Esta decisão amplia o suspense para a próxima reunião do Comitê de Política Monetária, marcada para os dias 28 e 29. Perto do encerramento de uma audiência pública na Câmara dos Deputados, ontem, Tombini disse que a política "expansionista" nos gastos do governo pressiona por um ajuste na Selic. A seis dias do início da reunião do Copom, o lobby pela alta das taxas corre solto e só irá acelerar. A fala de Tombini na Câmara elevou na Bolsa Mercantil & Futuros para 0,50 ponto a previsão de mudança a ser promovida na reunião. Equivaleria a uma correção de 0,75% em dois meses, rompendo mais profundamento com um longo ciclo de baixo.
O aumento de meio ponto é exatamente o que querem os lobistas, mas as condições reais parecem bem mais adequadas para a repetição do 0,25% da última reunião ou, até mesmo, de aumento zero. A inflação do mês de abril, de acordo com o IPC-15, baixou em relação a março, descendo de 0,51% para 0,46%. Essa queda irá trazer ainda mais para dentro da meta a taxa de inflação dos últimos doze meses, apurada em 6,49%. Contra os interesses dos que querem juros maiores, a permanência da inflação na meta parece indicar que os efeitos do leve aumento de juros determinado pela última reunião do Copom está fazendo efeito.
Por outro lado, a atividade econômica dá sinais de manter-se na contramão do pessimismo. Anunciou-se hoje que as vendas de aço, importante termômetro da produção industrial de diferentes setores, cresceram 4,3% em abril sobre março, consolidando uma elevação sobre o mesmo mês do ano passado de 15,8%. Sinal de que a economia está respondendo bem às linhas mestras da políticas monetária, a principal delas o combate aos juros altos.
Abaixo, reportagem da Agência Reuters a respeito do contingenciamento de R$ 28 bilhões anunciado pelo Ministério da Fazenda:
Governo reduz contingenciamento para estimular economia em 2013
quarta-feira, 22 de maio de 2013 15:44 BRT
BRASÍLIA, 22 Mai (Reuters) - O governo decidiu contingenciar 28 bilhões de reais no Orçamento deste ano, montante bem inferior aos 55 bilhões de reais anunciados para o ano passado, com objetivo de estimular o crescimento da economia.
Também para garantir a aceleração da atividade, o governo informou que prevê abater 45 bilhões de reais na meta de superávit primário neste ano, fixada em 155,9 bilhões de reais. Com isso, a economia para pagamento de juros deve ficar em 110,9 bilhões de reais, segundo o relatório bimestral de Avaliação de Receitas e Despesas divulgado nesta quarta-feira.Os principais números do documento foram antecipados pela Reuters na noite de terça-feira, com base em uma versão preliminar do relatório fornecida por uma fonte.
"O contingenciamento varia conforme o Orçamento aprovado pelo Congresso e com a realidade... Já estamos com 4 meses de Orçamento executado, podemos ser mais realistas", afirmou o ministro da Fazenda, Guido Mantega, em entrevista coletiva nesta quarta-feira, acrescentando que o valor do abatimento no primário não é obrigatório.Mantega negou, por outro lado, que a política fiscal expansionista do governo seja um dos fatores de pressão dos preços, conforme apontam vários analistas do mercado.
"Não há contribuição do governo para a inflação", disse ele, argumentando que a pressão nos preços ocorre pela inflação dos alimentos e no setor serviços.
No documento divulgado nesta quarta-feira, elaborado pelos ministérios da Fazenda e do Planejamento, o governo prevê expansão do Produto Interno Bruto (PIB) de 3,50 por cento neste ano e que a estimativa para a inflação medida pelo IPCA foi elevada a 5,20 por cento em 2013, de 4,90 por cento no Orçamento.
"O crescimento de 3,5 por cento (do Produto Interno Bruto) neste ano não deve ser visto como projeção, mas como parâmetro", afirmou Mantega, indicando que essa estimativa pode ser revista nos próximos dois meses.
No mercado, a avaliação é de que a economia brasileira terá expansão de menos de 3 por cento neste ano.
INVESTIMENTOS PRESERVADOS
Segundo o ministro, o ajuste nas despesas foi orientado para a redução no custeio e preservação dos investimentos prioritários. Mantega disse que o governo projeta crescimento do investimento de 6 por cento em 2013 e de 7 por cento no ano que vem.
"Estamos ampliando investimentos com consolidação fiscal", disse ele.
O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), o Minha Casa Minha Vida e os projetos para a Copa do Mundo e para as Olimpíadas, entre outros, foram preservados dos cortes neste ano.
O governo previu ainda que as desonerações fiscais, também usadas para estimular a atividade, ficarão em 72,1 bilhões de reais neste ano e em 91,5 bilhões de reais em 2014.
Já a previsão de receita primária total em 2013 foi reduzida em 67,8 bilhões de reais, e as transferências a Estados e municípios diminuída em 20,3 bilhões de reais neste ano.
O governo também projeta que receberá menos dividendos das empresas estatais neste ano, que passam para 24 bilhões de reais, ante 34,6 bilhões de reais previstos na lei orçamentária. Segundo Mantega, esse corte busca maior capitalização das empresas.
"O cenário de lucros (para estatais) em 2013 é maior que em 2012... Temos flexibilidade para decidir pegar menos (dividendos) e deixar para capitalização maior (das estatais)", disse o ministro.
Mantega também fez breve avaliação sobre a abundante liquidez internacional, ampliada após a decisão do governo japonês de injetar recursos para aquecer a economia.
Ele disse que essa abundância de recursos não ampliou o ingresso de capital especulativo no país e que a maior parte da entrada de moeda estrangeira tem sido direcionada a investimentos produtivos.
"Não está havendo exagero em relação ao Brasil. O que está entrando é Investimento Estrangeiro Direto (IED) e não fluxo financeiro especulativo. Isso não nos preocupa no momento."
(Por Luciana Otoni e Alonso Soto)
Leia ainda texto sobre a desaceleração da inflação:
IPCA-15 desacelera a 0,46% em maio por alimentos, vem abaixo do esperado
quarta-feira, 22 de maio de 2013 13:45 BRT
Por Camila Moreira
SÃO PAULO, 22 Mai (Reuters) - O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15) desacelerou em maio mais do que o esperado, para uma alta de 0,46 por cento, beneficiado por um avanço menor dos preços de alimentos que compensou a maior pressão dos remédios.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quarta-feira, no acumulado dos últimos 12 meses, a prévia da inflação oficial atingiu 6,46 por cento, também abaixo dos 12 meses imediatamente anteriores, quando ficou em 6,51 por cento. Em abril, o IPCA-15 subiu 0,51 por cento.
O resultado acumulado também foi melhor do que os 6,49 por cento registrados no IPCA no final de abril, quando voltou a ficar dentro da meta do governo, de 4,5 por cento com tolerância de 2 pontos percentuais.
Para analistas, isso confirma a expectativa de que os preços vão cair ainda mais no segundo semestre. Entretanto, não quer dizer que a inflação esteja sob controle, mas sim acomodada ainda num nível alto.
"A inflação ainda preocupa porque permanece num nível acima do desejado... ela está acomodada em um nível muito mais próximo do teto do que do centro da meta", avaliou o economista-chefe da Austin Rating Alex Agostini. Para ele, a inflação medida pelo IPCA ficará em 5,2 por cento neste ano, mas o economista admite rever para cima este número.
Pesquisa realizada pela Reuters apontou que o indicador subiria 0,49 por cento na comparação mensal, de acordo com a mediana das previsões de 26 analistas. Na base anual, a expectativa era de avanço de 6,48 por cento.
ALIMENTOS
A forte desaceleração dos preços dos alimentos foi o ponto positivo do resultado de maio do IPCA-15, seguindo a tendência no atacado.
Segundo o IBGE, o grupo Alimentação e bebidas subiu 0,47 por cento em maio, ante 1,0 por cento no período anterior. Com isso, o peso do grupo no indicador deste mês ficou em 0,12 ponto percentual, metade do visto em abril.
Os preços no atacado vêm mostrando queda, principalmente com a deflação dos preços dos produtos agrícolas, mas os preços ao consumidor ainda mostravam resistência.
"Houve deflação finalmente em itens como hortaliças, tubérculos e legumes, mostrando que esse repasse do atacado para o varejo começou a acontecer", destacou a economista da Tendências Alessandra Ribeiro.
Por outro lado, o principal ponto de pressão neste mês ficou por conta dos preços dos remédios, com uma alta de 2,94 por cento em maio, ante 0,93 por cento em abril, levando a um impacto de com impacto de 0,10 ponto percentual no índice. Segundo o IBGE, o resultado refletiu o aumento de até 6,31 por cento nos preços dos remédios autorizado pelo governo no início de abril.
Com isso, o grupo Saúde e cuidados pessoais acelerou a alta mensal a 1,30 por cento em maio, contra 0,63 por cento em abril. Também registraram forte alta no período os grupos Habitação, com avanço de 0,72 por cento, ante 0,68 por cento em abril, e Vestuário, cuja alta acelerou para 0,76 por cento em maio, ante 0,44 por cento no mês anterior.
DIFUSÃO
No IPCA-15, o índice de difusão registrou boa queda ao atingir 61,6 por cento, ante 66,3 por cento no IPCA de abril e 68,5 por cento no IPCA-15 do mesmo mês, de acordo com Alessandra, da Tendências.
Entretanto, ainda não pode ser considerado um nível satisfatório. "Está bem longe do pico de janeiro de 75, mas ainda assim é um patamar muito desconfortável. Em períodos mais tranquilos, ele fica ao redor de 50", disse ela.
Nas contas de Agostini, para que a taxa de inflação fique ao redor de 5,6 por cento neste ano, a média mensal do segundo semestre teria que ser de 0,35 por cento. Se essa média for de 0,45 por cento, a inflação vai girar em 6,3 por cento, bem perto do teto da meta.
Apesar da fragilidade da recuperação econômica, o alto nível da inflação tem preocupado o governo e já levou o Banco Central a iniciar mais um ciclo de aperto monetário, aumentando a Selic para 7,5 por cento no mês passado.
Esse cenário levou o presidente do BC, Alexandre Tombini, a afirmar que a autoridade monetária fará o que for necessário, "com a devida tempestividade", para a inflação cair na segunda metade do ano. O discurso foi enfatizado por ele na terça-feira.
Diante desses comentários, parte do mercado passou a apostar na intensificação do aperto monetário na reunião da próxima semana do Comitê de Política Monetária (Copom), com o mercado futuro de juros enxergando aumento de 0,50 ponto percentual na Selic neste mês, acelerando o ritmo em relação a abril, quando a alta foi de 0,25 ponto.
Segundo a pesquisa Focus do BC, economistas estimam que a inflação encerrará 2013 a 5,8 por cento.
Leia ainda o texto sobre as vendas do aço:
VENDAS DE AÇO CRESCEM 7,5% EM ABRIL
As compras também apresentaram aumento, de 4,3% em relação ao mês anterior, de acordo com as empresas associadas ao Inda
O SINDISIDER (Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Produtos Siderúrgicos) aponta um crescimento de 7,5% nas vendas de aços planos em abril, com relação ao mês anterior, totalizando 383,1 mil toneladas contra 356,5 mil toneladas. Sobre o mesmo período do ano passado, quando foram vendidas 344,8 mil toneladas, a elevação foi de 11,1%. Os dados são apurados junto aos distribuidores associados ao INDA (Instituto Nacional dos Distribuidores de Aço).
As compras realizadas em abril também apresentaram crescimento em comparação a março, de 4,3%, totalizando 401,6 mil toneladas ante 385 mil toneladas. Sobre o mesmo mês de 2012, quando foram compradas 346,8 mil toneladas, a alta foi de 15,8%.
No acumulado do primeiro quadrimestre de 2013, as vendas somaram 1.426,3 mil toneladas, ficando praticamente estáveis em relação ao mesmo período do ano passado, com 1.424,3 mil toneladas – aumento de 0,1%. As compras tiveram incremento de 4% em relação a 2012, com um volume total de 1.499,6 mil toneladas sobre 1.442 mil toneladas.