RESUMO: A posição do Brasil na questão da “difamação de religiões” na comissão de Direitos Humanos da ONU reflete a conciliação entre as objeções do país à ideia (objeções baseadas num conceito do que sejam Direitos Humanos) e o desejo de não antagonizar os países da Organisation of the Islamic Conference (OIC) com os quais tenta construir relações e que o Brasil vê como importante conjunto de votos a favor de o Brasil conseguir assento permanente no CSONU. À luz da argumentação a favor da abstenção do Brasil, proponho abordagem de quatro braços, envolvendo aproximação com os altos escalões do Ministério de Relações Exteriores; uma visita a Brasília, para pesquisar meios de trabalhar com o governo do Brasil, nessa e noutras questões de direitos humanos; outros governos que possam conversar com o governo do Brasil; e uma campanha mais intensa pela mídia e mobilizando comunidades religiosas a favor de não se punir quem difame religiões . FIM DO RESUMO.


(…)


Aumentar a atividade pela mídia e o alcance das comunidades religiosas parceiras: Até agora, nenhum grupo religioso no Brasil assumiu a defesa da difamação de religiões. Mas o Brasil é sociedade multirreligiosa e multiétnica, que valoriza a liberdade de religião. Um esforço para difundir a consciência sobre os danos que podem advir de se proibir a difamação das religiões pode render bons dividendos. Grandes veículos de imprensa, como O Estado de S. Paulo e O Globo, além da revista Veja, podem dedicar-se a informar sobre os riscos que podem advir de punir-se quem difame religiões, sobretudo entre a elite do país.


Essa embaixada tem obtido significativo sucesso em implantar entrevistas encomendadas a jornalistas, com altos funcionários do governo dos EUA e intelectuais respeitados. Visitas ao Brasil, de altos funcionários do governo dos EUA seriam excelente oportunidade para pautar a questão para a imprensa brasileira. Outra vez, especialistas e funcionários de outros governos e países que apóiem nossa posição a favor de não se punir quem difame religiões garantiriam importante ímpeto aos nossos esforços.


Essa campanha também deve ser orientada às comunidades religiosas que parecem ter influência sobre o governo do Brasil, quando se opuseram à visita ao Brasil do presidente Ahmadinejad do Irã, em novembro. Particularmente os Bahab e a comunidade judaica, expandidos para incluir católicos e evangélicos e até grupos indígenas e muçulmanos moderados interessados em proteger quem difame religiões [sic]. [assina] KUBISKE


+++++++++++++++++++++++++++++++++++++++


[1] Há matéria da Reuters sobre o assunto, de seis meses antes desse telegrama, em http://www.reuters.com/article/2009/03/26/us-religion-defamation-idUSTRE52P60220090326, em que se lê: “Um fórum da ONU aprovou ontem resolução que condena a “difamação de religiões” como violação de direitos humanos, apesar das muitas preocupações de que a condenação possa ajudar a defesa da livre expressão em países muçulmanos (sic)” [NTs].


1 – Folha de São Paulo:


“07/04/2011 – 10h53


Irmã de atirador diz que ele era ligado ao Islamismo e não saía muito de casa; ele deixou carta suicida


(…)”


http://noticias.uol.com.br/cotidiano/2011/04/07/irma-de-atirador-diz-que-ele-era-ligado-ao-islamismo-e-nao-saia-muito-de-casa-ele-deixou-carta-suicida.jhtm


2 – Jornal Extra das Organizações Globo:


“07/04/2011 às 11:24Atualizado em 07/04/2011 às 11:37


Autor do massacre em escola de Realengo se interessava por assuntos ligados ao terrorismo


Wellington Menezes de Oliveira, de 23 anos, identificado pela polícia como o autor do massacre na Escola Municipal Tasso de Silveira, em Realengo, estava com uma carta suicida, que falava sobre islamismo e terrorismo. O assunto interessava ao assassino, que estudou na escola.


(…)”


http://extra.globo.com/casos-de-policia/autor-do-massacre-em-escola-de-realengo-se-interessava-por-assuntos-ligados-ao-terrorismo-1525139.html


3 – Colunas Época/O Globo:


“Homem entra em escola e atira em alunos no Rio de Janeiro


10:53 AM, ABRIL 7, 2011


(…)


Segundo a Globo News, a polícia informou que a carta “tinha referências à religião muçulmana”. O site do jornal O Globo cita entrevista do comandante do 14º Batalhão da PM, Djalma Beltrame, à Band News, que afirmou que o conteúdo da carta teria “características fundamentalistas”. “Ele entrava na internet para ter acesso a coisas que não fazem parte do nosso povo. É um louco. Só uma pessoa alucinada poderia fazer isso com crianças”, disse.


(…)”


http://colunas.epoca.globo.com/falabrasil/2011/04/07/homem-entra-em-escola-e-atira-em-alunos-no-rio-de-janeiro/


4 – Jornal O Globo:


“Publicada em 07/04/2011 às 12h20m


MASSACRE NO COLÉGIO


Atirador que invadiu escola municipal em Realengo é identificado


“(…) Beltrame acrescentou, inclusive, que Wellington costumava entrar em sites de cunho fundamentalista.


(…)”


http://oglobo.globo.com/rio/mat/2011/04/07/atirador-que-invadiu-escola-municipal-em-realengo-identificado-924179565.asp


5 – E o pastor Marco Feliciano, o mesmo que disse que africanos são homossexuais, tenta tirar proveito da tragédia:


“Profecia: Ataque nas escolas. Leia na integra:


http://www.marcofeliciano.com.br/site/?page=materia&MA_ID_MOD=1172


10 minutes ago via web


marcofeliciano – Pr. Marco Feliciano”


http://twitter.com/marcofeliciano/status/56012339455070209

A utilização da capacidade instalada da indústria brasileira cresceu 2,6% em fevereiro deste ano, ante o mesmo mês no ano anterior.


O faturamento da indústria de transformação aumentou 6,9% e as horas trabalhadas cresceram 2,6% em fevereiro
Com isso, a indústria operou com 83,6% da sua capacidade, superando o patamar do período pré-crise.
As informações foram divulgadas nesta quinta-feira (7/4) pela Confederação Nacional da Indústria (CNI).
Por sua vez, o faturamento da indústria de transformação aumentou 6,9% e as horas trabalhadas cresceram 2,6% em fevereiro, em relação a janeiro deste ano, na série livre de influências sazonais (que elimina fatores específicos de determinado período do ano). 
Quanto ao emprego, o crescimento foi de 0,4% na base de comparação mensal. No entanto, a massa salarial caiu 1,4% e o rendimento médio recuou 1,7% no período. 
Conforme a pesquisa da CNI, o setor de veículos automotores foi o que teve o maior ritmo de crescimento nos indicadores de faturamento (+24,6%), emprego (+9%), horas trabalhadas (+17,8%) e massa salarial (+9,5%) em fevereiro. 
Já o faturamento da indústria de máquinas e equipamentos aumentou 11,1% e as horas trabalhadas na produção tiveram alta de 9,4%.
"Esse moe persistir, será reflexo de que os investimentos voltaram a crescer com mais força no início do ano", destaca a vimento, spesquisa da CNI.

O exemplo de Juliano Mer-Khamis


Com sua vida e com seu corpo, o ator e diretor Juliano Mer-Khamis encarnou a possibilidade de um movimento de resistência binacional no conflito Israel-Palestina. Filho de uma mãe judia e um pai palestino, nasceu em duas culturas, e escolheu viver nas duas. Foi baleado e morto em Jenin, segunda-feira. Juliano era um artista e um palestino, um militante de esquerda e um judeu. O artigo é de Amira Hass.

Aqueles que conheceram Juliano Mer-Khamis, o ator e diretor nascido em Nazaré que foi baleado e morto em Jenin, na segunda-feira, serão os que escreverão a respeito dele. Tudo o que nós outros podemos fazer é escrever a respeito das marcas de sua vida. 

Juliano teve sorte. Nasceu numa família palestina e judia, judia e palestina. Este homem irado foi cercado por identidades conflitantes e complementares. Ele foi a sombra estendida de uma comunidade binacional imaginada nos idos dos anos 50. Como um Peter Pan que se recusava a crescer, Juliano encarnou o potencial de uma vida compartilhada (ta’ayush, em árabe) enquanto lutava por igualdade. Filho de uma mãe judia e um pai palestino, nasceu em duas culturas, e escolheu viver nas duas. Ele não via necessidade de explicar isso.

Eu acho que Juliano não alimentava ilusões; levando golpes de todos os lados, o potencial de uma ta’ayush diminuía. Ta’ayush é uma visão sadia das coisas, mas a sua chance de realização é cada vez mais ínfima. Há aqueles que fantasiam com os dias do Messias para se evadirem de pensar nos dias que antecedem ao próximo desastre. Juliano era um filho da fantasia da ta’ayaush. Seu nascimento foi a realização da fantasia data’ayush e sua morte é um desastre. 

Juliano tinha raiva. Sua raiva era do tipo que só um judeu como ele, nascido na esquerda e militante pela igualdade até o fim, pode se permitir expressar como um modo de vida. Os palestinos devem conquistar sua raiva, amadurecê-la; devem domesticá-la, reprimi-la, sublimá-la. Essa é a única maneira de permanecer vivo e são (sem ser preso, ferido ou morto) sob as condições de violência física e não física ditadas por Israel.

É isto: violência áspera, que fede a racionalismo e a supremacia e se pretende esclarecida. É o que se encontra diariamente, a cada momento, do nascimento à morte. A violência encontrada da expropriação comandada e acompanhada por um mapa ao disparo num alvo a partir de uma torre de observação; do Ministro do Interior expulsando palestinos de Jerusalém, sua cidade de origem, ao bloqueio do retorno à vila de Bir’im, na Galiléia; das respostas racistas da juventude judia nas pesquisas de opinião ao barulho dos disparos sobre os telhados onde crianças brincam em Gaza. A violência está sempre lá, das taxas municipais de Jerusalém sobre ruas arruinadas e lixo sem coleta às câmeras de segurança na vizinhança do bairro/cruzado shtetl judaico em Silwan; de um assentamento esverdeado luxuoso às cisternas palestinas destruídas por um tanque israelense; das concessões para o estabelecimento de fazendas no Negev à incriminação dos beduínos como fossem “infiltrados”. Numa palavra, do judaico ao democrático.

Essa violência tem tantos ângulos diversos que pode levar à loucura. Juliano teve a sorte de ser um artista, e a loucura era um de seus pincéis. Através do teatro que ele fundou em Jenin, Juliano se permitiu a crítica a aspectos repressivos da sociedade palestina. Poderia se pensar que ele fez isso enquanto militante de esquerda, como um ator compromissado com o dever artístico de ser honesto, e como um palestino. Torçamos para que seu assassino seja encontrado, e então saberemos se um artista palestino foi morto por causa de sua coragem de viver de uma maneira que rompe com a ordem, ou se um artista judeu foi morto porque se permitiu a criticar abertamente uma sociedade que não é a sua, de acordo com alguns, ou se um homem de esquerda foi morto porque rompeu com a ordem. Ou talvez as três coisas juntas. Mesmo que tenha sido morto por qualquer outra razão, Juliano era ainda um artista e um palestino, um militante de esquerda e um judeu. 

Agora que a possibilidade de uma visão sadia de uma ta’ayush é pequena, o que resta? O caminho. Esta é a opção de um movimento binacional de resistência, que quer derrubar coisas como Kadafi, Mubarak, Assad, que oprimem um povo sobre o outro. 

Há quem insista na fantasia de que um movimento binacional é uma necessidade histórica, como uma antítese lógica à ideologia da separação demográfica que se tornou a bíblia do processo de Oslo. A verdade deve ser dita: ao longo do tempo a maioria dos que lutaram por essa fantasia são judeus. Então, abrandamos a contradição entre o amor pelo povo e pelo lugar, por um lado, e o ódio da violência esclarecida, por outro?

Com sua vida e com seu corpo, Juliano Mer-Khamis encarnou a possibilidade de um movimento binacional de resistência. O assassino, qualquer que tenha sido seu motivo, queria o seu corpo. Na sua morte, Juliano nos deixou o possível.

Tradução: Katarina Peixoto

Luis Nassif: Serra, de líder da oposição a papagaio de pirata


07/04/2011 – 09:21

por Luis Nassif, no seu blog
Não há inauguração de obras por Geraldo Alckmin que José Serra não esteja presente. Tirou do beijoqueiro o título de papagaio mor do Brasil.
Ontem, no evento que oficializou Aécio Neves como o novo líder de direito do PSDB, o impassível Serra, empoleirado nas costas de Aécio, querendo aparecer na foto.
Esse oportunismo ineficaz é intrigante. Oportunismo, sim. Mas com uma falta de amor próprio e de senso político que não é normal, nem mesmo em alguém reconhecidamente inabilidoso e mal educado como Serra.
Não dispõe mais dos canhões da velha mídia, nem dos trabalhos especiais de Marcelo Itagiba. Não consegue mais ameaçar jornalistas com pedidos de demissão, nem adversários com divulgação de dossiês, nem se valer de assassinos profissionais em veículos de grande circulação.
Os sargentos que amealhou na campanha se sentem traídos. A prova de lealdade exigida por Serra era a de cometerem atos vis em defesa do chefe, um estilo terrível de marcar em sangue a adesão. Pensadores, políticos com bom potencial, estrategistas, todos foram obrigados a sacrificar sua imagem, reduzidos a meros sargentos, gladiadores violentos, de baixo nível, comprometendo biografias exemplares.
Dia desses cruzei com o ex-Eduardo Graeff numa esquina perto de casa. Fomos amigos por bom tempo. Sujeito doce, aparentemente manso. Na campanha se transformou em um pitbull comandando o exército de trolls contratados por Serra. Dançou quando passei a fazer cruzamentos dos seguidores dos trolls no Twitter com os nomes cadastrados na Redepsdb. A trama foi desmascarada. Graeff caiu e o trabalho sujo assumido por Soninha, a ex-doce Soninha que se transformou totalmente, liquidando com uma das imagens mais simpática entre a juventude.
Hoje em dia o que resta de Serra são as aparições em eventos de terceiros e meia dúzia de remanescentes na Internet – alguns ainda provavelmente empregados no governo Alckmin – providenciando ataques de baixo nível contra críticos adversários. E também contra Alckmin e Aécio, em defesa de Kassab.
Sob os holofotes, Serra nega apoio ao PSD. Mas apoia com o que lhe resta: colocando seus trolls para atacar os líderes maiores do PSDB. Como se, com o tanto de impressões digitais que deixou pela Internet, ainda fosse possível esse duplo jogo de luzes e sombras.
 

Roberto Carlos e a Ditadura Militar de 64


por Urariano Mota,

As datas, os aniversários, têm um poder evocativo muito forte. Esta semana me veio de súbito uma pergunta: que música seria mais representativa do golpe militar de 64? Quais canções, que músico seria mais representativo daqueles anos inaugurados em um primeiro de abril?

Num estalo me veio que Roberto Carlos deve ter sido o compositor mais representativo da ditadura. Não sei se num curto espaço conseguirei ser claro. Mas tento. Os mais velhos sabem que a lembrança daqueles anos muito tem a ver com os rádios, em todos os lugares, tocando

“De que vale o céu azul e o sol sempre a brilhar
se você não vem e eu estou a lhe esperar
só tenho você no meu pensamento
e a sua ausência é todo meu tormento
quero que você me aqueça nesse inverno
e que tudo mais vá pro inferno”

Quando Roberto Carlos explodiu os rádios do Brasil, ele cresceu em um programa que arrebentou em 65. O programa Jovem Guarda se opunha ao O Fino da Bossa, com Elis. Enquanto O Fino da Bossa fazia uma ponte entre os compositores da velha guarda do samba e os compositores de esquerda, o Jovem Guarda…

“Eu vou contar pra todos a história de um rapaz
que tinha há muito tempo a fama de ser mau..”

“O Rei, o Rei não tem culpa…”, diz-nos um senhor encanecido, ex-jovem guarda (e como envelheceu a jovem guarda!). “O Rei não tem culpa…”. Sim, compreendemos: quem assim nos fala quer apenas dizer, Roberto Carlos não teve culpa de fazer o medíocre, de falar aos corações da massa jovem daqueles anos. À juventude alienada, mas juventude de peso, em número, que ganha sempre da minoria de jovens estudiosos. Que mal havia em falar para a sensibilidade embrutecida mais ampla? É claro que ele não teve culpa de macaquear a revolução musical dos Beatles em versões bárbaras, em caricaturas dos cabelos longos, alisados a ferro e banha, para lisos ficarem como os dos jovens de Liverpool.

Mas é sintomático nele a passagem de cantor da juventude para o “romântico”. Essa passagem se deu na medida em que os jovens de todo o mundo deixaram de ser apenas um mercado de calças Lee e Coca-Cola, e passaram a movimentos contra a guerra do Vietnã, até mesmo em festivais de rock, como em Woodstock. Ou, se quiserem numa versão mais brasileira, o Rei Roberto se torna um senhor “romântico” na medida em que as botas militares pisam com mais força a vida brasileira. Ora, nesses angustiantes anos o que compõe o jovem, o ex-jovem, que um dia desejou que tudo mais fosse para o inferno? – Eu te amo, eu te amo, eu te amo…

É claro que a passagem do Roberto Carlos Jovem Guarda para o senhor “romântico” não se deu pelo envelhecimento do seu público. De 1965 a 1970 correm apenas 5 anos. O envelhecimento é outro. Nesses 5 correm sangue e raiva da ditadura militar, no Brasil, e crescimento da revolta do público “jovem”, no mundo. Enquanto explodem conflitos, a canção de Roberto Carlos que toca nos rádios de todo o Brasil é “Vista a roupa, meu bem” (e vamos nos casar). Se fizéssemos um gráfico, se projetássemos curvas de repressão política e de “romantismo” de Roberto Carlos, veríamos que o ápice das duas curvas é seu ponto de encontro.

Enfim, o namoro do Rei Roberto Carlos com o regime não foi um breve piscar de olhos, um flerte, um aceno à distância. O Rei não compôs só a música permitida naqueles anos de proibição. O Rei não foi só o “jovem” bem-comportado, que não pisava na grama, porque assim lhe ordenavam. Ele não foi apenas o homem livre que somente fazia o que o regime mandava. Não. Roberto Carlos foi capaz de compor pérolas, diamantes, que levantavam o mundo ordenado pelo regime. Ora, enquanto jovens estudantes eram fuzilados e caçados, enquanto na televisão, nas telas dos cinemas, exibia-se a brilhante propaganda “Brasil, ame-o ou deixe-o”, o que fez o nosso Rei? Irrompeu com uma canção que era um hino, um gospel de corações ocos, um som sem fúria de negros norte-americanos. Ora, ora, o Rei ora: “Jesus Cristo, Jesus Cristo, eu estou aqui”.

Os brasileiros executados sob tortura não estavam com Jesus. Nem Jesus com eles.



@@@@@

Urariano Mota é um escritor e jornalista pernambucano de Recife, autor do livro Os Corações Futuristas, romance sobre jovens perseguidos em Pernambuco durante a ditadura militar.

A tragédia no Rio e uma juventude em transe


Sete de abril de 2011 ficará marcado em nossa história como o dia em que um fenômeno que já vinha se anunciando fez do Brasil um país assustador. O jovem que entrou naquela escola em Realengo, no Rio, e disparou contra dezenas de pessoas, matando até crianças, não tinha razões pessoais para fazer o que fez. Agiu por ódio.
Ódio da juventude. Eis um fenômeno que vem se tornando cada vez mais visível desde a campanha eleitoral do ano passado.
Hordas de jovens, no dia em que terminou a eleição presidencial, em 31 de outubro, manifestaram ódio na internet contra negros e nordestinos, culpando-os pela vitória de Dilma Roussseff. Jovens passaram a perpetrar seguidos ataques a homossexuais na via pública, ataques que visavam exterminar as vítimas. No dia da posse de Dilma, jovens pregavam seu assassinato por um franco-atirador…
Agora, neste dia trágico, o Brasil se vê na contingência de ter que implorar por sangue humano para salvar a vida de crianças inocentes.
É emblemático que a tragédia do atirador tenha ocorrido dentro de uma escola. Ainda que a instituição não tenha relação com o que moveu o atirador, o ocorrido simboliza a situação comatosa da educação no Brasil. A escola brasileira jamais foi um ponto de apoio àqueles que, acima de tudo, precisam de orientação para a vida, mas que não recebem nem o básico.
Este país não tem problemas ideológicos e religiosos como têm os Estados Unidos, por exemplo, onde esse tipo de barbaridade ocorre amiúde. O pior que podemos fazer é confundir o que acontece em um país em que o ódio tem uma origem com o que aconteceu por aqui, onde a origem pode até existir, mas provém da perda de valores humanistas por uma geração.
Assistindo ao primeiro capítulo da nova novela do SBT, Amor e Revolução, que versa sobre a ditadura militar, comentei no Twitter como era espantoso lembrar que há poucas décadas este país tinha uma juventude idealista que se dispôs a morrer pela pátria e pelos seus semelhantes acalentando anseios de justiça social.
Não sei o que fizemos com os nossos filhos e netos. Tornaram-se seres avessos a sentimentos, mais frios, mais cínicos, mais hipócritas, sem ideais, materialistas até o âmago. Até nas relações amorosas, hoje cultua-se o sexo muito mais do que o amor. Meninas querem ser “cachorras”, meninos querem ser “bad boys”.
O culto ao ter em lugar de ao ser, a prevalência avassaladora do materialismo, do consumismo e da falta de respeito ao semelhante são o zeitgheist brasileiro, o espírito assustador de uma época em que, cada vez mais, a sociedade brasileira precisa parar, pensar e repensar os seus valores enquanto ainda há tempo, se é que tempo ainda há.