Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

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sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Finalmente a Dra. Mayra vai dar atenção aos pobres de Fortaleza.

mayra

Tasso Jereissati, ontem, presidiu a filiação de dois médicos cearenses ao PSDB,um deles a Dra. Mayra Pinheiro, uma das que vaiou e tentou humilhar seus colegas cubanos aos gritos de ¨escravo.

Boa sorte à Dra. Mayra.
É assim que se faz política, filiado aos partidos e disputando eleições.
Não vaiando e tentando humilhar pessoas, ainda mais gente que não podia reagir.
Que a senhora possa fazer, como candidata, aquilo que não quer fazer como médica: ir à periferia, às favelas de Fortaleza, que são mais de 500.
E que ali aperte a mão das pessoas pobres, pergunte como elas vão, ouça o que precisam para serem assistidas.
Ouça elas dizerem que não têm um médico no posto de saúde quando um de seus filhos passa mal, como esperam horas, dias, meses, para que alguém de branco se digne a ouvir ou ver o que lhes aflige.
Quem sabe a senhora explique a eles que é preciso alta especialização para ver as perebas que tomam conta da perna do menino, ou a tosse comprida que angustia a senhora idosa?
Talvez aí a senhora compreenda que eles precisam de um médico, de um médico como a senhora e outros não querem ser, porque aquelas pessoas não são bem…clientes, são apenas seres humanos.
Pobres, miseráveis, escravos do isolamento e da desatenção das elites.
Pode ser uma grande experiência, Dra. Mayra.
Quem sabe assim a senhora possa ser gentil e atenciosa com um pobre, um negro, um desvalido.
Quem sabe até, finalmente, vá lhe dar um sorriso, trocar algumas palavras.
Quem sabe chegue mesmo a tocar nele.
E sem luvas, imagine!
Por: Fernando Brito

sábado, 4 de maio de 2013

Como uma criança vira monstro


Ao longo dos últimos dias, o país mergulhou em um debate doloroso. Em vez de estarmos nos debruçando sobre como estimular a nossa juventude a crescer do ponto de vista moral e intelectual, estivemos discutindo acaloradamente sobre como mudar as leis para punir com maior rigor os jovens infratores da lei.
Esse debate, em si, representa o fracasso da geração que comanda os destinos da nação – e esta premissa não se reduz a partidos políticos, mas a cada um de nós, pais, empresários, trabalhadores, políticos, legisladores, magistrados, educadores, religiosos etc.
O Estado brasileiro, no âmbito dos governos federal, estadual e municipal, de suas Casas Legislativas e do Poder Judiciário, não pode ser responsabilizado unicamente pelo fracasso diante do qual estamos, representado por seres que, até ontem, eram crianças, mas que, hoje, transformaram-se em verdadeiros monstros.
Os casos da dentista de São Bernardo do Campo (SP) que foi queimada viva por quatro rapazes, sendo um deles menor de idade, ou do rapaz que foi assassinado com um tiro na cabeça por um outro menor ao ter seu celular roubado por ele, chocaram o país e desencadearam, de novo, o debate sobre maioridade penal.
Não foram só esses casos, por óbvio, que ressuscitaram o debate sobre redução da maioridade penal. Os crimes violentos aterradores que se vê a toda hora neste país, sobretudo os cometidos por menores, fizeram o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, propor mudança no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) a fim de que pessoas de 16 anos sejam tratadas pelas leis penais como adultos.
Essa é uma discussão dolorosa porque, dado o nível de horror que crimes como o da dentista de São Paulo encerram, pessoas se mostram assustadas a um ponto em que começam a acreditar em “soluções” como a proposta pelo governador de São Paulo.
O grupo social minoritário que se opõe a esse caminho e o amplamente majoritário que se inclina por ele produziram muitos argumentos. Vale a pena dissecá-los.
A discussão menos ilógica da redução da maioridade penal nos empurra para a pura e simples extinção de qualquer idade-limite, pois de nada adiantaria reduzi-la para 16 anos já que jovens de idades mais tenras também cometem crimes horrorosos e, assim, não subsiste uma só justificativa que sustente os 16 anos como ponto de inflexão entre adolescência e maturidade.
Houve propostas dos adeptos da redução da maioridade penal no sentido de esta ser usada apenas para crianças e adolescentes que cometam crimes hediondos como o da dentista, ou mesmo para os que cometam qualquer tipo de assassinato.
Ainda assim, ficariam de fora os atos de violência que não resultem em perda de vida da vítima. Desse modo, haveria que apenar criminalmente como adultos os menores de qualquer faixa etária que pratiquem crimes violentos.
Até aí, pulamos da redução da maioridade penal aos 16 anos para a punição como adulto de qualquer adolescente e até de crianças, pois uma criança de 8 ou 10 anos que aborde alguém num semáforo com uma faca nas mãos e, como já ocorreu várias vezes, enfie o instrumento perfurante no pescoço do assaltado, seria vista como “irrecuperável”.
Neste ponto, vale analisar o quadro da violência e da criminalidade no Brasil para que se possa mensurar se essa discussão sobre maioridade penal faz sentido.
Segundo o RELATÓRIO NACIONAL DO ESTADO BRASILEIRO apresentado pela Secretaria Nacional de Direitos Humanos da Presidência da República ao MECANISMO DE REVISÃO PERIÓDICA UNIVERSAL DO CONSELHO DE DIREITOS HUMANOS DAS NAÇÕES UNIDAS em 2012, o Brasil possui cerca de 513.802 pessoas mantidas em unidades do sistema carcerário e da polícia.
Esse relatório mostra um dado que todos intuem, mas que é pouco difundido: a população carcerária brasileira tem perfil preponderantemente jovem, masculino, negro e de baixa escolaridade.
Sempre segundo dados oficiais do Brasil, em 2011 53,6% da população no sistema penitenciário tinha entre 18 e 29 anos, 93,6% eram homens, 57,6% eram negros e pardos e 34,8% eram brancos. Além disso, 45,7% da população do sistema penitenciário possuía ensino fundamental incompleto, enquanto apenas 0,4% possuía ensino superior completo.
Um outro dado importante é o de que, segundo dados da Secretaria Nacional de Direitos Humanos levantados pelo Globo, há só 60 mil adolescentes cumprindo medidas socioeducativas no Brasil, sendo 14 mil em regime de internação e os demais em regime aberto.
Ou seja: apenas 14 mil adolescentes cumprem penas de privação de liberdade, contra 513.802 adultos. Toda essa discussão sobre maioridade penal, portanto, está focada em 2,72% do problema da violência e da criminalidade no país.
Vê-se, assim, que o problema está longe de ser o infrator de 16 anos. E que a redução de idade penal proposta pelo governador de São Paulo é uma quimera, um engodo, uma conversa fiada destinada a dar alguma resposta a uma sociedade acuada por uma situação inacreditavelmente explosiva que está se formando.
Não há nada demais em discutir o que fazer com uma criança ou um pré-adolescente ou mesmo um adolescente que cometam barbaridades. O problema é que a discussão da maioridade penal aos 16 anos nos levará a outras envolvendo crimes infanto-juvenis e, assim, ficaremos discutindo o problema pelo ângulo errado.
Até este momento, não discutimos o xis da questão: o que está acontecendo com um país em que crianças e adolescentes se transformam em feras enlouquecidas capazes de uma barbaridade como queimar viva uma mulher que não tinha dinheiro para dar a assaltantes?
A discussão da maioridade penal nunca vai tão fundo. Fica na superfície da “solução” rápida, mas sem refletir, por um segundo, que depois da redução para 16 anos virá a redução para faixas etárias inferiores e, depois desta, a extinção de idade mínima para ser responsabilizado criminalmente por qualquer tipo de ação infringente da lei.
Isso mudará o fato de que crianças estão sendo transformadas em monstros por mecanismos sobre os quais quase ninguém quer refletir? É de duvidar que alguém, em sã consciência, acredite que a mudança da lei fará esse processo de criação de aberrações infanto-juvenis ser interrompido por extinção restrita ou irrestrita da maioridade penal.
Como crianças viram monstros como o garoto que supostamente ateou fogo ao corpo embebido em álcool da dentista de São Bernardo do Campo? Já nasceram assim?
Não se pode acreditar que no código genético dos brasileiros esteja inscrita uma anomalia que não há em outros países que não têm problemas de menores violentos como os que temos aqui. Afinal, mesmo aqueles que pensam ser de uma “raça” diferente da maioria deveriam saber que todos os brasileiros temos características genéticas em comum, seja o cidadão branco, negro, nordestino ou sulista.
O fato de alguns poucos terem características físicas diferentes não muda o fato de que somos um país só.
O perfil do presidiário brasileiro, portanto, explica como uma parte ínfima de nossas crianças pobres é empurrada para o crime e, usando drogas e convivendo com adultos violentos, acaba se convertendo em monstros como os que temos visto.
Nas comunidades mais pobres, principalmente em favelas dominadas pelo tráfico, gerações de brasileiros cresceram e continuam crescendo tendo como “exemplo” traficantes e bandidos perigosos, que recrutam entre a juventude, inclusive na idade mais tenra, os futuros “soldados do crime”.
O critério de recrutamento não visa o uso de jovens inimputáveis penalmente. Essa é uma empulhação. Por isso é que só 2,7% dos criminosos encarcerados no Brasil são menores. Afinal, não se pode acreditar que alguém cometa crimes pensando em ser preso.
O processo de deformação que cria jovens monstros está na desestruturação familiar, na ignorância, na pobreza, nas drogas e, acima de tudo, nos exemplos que crianças recebem enquanto crescem, vendo bandidos nas comunidades pobres saírem da pobreza com essa fórmula “mágica” de tomar dos outros o que não pode conseguir honestamente.
Afinal, o jovem brasileiro pobre sabe que a escola não irá ensiná-lo, que se for negro ou mestiço não será “bem visto” por um mercado de trabalho que, segundo incontáveis estudos, ainda discrimina os brasileiros de origem africana e com traços africanos mais marcantes. Assim, é tentado pelo crime como forma de ascensão financeira.
Os adeptos da redução da maioridade penal costumam usar o exemplo dos países ricos. Em países como a Inglaterra, por exemplo, já houve casos de crianças de 8, 10 anos presas por terem cometido crimes violentos. Em muitos desses países a idade de responsabilização penal é menor ou não existe.
Falta refletirmos sobre as condições das crianças inglesas, por exemplo, e das brasileiras. São as mesmas? Alguém vê hordas de crianças miudinhas espalhadas pelas ruas de Londres fumando crack, dormindo nas ruas, prostituindo-se etc.?
O que você espera que essas crianças pelas quais passa todo dia nas ruas e vê chafurdando em todos esses dramas se tornem? Cidadãos exemplares? Você já refletiu que essas crianças não nasceram criminosas em potencial, mas que a continuarem nessa situação se tornarão monstros como o que queimou a dentista viva?

terça-feira, 9 de abril de 2013

Boito:Tucanos usam alta classe média alta para atender capital internacional


Os interesses do grande capital internacional e da fração da burguesia brasileira a ele completamente integrada, representados pelo PSDB, encontraram uma base de apoio no Brasil. Essa base não é “a classe média”. A parte majoritária da classe média apoia a política neodesenvolvimentista dos governos do PT. Essa base de apoio é a fração superior da classe média brasileira, a alta classe média. Em termos eleitorais, não é muito e em daí as agruras do PSDB
08/04/2013
Armando Boito Jr., especial para o Brasil de Fato
I
Muitos analistas e observadores políticos têm escrito que o PSDB representa a classe média. Será verdade?
É meritório colocar a questão de saber quais setores sociais um determinado partido político representa. Tal questão poderá parecer óbvia para alguns, mas ela não o é para a maioria dos que escrevem sobre os partidos políticos. Nas universidades, os cientistas políticos analisam os partidos de maneira formalista. São consideradas sua estrutura interna e seu papel no sistema partidário sempre isolando a vida do partido da estrutura social e econômica da sociedade.
Esse enfoque, que omite a questão da função representativa dos partidos, é praticado pelos neoinstitucionalistas, corrente amplamente hegemônica na Ciência Política contemporânea. Ainda nas universidades e também nos jornalões, a questão é omitida inclusive por outras razões.
Os articulistas que se apresentam como conhecedores da política brasileira se deixam iludir pelo discurso dos próprios partidos. Apegam-se à superfície desse discurso e tomam ao pé da letra suas proclamações de princípios e de intenções bem como suas declarações de ocasião. O resultado é que o exame rigoroso da representação partidária é deixado de lado.
Os partidos políticos representam, no geral e de modo complexo e flexível, interesses de classe e de frações de classe sociais. Partindo desse ponto, voltamos à pergunta: os tucanos representam a classe média?
II
No fundamental, a resposta é não, não representam. Como tentei argumentar em texto escrito anteriormente para o Brasil de Fato, o PSDB representa o grande capital internacional – financeiro e produtivo – e a fração da burguesia brasileira subsumida a esse capital.
A plataforma do PSDB, como tentei então mostrar, sistematiza e representa os interesses desse setor da classe dominante. Ao dizer isso, não me refiro às declarações genéricas desse partido, que é, como a de muitos outros, a “construção de um país mais próspero e mais justo”.
Refiro-me, isto sim, ao elenco de medidas práticas que esse partido defende, nas linhas ou nas entrelinhas dos seus documentos e nas manifestações de seus líderes, e que ele de fato aplica quando está no poder: controle rigoroso e por meios ortodoxos do processo inflacionário, taxa de juro elevada, câmbio estável e apreciado, redução dos gastos públicos com investimentos, com o funcionalismo e com programas sociais – mas não com a rolagem da dívida interna – e a retomada do programa de privatizações e da reforma trabalhista.
Indiquei, ainda no referido artigo, como é possível visualizar, por detrás dessas propostas, os interesses inconfessáveis – posto que contemplam uma restrita minoria – do grande capital internacional e da fração da burguesia brasileira a ele integrada. O PSDB tem sido, pelo menos até o presente, o principal partido político desse setor da classe dominante.
Se o PSDB fosse o partido da classe média, seríamos obrigados a concluir que essa classe social controlou o poder governamental durante os governos FHC e teria, então, dirigido o processo de implantação do modelo capitalista neoliberal no Brasil. Ora, não seria difícil demonstrar que não foi essa classe social, tão vasta e heterogênea, a grande beneficiária da desregulamentação do mercado de trabalho, da redução dos direitos sociais, das privatizações, da abertura comercial e financeira da década de 1990.
Contudo, numa dimensão que não é a fundamental embora seja também importante, o que se pode dizer a respeito da relação do PSDB com a classe média é que esse partido tem como base social mais ampla um setor da classe média. Esse setor não dirige o partido, mas oferece-lhe apoio ativo. A ação do partido deve, por isso, contemplar alguns interesses desse setor social, mesmo que não os priorize.
Mas, atenção: é apenas uma parte da classe média, a sua camada superior, que serve de base social para esse partido burguês e neoliberal. A classe média é demasiado heterogênea e raramente intervém unificada no processo político.
Podemos resumir assim: o PSDB representa os interesses do grande capital internacional e da fração da burguesia brasileira completamente integrada a esse capital e se apoia na alta classe média. Ou, dito de outro modo, o grande capital internacional dirige o PSDB enquanto a alta classe média tem, de maneira secundária, alguns dos seus interesses atendidos por esse partido [1].
A baixa classe média e mesmo a classe média remediada – camada intermediária e inferior do funcionalismo público, trabalhadores de escritório, comerciários e outros – têm votado preferencialmente em partidos como o PT. É certo que a divisão entre a parte superior, intermediária e inferior da classe média não é uma separação nítida, mas ela indica tendências efetivamente atuantes.
III
Para comprovar afirmações como essas seriam necessárias pesquisas mais amplas do que as que temos disponíveis. Porém, os mapas eleitorais de uma cidade como São Paulo são expressivos indicadores da procedência do que dissemos acima.
Nos bairros burgueses e de alta classe média, a população tem votado, de maneira amplamente majoritária, nos candidatos do PSDB, enquanto nos bairros onde habitam a classe média empobrecida e remediada, o proletariado e os trabalhadores da massa marginal, nesses últimos, o PT colhe a esmagadora maioria dos votos.
Para citar casos extremos mas significativos, no segundo turno da eleição para a prefeitura de São Paulo em 2012, o candidato do PT chegou a ter mais de 80% dos votos em bairros da Zona Leste e da Zona Sul da cidade, enquanto o candidato do PSDB atingiu a mesma marca nos Jardins.
Por que a alta classe média apoia o partido do grande capital internacional propiciando-lhe, ainda, alguma força eleitoral? As razões são de ordem econômica e ideológica.
Desde a década de 1990, quando serviu de “base de massa” para a ofensiva neoliberal dirigida pelo imperialismo e pela grande burguesia, a alta classe média convenceu-se de que os direitos sociais representam, para ela, custos sem retorno.
É verdade que parte da classe operária também embarcou nessa canoa – basta lembrarmos a atuação da Força Sindical naquele período e as vitórias de Fernando Henrique Cardoso em 1994 e 1998. Mas os trabalhadores o fizeram por razões distintas daquelas que moviam a alta classe média e, de resto, descobriram, em poucos anos, que tinham embarcado numa canoa furada.
No caso das famílias de alta classe média, elas mantiveram a sua posição. Os profissionais liberais bem sucedidos, os ocupantes de cargos de direção e administrativos nas empresas privadas, o alto funcionalismo público e outros setores que integram a fração superior da classe média não queriam e não querem saber de ensino ou de saúde pública – salvo quando a instituição pública é privilégio deles próprios, como ainda é o caso de algumas universidades públicas.
No geral, as famílias de alta classe média preferem os serviços privados que são, nos fatos ou na fantasia, de melhor qualidade e que, não menos importante, permite que elas e seus filhos se mantenham separados da população pobre. Ora, o neoliberalismo prometia isso: suprimir e reduzir direitos sociais acenando com uma correlata redução dos impostos.
Os governos do PT, tanto Lula quanto Dilma, embora não tenham rompido com o capitalismo neoliberal, têm uma política social distinta daquela da década de 1990. Em muitos aspectos, essa política contraria os interesses e as disposições ideológicas da alta classe média.
Tais governos criaram o Bolsa Família, fortaleceram o Benefício de Prestação Continuada, suspenderam as ameaças que pairavam sobre a aposentadoria rural, implantaram uma política de reajuste real do salário mínimo e deram guarida à lei que estende os direitos trabalhistas às empregadas domésticas.
Circunstância agravante: tais governos estimularam um ataque em regra à reserva de mercado que, informalmente, a alta classe média detinha de grande parte das vagas oferecidas pelas universidades públicas. Todos pudemos ver a disposição com a qual os intelectuais, professores e estudantes desse setor social combateram e combatem a política de quotas racial e social.
Nesse ponto, evidencia-se a maneira concreta como o conflito de classes articula-se com a luta contra o racismo no Brasil atual. A política de quota racial e social favorece a população de baixa renda, onde predominam os egressos de escola pública e onde é grande a presença de afrodescendentes, mas prejudica a alta classe média que detinha uma reserva do mercado em grande parte do ensino superior público e que é na sua quase totalidade composta por indivíduos socialmente definidos como brancos.
Ainda agora, neste primeiro semestre de 2013, o governo tucano de Geraldo Alckmin, sentindo-se acossado, faz acrobacias as mais variadas para manter a USP, a Unesp e a Unicamp fora do regime de quotas.
O discurso meritocrático, ideologia funcional para os interesses da alta classe média, foi ativado contra a democratização – pequena, de resto – que se está verificando no acesso ao ensino superior. Só esse discurso diante da política de quotas já mereceria um exame à parte. Ele nos revelaria muita coisa sobre o que quer e como age a alta classe média tucana.
No plano político, os governos Lula e Dilma têm reconhecido, para o desgosto da alta classe média, as organizações e movimentos do campo operário e popular, em contraste com os governos tucanos que os ignoravam ou os criminalizavam. O Governo Lula reconheceu as centrais sindicais, criou fóruns para sua participação, recebeu o MST, a Contag e os sem-teto.
O Governo Dilma, principalmente no período mais recente, tem feito algo parecido. É verdade que ambos fizeram ouvidos moucos para as reivindicações mais sentidas desses movimentos. As reivindicações históricas e recentes mais importantes do movimento sindical – política de reposição automática das perdas salariais provocadas pela inflação, jornada de 40 horas, regulamentação da terceirização e outras – foram ignoradas. A reforma agrária foi posta de lado.
Contudo, quando estudamos a história recente do Brasil, podemos verificar que a fração superior da classe média é particularmente hostil a governos que reconheçam o direito dos setores populares se organizarem e apresentarem suas reivindicações.
O problema, aqui, é político e simbólico. Político, porque a alta classe média pressente o perigo – hoje, eles são convidados no Palácio do Planalto, amanhã poderão ambicionar serem os anfitriões; simbólico, porque o espaço dito público, onde se pratica o jogo político, deveria, de acordo com o elitismo meritocrático desse setor, permanecer um espaço reservado aos diplomados. Basta recordar o epíteto de ignorante com o qual os bem-nascidos – mas muito malcriados – estigmatizam os políticos de origem popular.
Os interesses do grande capital internacional e da fração da burguesia brasileira a ele completamente integrada, representados pelo PSDB, encontraram uma base de apoio no Brasil. Essa base não é “a classe média”. A parte majoritária da classe média apoia a política neodesenvolvimentista dos governos do PT. Essa base de apoio é a fração superior da classe média brasileira, a alta classe média. Em termos eleitorais, não é muito e em daí as agruras do PSDB.
[1] Há algumas diferenças entre a alta classe média inserida no setor público e a que está no setor privado, mas, para efeito deste texto, podemos deixar isso de lado.

 Armando Boito Jr. é professor de Ciência Política da Unicamp

domingo, 7 de abril de 2013

FHC CRITICA PROGRAMA CIÊNCIA SEM FRONTEIRAS


sexta-feira, 5 de abril de 2013

A ideologia brasileira da mesquinharia



O mesquinho acha-se moderno, pragmático, altivo, crítico, autônomo e visionário. Acredita que toda forma de proteção social, desde que não seja a empresas, é uma forma de populismo, de paternalismo e de assistencialismo.
A ideologia da mesquinharia usa sempre o mesmo argumento falacioso: não se deve dar o peixe, deve-se ensinar a pescar. Não se deve dar bolsa-família, deve-se dar empregos. Justamente os empregos que nunca foram dados pelos partidos que apoiam. E não foram dados por não existirem. E não existiram por incompetência na sua criação, por falta de um modelo adequado ou por impossibilidade conjuntural ou estrutural de serem gerados.
O mesquinho entende que, se os empregos não existem, os necessitados devem ralar-se. Que fiquem passando fome até que seja possível criá-los.
Nessa lógica, o mesquinho promete o futuro, não se lembra do passado e ignora o presente. Explora sofismas, meias verdades e mentiras inteiras como formas de justificar a sua indiferença pelo sofrimento dos outros. Espalha que o assistencialismo gera preguiça. Faz crer que a maioria das pessoas vai preferir viver com R$ 70 sem trabalhar a viver com R$ 700 trabalhando.
Essa é uma das asneiras mais difundidas por espíritos malignos, gente ruim, ideólogos da maldade, mas, principalmente, mentes toscas. Isso até pode acontecer de maneira marginal, mas jamais, estatisticamente falando, como tendência global. Viver bem, com trabalho, continua sendo mais interessante para a maioria do que viver mal sem trabalho. Salvo quando a alma do indivíduo alquebrado já está saturada e ninguém mais pode lhe incutir esperança, o que ocorre quando o sistema atrofia o gosto pela vida.
A ideologia da mesquinharia é dissimulada, ardilosa, cruel. Prefere gastar em repressão a investir em ajuda social. Todo adepto da ideologia da mesquinharia é um radical, um fundamentalista, um xiita, um extremista, um fanático da ordem dos cemitérios, da asfixia social, do parasitismo absoluto.
O mesquinho passa o dia repetindo chavões como se fossem pilares da modernidade. Acredita, como uma anta, que toda crítica aos excessos do capitalismo é uma defesa do comunismo.Vê em toda ressalva do modo de vida americano, marcado pelo consumismo, uma adesão ao estilo de vida cubano.
O mesquinho tem cérebro de ervilha. Mas não consegue enlatá-las para vender. Gasta o seu tempo no ódio aos demais. É pouco rentável.
As asneiras dos mesquinhos incluem: acreditar que Lula, de fato, se tornou milionário, ou bilionário, e que a revista Forbes publicou uma capa com ele como um dos homens mais ricos do mundo; crer que destacar os aspectos positivos das cotas, do bolsa-família, do ProUni e de outras políticas assistenciais dos governos do PT, é ser petista; difundir a ideia de que nunca houve tanta corrupção no Brasil, como se a corrupção atual, enorme e condenável, não fosse a mesma de antes; acreditar que a meritocracia realmente seleciona os melhores num sistema de desigualdade na competição e não que serve de mecanismo de reprodução dessa desigualdade.
Enfim, melhor não ser muito sofisticado na análise para não confundir as mentalidades mesquinhas mais lentas e pesadas.
Usina de ódio, de ressentimento e de rancor, o mesquinho odeia as ruas engarrafadas por causa do acesso dos pobres aos automóveis; odeia os aeroportos cheios por causa das viagens da classe C; odeia as universidades “rebaixadas” pela entrada dos que deveriam fazer cursos técnicos; odeia esses pobres que votam com o estômago; entende que só os ricos podem votar com os bolsos; vê como a modernidade a permanência dos pobres na pobreza, à espera dos empregos do futuro, e uma elite desfrutando da climatização. São os mesmos que se venderam aos Estados Unidos, em 1964, para evitar as reformas de base: reforma da educação, agrária, bancária, tributária, etc.
O Brasil corria um sério risco: poderia ficar melhor para a maioria.
A ideologia da mesquinharia deu o golpe para salvar-nos da melhoria.
Atrasou o país em mais de 20 anos.
Continua a cantar o refrão: o perigo comunista.
São fantasmas de opereta.
O comunismo acabou.
Falta construir um capitalismo muito melhor.
Uma verdadeira social-democracia.
Para isso, será preciso ensinar geografia aos mesquinhos.
Falar-lhe dos países escandinavos, etc.
O mesquinho adora Estado mínimo em economia e Estado máximo em moral. Gostar de meter-se na vida alheia para domesticá-la como seu moralismo.
Todo mesquinho é um moralista de ceroula.

A economia pode derrotar Dilma ano que vem? Duvido!


Afinal de contas, a nossa economia vai bem ou vai mal? O emprego e a renda crescem sem parar, mas o PIB anda de lado, a indústria não aumenta a sua produção e a inflação não mostra sinais de acomodação.
Esse paradoxo está sendo visto como um “mistério” da economia brasileira. Como é possível haver criação de empregos e aumento na renda das famílias se o setor produtivo e boa parte da economia estão estagnados?
Você tem alguma explicação para esse fenômeno? Tem pensado nisso, está preocupado? Ou será que é tudo invenção do PIG e da oposição?
E a reeleição de Dilma? Você leu a análise de Brian Winter na Agência Reuters pintando um quadro bem difícil para ela no ano que vem justamente com base no desempenho da economia?
Em síntese, esse analista diz que Dilma não seria derrotada se o quadro econômico, que dizem ruim, se mantiver. Mas levanta sérias dúvidas sobre em que estado chegará a economia ao ano que vem, achando serem fortes as chances de chegarmos a 2014 com desemprego e inflação em alta (!?).
A economia não tem mistério algum, apesar de estar com problemas que podem, sim, tornar-se sérios. E a reeleição de Dilma, claro, não é fava contada. Mas não dá para passar da euforia ao derrotismo por uma conjuntura econômica que está longe de ser ruim.
Primeiro, falemos do paradoxo entre emprego e renda, de um lado, e estagnação econômica e inflação de outro.
Se a economia não cresce, como é possível que exista inflação? E o que é mais intrigante: como pode haver inflação de demanda (preços subindo porque há mais gente querendo comprar do que produtos sendo fabricados) se, com crescimento baixo, em tese não aumenta o contingente de consumidores?
É aí que entra o aspecto “misterioso” da questão. Pelas teorias econômicas convencionais, o PIB fraco deveria gerar competição de empresários por mercado, o que se traduz em redução de preços, mas o que se vê é o contrário: os preços sobem.
Certos preços sobem por conta da sazonalidade (produtos agrícolas sobem de preço por quebra de safra, por exemplo), mas ela não explica tudo. O consumo alto está, sim, gerando inflação de demanda.
Não há mistério algum na economia. Ela estagnou-se, sim, mas em patamar extremamente alto. Em 2002, o PIB brasileiro foi de R$ 1,32 trilhão. Em 2012, foi de R$ 4,4 trilhões. A economia brasileira, na última década, triplicou de tamanho.
Ainda que digam que não foi um grande crescimento, foi quase o dobro da década anterior. Mas isso não explica tudo. Há um fator que gerou demanda desproporcional ao crescimento do PIB: a distribuição de renda.
Em 2002, tínhamos um PIB que era um terço do de hoje, mas era distribuído de forma muito mais perversa. O índice de Gini, que mede a distribuição de renda, caiu de 0,61 em 2001 para 0,51 em 2011, ou seja, houve uma revolução nessa área no Brasil
Ainda está longe de se esgotar o processo redistributivo em curso. Com cada vez mais gente que não consumia passando a consumir, a pizza continua do mesmo tamanho, mas a maioria que dividia algumas poucas fatias agora fica com mais fatias.
Ou seja: a economia, em 2012, não cresceu (praticamente), mas a renda cresceu porque a maioria passou a consumir uma parte maior daquela pizza.
Esse processo, aliás, não terminou. A renda continua sendo distribuída. Assim, o empresariado está vendendo para mais gente.
Outro aspecto é a falta de mão-de-obra. Por força da estagnação econômica, da concentração de renda e do desemprego que imperaram até o início da década passada, o Brasil não formava profissionais que vão de encanadores a engenheiros
Com a explosão de crescimento da década passada, o país passou a requerer mão-de-obra para sustentar um patamar da economia altíssimo. Estamos importando profissionais de outros países, inclusive.
A inflação, portanto, decorre da sede de consumo da dita “nova classe média”, que mal começou a consumir e que nos próximos anos irá consumir ainda mais. E como o empresariado, intimidado com o alarmismo da mídia, não investe, estamos enfrentando um processo inflacionário que pode, sim, prosseguir.
O receituário ortodoxo recomenda reduzir o crédito e aumentar os juros. Todavia, se levarmos em conta o processo redistributivo em curso, com políticas públicas voltadas a incluir consumidores ao mercado, a inflação não irá ceder com taxa de juro, a menos que aumente tanto que produza uma recessão.
Do contrário, a falta de mão-de-obra necessária para sustentar o atual patamar da economia certamente continuará elevando a renda das famílias, até equilibrar a demanda por essa mão-de-obra com a oferta.
Nesse ponto entra a análise de Brian Winter, na Reuters. Um ano e meio é suficiente para se atingir o equilíbrio entre oferta e procura por mão-de-obra e o estímulo ao consumismo que a busca por ela produz de forma a produzir falta de emprego?
Falar em desemprego, nesse quadro, é absurdo. O contingente de brasileiros que há para ser integrado ao mercado de consumo é imenso, ainda. Mal começamos o processo inclusivo. E para contrabalançar a falta de investimento do setor privado, há a liderança do processo pelo Estado.
Há um pacote incrivelmente amplo de obras de infraestrutura (PAC) em curso. Essas obras por certo sustentarão o crescimento (que é até bom que não seja tão alto, por conta da inflação) e continuarão gerando demanda por mão-de-obra em todos os setores.
Dilma pode ser derrotada pela estratégia política que está sendo armada, como escrevi recentemente aqui, com várias “Marinas” em 2014 no lugar de uma Marina só em 2010. Com Eduardo Campos, Marina Silva e o anti-Lula tucano da vez (Aécio Neves?), o arranjo político pode criar uma situação difícil para a atual presidente.
Um segundo fator é a criminalização de Lula, que, mais uma vez, pretende anular a sua imensa influência eleitoral.
O segundo turno de 2014 está cada vez mais garantido, a despeito das pesquisas que mostram que se a eleição fosse hoje Dilma venceria no primeiro turno – como se sabe, nos períodos eleitorais as pessoas são influenciadas por fatores não-racionais, como religião, moralismo relativo a “corrupção” etc.
Todavia, no segundo turno um só candidato terá que enfrentar todo o bem-estar social que há hoje no Brasil. E terá a seu dispor a única arma de sempre, a das denúncias de corrupção que serão feitas sobretudo a Lula, que acaba de ser indiciado em processos armados pelo procurador-geral da República visando unicamente a eleição do ano que vem.
Funcionará desta vez? Parece difícil, mas, claro, não é impossível.
Contudo, apostar no mal-estar social para o ano que vem, como fez Brian Winter, é uma estupidez e um alheamento da realidade.
A economia brasileira vai bem. Está em um patamar altíssimo de funcionamento e a distribuição de renda em curso está sendo subestimada em um processo de autoengano das elites destro-midiáticas.
Em resumo: só o que pode derrotar Dilma, ano que vem, é a política. A economia será sua aliada. A direita midiática não entende de economia. Basta lembrar das previsões que vem fazendo – e errando feio – ao longo da última década.

domingo, 31 de março de 2013

PEC DÁ "PÂNICO DE CONTRATAR" DOMÉSTICA

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segunda-feira, 25 de março de 2013

Danuza Leão é o símbolo vivo de uma elite inculta, egoísta e vil


Há um setor da sociedade que simplesmente não consegue enxergar e aceitar o processo civilizatório em que o Brasil mergulhou após os seguidos desastres administrativos, econômicos e sociais que governos medíocres, vendidos e ladrões lhe impuseram até 2002.
Talvez o mais eloquente símbolo do processo civilizatório em curso no Brasil seja estar se tornando raro famílias de classes média e alta terem “empregadas domésticas” que trabalhem de sol a sol por ninharias que não pagam refeição em um bom restaurante.
Agora, após séculos de verdadeira escravidão a que mulheres e até meninas pobres se submeteram trabalhando nessas condições para famílias de classe social superior, o Congresso criou vergonha e estendeu aos trabalhadores domésticos os direitos de todos os outros.
Um dos muitos avanços sociais para a maioria empobrecida do nosso povo que os governos Lula e Dilma vêm proporcionando está na raiz do ódio que a elite tem deles, pois acabou a moleza de madames como a colunista da Folha de São Paulo Danusa Leão terem escravas.
Eis que a socialite-colunista, que já andou vertendo seu ódio de classe devido à conquista dos aeroportos e viagens internacionais pelas classes “inferiores”, agora se revolta com os direitos trabalhistas serem estendidos também às “domésticas”.
Para tanto, como bem anotou o site Brasil 247, a socialite-colunista se valeu dos “argumentos” que há mais de século os escravocratas brasileiros usaram para manter este país como o único em que persistia a escravidão de negros.
Os escravocratas diziam que se os negros fossem libertados, seriam os principais prejudicados porque não conseguiriam se sustentar sem a “proteção” do senhor de escravos.
Agora, uma centena e tanto de anos depois, a colunista da Folha diz que dar direitos trabalhistas a domésticas seria ruim para elas porque, dessa forma, não conseguirão emprego.
Essa mulher é colunista do dito “maior jornal do país”. Espanta como alguém tão desinformada pode ter espaço em um veículo de projeção nacional para provar por escrito sua ignorância desumana.
Danusa é o retrato de uma elitezinha minúscula, iletrada, desinformada, egoísta, racista, sonegadora e pervertida. Leia a sua diarreia mental na Folha deste domingo. Prossigo a seguir.
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FOLHA DE SÃO PAULO
24 de março de 2013
A PEC das empregadas
Danusa Leão
Essa Pec das empregadas precisa ser muito discutida; como foi mal concebida, assim será difícil de ser cumprida, e aí todos vão perder.
A intenção de dar as melhores condições à profissional, faz com que seja quase impossível que o empregador tenha meios de cumprir com as novas leis; afinal, quem vai pagar esse salário é uma pessoa física, não uma empresa.
Vou fazer alguns comentários sobre as condições -diferentes- em que trabalham as domésticas aqui e em países mais civilizados.
Vou falar da França e dos Estados Unidos, que são os que mais conheço. Lá, quem mora em apartamento de dois quartos e sala, é considerada privilegiada, mas nenhum deles tem área de serviço nem quarto de empregada (costuma existir uma área comunitária no prédio com várias máquinas de lavar e secar, em que cada morador paga pelo tempo que usa); uma família que vive num apartamento desses tem -quando tem- uma profissional que vem uma vez por semana, por um par de horas.
É claro que cada um faz sua cama e lava seu prato, e a maioria come na rua; nessas cidades existem dezenas de pequenos restaurantes, e por preços mais do que razoáveis.
Apartamentos grandes, de gente rica, têm quarto de empregada no último andar do prédio (as chamadas “chambres de bonne”, que passaram a ser alugadas aos estudantes), ou no térreo, completamente separados e independentes da família para quem trabalham.
Essas domésticas -fixas e raras- têm salario mensal, e sua carga horária é de 8 horas por dia, distribuídas assim: das 8h às 14h (portanto, 6 horas seguidas) arrumam, fazem o almoço, põem a casa em ordem. Aí param, descansam, estudam, vão ao cinema ou namoram; voltam às 19h, cuidam do jantar rapidinho (lá ninguém descasca batata nem rala cenoura nem faz refogado, porque tudo já é comprado praticamente pronto), e às 21h, trabalho encerrado.
Mas no Brasil, muitos apartamentos de quarto e sala têm quarto de empregada, e se a profissional mora no emprego, fica difícil estipular o que é hora extra, fora o “Maria, me traz um copo de água?”. E a ideia de dar auxílio creche e educação para menores de 5 anos dos empregados, é sonho de uma noite de verão, pois se os patrões mal conseguem arcar com as despesas dos próprios filhos, imagine com os da empregada.
Quem vai empregar uma jovem com dois filhos pequenos, se tiver que pagar pela creche e educação dessas crianças? É desemprego na certa.
Outra coisa esquecida: na maior parte das cidades do Brasil uma empregada encara duas, três horas em mais de uma condução para chegar ao trabalho, e mais duas ou três para voltar para casa, o que faz toda a diferença: o transporte público no país é trágico. Atenção: não estou dando soluções, estou mostrando as dificuldades.
Na França, quando um casal normal, em que os dois trabalham, têm um filho, existem creches do governo (de graça) que faz com que uma babá não seja necessária, mas no Brasil? Ou a mãe larga o emprego para cuidar do filho ou tem que ser uma executiva de salário altíssimo para poder pagar uma creche particular ou uma babá em tempo integral, olha a complicação.
Nenhum país tem os benefícios trabalhistas iguais aos do Brasil, mas isso funciona quando as carteiras das empregadas são assinadas, o que não acontece na maioria dos casos; e além da hora extra, por que não regulamentar também o trabalho por hora, fácil de ser regularizado, pois pago a cada vez que é realizado? Se essa PEC não for muito bem discutida, pode acabar em desemprego.
P.S.: É difícil saber quem saiu pior na foto esta semana: se d. Dilma, dizendo em Roma que a culpa pelas tragédias de Petrópolis se deve às vítimas, que não quiseram sair de suas casas, ou se Cristina Kirchner, pedindo ajuda ao papa no assunto das Malvinas.
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No Brasil, com a revolução social da década passada – desencadeada a partir de 2004 – há cada vez menos pessoas dispostas a realizar trabalhos domésticos, sobretudo devido à falta de direitos trabalhistas e aos salários de miséria que gente como Danusa quer pagar para ser servida 24 horas por dia em troca de alguns trocados, um prato de comida e uma cama.
Se a elite que Danusa simboliza não fosse tão desinformada, iletrada, delirante e egoísta, saberia que o IBGE vem detectando que é cada vez menor o número de pessoas dispostas a atuar em tarefas domésticas.
No ano passado, por exemplo, segundo a Pesquisa Mensal de Emprego (PME), do IBGE, apenas 6,6% dos brasileiros atuaram em serviços domésticos. Foi o resultado mais baixo desde 2003.
Danusa tenta preservar a escravidão no Brasil usando um argumento vazio, como se vivesse na época de seu ídolo Fernando Henrique Cardoso. Ela não sabe que a escassez de trabalhadores domésticos elevou o poder de barganha deles
Os salários dos empregados domésticos crescem sem parar desde 2003 e o nível de formalização (carteira assinada) é hoje o mais alto da história.
Nos últimos 12 meses, o salário médio de uma empregada doméstica aumentou 11,83%, segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), índice oficial de inflação do País, também apurado pelo IBGE.
Segundo o coordenador da pesquisa do IBGE, “Por causa da oferta baixa e da demanda crescente o preço das empregadas domésticas chegou num patamar em que muitas famílias estão abrindo mão do serviço todos os dias e optando por ter uma empregada duas vezes por semana, por exemplo, para não configurar um vínculo”.
Segundo o estudo, “A mudança na situação do mercado de trabalho doméstico foi sustentada por dois motivos: aquecimento na criação de postos de trabalho e melhora na educação do trabalhador. Esses fatores fizeram com que os trabalhadores domésticos conseguissem migrar para outros ramos de atividades”.
Mais dados da PME, do IBGE: “Entre 2003 e 2012, o porcentual de trabalhadores analfabetos ou com até oito anos de estudo recuou 15,5%. Já a quantidade de profissionais com 8 a 10 anos de estudo aumentou 27,7%, enquanto a parcela dos profissionais cresceu 139,4% no período”
A quantidade de trabalhadores domésticos, por conta disso, vem caindo, em média, 2,7% ao ano.
O coordenador da pesquisa do IBGE ainda explica que “Com a melhoria da educação e oportunidade de trabalhar em outros nichos, as trabalhadoras estão conseguindo se inserir principalmente nos serviços prestados a empresas, uma parte mais voltada para terceirização”.
Já o economista Fernando de Holanda Barbosa Filho explica que “Em geral as pessoas não gostam de ser empregadas domesticas. Sempre que possível elas deixam essa profissão”. E as razões disso, a diarreia escrita de Danusa explica.
E o pior do texto dessa senhora é quando tenta fazer uma analogia entre os serviços domésticos no Brasil e nos países ricos.
A pesquisa do IBGE mostra que a mudança na estrutura do emprego doméstico no Brasil o tornará mais europeizado e americanizado. Segundo os pesquisadores do IBGE, “Em países de economia mais madura ter um trabalhador doméstico todos os dias da semana é considerado luxo. Quem trabalha no setor, por sua vez, se especializa e, obviamente, cobra mais”.
Minha filha Gabriela (26) vive há quatro anos em Sydney, na Austrália. Para pagar os estudos trabalhou como babá, ganhando o equivalente a 7 mil reais por mês, viajando ao exterior toda hora, comprando carro e trabalhando apenas seis horas por dia.
Nos países civilizados, empregados domésticos fazem muitas exigências e recusam vários serviços, como recolher roupas íntimas usadas e imundas que socialites deixam no box do banheiro e outras humilhações.
“A tendência é haver pessoas especializadas em serviços domésticos. Não vamos ter analfabeto fazendo esse trabalho, como era no passado. Teremos pessoas com mais escolaridade nessa função com uma remuneração mais elevada”, diz o economista Barbosa Filho.
Danusa, que como toda madame fútil quer se mostrar uma “expert” nas condições sociais e econômicas de países ricos, viaja a eles e não consegue entender o que vê. Assim, escreve as cretinices desinformadoras que escreveu naquele que se diz “maior jornal do Brasil”.
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PS: a socialite que escreve na Folha deveria ler  a Folha, que mostra que Dilma não saiu “mal na foto” na semana passada coisa nenhuma, bastando ler a pesquisa Datafolha, que o jornal publicou, para entender isso. Mas acho que Danusa se referiu ao seu clube de desocupadas fúteis, iletradas e desinformadas, não ao povo brasileiro.