Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista
Mostrando postagens com marcador regulamentação. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador regulamentação. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 22 de maio de 2013

O Estadão, a democracia e a ditadura midiática


*Quando Dilma vai à TV, em rede nacional,  desmentir a boataria sobre a extinção do Bolsa Família, rebater os críticos do programa e reafirmar o compromisso com as famílias beneficiadas?*'Rui Falcão: mudar a correlação de forças; o papel da mídia'  ( leia mais no Blog das Frases )  

 O 'ESTADÃO', À ESQUERDA DA SECOM

"Eis o receituário contra "os ‘Big Brothers' de todas as latitudes", e para evitar o perigo à democracia que a "TV lixo", aquela que é "um brevê contra a inteligência e o senso crítico dos espectadores", pode representar em qualquer parte do país: "De um lado, uma política de concessões infensa a coronelismos, complementada por eficaz legislação antitruste, de defesa do consumidor e da concorrência, contra a exacerbação predatória da lei do mais forte no mercado da indústria de informação"; "de outro, o fortalecimento da mídia eletrônica pública, independente tanto do Estado quanto da área privada e, mais ainda, protegida do espúrio contubérnio entre ambos, que gera a ‘ditadura midiática', na Itália, na Bahia - e em qualquer lugar do planeta."Não se trata, leitor, de nenhum texto inspirado na 1ª Conferência Nacional de Comunicação, ocorrida em dezembro de 2009, em Brasília, que discutiu diretrizes, no âmbito da sociedade civil, para a regularização da mídia - aquela conferência que a direita tratou como uma tentativa tomada de poder do governo petista de Luiz Inácio Lula da Silva, via organizações populares. Não, não é nenhuma peça subversiva e nenhuma ofensiva ao status quo da mídia brasileira. É a conclusão de um editorial do conservador jornal "O Estado de S. Paulo", intitulado "Democracia e ‘ditadura midiática'" e publicado numa nobre edição do domingo, dia 10 de junho de 2001'(Leia nesta pág a íntegra do artigo que marca a volta da coluna de Inês Nassif em Carta Maior).

O Estadão, a democracia e a ditadura midiática

A mesma mídia que hoje critica anseios democratizantes das comunicações no Brasil um dia defendeu a importância de “uma política de concessões infensa a coronelismos, complementada por eficaz legislação antitruste” e de “fortalecimento da mídia eletrônica pública”. Esses trechos de editorial do ‘Estadão’, é claro, não foram escritos sob o atual governo petista, mas em 2001, quando FHC estava no comando do país. Por Maria Inês Nassif (que, com este artigo, marca seu retorno à Carta Maior)


Eis o receituário contra “os ‘Big Brothers’ de todas as latitudes”, e para evitar o perigo à democracia que a “TV lixo”, aquela que é “um brevê contra a inteligência e o senso crítico dos espectadores”, pode representar em qualquer parte do país: “De um lado, uma política de concessões infensa a coronelismos, complementada por eficaz legislação antitruste, de defesa do consumidor e da concorrência, contra a exacerbação predatória da lei do mais forte no mercado da indústria de informação”; “de outro, o fortalecimento da mídia eletrônica pública, independente tanto do Estado quanto da área privada e, mais ainda, protegida do espúrio contubérnio entre ambos, que gera a ‘ditadura midiática’, na Itália, na Bahia – e em qualquer lugar do planeta.”

Não se trata, leitor, de nenhum texto inspirado na 1ª Conferência Nacional de Comunicação, ocorrida em dezembro de 2009, em Brasília, que discutiu diretrizes, no âmbito da sociedade civil, para a regularização da mídia – aquela conferência que a direita tratou como uma tentativa tomada de poder do governo petista de Luiz Inácio Lula da Silva, via organizações populares. Não, não é nenhuma peça subversiva e nenhuma ofensiva ao status quo da mídia brasileira. É a conclusão de um editorial do conservador jornal “O Estado de S. Paulo”, intitulado “Democracia e ‘ditadura midiática’” e publicado numa nobre edição do domingo, dia 10 de junho de 2001.

Naquela época, todavia, o presidente do Brasil era Fernando Henrique Cardoso; o presidente do Senado, Antonio Carlos Magalhães, havia renunciado ao mandato de senador, depois de ter fraudado uma votação em plenário, e estava então em rota de colisão com FHC, a quem servira desde o início do mandato; e o poder econômico da mídia ainda não havia feito um pacto de não agressão contra um inimigo maior, um governo de esquerda que enterrou duas gestões tucanas que consolidaram no país o receituário conservador, político e econômico, que grassava no mundo, sob o disfarce de modernidade.

ACM, segundo o editorial, era o espécime mais bem acabado do “coronelismo eletrônico que grassava pelo país, em particular nos Estados do Nordeste: o produto político da associação com “o principal conglomerado de emissoras de TV” com os interesses de grupos políticos. Usando da associação com esse conglomerado e da “fidelidade irrestrita à ordem ditatorial”, o senador baiano construiu um “virtual monopólio de mídia e de acesso a verbas publicitárias particulares e públicas [na Bahia], a começar do próprio governo estadual e da prefeitura de Salvador, sob suas asas”.

No momento em que ACM caía no Brasil, na Itália ascendia novamente ao poder Silvio Berlusconi – que chegara a premiê em março de 1994 usando o poder econômico e um império de mídia eletrônica, renunciou em 1994 e chegava novamente ao cargo pelos mesmos recursos, exercitando o que o presidente da segunda emissora de TV italiana, Carlo Freccero, seu colaborador por mais de 20 anos, designava como “ditadura midiática” em um entrevista concedida na semana anterior ao editorial ao semanário francês “L’Express”.

O ex-colaborador do premiê italiano, diz o editorial do Estadão, “sabe perfeitamente como a hegemonia inconstrastável de um grupo de mídia sobre o conjunto do setor [grifo nosso] pode ´lobotomizar´ toda uma Nação, em proveito dos amigos políticos de seus colaboradores”.

“Se um país civilizado como a Itália pode tornar-se refém de um dublê de um czar da mídia e de autoridade governamental, não são necessários grandes voos de imaginação para prever o perigo que a “TV lixo”, como diz Frecero (...) pode representar em outras paragens”.

A associação do “principal conglomerado nacional” – assim o editorial se refere à Rede Globo – a interesses políticos variados apenas pode resultar em grande poder político e econômico, concluiu o Estadão, ao analisar o caso ACM no Brasil e antes de lembrar o caminho trilhado por Berlusconi para chegar ao poder na Itália.

O editorial lembra a resposta dada pelo senador baiano ao repórter, sobre o que faria depois de sua renúncia. ‘“Gostaria de dirigir a Globo”, respondeu, risonho’, relata o texto do jornal. “Pode-se julgar como se queira a sua longa trajetória na vida pública nacional e no seu estilo de atuação. Mas nunca, em sã consciência, alguém lhe fará a injustiça de desconsiderar o seu faro extremamente privilegiado para as fontes e os mecanismos de exercício do poder”, conclui.

“Graças a esse dom, ele foi um dos primeiros políticos brasileiros, na passagem dos anos 60 e 70, a perceber a importância decisiva que teria o controle da mídia eletrônica para a conquista de apoio popular, a consolidação das posições de mando alcançadas e o uso da influência pessoal, assim amplificada, para o comércio de favores – o que, por sua vez, asseguraria a reprodução do cacife político já amealhado”, analisa o editorial, à luz da trajetória política e da sua construção como empresário da mídia baiana, sob o abrigo e em associação com a maior rede nacional de televisão.

Ele e Sarney entenderam isso, ele na Bahia e Sarney no Maranhão. Juntos, Sarney como presidente, ACM como seu ministro das Comunicações e, ambos, associados à “maior rede nacional”, mantiveram-se, daí como mandatários, o “coronelismo eletrônico”, mesmo depois da redemocratização do país. “Ministro das Comunicações do presidente José Sarney e tão ligado como ele à maior rede nacional, ACM fez da outorga de concessões de emissoras de rádio e TV o instrumento por excelência de seu ‘coronelismo eletrônico’, na apropriada expressão do editorial de domingo passado do Jornal da Tarde”, continua o jornal, em sua sessão de Opinião. É ele quem diz.

Clique na imagem abaixo para ver ampliado:
Clique aqui para ver ampliado

* Colaboraram os estagiários Caio Luiz Junqueira Hornstein, Roberto Campos Brilhante e Rodrigo Giordano Stella

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

UMA SEMANA PARA NÃO ESQUECER


Maré humana toma posse na Venezuela em lugar de Chávez: população ocupa ruas e praças em defesa das conquistas da revolução bolivariana (leia nesta pág.) 


O  jornalismo praticado pelo dispositivo conservador tem cada vez mais o prazo de validade  de um pote de iogurte, vencido. A 'grave denúncia' da noite  azeda  no contato com o oxigênio da manhã. A manchete  garrafal e assertiva da hora desaba ao primeiro sopro dos fatos.Como um frango desossado da Sadia, não se sustenta sem os ganchos de uma desconcertante indiferença à realidade. No futuro, quando o historiador  autopsiar esse açougue  onde cortes especiais redesenham o país ao gosto de interesses pantagruélicos,  será possível avaliar melhor as consequências da injeção sistemática de semi-informação, meias verdades, semi-cultura,vulgaridades e mentiras no imaginário de um povo. Por ora, trata-se de resistir à matéria tóxica. Sempre se poderá alegar em defesa do imobilismo  que o limite do abuso é o contrapeso da realidade objetiva. Em termos. O economicismo  que  se acredita autossuficiente na disputa pela hegemonia da sociedade  é tão equivocado quanto o laissez-faire. Ambos entregam o destino da Nação às forças de mercado. Com as consequências conhecidas, quando o conflito de interesses atinge a polarização prenunciada  nas manchetes da semana que passou. (LEIA MAIS AQUI)

sábado, 26 de maio de 2012

LULA: 'NAS MÃOS DE POUCOS NÃO DÁ'

*-- "A comunicação "não pode estar concentrada em poucas empresas, em poucas famílias, em poucos lugares" (Lula em mensagem ao III Encontro Nacional de Blogueiros;. assista http://www.youtube.com/watch?v=7PB55wW7z5k )** A PIGARRA TUCANA: uma forma de alergia social (leia mais aqui)COMUNICAÇÃO, UM BEM PÚBLICO"No Brasil, jornalismo é como farmácia antiga: de manipulação.Eu não defendo um marco regulatório para a imprensa em geral, mas para as comunicações que são concessões públicas. É um bem público, como a luz, a água..." (Franklin Martins; no III Encontro de Blogueiros; leia reportagem nesta pág)

Encontro de blogueiros discute liberdade e regulamentação dos meios de comunicação

O 3º Encontro Nacional de Blogueir@s reúne, neste final de semana, Em Salvador, ativistas e comunicadores de todo o país discutem um novo marco regulatório da mídia. Ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva enviou mensagem em ídeo dizendo que “a internet é um meio importantíssimo para garantir a liberdade de expressão, a diversidade de opinião e a construção da cidadania". Encontro termina neste domingo com divulgação de uma carta-manifesto. A reportagem é de Maíra Kubík Mano.

Salvador - “Os excessos de liberdade se corrigem com mais liberdade”. A frase, do historiador francês Alexis de Tocqueville, aparece ao lado dos dizeres de Carlos Ayres Britto, presidente do Supremo Tribunal Federal: “A liberdade de expressão é a maior expressão da liberdade”. Juntas em um grande banner com logotipos de patrocinadores e apoiadores, elas dão o tom do 3º Encontro Nacional de Blogueir@s, cujos eixos principais são a defesa da liberdade de expressão e da blogosfera e a luta pela democratização da comunicação.

O evento começou ontem em Salvador (BA), com um auditório lotado de comunicadores, laptops, jornalistas, tablets, políticos e telefones celulares. Segundo a organização, o Centro de Estudos de Mídia Alternativa Barão de Itararé, 426 ativistas se inscreveram para acompanhar os debates, que deverão ocorrer até domingo (27/05).

“O mote do segundo encontro foi a necessidade de democratizarmos a comunicação. Dessa vez, além de manter a luta pelo marco regulatório e pela liberdade de expressão, temos uma nova motivação: a blogosfera passou a incomodar”, afirmou Altamiro Borges, presidente do Centro de Estudos e autor do Blog do Miro.

Outra mudança foi o nome do evento: o primeiro e segundo encontros vinham com a alcunha de blogueiros “progressistas”, que foi abandonada nessa terceira edição.

Na abertura, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que participou em 2011, enviou uma mensagem em vídeo onde justificava sua ausência em função da recuperação do tratamento de câncer. Na gravação, Lula defende que “a internet é um meio importantíssimo para garantir a liberdade de expressão, a diversidade de opinião e a construção da cidadania. Ter informação e conhecer diversas visões do mesmo fato é essencial para garantir que todo o cidadão possa opinar e participar da vida política de seu país”. O ex-presidente também afirmou que a comunicação “não pode estar concentrada em poucas empresas, em poucas famílias, em poucos lugares. As opiniões do povo do Norte, do Nordeste, das mulheres, as pessoas portadoras de deficiência, dos pobres têm que aparecer. E os blogs e a internet têm um papel fundamental nisso”.

O governo Dilma Rousseff foi representado por Nelson Breve, presidente da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), que classificou a blogosfera como “uma imprensa vigilante”. “Além de trazer novas informações e pontos de vista, ela também vigia os erros e a partidarização, às vezes excessiva, da grande imprensa”, disse.

Marcio Pochmann, presidente do Instituto Nacional de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), também esteve presente e concordou que é preciso “valorizar o trabalho dos blogueiros”. “É um momento muito significativo na produção de conhecimento e informação”.

Regulamentação
A primeira mesa do encontro contou com o jornalista e ex-ministro da Comunicação Social do governo Lula, Franklin Martins, o deputado federal Emiliano José (PT/BA), da Frente Parlamentar pela Liberdade de Expressão e Direito à Comunicação (Frentecom), e a coordenadora do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC) e secretária nacional de comunicação da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Rosane Bertotti.

“No Brasil, jornalismo é como farmácia antiga: de manipulação”, afirmou Franklin Martins, arrancando risadas da plateia. “Eu não defendo um marco regulatório para a imprensa em geral, mas para as comunicações que são concessões públicas. É um bem público como a luz e a água”.

Assim como Lula, Martins também criticou a excessiva concentração da mídia: “isso atenta contra a democracia, contra o acesso a uma informação plural”. O ex-ministro se disse otimista porque acredita que um novo marco regulatório seja “inevitável”. “O nosso é ultrapassado, o Código Brasileiro de Telecomunicações é de 1962, ou seja, anterior à TV a cores. Vivemos uma convergência de mídia. Celular, internet, TV, vai ser tudo a mesma coisa”.

Ele demonstrou, porém, preocupação que esse debate não seja feito de forma pública, no Congresso Nacional: “Ou se pactua esse processo, ou prevalece a lei do mercado. E daí vai vencer o mais forte, as empresas de telecomunicações”.

Para Martins, a maneira de combater isso é reivindicando a Constituição de 1988. “Nossa bandeira deve ser ‘nada que fira a Constituição, mas tudo que está na Constituição’. Mídia é a plataforma, não é o essencial. O essencial é que não pode haver monopólio e oligopólio. Que político não pode ter concessão. Que não se pode vender, sublocar horário para bispo ou shopping eletrônico. Que se proteja o menor, a honra, a privacidade. Ter cotas para a produção regional e independente. Tudo isso está na Constituição!”

Rosane Bertotti, do FNDC, concordou com o otimismo de Franklin Martins, mas disse que a sociedade precisa estar atenta ao fato de que a PEC do Trabalho Escravo e a Comissão da Verdade demoraram anos para avançar, o que poderia também ocorrer com o marco regulatório das comunicações.

Bertotti argumentou ainda que, embora os jornais e revistas não sejam concessões públicas, é necessário questionar a disponibilização de recursos públicos, por meio de anúncios, a veículos como a Veja, que segundo ela “nega direito à informação”.

Emiliano José encerrou o debate dizendo que vivemos um momento-chave. “O novo está nascendo com força, mas ainda não é dominante. A velha mídia não acabou e ela tem um projeto político para o Brasil que não é o nosso. Há a novidade da internet. Quando a velha mídia diz uma coisa, milhares de blogueiros dizem outra”.

O deputado federal afirmou estar aguardando que o governo envie a discussão para o Congresso. “Aí vai ser preciso debater com a sociedade brasileira para que ela compreenda o direito à comunicação. Nós é que teremos que dizer que não pode haver uma convergência entre as teles e a velha mídia”.

Marco Civil
No sábado, o 3º Encontro de Blogueir@s abriga uma das diversas audiências públicas em torno do Marco Civil da Internet, documento que deverá servir de base para a discussão de todos os temas relacionados à internet no país. João Arruda (deputado federal do PMDB/PR e presidente da comissão que analisa o projeto), Jandira Feghali (deputada federal do PCdoB/RJ e integrante da comissão) e Sérgio Amadeu (integrante do Comitê Gestor da Internet) discutirão com os blogueiros o potencial de inovação da internet. No domingo (27/05), o evento divulgará uma carta-manifesto e o local do próximo encontro.


Fotos: Maíra Kubík Mano

sexta-feira, 29 de julho de 2011

PiG + Murdoch. Só você, navegante, nos salva !

Eles não calam a voz das ruas
Extraído da Carta Maior artigo do professor Venício A. de Lima:

Mídia: as mudanças virão das ruas


Venício Lima


Esperava-se que os acontecimentos envolvendo o tablóide “News of the World” – que se espraiam não só para outros veículos do News Corporation, mas também para outros grupos de mídia na Inglaterra e, talvez, em outros países – provocassem algum tipo de reflexão crítica por parte da grande mídia brasileira, seus parceiros e defensores.


O que temos visto, no entanto, é uma postura quase agressiva de, sem mais (1) atribuir o ocorrido a ação criminosa de apenas alguns indivíduos que não representariam um comportamento rotineiro da grande mídia; (2) insistir que os fatos não podem servir de exemplo para a defesa da regulação do setor ou comprovar a ineficiência da autorregulação; e (3) acusar aqueles que discordam de pretenderem amordaçar a imprensa e cercear a liberdade de expressão.


Na verdade, a postura da grande mídia brasileira e de seus parceiros e defensores não deveria constituir surpresa. O histórico de rejeição sistemática à democratização do setor e de recusa ao diálogo tem sido uma de suas características. Hoje, tornou-se trivial executivos dos grandes grupos midiáticos darem declarações e/ou entrevistas acusando dispositivos da Constituição de 88 de serem normas autoritárias e de censura. Mas, no caso presente, o grau de resistência a enxergar o óbvio – que tem sido objeto de reflexões em todo o planeta – é realmente assustador.


Questões sem resposta

Por que a idéia de qualquer regulação do setor, a exemplo do que existe em outros países democráticos, incomoda tanto a grande mídia brasileira?


Por que o único critério para aferir a universalidade da liberdade de expressão é a não interferência do Estado no mercado oligopolizado de mídia e não a pluralidade de vozes que tem acesso ao espaço público?


Por que, diante de qualquer proposta de regulação, ressurge o argumento clássico liberal de que o melhor remédio é sempre mais liberdade quando se sabe que esse remédio, muitas vezes, sufoca o debate público e impede a manifestação exatamente das vozes que se oporiam ao discurso dominante?


Por que o debate dessas questões continua interditado na grande mídia brasileira que oferece espaço apenas para seus parceiros e aliados e não enfrenta o contraditório de suas posições?


Onde está a resposta?

A resposta a essas questões talvez esteja no poder de facto que a grande mídia consegue articular em torno de si mesma. Seus interesses estão de tal forma imbricados com aqueles das oligarquias políticas e de setores empresariais que permanecem intocáveis. E mais: são apresentados e justificados publicamente em nome de liberdades que são bandeiras verdadeiras da democracia.


Infelizmente, continuamos muito distantes do verdadeiro exercício democrático. O liberalismo brasileiro sempre foi excludente e continua tendo pavor de qualquer tentativa republicana do Estado no sentido de permitir maior participação popular na formulação e fiscalização das políticas públicas, em particular, nas comunicações. Por isso a idéia dos conselhos de comunicação – nacional, estaduais e municipais – é combatida de forma tão virulenta.


A consciência que vem das ruas

O que a grande mídia não consegue mais controlar, todavia, é o aumento da consciência sobre a importância do direito à comunicação nas sociedades contemporâneas. A exemplo das explosões populares que tem ocorrido em outras partes do planeta, sintomas do fenômeno começam a ocorrer aqui mesmo na Terra de Santa Cruz, com a fundamental mediação tecnológica das TICs.


Para além do entretenimento culturalmente arraigado – simbolizado pelas novelas e pelo futebol – cada dia que passa, aumenta o número de brasileiros que se dão conta do imenso poder que ainda está na mão daqueles que controlam a grande mídia e que, historicamente, sonega e esconde as vozes e os interesses de milhões de outros brasileiros.


É o aumento dessa consciência que vem das ruas que explica as pequenas e importantes vitórias que a sociedade civil organizada começa finalmente a construir em níveis estadual e local. O melhor exemplo parece ser a aprovação pela Assembléia Legislativa da Bahia do Conselho Estadual de Comunicação Social – o primeiro do país – que deve ser instalado em agosto, com participação majoritária dos movimentos sociais e dos empresários. Existe possibilidade real de que outros conselhos, já previstos nas constituições estaduais, sejam instalados em breve.


Esse parece ser o único caminho possível para a democratização da comunicação no nosso país: a consciência da cidadania. Esse caminho independe da vontade da grande mídia e de seus parceiros e defensores. Esses continuarão encastelados na sua arrogância, cada dia mais distantes das vozes excluídas que vem das ruas e que, felizmente, não conseguem mais controlar.


A ver.


Professor Titular de Ciência Política e Comunicação da UnB (aposentado) e autor, dentre outros, de Regulação das Comunicações – História, poder e direitos, Editora Paulus, 2011.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

TWITCAM HOJE, ÀS 21 HORAS, COM EMIR SADER. BALANÇO DA CRISE INTERNACIONAL, DO GOVERNO DILMA E OUTROS TEMAS.


 A mídia brasileira tem optado por uma abordagem insuficiente -para dizê-lo com indulgência--  dos desdobramentos que  o escândalo  do ‘News of  the World' coloca no tocante  às relações entre o dinheiro, a democracia e o direito à  informação.
Há razões para crer que não seja apenas um descuido. Privar a sociedade das interações implícitas e da contextualização política explosiva  de um episódio que só na aparência pode ser tratado como o  caso específico de um tabloide inglês marrom, sugere um esforço de autopreservação diante do espelho incômodo, cuja trinca esfarela  todos os semelhantes a sua volta. É perceptível o labor para dar ao escândalo do  ‘ News of de World'  o recorte de um ponto fora da curva. O fato, porém, é que o direitista Rupert Murdoch, seu proprietário, montou e maneja no circuito  Inglaterra/ EUA o maior conglomerado de mídia em língua inglesa do  planeta. Controla simultaneamente as pautas e narrativas veiculadas em diferentes praças e as repercute em todas as formas de mídia. O Brasil sabe o que isso significa, especialmente em períodos eleitorais. A investigação jornalística isenta não conseguiria explicar  como fruto da  coincidência que os tentáculos do império Murdoch incluam na folha de pagamentos o ex-assessor de imprensa do primeiro-ministro inglês David Cameron -cujo frequentava as festas da editora do ‘News of the World'; ou ,como lembra Lúcia Guimarães, brava correspondente do Estadão em Nova Iorque, que o fundador e atual presidente da rede Fox News, --o canal de tevê norte-americano de Murdoch-- seja Roger Ailes, ex-assessor de propaganda de  Richard Nixon e de George Bush pai.Nos anos 70 Ailes foi o autor de um estudo sugestivamente intitulado: ‘ Como Colocar o Partido Republicano na Mídia'. Manipulação e  democratização dos meios de comunicação são formas de mediação social que se combatem.  A  manipulação viceja no terreno pantanoso da semi-informação e da semi-cultura que desarma os espíritos  e embrutece o discernimento da liberdade e da Razão, prostrando a cidadania com o espraiamento tóxico do jornalismo que combate  idéias e defende interesses destruindo reputações e alvejando biografias. Seria oportuno  que as autoridades do país, ainda hesitantes diante da necessidade de regulação da mídia, acompanhassem atentamente o debate em torno do método Murdoch de jornalismo --e não o fizessem apenas com base na mídia local.
(Carta Maior; 5º feira 14/07/ 2011)

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Globo combate os portugueses e se esquece do Google


Na foto, D João VI e comitiva desembarcam na rua Lopes Quintas, no Rio


Saiu no Estadão, pág. A7, reportagem que, por incrível que pareça,  guarda notável parentesco com as ideias do Senador Evandro Guimarães, representante biônico e vitalício da Globo em Brasília.

Trata-se de “Câmara discute capital estrangeiro na mídia”.

O deputado Eduardo Gomes do PSDB de Tocantins e o senador eleito e ex-ministro das Comunicações (êpa !) Eunício de Oliveira, do PMDB do Ceará,  propõem aquilo que, por coincidência, o Senador Evandro também seria capaz de propor.

O deputado Gomes quer perseguir o grupo Ongoing, dos jornais O Dia, do Rio, e Brasil Econômico, porque a proprietária é casada com um português.

O grupo é de origem portuguesa e está ligado à Portugal Telecom e ao banco Espírito Santo.

O grupo vendeu a Vivo, está de caixa alta e, como todo bom empresário português, quer vir para o Brasil.

Os bons empresários portugueses fogem hoje de Portugal como D João VI fugiu de Napoleão. 

E os dois supra-citados parlamentares brasileiros querem impedir a Abertura dos Portos do Visconde de Cayru.

Eles dois, o Senador Evandro e a Globo, ora pois.

O grupo Ongoing é candidato natural a comprar o SBT.

Clique aqui para ler “O Silvio obrigou a Dilma a fazer a Ley de Medios”.

O senador eleito, e ex-ministro das Comunicações (êpa !), quer perseguir o portal Terra, da espanhola Telefônica.

Ou seja, os dois nobres parlamentares – será que eles conhecem o Senador Evandro, por acaso ? – querem legislar sobre a Constituição e mexer, parcialmente, num dos artigos: o artigo 222, que trata da preferência a profissionais  brasileiros nos meios de comunicação.

A Globo, ao nascer, era do Grupo americano Time-Life e, na época, defendia ardorosamente a colaboração com o capital americano (e a Embaixada americana).  

Como se sabe, o Congresso brasileiro, até hoje, não regulamentou três artigos da Constituição de 1988 que tratam da Comunicação.

O 220 – sobre o direito de resposta; o 221, sobre a regionalização e a programação das redes; e este bendito 222.

O professsor emérito Fabio Comparato entrou no Supremo com uma Ação Direto de Inconstitucionalidade por Omissão, para que o Congresso, finalmente, se mexa e legisle (contra o PiG e a Globo).

O senador Oliveira e o deputado Gomes – talvez, quem sabe ?, eles conheçam, assim, de vista, o Senador Evandro – os dois querem legislar sobre um pedaço do 222.

É como se eles retalhassem o Comparato.

Ignorassem o “Compa”, ignorassem o “ra” e quisessem tratar do “to”.

Mas, no “to”, no artigo 222, só mexer para atormentar os portugueses da Ongoing e os espanhóis do Terra.

Os portugueses da Portugal Telecom controlam o IG e fatia suculenta do UOL.

Sobre isso, o deputado e o senador eleito – vai ver que, um dia, tomaram cafèzinho com o Senador Evandro – sobre isso, os dois se calam.

Gibbon já demonstrou que uma das características da fase de decadência dos Impérios é combater o inimigo errado.

A Globo combate a Ongoing e o Terra.

É que a Globo ainda não soube da existência de dois garotos das Arábias que inventaram um troço chamado Google.

Os filhos do Roberto Marinho – êles não têm nome próprio – provavelmente preferem navegar de barco e, não, na internet.

Por isso, ignoram que “televisão com internet tem vídeo melhor e facilita leitura de noticias”, diz a Folha (*) na reportagem de Fernanda Ezabella, na pág. B8.

“Controle remoto da Google TV é como um teclado gorducho, que exige malabarismo dos dedos das duas mãos.”

Trata-se de um “um novo nicho de aplicativos exclusivos para TV”.

“Além de aplicativos para compra de conteúdo na web para ver TV, aparelho traz canais próprios”.

A propósito, o Google é dono do YouTube.

Ou seja, os dois parlamentares que, provavelmente conhecem o Senador Evandro pelo menos de nome, esses dois parlamentares lembram aqueles “luzias” e “saquaremas” do Império brasileiro que criavam expedientes para adiar a libertação dos escravos.


Paulo Henrique Amorim