Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Um pregador de golpes de Estado




O nome dele é Roger Noriega (foto), um linha-dura que ocupou o cargo de subsecretário do Departamento de Estado no governo de George W. Bush e de embaixador dos Estados Unidos na Organização dos Estados Americanos (OEA).

Notoriamente vinculado ao complexo industrial militar norte-americano, Noriega volta e meia é convocado pela mídia de mercado para dar recados de grupos que se utilizam de expedientes de todos os tipos na defesa de poderosos interesses econômicos.

Pois bem, a revista Veja, sempre ela, divulgou entrevista em que Noriega faz previsões suspeitas envolvendo o Brasil. Segundo este estimulador de golpes nas Américas, o Brasil dá cobertura e serve de base para o terrorismo internacional.

Noriega, que segue como funcionário do Departamento de Estado, ainda por cima acusa o Brasil de ser complacente e apoiar o terrorismo na Tríplice Fronteira. Esta região, por sinal, volta e meia aparece no noticiário com matérias requentadas acusando a existência de células terroristas árabes.

A própria revista Veja já publicou matérias do gênero em várias ocasiões. Aí vem Noriega para voltar ao tema que o governo brasileiro já investigou e concluiu a improcedência das acusações.

Dá ou não dá para desconfiar que a nova investida de Noriega é suspeita?

Além de fazer duras críticas aos presidentes da Venezuela, Hugo Chávez, da Bolívia, Evo Morales e Rafael Correa do Equador, Noriega previu nas páginas da Veja que o Brasil será alvo de atentados durante a Copa do Mundo, sugere ainda que o governo mude sua política externa e rompa os elos com os três dirigentes sul americanos mencionados.

Noriega, que em abril de 2002 foi um dos estimuladores da tentativa de golpe de estado contra o presidente Hugo Chávez, está mais uma vez se intrometendo indevidamente em assuntos internos de um país soberano e no fundo tenta provocar pânico ao fazer previsões com base em coisa alguma, o que também levanta a suspeita segundo a qual serviços de inteligência dos EUA, a CIA e outros, podem estar preparando algum atentado terrorista para incriminar os governos dos países que não rezam pela cartilha de Washington. Ele na prática procura preparar a opinião pública a aceitar o argumento de que Venezuela, Bolívia e Equador representam um perigo para o Brasil.

E, de quebra, Noriega ainda afirma que as embaixadas do Irã incrementam células terroristas na América Latina.

Pelos antecedentes deste funcionário do Departamento de Estado todo o cuidado é pouco. Nesse sentido, representantes de vários movimentos sociais reunidos em Brasília chamaram atenção para as declarações de Noriega. Pediram providências imediatas do governo brasileiro e chegaram até a pedir que o embaixador dos EUA no Brasil, Thomas Shannon, seja considerado persona non grata. Para estes movimentos, a adoção de tal medida seria uma forma de demonstrar que o Brasil não aceita passivamente intromissões indevidas em questões internas.

Não contente com a entrevista publicada na Veja, Noriega andou fazendo declarações de caráter golpista em outras plagas. Empolgado com o desfecho das ações militares da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) na Líbia, Noriega mais uma vez deitou falação contra o governo constitucional da Venezuela.

Fez mais uma previsão, a de que Chávez não teria mais de seis meses de vida e que a sua morte provocaria o caos no país petrolífero devido a confrontos entre apoiadores e opositores do presidente venezuelano, o que justificaria uma intervenção militar dos EUA. No portal Inter American Security Watch, ao pregar abertamente a intervenção ele declara textualmente que “as autoridades dos Estados Unidos devem estar preparados para lidar com o impacto de uma situação de turbulência a curto prazo em um país onde se compra 10 por cento do nosso petróleo”.

Não é a primeira vez que Noriega se manifesta sobre a doença de Chávez. No mês de setembro chegou a afirmar que “deveríamos nos preparar para um mundo sem Chávez”. As declarações de Noriega então entraram em contradição com a dos médicos de Chávez assegurando que ele reagia bem ao tratamento a que vinha sendo submetido contra o câncer,

Por coincidência ou não, poucas horas antes da declaração de Noriega sobre o estado de saúde de Chávez, o governo venezuelano denunciava a presença de um submarino no litoral do país.

Na verdade, Noriega exerce a função de estimulador de setores golpistas latino-americanos e se os governos silenciarem a respeito, o referido funcionário do Departamento de Estado continuará ocupando espaços na mídia de mercado para sugerir retrocessos e tentar fazer com que o continente retorne ao período tenebroso dos anos 70.

Roger Noriega é mesmo uma figura nefasta ao processo democrático latino-americano.

Em tempo: o recorde da semana em termos de deturpação da história ficou por conta de um colunista de O Globo que comparou o ato público organizado pelo governo do Estado do Rio contra o projeto ilegal sobre os royalties do petróleo com a passeata dos 100 mil. O que disse Zuenir Ventura é realmente uma ofensa à geração 68 que lutou com o que estava ao seu alcance contra a ditadura.


Mario Augusto Jacobskind

Cumplicidade escandalosa DA " MÍDIA"


As duas fotos aí de cima foram publicadas pelo blog SkyTruth ,especializado em interpretação de foto de satélites com fins ambientais, mantido pelo geógrafo John Amos, e registram em dois momentos o que é identificado como sendo a mancha de óleo provocada pelo vazamento no poço da Chevron-Texaco e que está sendo mantido na sombra pela imprensa.
Cheguei até elas pela dica do leitor Henrique, que parece ser mais eficiente que toda a imprensa brasileira reunida.
Aliás, os próprios releases dizem que há 18 navios trabalhando no combate ao vazamento. Devem ser navios-fantasmas, como é a direção da Chevron. Não têm nome, não têm comandante, não tem tripulação, não têm coordenadores. Não há uma pessoazinha que seja, com nome e sobrenome, que diga: “olha, as coisas aqui estão assim ou assado”.
Ninguém tem uma máquina fotográfica, uma filmadora, um reles celular que tire fotos. Internet, então, nem pensar.
Será que vamos ter que esperar que coloquem uma mensagem na garrafa, para que a nossa imprensa publique algo além de notas oficiais?
Atualização: a Chevron diz à ANP que a mancha tem 163 quilômetros quadrados de extensão e estima em até 880 barris o vazamento. Bem, se na mancha tiver 1o ml (uma tampinha de xarope) por metro quadrado, isso daria 1,6 milhões de litros, ou dez mil barris de petróleo (163 km2 = 163 milhões de metros quadrados. Que história mal contada! Nem as informações de release são coerentes, e ninguém questiona. Quem vai dar explicações ao país?

*Polícia dos EUA ataca indignados em todo o país e desaloja o 'Occupy Wall Street' em Nova Iorque (ao vivo: http://occupystreams.org/item/occupy-wall-street-nyc ) ** " Europa vive momentos históricos; podemos regredir 150 anos ou voltar a ter revoluções populares" (Costas Isychos, dirigente da esquerda grega, ao enviado especial a Atenas, Eduardo Febbro, nesta pág)

EUROPA: ORTODOXIA QUEIMA AS CARAVELAS  
Sob intervenção dos mercados financeiros, o programa de austeridade da Itália inclui a demissão de 300 mil funcionários públicos até 2014. Na Grécia, o preposto da banca, Lucas Papademos, deve anunciar em breve o corte de 30 mil empregos, de um lote total de 350 mil demissões no setor público prometidas aos credores. Portugal vive um atoleiro recessivo agravado pelo programa de arrocho do governo direitista que, entre outras extravagâncias, decretou um  aumento unilateral da carga de trabalho dos assalariados, sem remuneração equivalente. A Espanha, nesta 2ª feira, pagou as maiores taxas de juros desde 1979 para conseguir vender títulos públicos aos mercados.Domingo tem eleições para renovar o congresso e escolher o sucessor de Zapatero: o extremismo neoliberal ensaia uma vitória esmagadora, com ampla maioria parlamentar para aplicar um duro programa de arrocho  num país que já acumula cinco milhões de desempregados.

Crise na zona do euro se espalha

Após a Grécia, a Itália passou a ser a bola da vez. Ela é grande demais para ser resgatada pelos mecanismos convencionais. É o maior devedor do bloco, com compromissos de € 1,9 trilhão - valor superior à soma das dívidas de Espanha, Portugal, Irlanda e Grécia - está sendo rapidamente abandonada pelos investidores. Caso não surja rapidamente uma solução para a dívida italiana pode-se prever o esfacelamento da zona do euro e uma crise bancária global. O artigo é de Amir Khair.

A deterioração da situação da zona do euro ganhou dinâmica própria devido ao atraso nas decisões de equacionamento dos problemas enfrentados pelas economias com maiores dificuldades. A Alemanha e outros países mais ricos acham que Grécia, Portugal e Itália gastaram mais do que podiam, e temem que um resgate concedido logo vá reduzir a pressão sobre eles para que mudem de comportamento. Os países devedores, por sua vez, julgam que há um desequilíbrio em toda a zona do euro e que os países mais ricos deveriam consumir mais e exportar menos, para se voltar ao equilíbrio.

Fato é que os governos dos países mais ricos acabaram por deixar que a crise chegasse ao coração da zona do euro e terão agora de encontrar uma resposta imediata sobre se haverá mais recursos para sustentar os países em dificuldades e de onde eles virão.

A solução dos problemas está cada vez mais difícil. O veto da Alemanha de que o Fundo de Estabilização Financeira conte com linhas auxiliares do Banco Central Europeu (BCE) e a negativa de garantias adicionais para elevar os recursos disponíveis deixaram imobilizadas as fontes encarregadas de resgatar títulos soberanos e capitalizar bancos.

Após a Grécia, a Itália passou a ser a bola da vez. Ela é grande demais para ser resgatada pelos mecanismos convencionais. É o maior devedor do bloco, com compromissos de € 1,9 trilhão - valor superior à soma das dívidas de Espanha, Portugal, Irlanda e Grécia - está sendo rapidamente abandonada pelos investidores. O rendimento dos bônus de dez anos do Tesouro italiano subiu para níveis recordes. O terceiro maior emissor de bônus do mundo ultrapassou o limiar já rompido por Grécia, Portugal e Irlanda, e caminha para o mesmo fim. A Itália terá de pagar um preço insustentável para rolar sua dívida e corre o risco de não encontrar compradores para seus títulos, mesmo com alta remuneração.

Caso não surja rapidamente uma solução para a dívida italiana pode-se prever o esfacelamento da zona do euro e uma crise bancária global. Os bancos franceses, bastante expostos à Grécia, têm US$ 366 bilhões em títulos da dívida italiana. A Espanha, cujos papéis também estão sob pressão, provavelmente seria arrastada e com ela, mais créditos de bancos franceses (US$ 118 bilhões).

Diante desses fatos a diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, advertiu dia 9 em Pequim sobre o “risco de espiral de instabilidade financeira mundial” se as economias do planeta não reagirem conjuntamente à crise. “Estamos todos no mesmo barco e nosso destino será crescer ou cair juntos”.

Fato é que a crise na zona do euro começa a se espalhar pelo mundo. O primeiro reflexo disso se dá nas bolsas de valores, que vem caindo há algum tempo, pois os investidores estão fugindo do risco procurando aplicações que rendam menos, mas que apresentam condições de resgate favoráveis. O passo seguinte será a crise bancária uma vez que os bancos estão abarrotados de títulos soberanos dos países que já sentem a recessão devido aos pacotes de austeridade impostos pelo FMI, BCE e União Europeia.

Esses pacotes impõem barreiras ao crescimento e sem crescimento econômico não há geração de receita nesses países para poder honrar o pagamento da dívida e o calote é inevitável podendo gerar a quebra dos bancos mais expostos aos títulos soberanos.

Segundo o Financial Times de 4 de agosto, os 90 bancos que fizeram parte do teste de estresse realizado neste ano pela Autoridade Bancária Europeia - considerado brando demais - terão de refinanciar US$ 5,4 trilhões em dívida nos próximos dois anos, ou o equivalente a 45% do Produto Interno Bruto da União Europeia.

A exposição às dívidas soberanas eleva os riscos aos empréstimos interbancários e isso reduz a liquidez do mercado. No dia 7 o BCE tinha US$ 400 bilhões de instituições financeiras que preferem ser mal remuneradas a realizar empréstimos.

A consequência é a retração progressiva dos bancos europeus em seus negócios pelo mundo, já que correm perigo em seus mercados de origem. Isso já ocorreu nos EUA, onde o Fed (banco central americano) detectou que 23% das instituições europeias tornaram mais rígidos os requisitos para emprestar no terceiro trimestre. Isso gera desconfiança e dois terços dos bancos americanos racionaram créditos para bancos europeus e para companhias que têm negócios significativos na zona do euro.

Para os países emergentes, a ameaça é que o financiamento europeu sofra interrupção, o que ainda não ocorreu. Na Ásia, os empréstimos dos bancos da zona do euro suprem 21% do financiamento externo total de US$ 2,5 trilhões. Segundo o Financial Times do dia 8, alguns países são muito dependentes desses recursos, que compõem 52% do funding da Coreia do Sul e 75% do da Indonésia. No Brasil, os ativos das instituições da união monetária correspondem a 73% do total de ativos de instituições estrangeiras, segundo dados do Banco de Compensações Internacionais (Bank for International Settlements) BIS para o segundo trimestre deste ano.

Em sequência à redução dos financiamentos se dá a obstrução do comércio internacional. Devido ao encolhimento das atividades econômicas na zona do euro, o contágio já ocorre. As exportações da China para a União Europeia perderam velocidade e no caso da Itália caíram 18%.

Por outro lado, se não houver uma quebradeira generalizada de bancos europeus, eles terão de fazer negócios com os poucos países que estão crescendo no mundo, os emergentes, já que Europa e EUA perderam o dinamismo e o Japão está estagnado há vários anos. A rolagem dos bônus brasileiros deixou de ser integral, um efeito ainda suave de turbulências que podem ser muito mais destrutivas. As exportações ainda não sentiram o baque, mas isso será apenas uma questão de tempo. A redução do superávit comercial é inevitável, embora não necessariamente drástica.

Não se sabe com que intensidade a transmissão da crise europeia pelos dois canais – comercial e bancário - atingirá o Brasil. A interrupção dos canais de crédito, como em 2008, jogou rapidamente a economia brasileira em recessão. Vínhamos crescendo na média de 4,8% ao ano no período 2004 a 2008 e amargamos uma recessão de 0,6% em 2009, ou seja, o PIB foi derrubado em 5,4 pontos. Para evitar que se repita isso é fundamental estimular fortemente a economia e, nesse sentido o novo salário mínimo e o ano de eleições vão contribuir. O governo acabou de reduzir uma parte da trava ao crédito feito pelas medidas macroprudenciais no final do ano passado e isso também poderá ajudar. Mas são necessários mais estímulos.
(*) Mestre em Finanças Públicas pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), consultor.

"Veremos lutas históricas na Europa"

Costas Isychos, membro da Secretaria Política de Synaspismos, partido da esquerda grega, evoca nesta entrevista a tragédia social que vive a Grécia, o temor das pessoas de que se repita aqui a hecatombe argentina e desenvolve a ideia segundo a qual a Grécia está sendo uma espécie de laboratório neoliberal no sul da Europa. "Creio que veremos lutas históricas na Europa. A experiência argentina deixou uma lição positiva: o povo pode derrotar governos que estejam ao serviço do capital financeiro".

Os comunistas e a coalizão da esquerda radical grega não deram voto de confiança para o novo primeiro ministro grego, o banqueiro Lukas Papademos. O Partido Comunista e a Synaspismos são os únicos partidos com representação parlamentar que de modo algum pactuaram com esse OVNI político que tem a forma de um Executivo sob o mando de um banqueiro que jamais competiu nas urnas e no qual o partido da extrema direita grega, LAOS, com apenas 15 cadeiras, entrou com um ministro, dois secretários de Estado e um vice-ministro.

Costas Isychos, membro da Secretaria Política de Synaspismos, evoca nesta entrevista a tragédia social que vive a Grécia, o temor das pessoas de que se repita aqui a hecatombe argentina e desenvolve a ideia segundo a qual a Grécia está sendo uma espécie de laboratório neoliberal no sul da Europa.

Estamos no quarto país da Europa que perde um governo eleito, atingido pela crise, e onde organizam outro governo dirigido por banqueiros. Um mal comum que desembocou em cada caso em uma resposta similar.

Hoje estamos escutando na boca de Angela Merkel e Nicolas Sarkozy que as eleições são perigosas. Essas coisas eram ouvidas nas décadas de 70 e 80 na América Latina, mas escutá-las na Europa em 2012 é outra coisa. Em resumo, a receita é comum em toda a Europa: Estados mais autoritários, mais selvagens, pacotes de austeridade que condenam ao desemprego e à fome a grande parte dos povos.

Estão nos condenando a uma vida que se parece muito mais a da Europa do século XIX: 14 horas de trabalho diário, um salário mínimo que não ultrapassa os 500 euros, o que é uma miséria porque é preciso levar em conta que, na Grécia, um litro de leite custa três euros. Por isso temos cifras alarmantes, que se parecem com aquelas da Argentina na década dos 90: 20% de desemprego, 48% de desemprego entre os jovens com menos de 35 anos e 9% dos jovens querendo sair do país.

Estamos em uma crise profunda e perigosa. Os aposentados, os empregados, perderam quase 50% de seus ganhos em função das leis votadas pelo governo socialista do Pasok. O ex-primeiro ministro Yorgos Papandreu implementou uma política de austeridade selvagem.

A Grécia é um país sob intervenção do FMI, do Banco Central Europeu, da União Europeia e também de responsáveis políticos que se mostraram muito agressivos, a chanceler alemã Angela Merkel e o presidente francês Nicolas Sarkozy. Essa dupla já tem um apelido na Europa: Merkozy.

Sim. Merkozy é atualmente o núcleo político que está ditando todas as políticas neoliberais que estão sendo aplicadas na periferia da Europa, nos chamados Estados PIGS, ou seja, Portugal, Itália, Grécia e Irlanda. Por outro lado, creio que outros países vão se somar a esses, incluindo a França. Mas o concreto é que, neste momento, a Grécia é o laboratório ultra-liberal no canto da Europa.

Nosso novo primeiro-ministro, Lukas Papademos, é uma pessoa que em toda a sua vida cumpriu com seus deveres de servir ao capital financeiro especulativo. Não tem nenhum programa conhecido. A única coisa que diz é que a Grécia tem que seguir por este caminho ultra-liberal. É preciso levar em conta que estamos vivendo momentos históricos nos quais podemos voltar 150 anos ou voltar a ter revoluções populares, muito parecidas com a que ocorreu no Norte da África. As pessoas não querem que a vida mude de uma maneira tão brutal.

Creio que veremos lutas históricas na Europa. Na Grécia, as pessoas têm medo de que se repita aqui a experiência neoliberal da Argentina dos anos 90 com todas aquelas políticas neoliberais que levaram ao abismo e à destruição da Argentina. Mas dessa experiência argentina também ficou uma lição positiva: as pessoas sabem que o povo pode derrotar governos que estejam ao serviço do capital financeiro. Por isso, em muitas das manifestações que ocorrem hoje na Grécia, as pessoas saem na rua com bandeiras argentinas. O povo grego sabe que pode derrubar este mundo selvagem e neoliberal que nos aterroriza.

Por fim, se olhamos os casos da Grã-Bretanha, Espanha e Grécia, constatamos que o socialismo europeu foi mais liberal que os próprios liberais.

É verdade. Temos uma mutação ideológica e política da social-democracia europeia. É importante saber que o ex-primeiro ministro Yorgos Papandreu segue sendo o presidente da Internacional Socialista! A social-democracia europeia passou por um caminho ultra-liberal com privatizações e baixa de salários dos trabalhadores. Tudo o que tem a ver com Estado, com as políticas públicas, as políticas sociais, a saúde pública, a educação, está desaparecendo do mapa ideológico, político e programático da social-democracia grega e europeia. Mas estou convencido de que, com tudo o que aconteceu na Grécia, aqui nascerá um movimento sólido, anti-liberal e progressista que será capaz de mudar as coisas neste país.

Tradução: Katarina Peixoto






(Carta Maior; 3ª feira, 15/11/ 2011)

O golpismo da mão invisível da imprensa

Não há mais como transigir , em nome da diversidade de opiniões, com a velha ortodoxia assimilada pelos jornalões, portais e emissoras de televisão como "exemplo de racionalidade econômica". Já aprendemos demais com a tragédia para vê-la rediviva como farsa.
O reino dos céus, de acordo com a tradição cristã, será dos homens de boa fé. A eles já pertencem, na sua íntegra, os conteúdos noticiosos do dispositivo midiático nativo. No momento em que a Comissão Européia prevê um forte freio na atividade econômica em 2012 e não descarta a hipótese de uma longa e profunda recessão, editoriais e os conhecidos representantes do jornalismo de mercado pregam como "medidas de cautela contra o contágio" a mesma agenda que quase nos levou ao colapso nos oito anos do consórcio demotucano.
Fingindo ignorar que se rompeu uma coisa que já estava rompida, homens e mulheres de "boa fé," de prestigiosas redações, voltam a aplicar a estratégia do terrorismo econômico, na expectativa de gerar uma profecia que se auto-cumpre. Enquanto o Banco Central, acertadamente, revê medidas de restrição ao crédito, depois de ter iniciado a redução das taxas de juro em agosto, os oráculos da grande imprensa sonham em ver reinstalada a política fundamentalista que, de 1994 a 2002, implementou radical mecanismo de decadência auto-sustentada, marcada por crescentes dívidas e desemprego, e anemia da atividade econômica.
O Brasil ideal seria aquele com juros elevados, maior dificuldade de financiamento, menor mercado para exportações e a volta a negociações duras com bancos e organismos multilaterais. A nostalgia cega qualquer possibilidade de análise séria. Se a liberdade de imprensa é tanto mais ampla quanto maior for a responsabilidade ética dos que a fazem diariamente, podemos afirmar, ancorados em um razoável número de citações jornalísticas, que só a regulamentação da mídia pode salvar a esfera pública por ela ameaçada.
No capítulo das mentiras complexas que se arrastam há décadas, há que se arremeter com energia demolidora contra o sequestro da moral pública pelos critérios que definem a lógica do mercado. Está em curso uma ação que não tem outro objetivo senão o do esvaziamento da essência da política.
Não há mais como transigir , em nome da diversidade de opiniões, com a velha ortodoxia assimilada pelos jornalões, portais e emissoras de televisão como "exemplo de racionalidade econômica". O receituário se repete como mantra: liberalização do comércio; ênfase no setor privado como fonte de crescimento, incluindo a privatização de empresas estatais; redução geral de todas as formas de intervenção governamental no mercado de capitais e no câmbio; precarização dos direitos trabalhistas e sucateamento do Estado. Já aprendemos demais com a tragédia para vê-la rediviva como farsa.
Sabemos que a desregulamentação dos mercados financeiros resultou numa explosão da dívida privada, numa especulação nunca vista anteriormente e abusos sórdidos do capital financeiro. O fundamento religioso de mercado está na base do estancamento da economia global e da crise que afeta a zona do Euro. Por que reeditá-lo por aqui? São inocentes os consultores e jornalistas de plantão? Não.
Eles sabem que a repercussão de alguns destes problemas vão bem além da esfera econômica. A capacidade de sobrevivência de governos democráticos como os do Brasil, Argentina, Uruguai, entre tantos outros, frente a contínuas reduções do nível de vida, seria discutível. Das redações o mercado articula o golpe. São insanas as corporações midiáticas? Não, são ávidas de poder, riquezas e inimigas juradas da democracia. O desprezo com que se referem às instituições representativas revela o autoritarismo que embasa sua estrutura discursiva. É preciso dar um basta aos que se inclinam, siderados, a qualquer aventura antidemocrática.
A "mão invisível" se move implacável em edições diárias.
Gilson Caroni Filho é professor de Sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), no Rio de Janeiro, colunista da Carta Maior e colaborador do Jornal do Brasil