Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

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quarta-feira, 6 de abril de 2016

Possuída pelo impeachment

Ao comentar o discurso inflamado da advogada Janaína Paschoal em um ato contra o impeachment, o colunista do 247 Alex Solnik destaca que "nem as emissoras de TV tiveram coragem de mostrar a cena na íntegra, com o intuito de proteger a imagem da protagonista do show de horror e poupar os telespectadores de um dos momentos mais grotescos da história brasileira"; "O que me pergunto é como uma pessoa que se comporta dessa maneira foi alçada à cena nacional por dois advogados que, concordemos com eles ou não, ocuparam cargos relevantes na República. O que me pergunto é como um pedido de impeachment assinado por essa pessoa que requer cuidados urgentes – sejam místicos ou médicos – foi aceito por outro personagem grotesco que estranhamente ocupa um dos postos mais importantes da República, sem falar no seu histórico de malfeitos que agridem a opinião pública", completa o jornalista


Alex Solnik
Certa vez, nos primórdios da TV Record sob administração da Igreja Universal, o líder da seita e dono da rede, Edir Macedo entrou de surpresa na redação da emissora.
E flagrou o diretor de Jornalismo, que se tratava com antidepressivos, atravessando a sala apenas de meias pretas, sem sapatos.
Sem perda de tempo, Macedo ordenou ao diretor-geral, Guga de Oliveira:
- Temos que exorcisar!
E o jornalista, dono de bela carreira com passagens pelos principais órgãos de comunicação do país, teve que se submeter ao ritual, realizado na igreja do bairro do Brás, pois, caso contrário, seria sumariamente demitido.
Não sei o que Edir Macedo diria a respeito do "espetáculo" apresentado pela advogada Janaína Pascoal no púlpito localizado em frente à vetusta e histórica Faculdade de Direito do Largo do São Francisco.
Nem as emissoras de TV tiveram coragem de mostrar a cena na íntegra, selecionaram apenas os momentos menos eufóricos, digamos assim, menos constrangedores, com o intuito de proteger a imagem da protagonista do show de horror e poupar os telespectadores de um dos momentos mais grotescos da história brasileira.
Mas, nas redes sociais, o discurso raivoso, patético e ininteligível circula livremente para quem quiser ver.
Não sei se, depois disso, alguém terá coragem de confiar a ela alguma causa ou se seus clientes vão continuar sendo seus clientes. O que, no momento, é irrelevante.
O que me pergunto é como uma pessoa que se comporta dessa maneira foi alçada à cena nacional por dois advogados que, concordemos com eles ou não, ocuparam cargos relevantes na República e um deles, o lendário Hélio Bicudo, que nos anos da ditadura notabilizou-se pela coragem de enfrentar e condenar os famigerados policiais do chamado Esquadrão da Morte de São Paulo, é visto ao seu lado, apreciando a performance e aplaudindo a moça de cabelos desgrenhados que berrava ao microfone palavras de ordem sem sentido, andava para frente e para trás nervosamente e agitava um pano amarelo acima da sua cabeça.
O que me pergunto é como um pedido de impeachment assinado por essa pessoa que requer cuidados urgentes – sejam místicos ou médicos – foi aceito por outro personagem grotesco que estranhamente ocupa um dos postos mais importantes da República, sem falar no seu histórico de malfeitos que agridem a opinião pública, com apoio de deputados que se enrolam em bandeiras no plenário e berram no mesmo tom da possuída, esquecidos da frase cunhada no século XVIII pelo escritor inglês Samuel Johnson que melhor os define: "o patriotismo é o último refúgio dos canalhas".
Quando Chico Buarque disse, em 1984, em uma de suas mais brilhantes e conhecidas canções que "o estandarte do sanatório geral vai passar", não imaginava que estava descrevendo o ambiente que vivemos em 2016.

terça-feira, 5 de abril de 2016

A transtornada do impeachment. Não creia em mim: veja com seus próprios olhos

possessao
A senhora aí de cima é Janaína Paschoal, a “advogada do impeachment”.
A cena se passa num ato pró-impeanchment, ontem, na USP.
Foi noticiado nos jornais e seu conteúdo é pouco ou nada relevante, porque quase nada além foi do xingatório.
Mas a cena, esta sim, é essencial para que vejamos o que ameaça tomar as rédeas do país.
É de fazer de Silas Malafaia um pregador discreto e sereno.
Veja com seus próprios olhos.
Assista. Mostre para os parentes e amigos, para os colegas de trabalho.
Veja a que tipo de “sessão de cura e exorcismo” se quer levar o Brasil.
Não preciso qualificar Janaína Paschoal.
E não é preciso coisa alguma além do seu comportamento para desqualificá-la.

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Plano de Marina tem mais exemplos de Ctrl-C Ctrl-V

:

Surgem novas evidências de que o programa de governo de Marina Silva foi feito de improviso; trechos inteiros do chamado "eixo 3", sobre "Educação, cultura e ciência, Tecnologia e Inovação", foram copiados de um artigo da USP sem citar a fonte e o autor - no caso, o professor Luiz Davidovich - como é comum em casos de plágio; prática é duramente rechaçada pela comunidade acadêmica e demonstra falta de ética; horas depois de divulgar o programa, o PSB retirou o trecho sobre energia nuclear, alegando "erro de revisão"; nessa semana, o candidato do PSDB, Aécio Neves, acusou Marina de plagiar parte do Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH), lançado por FHC em 2002; "Ela poderia ter pelo menos dado crédito aos autores verdadeiros da proposta e a FHC", disse o tucano 

247 – Vem à tona uma nova evidência de que o programa de governo da presidenciável pelo PSB, Marina Silva, foi feito de improviso. Trechos usados no "eixo 3", sobre "Educação, cultura e ciência, Tecnologia e Inovação", foram copiados na íntegra de um artigo publicado (acesse aqui) pela edição número 89 da Revista da USP (março/maio 2011), sem citar a fonte nem o autor, como é comum em casos de plágio.

O texto original, "De olho no futuro: a 4ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação", foi escrito pelo professor Luiz Davidovich, secretário-geral da 4ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação para um Desenvolvimento Sustentável. A prática é duramente rechaçada pela comunidade acadêmica e demonstra falta de ética por parte da candidata e de sua equipe de campanha.

Um dos trechos cita a importância de se apoiar a energia nuclear no Brasil e foi retirado horas depois do lançamento do programa pelo PSB, no último dia 29. Em uma errata, o partido lamentou ter incluído o tema como um dos pontos que merecem atenção para o aperfeiçoamento da matriz energética do País e alegou "erro de revisão" para isso.

Há ainda outros trechos retirados da página 144 do programa de Marina que foram copiados do artigo publicado pela Revista da USP sem citação da fonte. Confira abaixo:

Trecho do plano de governo:

Fortalecer o Sistema Nacional de Pesquisa Agropecuária e as políticas de CT&I e agrícola com vistas a avançar na sustentabilidade da agricultura brasileira, desenvolvendo, aperfeiçoando e difundindo de forma ampla tecnologias eficientes de produção que conservem o solo, usem de forma eficiente a água, sejam compatíveis com a preservação do meio ambiente e da biodiversidade e permitam o aumento da produção sem expansão significativa da área ocupada.

Trecho do artigo da USP:

• Fortalecer o Sistema Nacional de Pesquisa Agropecuária e as políticas de CT&I e agrícola com vistas a avançar na sustentabilidade da agricultura brasileira, desenvolvendo, aperfeiçoando e difundindo de forma ampla tecnologias eficientes de produção que conservem o solo, usem de forma eficiente a água, sejam compatíveis com a preservação do meio ambiente e da biodiversidade, e que permitam o aumento da produção sem expansão significativa da área ocupada.

Trecho do plano de governo:

Consolidar a liderança mundial do país na área de biocombustíveis, adotando para isso – em estreita articulação com o setor produtivo nacional – um vigoroso programa de pesquisa, desenvolvimento, inovação e difusão de tecnologias.

Trecho do artigo:

• Consolidar a liderança mundial do país na área de biocombustíveis durante a próxima década, adotando para isso - em estreita articulação com o setor empresarial nacional - um vigoroso programa de pesquisa, desenvolvimento, inovação e difusão de tecnologias voltado para a produção e o uso de bioenergias.

Trecho plano de governo:

• Avançar na abordagem sistêmica da área de saúde, articulando a política de CT&I com a de saúde propriamente dita e com a política industrial. Destacam-se nessa agenda a necessidade de agilizar a implementação das parcerias com as empresas nacionais; utilizar o poder de compra do Estado para maximizar seus resultados a médio e longo prazos; aperfeiçoar e compatibilizar os regimes normativos da área (especialmente a vigilância sanitária, o acesso à biodiversidade e o intercâmbio de material biológico) e fortalecer a capacidade de realizar testes clínicos no Brasil.

Trecho artigo USP:

• Avançar na abordagem sistêmica da área de saúde, articulando a política de CT&I com a de saúde propriamente dita e com a política industrial. Em particular, utilizar o poder de compra do Estado para maximizar seus resultados no médio e longo prazo e não simplesmente para minimizar os custos imediatos; aperfeiçoar e compatibilizar os regimes normativos da área (especialmente a vigilância sanitária, o acesso à biodiversidade e o intercâmbio de material biológico) e fortalecer a capacidade de realização de testes clínicos no Brasil.

Amiga pessoal de Marina e herdeira do banco Itaú, Neca Setúbal foi a responsável, no grupamento Rede Sustentabilidade, por fazer a interface com o PSB para a feitura do programa de governo da candidata.

"Eduardo leu página por página e fez muitas observações", lembrou Neca sobre a participação dela e do ex-governador Eduardo Campos na confecção do programa de governo.

Nessa semana, o candidato do PSDB à Presidência, senador Aécio Neves, acusou Marina de plagiar parte do Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH), lançado pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso em 2002. "O capítulo do programa de Marina é uma cópia exata do PNDH de FHC. Ela poderia ter pelo menos dado crédito aos autores verdadeiros da proposta e a FHC", disse Aécio. "Não se teve sequer o cuidado de alterar palavras. Isso é apenas mais uma sinalização do improviso, e da enorme contradição que ronda essa candidatura", acrescentou o tucano.

terça-feira, 5 de agosto de 2014

Tucanistão: a província de São Paulo e seus longos tempos bicudos

tucanistao
Vladimir Safatle, filósofo e professor da USP, publica hoje na Folha de S. Paulo um texto daqueles do tipo “seria cômico se não fosse trágico”.
Trata da longa dinastia tucana em São Paulo, ao qual chama de “Tucanistão”.
O mais avançado dos Estados brasileiros é, curiosamente, aquele onde há mais tempo nada muda, senão o membro da confraria bicuda.
E muda, aliás, muito pouco.
Montoro, Covas, Serra, Alckmin.
Safatle escreveu ontem, no máximo.
Não pegou a última tucanagem, a de se revelar um e-mail aumentando as medições de obra “para a campanha”, como escreve nm e-mail a diretora da construtora Tejofran.
Empresa que, aliás, nasceu de uma firma de limpeza de escritórios  comprada em 1975 por Antonio Dias Felipe, o Português, amigo de Mario Covas e padrinho de seu filho Mario Covas Neto, o Zuzinha.
Hoje, ela divide  contratos mililionários das obras de reformas de trens do Metrô paulista, ao lado da Siemens, da Alston , da Bombardier…
Dela, este Tijolaço já tratou aqui.
Agora, acompanhe Safatle em sua visita ao Tucanistão.

Tucanistão

“Bem-vindos ao Tucanistão, a terra da plena felicidade. Vocês acabam de desembarcar no aeroporto internacional que leva o nome do fundador de nossa dinastia, governador de nossa terra há 32 anos. Desde então, nossa amada dinastia está presente no coração de nosso povo de maneira praticamente ininterrupta.
Em nossos planos, haveria um Expresso Bandeirante que ligaria o aeroporto ao centro de nossa capital por trens rápidos. Ele não saiu do papel, mas isso não importa. Isso permitirá vocês passarem de carro lentamente pelo mais novo campus de nossa grande universidade, que leva o nome de nosso Segundo grande líder. No momento, ela está falida, com um deficit de 1 bilhão de reais produzido depois da passagem de um interventor nomeado pelo nosso Quarto grande líder. O próprio campus está sem aula por ter sido construído em terreno contaminado, mas tudo isso também não importa.
Depois do campus, vocês conhecerão o caudaloso rio Tietê. Há décadas ele está sendo despoluído. Grandes especialistas internacionais garantem que seu nível de poluição está caindo, mas ainda demorará algumas décadas para que os incautos sejam capazes de enxergar tal maravilha. Por falar em água, estamos passando atualmente por um “estresse hídrico de proporções não negligenciáveis”, mas não se preocupem. Como disse uma rainha francesa: quem não tem água que tome suco.
Se vocês olharem mais à frente verão nosso maravilhoso metrô cruzando velozmente nossa marginal. Não se deixem impressionar pelo fato de ele ser menor do que o de cidades como Santiago, Buenos Aires ou Cidade do México. Nós amamos nosso metrô do jeito que ele é, mesmo que inimigos tenham espalhado a informação de que investigações na Suíça e na França descobriram esquemas milionários de desvio e superfaturamento. Todos sabem que nossa dinastia é incorruptível. Se algo aconteceu, nosso Terceiro-Quinto grande líder não sabia de nada.
Não se espantem também com o tamanho dos muros e aparatos de segurança. Nossa polícia, que mata mais do que toda a polícia norte-americana junta, um dia conseguirá dar conta de todos esses bandidos. Nosso Terceiro-Quinto grande líder está pessoalmente empenhado nisso.
Alguns podem se impressionar com o fato de tanto fracasso não abalar nosso amor por nossa dinastia. É que eles ainda acham que devemos avaliar nosso líderes por aquilo que eles são capazes de fazer, mas nós descobrimos o valor do amor incondicional. Nós os amamos porque… nós os amamos. Por isso, nossa terra é o lugar da pura felicidade. O Tucanistão é a locomotiva do progresso imaginário, alimentada por choques tortos de gestão.”

quarta-feira, 2 de abril de 2014

Golpista da Veja confunde ensino com apologia à ditadura



Um vídeo se alastrou pela internet a partir do último dia 31 de março. Foi feito pelos alunos da Faculdade de Direito da USP, instalada no Largo de São Francisco, em São Paulo, desde 1903. Este post não se destina a divulgar esse vídeo, mas a expor fatos que sucederam sua divulgação.
O vídeo mostra protesto feito por estudantes contra o professor Eduardo Gualazzi, quem, no dia do aniversário do golpe de 1964, em vez de dar aula resolveu afrontar não só os seus alunos, mas o próprio Centro Acadêmico XI de agosto.
Para quem não sabe, o Centro Acadêmico XI de Agosto é o órgão representativo dos estudantes da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco e recebe o nome “XI de Agosto” em homenagem à data da lei que criou as duas primeiras faculdades de Direito do Brasil, uma em São Paulo e outra em Olinda.
O XI de Agosto é o mais antigo centro acadêmico de Direito do país. Teve participação decisiva nas mais relevantes campanhas políticas nacionais, principalmente nos movimentos de defesa do Estado Democrático de Direito contra a ditadura militar que brotou do golpe de 1964.
O professor Gualazzi cometeu um desatino ao levar para leitura em sala de aula um texto de sua autoria intitulado “Continência a 1964”. O texto exalta a ditadura militar justamente em uma instituição cuja história se confunde com a luta contra essa ditadura.
A ligação da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco com a luta contra o regime militar é tão forte que, enquanto Gualazzi fazia apologia àquele regime em sala de aula, o próprio reitor daquela instituição, José Rogério Cruz e Tucci, participava de protesto contra a ditadura a algumas centenas de metros daquela Faculdade.
A intenção de Gualazzi, portanto, foi claramente a de provocar. O que ele estava fazendo, quando sua “aula” foi interrompida pela manifestação dos alunos, não era ensinar. O texto que lia não continha fatos históricos, mas a sua opinião sobre a ditadura.
Professores dão opiniões em sala de aula em todos os níveis de ensino. Isso é comum. Todavia, qualquer professor que disser opiniões em classe corre sérios riscos.
Conto uma história para explicar como é perigoso um professor confundir suas opiniões com a matéria que é pago para ensinar aos seus alunos.
Há alguns anos, uma de minhas filhas, durante aula na faculdade, ouviu de uma professora críticas duras a blogueiros de esquerda e, surpresa das surpresas, também ouviu o nome de seu pai ser incluído na acusação de que tais blogueiros seriam “pagos pelo governo”. Obviamente que ela protestou com veemência na mesma hora e, depois, fez queixa formal da professora, que foi advertida pela faculdade.
Apesar de o vídeo em questão já ter sido muito visto, vale explicar, para quem não viu, que os estudantes organizaram um protesto à altura da ousadia do professor de afrontar não só a eles, mas à própria instituição em que leciona.
O protesto começou do lado de fora da sala de aula. Estudantes simularam gritos de pessoas sendo torturadas e depois entraram cantando em classe, todos vestindo capuzes iguais aos que eram colocados nos presos políticos que a ditadura torturou e/ou matou.
Quem quiser ficar em cima do muro pode dizer que os dois lados erraram. Ainda assim, terá que reconhecer que quem cometeu o primeiro erro foi o tal professor Gualazzi. Contudo, à luz do amplo repúdio (inclusive internacional) à ditadura militar iniciada em 1964, é difícil qualificar a reação dos alunos como um erro. Foi mera reação a uma afronta.
A razão deste post é a de rebater uma versão distorcida desses fatos que está sendo alardeada pela revista Veja através de seus colunistas, entre os quais Rodrigo Constantino. Ele publicou um post em seu blog, hospedado no portal da revista, em que afirma que o tal professor da USP foi “impedido de criticar o comunismo”.
Abaixo, o comentário de Constantino no portal da Veja:
—–
Vejam como agem os comunistas, esses seres jurássicos que ainda procriam e se espalham, colocando em xeque a teoria da evolução darwinista. São tolerantes, democratas, a favor do debate aberto. Só que não! São autoritários, intimidam quem pensa diferente, querem calar o contraditório no grito. Impediram uma aula sobre as tiranias vermelhas e o contexto de 1964. Invadiram a sala e humilharam o professor. É apenas assim que sabem agir: covardemente e em bando
—–
Ao fim deste post, o leitor que ainda não assistiu o vídeo em questão poderá assistir. Quem assistiu, sabe que o texto do professor Gualazzi não se destinou a criticar o comunismo e sim a fazer apologia da ditadura militar. O próprio título do texto (“Continência a 1964”) diz tudo.
Chega a ser bizarro que alguém que, como Constantino, apoia um regime cuja principal característica foi a censura por meios violentos se queixe do que enxerga como “censura”.
Aliás, o regime que Constantino defende não se valia de manifestações teatrais para censurar. Preferia métodos mais “eficientes”, tais como torturas, estupros, assassinatos. Sevícias inclusive a crianças e adolescentes diante dos pais, a esposas diante dos maridos etc.
Concluo externando a opinião deste blog sobre a iniciativa dos alunos da Faculdade de Direito do Largo São Francisco. É mais do que necessário que todos quantos possam não percam a oportunidade de denunciar a ditadura militar. Este país não pode mais conviver com apologias a um crime de lesa-humanidade como foi aquela ditadura.
Cada cidadão consciente dos horrores daquele período terrível de nossa história deve tomar para si a obrigação de não permitir que exaltem aquele processo criminoso desencadeado neste país há meio século. Pesquisas recentes sobre o que pensam os brasileiros mostra que estão divididos sobre o que aconteceu neste país. É inaceitável.
A ausência de denúncias contundentes sobre a violação da democracia e dos direitos humanos durante cerca de duas décadas é o que faz quase metade dos brasileiros julgarem de forma tão equivocada a ditadura militar.
Este blog, pois, exorta a todo aquele que sabe a verdade a que não aceite, de modo algum, apologias de quem quer que seja à ditadura. Pode ser amigo, parente, colega de trabalho etc. Se fizer apologia da ditadura deve ser contestado prontamente, mesmo ao custo da ruptura ou do esfriamento de sua relação com aquela pessoa.
Este blogueiro tem dito nas redes sociais que não tem o menor interesse em manter amizade ou qualquer outra relação com pessoas que apoiam o regime militar de 1964. Hoje há muita informação. Todos sabem dos crimes cometidos naquele período. Quem apoia aquilo, portanto, não presta. Não vale a pena manter relações com alguém assim.
*
Assista, abaixo, ao vídeo citado no post

Interpelação de Gilmar Mendes
Informo que no último dia 31 de março foi protocolada no Supremo Tribunal Federal a ação inicial contra o ministro Gilmar Mendes. Por instruções dos advogados, por enquanto o Blog não divulgará publicamente o teor da inicial. As pessoas que participam da ação receberão por e-mail cópia do processo.

sexta-feira, 19 de julho de 2013

O mau jornalismo da Folha no caso dos médicos “desistentes”

publicado em 18 de julho de 2013 às 23:42


O dr. Thomaz Srougi e Cesar Camara na frente da clínica médica particular na favela do Heliópolis. Cesar atende lá com jaleco do Sírio-Libanês, onde também trabalha
por Luiz Carlos Azenha e Conceição Lemes, a partir de leitora indignada da Folha
Há muitas críticas sinceras aos programas do governo Dilma no setor da Saúde, dentre os quais o Mais Médicos. O próprio Viomundo já publicou várias delas, aquiaqui aqui.
Porém, causa-nos estarrecimento ler nas redes sociais manifestações de xenofobia, racismo e desrespeito aos médicos estrangeiros, para não falar da completa piração direitista de que os médicos cubanos viriam ao Brasil promover uma revolução comunista.
As entidades médicas, por razões corporativistas, dizem que não faltam médicos no Brasil e que o problema seria a má distribuição. Não é verdade. Faltam profissionais nas regiões mais distantes e nas periferias das grandes cidades e eles também estão mal distribuídos. Nas regiões Sul e Sudeste do País há maior concentração de médicos, enquanto no Norte, Nordeste e Centro-Oeste, ela é menor.
A leitora indignada que nos procurou protestou contra a cobertura distorcida que, segundo ela, é dada pelaFolha de S. Paulo ao assunto, especialmente no caso do programa Mais Médicos.
Ela aponta para a seguinte sequência de eventos:
O dr. Miguel Srougi (professor titular de urologia da Faculdade de Medicina da USP) escreveu um artigo de opinião no jornal detonando as ações do governo Dilma no setor de saúde:
Senhora presidente, mais um clamor, respeitoso. Assuma a determinação política de priorizar recursos para as áreas sociais. Atue na saúde com competência e sensatez, não com respostas transloucadas aos gritos indignados da nação. Para que os brasileiros possam vislumbrar o alvorecer com esperança. E combata com arrojo o grupo de ímprobos e incompetentes instalados no teu entorno. Sem esquecer o arcebispo Desmond Tutu: “Se ficarmos neutros numa situação de injustiça, teremos escolhido o lado do opressor”.
O dr. Miguel Srougi é o mesmo que, em 2010, havia rasgado elogios ao então candidato ao Planalto José Serra, do PSDB, adversário de Dilma:
Difícil conseguir isso? Não, se reconhecermos entre nossos dirigentes aqueles dotados de sabedoria e integridade, capazes de transformar a sociedade, tornando-a mais justa para seus filhos. Com esses sentimentos, coloco-me ao lado de José Serra.Pode-se concordar ou não com sua forma de se relacionar, muitas vezes difícil, mas não há como ignorar algumas marcas incomparáveis da sua atuação política. Nos cargos públicos que ocupou, suas ações beneficiaram não apenas os mais desprotegidos, mas todos os estratos da nação. Na saúde, Serra opôs resistência quase solitária aos interesses indevidos que, com uma frequência além do razoável, rondam o setor.
Até aí, normal. Ter opinião é necessário e importante, diz a leitora.

Porém, hoje, a Folha deu na capa do caderno Cotidiano: “Médicos alegam falta de direitos e desistem de programa de Dilma”.
Leiam o subtítulo: “Profissionais recuam de inscrição ao saber que não há décimo-terceiro e FGTS” (grifo nosso).
É fato que este é um dos aspectos mais criticados do programa: a falta de garantias trabalhistas para os profissionais. Bolsistas ou contratados? É um debate justo e necessário.
Porém, dos 11.701 médicos inscritos no programa, a Folha só ouviu dois, ambos apresentados como desistentes.
Ambos disseram ter se inscrito e desistido do Mais Médicos por deficiência do programa.
Porém, é importante destacar que houve um movimento de doutores no sentido de sabotar o programa. Como? Fazendo a inscrição e desistindo posteriormente ”para atrapalhar o cronograma e o recrutamento dos médicos estrangeiros”, segundo a própria Folha explicou.
Impossível dizer se os dois médicos ouvidos pela Folha pretendiam desde o início participar do protesto. Eles se manifestaram como se tivessem sinceramente desistido por objeções à iniciativa posteriores à inscrição.
O fato é que a reportagem que motivou o protesto da leitora traz uma imensa foto do dr. Cesar Camara, com a frase:
“Não há direito algum. Fica complicado aceitar um trabalho nessas condições”, diz o urologista Cesar Camara, 38, de São Paulo, que fez a inscrição e desistiu de efetivá-la.
E quem é o dr. Camara?
Assistente do dr. Miguel Srougi, conforme ele próprio escreve em sua página no Facebook:

Na terça-feira que precedeu a reportagem (publicada quinta) ele pede ajuda para encontrar médicos que tenham se inscrito e posteriormente desistido do Mais Médicos.
Cesar faz parte do corpo clínico do setor de Urologia do Hospital Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, cujo professor titular é o dr. Miguel Srougi. As áreas dele são litíase (cálculo renal) e endourologia (área endocrinológica da urologia).

As relações do dr. Cesar Camara com a família do chefe vão além.  Ele trabalha na clínica médica do dr. Thomaz Srougi, filho do dr. Miguel, que fica na entrada da favela de Heliópolis e só realiza consultas particulares, que custam de R$ 40 (clínica-geral) a R$ 60 (especialidades). Não vale convênio, tampouco cartão do SUS.
César também trabalha no Hospital Sírio-Libanês. Aliás, ele usa na clínica de Heliópolis o jaleco que tem costurado o nome do Sírio-Libanês. Segundo matéria publicada no Estadão, a sua consulta particular custa R$ 450.
César iria largar tudo isto —  carreira promissora na Urologia da USP, trabalho no Sírio-Libanês, um dos mais prestigiados hospitais do Brasil, consultas de R$ 450 no seu consultório e a clínica com o filho do chefe — para participar do programa Mais Médicos, para atender pacientes do SUS?
O programa Mais Médicos, vale lembrar, pagará uma bolsa de R$ 10 mil por mês, mas os médicos terão de cumprir 40 horas semanais de trabalho. Supondo que Cesar tivesse escolhido ir para a periferia da cidade de São Paulo, onde encontraria tempo para as suas outras atividades?
O jornal não sabia disso? Não questionou o médico para saber se ele se inscreveu apenas para desistir e atrapalhar a implantação do programa, cujo objetivo é atender de graça nas periferias, através do SUS, pacientes como os que ele atende cobrando em Heliópolis?
Independentemente das respostas do doutor Cesar, de uma coisa estamos certos: a leitora indignada tem razão.
Leia também:
Valeir Ertle, da CUT: É preciso enfrentar o boicote ao plebiscito

quarta-feira, 29 de maio de 2013

Juiz rejeita denúncia contra estudantes da USP e critica exagero do MP

“Prova maior do exagero e sanha punitiva que se entrevê na denúncia é a imputação do crime de quadrilha”

http://www.blogdajoice.com/wp-content/uploads/2013/05/imagem-justi%C3%A7a.jpg
Fazendo Justiça
O juiz Antonio Carlos de Campos Machado Junior, da 19ª Vara Criminal, rejeitou nesta segunda-feira, denúncia do Ministério Público que imputava a cerca de 70 réus, envolvidos nas manifestações na Universidade de São Paulo, crimes de dano, posse de explosivos, desobediência e formação de quadrilha.
Para o juiz, “o direito penal, exceto nos regimes de exceção, não compactua com acusações genéricas”, como o fato de atribuir a todos os indiciados a prática dos diversos crimes, sem a individualização das condutas.
“Afirmar, com respeito a setenta réus, que todos praticaram ou aderiram a conduta dos que depredaram as viaturas policiais, ou guardavam artefatos explosivos e bombas caseiras, recai no campo das ilações”, assevera o magistrado para quem a “prova maior do exagero e a sanha punitiva é a imputação do crime de quadrilha”.
Leia a íntegra da decisão
Vistos.
Trata-se de ação penal movida contra L.L.M.P.D e outros por infração ao artigo 163, parágrafo único, III, por três vezes, artigo 253, artigo 288 e artigo 330, todos do Código Penal, c.c. o artigo 65, “ caput”, da Lei nº 9.605/98, nos termos dos artigos 29, “ caput”, e 69, ambos do Código Penal.
É o relatório.
Decido.
Devo consignar, inicialmente, que a descrição feita na denúncia, bem como o noticiado nos meios de comunicação, dão conta de que o protesto realizado pelos alunos da USP, longe de representar um legítimo direito de expressão ou contestação, descambou para excessos, constrangimento, atos de vandalismo e quebra de legalidade.
Assim, a instauração de um procedimento criminal foi válida, para apurar eventuais práticas delitivas.
A presente denúncia, porém, contém impropriedades, que impedem tenha curso a persecução criminal, sob pena de se incorrer em arbitrariedade distinta, e igualmente censurável, de se processar uma gama aleatória de pessoas sem especificar as ações que cada uma tenha, efetivamente, realizado.
O direito penal, exceto nos regimes de exceção, não compactua com acusações genéricas, que acabam por inviabilizar, muitas vezes, o pleno exercício do direito de defesa.
É preciso que o acusado saiba, expressamente, não só as acusações que lhe são imputadas, mas qual a conduta que ele, em particular, teria desenvolvido, permitindo, a um, contrapor-se adequadamente as afirmações que lhe recaem, e, a dois, afastar os aventados enquadramentos típicos.
Afirmar, com respeito a setenta réus, que todos praticaram ou aderiram a conduta dos que depredaram as viaturas policiais, ou guardavam artefatos explosivos e bombas caseiras, recai no campo das ilações, por quem ignora ou não mais se lembra da sistemática de funcionamento das manifestações estudantis.
Muitos ali certamente estavam para, apenas, manifestarem sua indignação, que não é objeto no momento de apreciação se certa ou errada. Rotular a todos, sem distinção, como agentes ou co-partícipes que concorreram para eclosão dos lamentáveis eventos, sem que se indique o que, individualmente, fizeram, é temerário, injusto e afronta aos princípios jurídicos que norteiam o direito penal, inclusive o que veda a responsabilização objetiva.
Prova maior do exagero e sanha punitiva que se entrevê na denúncia é a imputação do crime de quadrilha, como se os setenta estudantes em questão tivessem-se associado, de maneira estável e permanente, para praticarem crimes, quando à evidência sua reunião foi ocasional, informal e pontual, em um contexto crítico bem definido.
Isso posto, indefiro a denúncia contra L.L.M.P.D e outros, com fundamento no artigo 395, I e II, do Código de Processo Penal.
P.R.I.
São Paulo, 27 de maio de 2013.
Antonio Carlos de Campos Machado Junior
Juiz de Direito
No Sem Juízo, Marcelo Semer

terça-feira, 9 de abril de 2013

Boito:Tucanos usam alta classe média alta para atender capital internacional


Os interesses do grande capital internacional e da fração da burguesia brasileira a ele completamente integrada, representados pelo PSDB, encontraram uma base de apoio no Brasil. Essa base não é “a classe média”. A parte majoritária da classe média apoia a política neodesenvolvimentista dos governos do PT. Essa base de apoio é a fração superior da classe média brasileira, a alta classe média. Em termos eleitorais, não é muito e em daí as agruras do PSDB
08/04/2013
Armando Boito Jr., especial para o Brasil de Fato
I
Muitos analistas e observadores políticos têm escrito que o PSDB representa a classe média. Será verdade?
É meritório colocar a questão de saber quais setores sociais um determinado partido político representa. Tal questão poderá parecer óbvia para alguns, mas ela não o é para a maioria dos que escrevem sobre os partidos políticos. Nas universidades, os cientistas políticos analisam os partidos de maneira formalista. São consideradas sua estrutura interna e seu papel no sistema partidário sempre isolando a vida do partido da estrutura social e econômica da sociedade.
Esse enfoque, que omite a questão da função representativa dos partidos, é praticado pelos neoinstitucionalistas, corrente amplamente hegemônica na Ciência Política contemporânea. Ainda nas universidades e também nos jornalões, a questão é omitida inclusive por outras razões.
Os articulistas que se apresentam como conhecedores da política brasileira se deixam iludir pelo discurso dos próprios partidos. Apegam-se à superfície desse discurso e tomam ao pé da letra suas proclamações de princípios e de intenções bem como suas declarações de ocasião. O resultado é que o exame rigoroso da representação partidária é deixado de lado.
Os partidos políticos representam, no geral e de modo complexo e flexível, interesses de classe e de frações de classe sociais. Partindo desse ponto, voltamos à pergunta: os tucanos representam a classe média?
II
No fundamental, a resposta é não, não representam. Como tentei argumentar em texto escrito anteriormente para o Brasil de Fato, o PSDB representa o grande capital internacional – financeiro e produtivo – e a fração da burguesia brasileira subsumida a esse capital.
A plataforma do PSDB, como tentei então mostrar, sistematiza e representa os interesses desse setor da classe dominante. Ao dizer isso, não me refiro às declarações genéricas desse partido, que é, como a de muitos outros, a “construção de um país mais próspero e mais justo”.
Refiro-me, isto sim, ao elenco de medidas práticas que esse partido defende, nas linhas ou nas entrelinhas dos seus documentos e nas manifestações de seus líderes, e que ele de fato aplica quando está no poder: controle rigoroso e por meios ortodoxos do processo inflacionário, taxa de juro elevada, câmbio estável e apreciado, redução dos gastos públicos com investimentos, com o funcionalismo e com programas sociais – mas não com a rolagem da dívida interna – e a retomada do programa de privatizações e da reforma trabalhista.
Indiquei, ainda no referido artigo, como é possível visualizar, por detrás dessas propostas, os interesses inconfessáveis – posto que contemplam uma restrita minoria – do grande capital internacional e da fração da burguesia brasileira a ele integrada. O PSDB tem sido, pelo menos até o presente, o principal partido político desse setor da classe dominante.
Se o PSDB fosse o partido da classe média, seríamos obrigados a concluir que essa classe social controlou o poder governamental durante os governos FHC e teria, então, dirigido o processo de implantação do modelo capitalista neoliberal no Brasil. Ora, não seria difícil demonstrar que não foi essa classe social, tão vasta e heterogênea, a grande beneficiária da desregulamentação do mercado de trabalho, da redução dos direitos sociais, das privatizações, da abertura comercial e financeira da década de 1990.
Contudo, numa dimensão que não é a fundamental embora seja também importante, o que se pode dizer a respeito da relação do PSDB com a classe média é que esse partido tem como base social mais ampla um setor da classe média. Esse setor não dirige o partido, mas oferece-lhe apoio ativo. A ação do partido deve, por isso, contemplar alguns interesses desse setor social, mesmo que não os priorize.
Mas, atenção: é apenas uma parte da classe média, a sua camada superior, que serve de base social para esse partido burguês e neoliberal. A classe média é demasiado heterogênea e raramente intervém unificada no processo político.
Podemos resumir assim: o PSDB representa os interesses do grande capital internacional e da fração da burguesia brasileira completamente integrada a esse capital e se apoia na alta classe média. Ou, dito de outro modo, o grande capital internacional dirige o PSDB enquanto a alta classe média tem, de maneira secundária, alguns dos seus interesses atendidos por esse partido [1].
A baixa classe média e mesmo a classe média remediada – camada intermediária e inferior do funcionalismo público, trabalhadores de escritório, comerciários e outros – têm votado preferencialmente em partidos como o PT. É certo que a divisão entre a parte superior, intermediária e inferior da classe média não é uma separação nítida, mas ela indica tendências efetivamente atuantes.
III
Para comprovar afirmações como essas seriam necessárias pesquisas mais amplas do que as que temos disponíveis. Porém, os mapas eleitorais de uma cidade como São Paulo são expressivos indicadores da procedência do que dissemos acima.
Nos bairros burgueses e de alta classe média, a população tem votado, de maneira amplamente majoritária, nos candidatos do PSDB, enquanto nos bairros onde habitam a classe média empobrecida e remediada, o proletariado e os trabalhadores da massa marginal, nesses últimos, o PT colhe a esmagadora maioria dos votos.
Para citar casos extremos mas significativos, no segundo turno da eleição para a prefeitura de São Paulo em 2012, o candidato do PT chegou a ter mais de 80% dos votos em bairros da Zona Leste e da Zona Sul da cidade, enquanto o candidato do PSDB atingiu a mesma marca nos Jardins.
Por que a alta classe média apoia o partido do grande capital internacional propiciando-lhe, ainda, alguma força eleitoral? As razões são de ordem econômica e ideológica.
Desde a década de 1990, quando serviu de “base de massa” para a ofensiva neoliberal dirigida pelo imperialismo e pela grande burguesia, a alta classe média convenceu-se de que os direitos sociais representam, para ela, custos sem retorno.
É verdade que parte da classe operária também embarcou nessa canoa – basta lembrarmos a atuação da Força Sindical naquele período e as vitórias de Fernando Henrique Cardoso em 1994 e 1998. Mas os trabalhadores o fizeram por razões distintas daquelas que moviam a alta classe média e, de resto, descobriram, em poucos anos, que tinham embarcado numa canoa furada.
No caso das famílias de alta classe média, elas mantiveram a sua posição. Os profissionais liberais bem sucedidos, os ocupantes de cargos de direção e administrativos nas empresas privadas, o alto funcionalismo público e outros setores que integram a fração superior da classe média não queriam e não querem saber de ensino ou de saúde pública – salvo quando a instituição pública é privilégio deles próprios, como ainda é o caso de algumas universidades públicas.
No geral, as famílias de alta classe média preferem os serviços privados que são, nos fatos ou na fantasia, de melhor qualidade e que, não menos importante, permite que elas e seus filhos se mantenham separados da população pobre. Ora, o neoliberalismo prometia isso: suprimir e reduzir direitos sociais acenando com uma correlata redução dos impostos.
Os governos do PT, tanto Lula quanto Dilma, embora não tenham rompido com o capitalismo neoliberal, têm uma política social distinta daquela da década de 1990. Em muitos aspectos, essa política contraria os interesses e as disposições ideológicas da alta classe média.
Tais governos criaram o Bolsa Família, fortaleceram o Benefício de Prestação Continuada, suspenderam as ameaças que pairavam sobre a aposentadoria rural, implantaram uma política de reajuste real do salário mínimo e deram guarida à lei que estende os direitos trabalhistas às empregadas domésticas.
Circunstância agravante: tais governos estimularam um ataque em regra à reserva de mercado que, informalmente, a alta classe média detinha de grande parte das vagas oferecidas pelas universidades públicas. Todos pudemos ver a disposição com a qual os intelectuais, professores e estudantes desse setor social combateram e combatem a política de quotas racial e social.
Nesse ponto, evidencia-se a maneira concreta como o conflito de classes articula-se com a luta contra o racismo no Brasil atual. A política de quota racial e social favorece a população de baixa renda, onde predominam os egressos de escola pública e onde é grande a presença de afrodescendentes, mas prejudica a alta classe média que detinha uma reserva do mercado em grande parte do ensino superior público e que é na sua quase totalidade composta por indivíduos socialmente definidos como brancos.
Ainda agora, neste primeiro semestre de 2013, o governo tucano de Geraldo Alckmin, sentindo-se acossado, faz acrobacias as mais variadas para manter a USP, a Unesp e a Unicamp fora do regime de quotas.
O discurso meritocrático, ideologia funcional para os interesses da alta classe média, foi ativado contra a democratização – pequena, de resto – que se está verificando no acesso ao ensino superior. Só esse discurso diante da política de quotas já mereceria um exame à parte. Ele nos revelaria muita coisa sobre o que quer e como age a alta classe média tucana.
No plano político, os governos Lula e Dilma têm reconhecido, para o desgosto da alta classe média, as organizações e movimentos do campo operário e popular, em contraste com os governos tucanos que os ignoravam ou os criminalizavam. O Governo Lula reconheceu as centrais sindicais, criou fóruns para sua participação, recebeu o MST, a Contag e os sem-teto.
O Governo Dilma, principalmente no período mais recente, tem feito algo parecido. É verdade que ambos fizeram ouvidos moucos para as reivindicações mais sentidas desses movimentos. As reivindicações históricas e recentes mais importantes do movimento sindical – política de reposição automática das perdas salariais provocadas pela inflação, jornada de 40 horas, regulamentação da terceirização e outras – foram ignoradas. A reforma agrária foi posta de lado.
Contudo, quando estudamos a história recente do Brasil, podemos verificar que a fração superior da classe média é particularmente hostil a governos que reconheçam o direito dos setores populares se organizarem e apresentarem suas reivindicações.
O problema, aqui, é político e simbólico. Político, porque a alta classe média pressente o perigo – hoje, eles são convidados no Palácio do Planalto, amanhã poderão ambicionar serem os anfitriões; simbólico, porque o espaço dito público, onde se pratica o jogo político, deveria, de acordo com o elitismo meritocrático desse setor, permanecer um espaço reservado aos diplomados. Basta recordar o epíteto de ignorante com o qual os bem-nascidos – mas muito malcriados – estigmatizam os políticos de origem popular.
Os interesses do grande capital internacional e da fração da burguesia brasileira a ele completamente integrada, representados pelo PSDB, encontraram uma base de apoio no Brasil. Essa base não é “a classe média”. A parte majoritária da classe média apoia a política neodesenvolvimentista dos governos do PT. Essa base de apoio é a fração superior da classe média brasileira, a alta classe média. Em termos eleitorais, não é muito e em daí as agruras do PSDB.
[1] Há algumas diferenças entre a alta classe média inserida no setor público e a que está no setor privado, mas, para efeito deste texto, podemos deixar isso de lado.

 Armando Boito Jr. é professor de Ciência Política da Unicamp

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

A ÚLTIMA ELEIÇÃO SOB A TUTELA DA GLOBO



A sólida dianteira de Haddad em SP, reafirmada pelo Ibope e o Datafolha desta 5ª feira, deixa ao conservadorismo pouca margem para reverter  uma vitória histórica do PT e -- talvez--  a derradeira  derrota na biografia política de José Serra. Ainda assim há riscos. E não são pequenos. Há alguma coisa de profundamente errado com a liberdade de expressão num país em que, a cada escrutínio eleitoral, a maior preocupação de uma parte da opinião pública e dos partidos, nos estertores de uma campanha como agora, não seja propriamente com o embate de idéias, mas com a 'emboscada da véspera''. Não se argui se ela virá; apenas como e quando a maior emissora de televisão agirá na tentativa de raptar o discernimento soberano da população, sobrepondo-lhe suas preferências, seus candidatos e seus interditos.Tornou-se uma aflita tradição nacional acompanhar a contagem regressiva dessa fatalidade que desgraçadamente instalou-se no calendário eleitoral para corroê-lo por dentro. Após 10 anos no governo, as forças progressistas não tem mais o direito de contemporizar com uma doença maligna que pode invalidar a democracia e desfibrar a sociedade. Que a votação deste domingo seja a última tendo as urnas como refém da Globo,seus anexos e aliados.

Ato na USP: "Haddad é resposta da civilização à barbárie"

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Vídeo impressionante: PM de SP espanca estudante negro

 http://www.youtube-nocookie.com/v/fUhwHxDiGOE?version=3&hl=pt_BR&rel=0">name="allowFullScreen" value="true">http://www.youtube-nocookie.com/v/fUhwHxDiGOE?version=3&hl=pt_BR&rel=0" type="application/x-shockwave-flash" width="560" height="315" allowscriptaccess="always" allowfullscreen="true">
egante manda o vídeo do espancamento de um estudante negro da USP por um PM:
É essa a Educação que os tucanos aplicam em São Paulo

Clique aqui para ver como a PM tucana de São Paulo enfrenta o problema do crack: com tiro.

Quem levou a PM para dentro da USP, amigo navegante ?

Ele, o Padim Pade Cerra !

Em tempo: o Conversa Afiada publica cordel que recebeu do amigo navegante Marco Haurélio:

A cada dia que passa

Vem uma nova notícia

Sobre a forma desumana

De agir da “nossa” polícia,

E o povo pobre apanhando

Desta sinistra milícia.


Usuários levam tiros,

Bombas de efeito moral,

Para “limpar” a cidade,

Pois a região central

Deve, na especulação,

Ter um trato especial.


São as mesmas empreiteiras

Que financiam políticos

Que querem o centro livre

Dos dependentes raquíticos,

Dos moradores de rua

E de outros problemas “críticos”.


Um estado autoritário,

Que tolera o preconceito,

Vai para cima dos pobres

Para varrer o “defeito”,

Certo que em qualquer caso

A polícia dará jeito.


Dos escombros da polícia

Um dia possa nascer

A esperança do povo

Em um novo alvorecer

Que só a educação

Pode nos oferecer.


Favelas e viadutos

Devem ser iluminados

Com os bens que até agora

Aos pobres são sonegados,

Ornamentando as paredes

De alguns privilegiados.


Abraço!

Em tempo 2: este post e este vídeo são uma singela homenagem a Ali Kamel, o nosso Gilberto Freire (*), que escreveu best-seller para demonstrar que não, não somos racistas ! A homenagem se estende a Herraldo Pereira, repórter e âncora da Globo, que processa este ansioso blogueiro por … racismo ! Uma das testemunhas dele é o Gilmar Dantas (**) !!! Clique aqui para ver os 40 e tantos processos que enobrecem a carreira deste ansioso blogueiro: diz-me quem te processa e dir-te-ei quem és. Não perca a Galeria Daniel Dantas de honra !

(*) Conta-se que, um dia, em Apipucos, D Madalena chegou para o marido e disse: Gilberto, essa carta está em cima da sua mesa há um tempão e voce não abre. Nao posso, disse Gilberto, Seria uma indelicadeza. É para Gilberto Freire com “i”. Não sou eu.

(**) Clique aqui para ver como um eminente colonista do Globo se referiu a Ele. E aqui para ver como outra eminente colonista da GloboNews  e da CBN se refere a Ele.

Antes, o Conversa Afiada já tinha publicado o desabafo do estudante:

Na USP: “PM me escolheu porque eu era o único negro”

Saiu no blog Outro Brasil:

“PM me escolheu porque eu era o único negro”, diz estudante agredido na USP


por ALCEU LUÍS CASTILHO (@alceucastilho)


Órfão de pai desde os 15 anos, Nicolas Menezes Barreto sabe bem o que é trabalhar. Ele é músico e professor da rede municipal de ensino, na zona leste – em condição provisória, pois ainda não é formado. Ele prestou Música, mas entrou na segunda opção no vestibular da Fuvest. Cursa Ciências da Natureza na EACH (Escola de Artes, Ciências e Humanidades), na USP-Leste.


Nicolas foi agredido por um sargento da PM, nesta segunda-feira, durante a desocupação da antiga sede do DCE Livre, o DCE ocupado – a alguns metros da sede da reitoria da USP. “Eu era o único negro lá, com dread”, disse ele ao blog Outro Brasil, por telefone, no fim da tarde.


A palavra dread remete ao estilo de cabelo rastafari. “Sem dúvida foi racismo. Ele foi falar comigo porque pensou que eu não era um estudante, e sim um traficante, algo assim. Tanto que se surpreendeu quando viu que eu era estudante”.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Droga do Nem vinha de São Paulo. SP é o atacadão da droga nacional


Por que o Cerra não fez o que o Abadia sugeriu ?

O excelente produtor Ricardo Andreoni lembra a este ansioso blogueiro que faltou ressaltar um aspecto da reportagem que o Domingo Espetacular exibiu neste ultimo domingo: “Quem comprava cocaína do Nem ? Quem o Nem comprava ?”.

Além de fazer essas duas perguntas que a romaria de repórteres, âncoras, colonistas (*) e show-men da Globo se esqueceu de fazer na Rocinha, Andreoni e este ansioso blogueiro apuraram dois fatos centrais na questão do narcotráfico no Brasil:

1) Toda a droga que o Nem vendia provinha de São Paulo.

Nem não vendia crack.

Só vendia maconha, ecstasy e cocaína.

E vinha tudo de São Paulo.

Não vinha um grama do Rio ou de qualquer outro ponto do Brasil.

Tudo de São Paulo.

Nem foi preso poucos dias antes de fugir para São Paulo e, provavelmente, se associar ao PCC que, como se sabe, segundo o governador Alckmin, não existe mais.

É possível que o delegado e dois investigadores da delegacia de Maricá que disseram ter negociado a rendição de Nem quisessem – segundo avaliação de autoridade da Polícia Federal – levar Nem para São Paulo.

2) São Paulo é o entreposto da droga do Brasil.

É o atacadão.

Essa informação aparece na reportagem como declaração do delegado João Caetano de Araújo, da Delegacia de Repressão a Entorpecentes da Polícia Federal.

Toda a droga “importada” vai para São Paulo e de lá é distribuída para o país inteiro.

A associação do Rio ao narcotráfico é uma obra da Rede Globo, nos bons tempos do Dr Roberto.
Para derrubar o governo trabalhista de Leonel Brizola no Rio, a Globo, especialmente os telejornais locais do Rio, aos poucos incutiu no Rio e no Brasil o estigma do “Rio, Capital do Narcotráfico”.
Este ansioso blogueiro costuma perguntar, como quem não quer nada.
Quem compra mais tela plana – o Rio ou São Paulo ?
São Paulo.
Quem compra mais pasta de dente ?
O Rio ou São Paulo ?
São Paulo.
Quem compra mais Nespresso ?
O Rio ou São Paulo ?
Agora, cocaína … cocaína o Rio compra mais que São Paulo …
A demonização do Rio faz parte, também, de uma política nacional de esvaziamento político do Rio, que é, historicamente, mal ou bem, um centro de uma resistência muitas vezes trabalhista.
(Embora o PT de lá não apite.)
Juscelino começou o desmonte do Rio, ao levar a capital para Brasília.
Que Deus o tenha, já que Brasilia não tem mais jeito.
Os militares desmontaram o Rio.
Dividiram o Rio e tiraram dinheiro do Rio. Com medo do Brizola.
O dinheiro dos royalties – como lembrou Brizola Neto outro dia – só chegou ao Rio quando Wellington Moreira Franco (que serve a todos os governos desde os militares, como serve ao atual) sucedeu Brizola no Governo do Rio.
A estigmatização do Rio serve muito à Globo: para atender às agencias de publicidade e ao GLOBOPE, que mede a audiência do Brasil inteiro em meia dúzia de aparelhos na Grande São Paulo.
Este ansioso blogueiro prefere o Abadia, aquele colombiano, especialista na materia: a melhor maneira de acabar com o tráfico em São Paulo é fechar a delegacia que combate o tráfico, o Denarc.



Em tempo: na inesquecível campanha presidencial de 2010 – clique aqui para ler as frases do capítulo I desta indigitada campanha e aqui as frases do capitulo II – o Padim Pade Cerra ameaçou invadir a Bolívia para acabar com o tráfico em São Paulo. Ameaçou criar – por sugestão de um lobbista do Daniel Dantas – o Ministério da Segurança. Mas, não fechou o Denarc. Ele é um jenio !


Paulo Henrique Amorim


(*) Não tem nada a ver com cólon. São os colonistas do PiG que combateram na milícia para derrubar o presidente Lula e, depois, a presidenta Dilma. E assim se comportarão sempre que um presidente no Brasil, no mundo e na Galáxia tiver origem no trabalho e, não, no capital. O Mino Carta  costuma dizer que o Brasil é o único lugar do mundo em que jornalista chama patrão de colega. É esse  pessoal aí.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Skinheads ameaçam estudantes na USP.Skinheads colam cartazes com ameaças a estudantes na USP

 luisnassif

Por Sanzio
Aí onde desembocou a campanha midiática contra os estudantes da USP:
Da Folha.com


p>"Atenção drogado: se o convênio USP-PM acabar, nós que iremos patrulhar a Cidade Universitária!"
Cartazes como esses, com ameaças contra usuários de maconha e frases anticomunistas, foram afixados anteontem por skinheads na USP.
Os panfletos foram colados em pontos de ônibus na Cidade Universitária, à tarde.
Folha encontrou restos dos papéis em dois pontos: na entrada da Faculdade de Educação e no portão principal da universidade.
A PM diz ter apreendido os cartazes com dois jovens. Eles foram abordados e tiveram os dados registrados para apuração, segundo o coronel Wellington Venezian, que comanda o policiamento na região oeste de SP.
Não foi confirmado se eles são ou não alunos da USP. Nos dias de semana, o campus tem acesso livre.
A Decradi (Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância) afirma investigar o caso e ter identificado os responsáveis.

Segundo a delegada Margarette Barreto, o grupo foi identificado como sendo um dos "movimentos de intolerância" que atuam na cidade.
Em um dos cartazes, um grupo de skinheads aparece sobre a frase: "maconheiro, aqui você não terá paz".
No segundo, uma referência ao CCC (Comando de Caça aos Comunistas, organização de extrema-direita que atuou no regime militar) aparece com a imagem do jornalista Vladimir Herzog, morto nos porões da ditadura. Na versão dos militares, divulgada à época, Herzog se matou.
Estudantes relataram que foram ameaçados por dois skinheads anteontem, diante da Faculdade de Educação. "Vieram querendo intimidar, perguntaram se éramos contra a polícia", afirma o aluno H., 30.
A crise da USP foi deflagrada após três alunos serem pegos com maconha. Colegas tentaram impedir a prisão. Houve confronto com a PM e os prédios da FFLCH e da reitoria foram invadidos.